Monthly archive for junho 2018

Misticismo

W. R. Inge, no clássico “Christian Mysticism”(New York, 1956), afirma:
“O misticismo é a tentativa de realizar, no pensamento e no sentimento, a imanência do temporal no eterno, e do eterno no temporal… Mas, uma vez que a nossa consciência do além é ela própria desprovida de forma, ela não pode ser trazida diretamente a uma relação com as formas do nosso pensamento. Em decorrência disso, ela tem de se expressar por símbolos.”
Tudo isso está certo, mas deixa de fora o principal: Se os símbolos são apenas instrumentos da linguagem humana, eles são criados pelo homem e nada mais expressam do que o pensamento humano mesmo. A famosa “imanência do temporal no eterno e do eterno no temporal” não passa, aí, de um fenômeno interno da mente humana, sendo inteiramente temporal e nada tendo de eterno exceto uma pretensão nominal que atesta a sua própria impotência.
Ou os símbolos são a linguagem do próprio eterno e o canal do seu ingresso na esfera temporal, ou toda pretensão de falar do eterno só nos aprisiona mais e mais na esfera temporal.

Funcionalidade

A eficiência e a funcionalidade, em que se sustenta a moral burguesa, não são valores supremos, na verdade não são propriamente valores, mas apenas critérios da viabilidade prática de quaisquer valores. Mas justamente isso lhes dá uma justificação absoluta superior à idéia mesma de “valor”. Pois eficiência e funcionalidade nada mais são do que possibilidade de realização, e um desejo ou aspiração impossível de realizar não chega sequer a ser um valor prático ou teórico, é apenas uma idéia.
Querer sobrepor ideais sublimes irrealizáveis aos ideais realizáveis mais modestos é destruir o senso de realidade e instaurar o reino da mentira, portanto a dissolução de todos os valores.O Zaratustra de Nietzsche não é superior a nada, é apenas uma fantasia nascida da impotência.
Por isso noventa por cento da crítica ao “mundo burguês” são apenas esperneios inócuos, filhos da vaidade.

“An Inspector Calls”

A peça de J. B. Priestley, “An Inspector Calls”, que significativamente estreou em Moscou em 1945 antes de ser levada à cena em Londres, é considerada um exemplo clássico da análise sociológica que traz à luz os porões da hipocrisia burguesa. Mas o tempo se encarregou de tornar patente que toda a hipocrisia burguesa do mundo não se compara à do detetive socialista que a investiga (Inspetor Goole) e muito menos à do autor da peça.

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