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Curiosidades obâmicas

Olavo de Carvalho

Jornal do Brasil, 18 de setembro de 2008

O Hamas e o presidente do Irã não escondem seu entusiasmo pela candidatura Obama. Ahmadinejad anunciou até que, se eleito o candidato democrata, o Islam revolucionário dominará o mundo. Não são palavras vãs. Mesmo o New York Times teve de reconhecer que, dos 200 milhões de dólares colhidos pela campanha de Obama só na internet – o dobro do total obtido por qualquer candidato presidencial nos EUA ao longo da História –, o grosso não vem de eleitores americanos: vem de umas poucas contas bilionárias do Irã, da Arábia Saudita e da China (v. a coluna de Maureen Dodd do último dia 29).

No front interno, não há uma só organização comunista ou pró-terrorista que não apóie o candidato democrata, cujas ligações com a esquerda radical se revelam muito mais profundas do que a campanha obamista jamais admitiu. O caso mais bonito é o do terrorista William Ayers, que Obama dizia ser apenas um vizinho com o qual jamais falava de política. Agora está bem provado não só que ambos chefiaram juntos uma ONG esquerdista, mas que Obama alegou isso como credencial para convencer o Partido Democrata a aceitá-lo como candidato ao Senado.

Não espanta portanto que a grande mídia americana e mundial tenha erguido em torno dele um muro de proteção igual ao que resguardou Lula contra a revelação da existência do Foro de São Paulo.

A ocultação mais notável é a dos dois processos criminais que correm contra Obama, o primeiro movido pelo cidadão de Minnesota que diz ter sofrido ameaças após revelar que cheirou cocaína e teve relações homossexuais com o senador democrata (v. www.thesmokinggun.com/archive/years/2008/0214081obama1.html), o segundo por um advogado da Pensilvânia que acusa Obama de falsificar uma certidão de nascimento para ludibriar o registro eleitoral – e de ser portanto categoricamente inelegível (v. www.obamacrimes.com). Obama tem até dia 24 para responder a este segundo processo, mas a mídia chique prefere dar espaço a fofocas sobre a família Palin, supostamente relevantes para a paz universal.

A uniformidade global desse tipo de manipulação torna-se cada vez mais visível, atrofiando a credibilidade (e a tiragem) dos grandes jornais e acentuando o poder do rádio e do jornalismo eletrônico, ao ponto de a elite esquerdista do Congresso americano já estudar leis para colocar sob controle estatal esses meios de comunicação (v. www.mrcaction.org/512/petition.asp?pid=16837381). Esse é um dos temas mais explosivos do debate político americano e – é claro – o mais sistematicamente ignorado no Brasil: o obamismo da mídia nacional é tão inflamado que se diria depender do Globo e da Folha o resultado das eleições americanas.

Enlouquecido de paixão obâmica, o bufão Arnaldo Jabor proclama que os conservadores americanos odeiam judeus. Ele podia ter escolhido uma mentira melhor. Nos EUA, a esquerda acusa os conservadores de ser, isto sim, fanáticos sionistas.

Mas em matéria de controle da mídia eletrônica o Brasil está mais avançado do que os EUA. Quando aí se quer tirar do ar os sites de oposição, não se vota uma lei, processo complicado que pode terminar em fiasco; em vez disso, contrata-se discretamente um hacker para encher a coisa de vírus e torná-la inviável. Essa técnica vem sendo usada eficazmente contra os sites www.midiasemmascara.com.br e www.heitordepaola.com.br. Nos EUA isso dá cadeia; no Brasil, só dá dor de cabeça – para a vítima, é claro. Para os criminosos é uma delícia rara.

As coisas em que essa gente se deleita são aliás de uma originalidade extrema. Quando Michael Moore e Dan Lawson, ex-chefe do Comitê Nacional Democrata, souberam que o furacão Gustav podia atrapalhar a convenção republicana, disseram ver nisso uma prova de que Deus existe e tiveram uma sucessão indescritível de orgasmos múltiplos. Prova da superioridade moral dos esquerdistas, o deus deles não hesitaria em matar milhares de pessoas só para dar uns votinhos ao seu filho unigênito, Obama The Savior. Mas a fé é às vezes submetida a duros testes. Gustav passou como um punzinho, não matou ninguém e a convenção republicana foi um sucesso.

Escrúpulos de comunista

Olavo de Carvalho

Jornal do Brasil, 11 de setembro de 2008

A propósito da notícia publicada no último dia 30 pela Agência Reuters, com o título “Doação da Gerdau ao PSOL abre debate ideológico na esquerda”, devo lembrar aos distintos leitores que todo o dinheiro dos partidos comunistas e pró-comunistas do mundo vem de uma ou várias das seguintes fontes:

1. Roubos, assaltos, seqüestros, narcotráfico e outros crimes.

2. Trabalho escravo em quantidades jamais vistas antes no Oriente ou no Ocidente.

3. Desapropriações sumárias, sem indenização, impostas à força, não raro mediante o assassinato do proprietário, rico ou pobre (pobre, na maioria dos casos).

4. Lavagem de dinheiro da KGB e órgãos similares, obtido pelos meios acima e investido em negócios capitalistas por intermédio de testas-de-ferro (as maiores fortunas do mundo, hoje em dia, têm essa origem).

5. Subsídios estatais e privados extorquidos mediante chantagem psicológica e ameaça de violências ou drenados sutilmente da rede de ONGs esquerdistas que cobre meio planeta.

6. Contribuições de militantes, que podem chegar a 50 por cento dos seus salários (e ai de quem não pague em dia!).

7. Uma imensidão de negócios lícitos e ilícitos, nos ramos de indústria, mídia, edições, publicidade, bancos, educação etc., que colocam comunistas e seus aliados entre os maiores capitalistas do universo.

8. Ajuda vinda de ricos “companheiros de viagem”, seja em troca de favores ou do mero aplauso.

9. Ajuda ocasional recebida de milionários direitistas ou pelo menos não comunistas, empenhados, por algum motivo que não cabe discutir agora, em agradar seus inimigos.

Nenhuma quantia proveniente das oito primeiras fontes jamais causou o menor problema moral a seus recebedores comunistas. Ao contrário, eles estão persuadidos de que é seu direito e dever embolsar todo o dinheiro do mundo, porque eles são bons, mesmo quando matam, escravizam, roubam ou torturam em massa, e os outros seres humanos são maus, mesmo quando se limitam a ganhar honestamente a vida. Só o dinheiro vindo da última origem mencionada suscita alguns escrúpulos de consciência – não por causa da natureza da fonte, já que “pecunia non olet”, mas porque, raios!, às vezes a coisa é divulgada na mídia e pega mal entre os comunistas não beneficiados diretamente pela doação. Aí a consciência moral comunista desperta e seus rugidos de indignação sacodem o ar em torno. Debates “éticos” acalorados eclodem por toda parte, colocando em questão a pureza ideológica dos beneficiados e seu direito de contaminar-se em tão más companhias.

A maneira como a mídia noticia esses episódios dá a entender não só que se trata de escrupulosidade moral nobre e genuína, mas que isso diferencia os partidos de esquerda de seus concorrentes direitistas e que, de modo geral, embolsar dinheiro do adversário é a única mancha possível – mesmo assim incerta – na ilibada moralidade comunista. De um só golpe, a mais patente hipocrisia é transfigurada em prova de virtude suprema, ao passo que a imensidão de crimes cometidos com total frieza pelos maiores ladrões, exploradores e assassinos do mundo desaparece do horizonte do debate, como se não houvesse aí nenhum problema moral a discutir. O único pecado concebível em que um comunista pode sujar-se é receber, em público, dinheiro do inimigo. O resto são só virtudes.

Essa lisonjeira auto-imagem publicitária dos comunistas tornou-se norma de redação obrigatória para toda a mídia. O jornalismo nacional acabou virando um órgão do debate interno da esquerda, encerrando os leitores, para sempre, numa redoma mental onde se torna impossível escapar, mesmo em imaginação, aos valores e critérios do esquerdismo. Hoje em dia, até para criticar a esquerda o cidadão é obrigado a pensar segundo as categorias que ela determina. Isso é precisamente o que Antonio Gramsci chamava de “hegemonia”.

Cadeia para ele

Olavo de Carvalho

Jornal do Brasil, 4 de setembro de 2008

Entre lágrimas de ódio cívico que deixarão insensível a cruel humanidade mas devem comover tremendamente a ele próprio, o editor da “Hora do Povo”, Carlos Lopes, acusa o senador Álvaro Dias de uma calúnia inominável: atribuir um crime de assassinato em massa ao inocentíssimo Josef Stálin.

Segundo Lopes, o extermínio deliberado de seis a nove milhões de ucranianos pela “arma da fome”, em 1932-33, jamais aconteceu. Foi uma balela criada pelo ministro da propaganda de Hitler, Joseph Goebbels, depois perfidamente alardeada ao mundo por William Randolph Hearst, empresário de mídia pró-nazista, e pelo livro Harvest of Sorrow, de Robert Conquest, que a cândida opinião acadêmica do Ocidente acha um grande historiador mas que na verdade fez esse serviço sujo como agente de desinformação a soldo de dois órgãos da espionagem britânica, o MI-5 e o IRD (Information Research Department), tal como denunciou em 1978 o respeitável jornal The Guardian.

Nenhum assassinato em massa pode ter occorrido na Ucrânia naqueles anos – prossegue Lopes –, pois, “como registram os censos” (sic), a população do país aumentou “em 3.339.000 pessoas entre 1926 e 1939”.

Não me espantei, é claro, de ler essas coisas na “Hora do Povo”, jornal pertencente a um grupo de terroristas mais ou menos aposentados que, entre uma indenização e outra do governo brasileiro, embolsaram uma considerável propina de Saddam Hussein. Entre outros feitos notáveis, a publicação celebrou Stálin como “o maior democrata da humanidade”, e incitou seus leitores, se algum existe, a matar o colunista Diogo Mainardi.

Mas, como até os comunistas mais psicóticos podem dizer alguma verdade de vez em quando, concedi ao sr. Lopes o benefício da dúvida e fui verificar suas fontes. Comecei pela matéria do Guardian (27 jan. 1978). Ela não diz nada de Robert Conquest ter trabalhado no MI-5, apenas no IRD – e o IRD não era um órgão da “espionagem britânica” e sim do Foreign Office (Ministério das Relações Exteriores). Conquest largou o emprego em 1956 e só publicou Harvest of Sorrow em 1986. Poderíamos forçar a imaginação até além da dose de demência usual no jornalismo esquerdista, e admitir a hipótese de que o IRD pagasse pelo serviço entregue com um pequeno atraso de trinta anos. Mas nem toda a loucura do mundo tornaria isso possível, pois o IRD foi extinto em 1978.

A denúncia do extermínio em massa não foi obra nem de Goebbels nem de Hearst. Foi publicada em maio de 1933 – meses antes de que Goebbels se tornasse ministro da propaganda, um ano antes de que a notícia saísse nos jornais de Hearst – e, por ironia, foi escrita pelo correspondente do próprio Guardian em Moscou, Malcolm Muggeridge, que estava no local dos acontecimentos e viu tudo.

Por fim, “os censos”. Lopes menciona-os no plural, mas não cita nenhum. Nem poderia. O Livro Negro do Comunismo cita-os todos, diretamente das fontes soviéticas abertas após o fim da URSS, e são justamente esses dados demográficos que provam a liquidação sistemática da população ucraniana (confiram na p. 185 da edição Robert Laffont). O sr. Lopes teve boas razões para permanecer vago e esquivo ao falar de “os censos”.

Com exceção do Holocausto judeu, não há caso de homicídio em massa mais claramente documentado e provado do que a fome ucraniana. E nenhum historiador sério jamais pôs em dúvida que se tratasse de operação deliberada. Mesmo a Assembléia Nacional Russa, ao protestar em abril deste ano contra o uso do termo “genocídio” a respeito, não teve a ousadia de negar os fatos nem o plano macabro que os gerou. Só o que conseguiu alegar foi que o crime não teve caráter “étnico”, e sim político, de guerra de classes. Mesmo que admitíssemos a validade dessa alegação, ela não tornaria o episódio menos monstruoso, nem menos criminosa a tentativa de encobri-lo retroativamente mediante mentirinhas tolas. A lei que puniu o editor Siegfried Ellwanger por negar o Holocausto judeu aplica-se com precisão milimétrica ao sr. Lopes.

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