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Credibilidade fingida

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 7 de janeiro de 2009

Antes de levar muito a sério o que o Washington Post diz de Barack Obama e de seus críticos, é prudente levar em conta a seguinte advertência publicada pela ombudsman (ou, se quiserem, ombudswoman) do jornal, Deborah Howell, em 10 de novembro: “Os leitores têm constantemente acusado a falta de matérias investigativas (sobre Obama) e aquilo que enxergam como um viés em favor do candidato democrata. Minhas pesquisas mostram que eles têm razão nos dois pontos.”

Numa época em que a opinião pública americana em peso prefere antes acreditar na internet do que nos jornais (v. pesquisa em www.breitbart.com/article.php?id=081224183017.jxmbrdyb&show_article=1), é ridícula a afetação de auto-importância com que órgãos de mídia semifalidos, posando de donos da credibilidade e blefando em cima de um prestígio extinto, fingem desprezar os “blogueiros de direita”, acusando-os de inventar “teorias conspiratórias”. Se a obsessão de apelar ad nauseam a esse chavão infamante como pretexto para fugir a um confronto com a realidade já não bastasse para mostrar quem está fazendo jornalismo e quem está trapaceando, restaria o fato de que é vigarice pura e simples depreciar como mero “blog” um site de jornalismo eletrônico poderoso como o WorldNetDaily, que tem muito mais leitores do que o Washington Post jamais teve. Nada predispõe mais à ostentação verbal de supremacia do que um bom complexo de inferioridade.

Contra factum argumentum non est, “contra fatos não há argumentos”, ensinava Sto. Tomás. O establishment jornalístico americano (nem falo do brasileiro) não aprendeu até hoje essa lição. Tudo, absolutamente tudo o que se escreveu e se falou a favor de Barack Obama é baseado exclusivamente em dois argumentos: a importância simbólica da eleição de um negro e as grandes esperanças que esse símbolo desperta nas almas dos crentes. Todos os méritos de Obama, enfim, com exceção de suas inegáveis habilidades cênicas, são futuros. Não se poderia escrever e realmente não se escreveu uma só linha em louvor dele com base no seu passado político, pela simples razão de que as únicas realizações dele antes e durante a sua breve passagem pelo Senado foram coletar dinheiro para ONGs esquerdistas, escrever cartas em favor dos projetos imobiliários de seu parceiro Tony Rezko e ajudar o genocida Raila Odinga, seu parente, a conquistar o poder no Quênia. Podem procurar à vontade, não encontrarão mais nada. Esse é todo o currículo do salvador. Nunca se apostou tanto em capacidades jamais provadas.

Aquilo que se escreve contra é mais rico e variado. Noto aí pelo menos três linhas de ataque.

Há em primeiro lugar os que sondam a biografia ideológica de Obama em busca das constantes que formaram sua mentalidade. A documentação a respeito é abundante, muito bem pesquisada – principalmente nos livros de Jerome Corsi, David Freddoso e Steve Sailer – e o perfil que dela transparece é nítido: os ingredientes que o compõem são o comunismo, o terceiromundismo, o anti-americanismo e o racismo negro mais exacerbado. Nada de cristianismo, nada de Founding Fathers, nada de constitucionalismo americano. Filho de um militante comunista, Obama é um afilhado mental de Frank Marshall Davis, Saul Alinsky, Williams Ayers, Frantz Fanon, Malcolm X, James Cohen e Jeremiah Wright. Todas as suas opiniões sempre foram convergentes com as desses mentores, até que ele se lançou candidato à presidência e subitamente mudou de identidade, tornando-se moderado, patriota e apegado aos valores tradicionais da nação americana, só raramente deixando à mostra, por engano, algo do velho Obama enragé. Não há, em toda essa sondagem, nada que se assemelhe nem de longe a uma “teoria da conspiração”, mas o rótulo é invariavelmente usado para neutralizar qualquer veleidade de contrastar a vida do personagem com o seu discurso de campanha. Este tem de ser aceito como a última palavra, sem qualquer apelo indecente à realidade dos fatos.

Uma segunda linha de ataque é ilustrada pelo livro de Brad O’Leary, The Audacity of Deceit, e por uma infinidade de artigos na internet, que dos elementos biográficos disponíveis procuram deduzir a orientação do futuro governo Obama, concluindo que será uma catástrofe. Certo ou errado nas suas conclusões, esse tipo de conjeturação é perfeitamente legítimo, usual e até obrigatório em toda concorrência eleitoral. Também não vejo aí nada de “teoria da conspiração”.

Por fim, há aqueles que, fazendo abstração das discussões ideológicas, se atêm ao exame da carreira de Obama nos seus aspectos jurídicos e possivelmente criminais. Nenhum candidato presidencial jamais escapou de ser examinado sob esse ângulo, mas no caso de Obama a colheita é inusitadamente rica, e por isso mesmo o silêncio total que a grande mídia tem mantido a respeito, contrariando sua prática usual em todas as eleições anteriores – e mesmo nesta com relação aos adversários de Obama –, evidencia a ascensão generalizada de um partidarismo anormal, manipulador e criminoso na classe jornalística americana. É compreensível que os responsáveis por essa anomalia, denunciados pelos próprios leitores de seus jornais, reajam com quatro pedras na mão, apelando a estereótipos pejorativos para não ter de justificar o injustificável.

Vou lhes dar um exemplo que, pela própria miudeza, se torna significativo. Quando um eleitor comum, Samuel Wurzelbacher, mais conhecido como Joe the Plumber, espremeu Obama na rua com umas perguntas difíceis, a mídia americana inteira caiu de pau sobre o coitado, tentando desmoralizá-lo por meio informações ilegalmente colhidas pelo governo, que o pintavam como vagabundo e marginal com base em picuinhas como duas multas de trânsito não pagas. As multas de Joe the Plumber apareceram em todos os maiores jornais e noticiários de TV. Ao mesmo tempo, praticamente nada se leu ou se ouviu sobre o fato de que o próprio Obama deixara de pagar não duas, mas quinze multas de trânsito – depois pagas com dezesseis anos de atraso por um obamista anônimo (v. http://campaignspot.nationalreview.com/post/?q=M2ExMGI1YzRhZjg5NDcxYjY2Y2VhZGFiZmE1MDRlM2E=). Quando a fiscalização da mídia é mais severa contra o zé-ninguém do que contra um candidato presidencial, algo de muito errado está acontecendo. E, quando esse algo se repete uniformemente em quase todos os jornais e canais de TV, a única maneira de evitar a hipótese de uma conspiração ou coisa assim é apostar na intercomunicação telepática simultânea entre milhares de jornalistas.

Mas há ainda um quarto fator: as autênticas teorias da conspiração. Dizem que Obama é filho secreto de Malcom X, que Obama é um agente plantado pela KGB, que Obama é muçulmano em segredo etc. etc. Essas teorias não surgem de nenhuma alucinação coletiva, mas de uma causa bem razoável. Obama, como já lhes contei aqui, esconde por todos os meios uma série de episódios importantes da sua carreira. Esconde por meio da mentira direta (ao dizer, por exemplo, que nunca foi membro de um partido socialista, que nunca recebeu educação islâmica ou que nunca teve negócios com Tony Rezko), por meio da supressão de dezenas de documentos essenciais (a famosa certidão original de nascimento, as agendas do seu gabinete no Senado, etc. etc.) e por meio da falsificação pura e simples. Isso não é teoria da conspiração. São fatos. Mas esses fatos, por sua vez, são enigmas. Obama é o presidente eleito mais secreto e incognoscível que os EUA já tiveram – um caso único na história das eleições democráticas. Será de estranhar que, diante de tanta obscuridade, algumas pessoas se ponham a conjeturar hipóteses, e que essas hipóteses acabem sempre sugerindo algo de perverso, até sinistro? Quem tem o direito de espalhar mistérios e depois ficar indignado ante a proliferação de suposições conspiratórias geradas pela sua própria conduta esquiva e inexplicável?

Vejam com seus próprios olhos o alistamento militar da criatura, reproduzido em http://www.debbieschlussel.com/archives/2008/11/exclusive_did_n.html:

Notem a data da assinatura no canto inferior esquerdo (letra D em azul), 30 de julho de 1980, e, no canto superior direito (letra A em azul), o ano de impressão do papel: 08, isto é, 2008. O miraculoso Obama assinou o formulário 28 anos antes de impresso. Mais ainda, notem a data do carimbo no canto inferior direito (letra E em azul). É 29 de julho de 1980: o documento foi autenticado 24 horas antes de assinado. Para completar, a sigla no carimbo é USPO, United States Post Office. Mas esse carimbo já não era válido na data de assinatura do documento, muito menos 28 anos depois: a repartição mudou de nome para USPS, United States Postal Service, em 12 de agosto de 1970. Em suma: é olhar esse papel e cair na mais completa perplexidade. Quem, diante de tamanho descalabro, pode ficar tranqüilo e confiante, seguro de que o país está em boas mãos? Só mesmo os articulistas do Washington Post.

Mudando o mundo

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio (editorial), 6 de novembro de 2008

Querem saber o que vai acontecer daqui a pouco nos EUA? Tal como sucedeu no Brasil com o Foro de São Paulo, às negações indignadas se seguirão as confissões cínicas, quando já não puderem trazer dano aos criminosos. No devido tempo, quando Barack Obama se sentir seguro na presidência, virá à tona a entrevista de sua avó declarando que ele nasceu no Quênia, a revelação de que ele sempre foi muçulmano, as provas da ajuda que prestou a seu primo genocida Raila Odinga, o financiamento de seus estudos em Harvard por um milionário pró-terrorista, a ajuda recebida de Tony Resko com o dinheiro de Saddam Hussein, a colaboração de William Ayers como ghost writer de Dreams of My Father, etc. etc.

Não são coisas que se possa esconder indefinidamente. O próprio Obama não tem ilusões a esse respeito. Tudo o que podia fazer era manter seus documentos essenciais fora do alcance do público até um pouco depois das eleições. Uma vez empossados os vencedores, com o Congresso totalmente dominado pelos seus partidários e a oposição republicana reduzida ao silêncio pelo controle estatal da opinião radiofônica (um velho e querido projeto dos democratas), já pouco haverá o que temer. O que um dia foi escondido como vergonha será alardeado como glória. Lembrem-se do vídeo do III Congresso do PT enaltecendo o Foro de São Paulo como coordenação estratégica da esquerda continental, dois anos depois de haver negado oficialmente que ele fosse isso. Se tiverem memória um pouco mais longa, lembrem-se de Fidel Castro proclamando “Sempre fomos e seremos marxistas-leninistas” depois de jurar “Nunca fomos comunistas.” Esses dribles são rotina na história do movimento revolucionário. O próprio Lênin, logo após tomar o poder, mandou espalhar entre os investidores europeus que não era comunista de maneira alguma, apenas um espertalhão que se fazia de comunista. Eles acreditaram e despejaram na Rússia um bocado de dinheiro, confirmando o dito leninista de que a burguesia tece a corda com que os comunistas a enforcam.

Que Obama é um revolucionário e vai fazer um governo revolucionário, é algo que seus militantes enfatizam uns para os outros e atenuam perante o público em geral, tal como o nosso PT sempre manteve um discurso duplo, aquecendo o lado de dentro e esfriando o de fora, pregando nos seus documentos internos precisamente o que negava na propaganda eleitoral.

Obama sabe perfeitamente bem que seu projeto de uma “Força Civil de Segurança Nacional” é uma militância armada de jovens bem doutrinados, em tudo semelhante às SA de Hitler ou à Juventude Comunista, que nada fará contra terroristas, narcotraficantes ou imigrantes ilegais, como ele deixa o público imaginar, mas se ocupará de perseguir “homofóbicos”, “extremistas de direita”, “fundamentalistas” e outras criaturas malvadíssimas. Ele já testou esse projeto na ONG Public Allies – dirigida primeiro por ele, depois por sua esposa Michele –, e uma de suas principais metas de governo é alocar uma verba anual de quinhentos bilhões de dólares – sim, quinhentos bilhões de dólares – para dar realidade a essa idéia sublime: “desmilitarizar a seguraça pública”… militarizando a juventude (v. http://www.ibdeditorials.com/IBDArticles.aspx?id=305420655186700). Mesmo que esse fosse o único projeto revolucionário de Obama, o advento dessa monstruosidade policial bastaria para alterar repentinamente e de uma vez para sempre a face da democracia americana, transformando-a na fachada de uma virtual ditadura, imposta, como a de Hitler e a de Hugo Chávez, por meios anestésicos e inteiramente legais.

Mas ele promete também “desmilitarizar o espaço” e “desacelerar a pesquisa nuclear norte-americana”. A primeira expressão significa simplesmente desmantelar o sistema de defesas aéreas montado por Ronald Reagan. Uma vez feito isso, nada poderá devolver aos EUA a sua condição de potência militar dominante. Quanto ao segundo ponto, ele dará à China a oportunidade de em breve tempo igualar-se aos EUA em capacidade nuclear agressiva, já que o establishment militar chinês se empenha cada vez mais em fazer o contrário do que Obama promete aos EUA: acelerar a pesquisa, acumular força.

Quando Obama diz “Vou mudar o mundo”, ele sabe do que está falando. Apenas, a mudança que ele promete não é nova: é a mesma de sempre, a destruição da democracia por meios democráticos, o aumento do controle estatal sobre a vida dos cidadãos, o enfraquecimento do capitalismo e a exaltação do socialismo. Em pleno curso de realização dessa desgraça, a chantagem psicológica que impôs aos cidadãos americanos a obrigação moral de votar em Obama sem perguntar quem ele era terá se tornado, em comparação, uma trapaça menor, quase inocente.

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