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É proibido parar de mentir

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio (editorial), 27 de junho de 2008

Seja em ciência política, seja no mero comentário jornalístico, a análise de um candidato a qualquer cargo eletivo, para ter o mínimo de confiabilidade, tem de abranger os seguintes aspectos e suas interrelações:

1. Sua imagem publicitária,  o “personagem” criado pela sua campanha, o qual pode coincidir em mais ou em menos com a sua personalidade real.

2. Seu programa de governo ou plano de ação, considerado na sua pura lógica interna.

3. A comparação entre esse plano e a situação externa objetiva que ele promete alterar ou corrigir.

4. As correntes de pensamento atuais ou pretéritas que, de maneira mais próxima ou mais remota, se refletem nesse plano.

5. Os grupos políticos, econômicos e culturais que apóiam o candidato de maneira ostensiva ou discreta.

6. A posição real do candidato ante esses grupos, seja como seu líder efetivo, como seu parceiro permanente ou temporário ou como seu agente e serviçal.

7. As alternativas reais ou possíveis contra as quais sua candidatura se opõe de maneira explícita ou velada.

Só quando esses sete fatores estão esclarecidos você pode ter uma certeza razoável de que conhece o candidato e sabe a que ele veio. É essa a condição sine qua non do alardeado “voto consciente”. E não é preciso dizer que essa condição depende, fundamentalmente, dos “formadores de opinião” – dos intelectuais públicos e da mídia.

Pois bem: em duas eleições sucessivas o brasileiro votou em Lula sem ter a menor idéia de que ele era o fundador e presidente da maior organização revolucionária que já existiu na América Latina. Faltaram por completo, na imagem pública do candidato, os itens 5, 6 e 7 da lista. Essas informações foram propositadamente, sistematicamente sonegadas ao eleitor pela propaganda partidária e por toda a “grande mídia”, com a cumplicidade passiva da pretensa Justiça Eleitoral.

Essas duas eleições foram ilegais no mais estrito sentido da palavra. Não atenderam às condições mínimas de informação fidedigna que o público precisa para escolher uma marca de automóvel, uma geladeira ou um remédio para hemorróidas. Todos os proprietários de jornais, revistas e canais de TV sabiam disso perfeitamente. A Justiça Eleitoral sabia disso. As Forças Armadas sabiam disso. A cumplicidade geral deu ao crime ares de legitimidade, marcando a ruptura definitiva entre o debate público e a realidade da vida nacional e gerando a atmosfera de alienação e loucura da qual a corrupção e a violência, em doses jamais vistas no mundo, são apenas o sintoma mais visível e escandaloso.

Jamais, na história de qualquer nação, a elite falante, por amor e temor a um grupo político ambicioso e cínico, traiu e ludibriou tão completamente um povo.

Não é de estranhar que, decorridos alguns anos, o hábito da trapaça consciente e fria tenha se impregnado tão profundamente na moral dessa elite que até mesmo ao falar de outros países ela tenha de mentir compulsivamente – e mentir no preciso sentido que interessa ao grupo dominante. Só para dar um exemplo, a cobertura jornalística da candidatura Barack Obama na mídia brasileira limita-se estritamente a vender ao público a sua imagem publicitária — item 1 da nossa lista –, sem chegar a tocar nem mesmo no seu programa de governo. Ela mente em favor de Obama ainda mais espetacularmente do que mentiu em favor de Lula. Nenhum jornal ou canal de TV brasileiro jamais informou que Obama é um apóstolo da “Media Reform” calculada para eliminar a liberdade de opinião no rádio, um defensor ardente da proibição total de armas de fogo pela população civil (na mesma linha que Hitler adotou na Alemanha), um partidário fervoroso do imediato desmantelamento das defesas americanas anti-míssil (portanto da rendição incondicional ante qualquer poder nuclear estrangeiro). Ninguém jamais informou que ele votou contra a proibição de matar bebês que sobrevivam ao aborto e que ele é um discípulo da “teologia da libertação” na sua versão mais radical e extremada. Ninguém informou que os grupos que o apóiam são círculos bilionários globalistas aos quais ele serve como agente para a destruição da soberania americana e a imediata implantação de um governo mundial pelos meios mais antidemocráticos que se pode imaginar. E ninguém informou que sua maior vantagem ante o concorrente republicano reside precisamente na superioridade dos seus fundos de campanha (400 milhões de dólares contra 85), o que já basta para mostrar que Obama não é de maneira alguma o candidato dos pobres e oprimidos.

Contra todas essas informações essenciais, a mídia brasileira martela e remartela a imagem publicitária baseada exclusivamente na cor da pele. Se Obama fosse candidato a presidente do Brasil, teria a maior votação da nossa história.

Revolução camuflada

Olavo de Carvalho

O Globo, 8 de janeiro de 2005

Tagarelas pagos a peso de ouro para infundir sua ignorância num público de idiotas ricos juram que não há nenhuma revolução em curso no Brasil, e apontam como prova a falta de greves gerais, de violência política ostensiva, de um estado insurrecional em suma.

O único modelo (ou estereótipo) de revolução que conhecem, e cuja ausência no cenário físico alegam em favor da sua tese, é algo que todos os revolucionários do Ocidente já abandonaram desde a década de 30. Se dependêssemos desse indício visível para diagnosticar revoluções, ainda não teríamos constatado a expansão dos movimentos totalitários no mundo desde então. A mudança da estratégia geral das revoluções já tem mais de sete décadas, mas no Brasil permanece um mysterium ignotum , exceto nos círculos esquerdistas que a praticam e que não têm nenhum interesse em manter seu adversário informado a respeito.

Não me refiro só às lições de Antonio Gramsci, cujo completo desconhecimento pelas suas vítimas potenciais é uma prova de que o brasileiro prefere antes morrer do que ter de ter de estudar alguma coisa que não reverta imediatamente em dinheiro.

Antes de Gramsci, muitos autores já haviam chegado à conclusão de que o caminho das revoluções modernas vai de dentro para fora do Estado e não ao contrário. Um deles foi Hermann Rauschning.

Militante nazista, Rauschning chegou a governador de província e tinha uma bela perspectiva de ascensão no partido. Após uma série de entrevistas com Hitler, percebeu o mal em que se envolvera e, arrependido, fugiu para a Inglaterra, de onde tentou alertar as democracias quanto ao perigo que corriam. Não foi ouvido, é claro, mas seu livro A Revolução do Niilismo permanece um clássico da análise política da “revolução desde dentro”.

Nessa obra há dois parágrafos que são a descrição antecipada e literal do que se passa no Brasil:

“O poder e os recursos do Estado moderno tornam as revoluções civis virtualmente impossíveis… Tudo o que é possível é […] o golpe ou revolução mediante arranjo, desde cima, sob o patrocínio dos poderes constitucionais.

“Para atingir os fins revolucionários sem colocar as massas em ação, golpes que sigam a tática de inocular nas leis o impulso revolucionário, de manipular a legalidade até que ela tenha passado de um estágio de revolução mascarada para emergir como uma nova legalidade, são empreendidos a pretexto de prevenir um período de anarquia, de manter o controle dos acontecimentos, de impedir que o país seja entregue à mercê de incalculáveis elementos ‘demoníacos’. Depois que a legalidade revolucionária foi instituída sem sangue, o curso dos acontecimentos fica à mercê, precisamente, desses elementos incalculáveis e demoníacos. Este método desfere um golpe muito mais paralisante na justiça e no senso de justiça do que uma revolução aberta… A revolução-mediante-arranjo termina na exaustão geral. Pois em sua artificial combinação de forças ela inclui elementos irreconciliáveis… cada um pretendendo secretamente sobrepujar o outro na primeira oportunidade” ( The Revolution of Nihilism. Warning to the West , New York, Alliance Book, 1939, pp. 10-12.)

Não tenho espaço aqui para comentar o trecho linha por linha, mas o leitor desperto há de ter reconhecido, en passant, a inoculação do espírito revolucionário no corpo das leis (“direito alternativo”, desarmamento civil, financiamento público de um movimento subversivo e ilegal), a alegação de prevenir um estado de coisas insustentável (corrupção, miséria, violência), a subseqüente entrega do país aos mesmos elementos “demoníacos” que se alegava querer controlar (traficantes e assassinos), a combinação de forças inconciliáveis (partidos revolucionários, organizações criminosas, empresários oportunistas, velhas lideranças locais, a direita militar anti-americana — cada um com suas ambições prioritárias), a paralisação da justiça e do senso de justiça e, como resultado final, a exaustão política e mental do país, que o predispõe, por cansaço e desespero, a apegar-se como criança perdida a qualquer esperança insensata que lhe ofereçam. Será preciso dizer mais?

Guerra de covardes

Olavo de Carvalho

Zero Hora, 26 de dezembro de 2004

O acontecimento foi omitido pela mídia nacional, mas o leitor pode conferir na página http://www.rebelion.org/noticia.php?id=8980 em junho de 2004, o comandante-geral do Exército venezuelano, general Raúl Baduel, discursando no 51º aniversário da Escuela de Infantería, anunciou oficialmente a nova doutrina militar de seu país, baseada no conceito de “guerra do povo” criado pelo comandante vietnamita Vo Nguyen Giap. A idéia é simples, genial e de uma bestialidade a toda prova. Consiste em envolver toda a população na atividade guerreira, de modo a privar o adversário do centro de gravidade do seu ataque – a destruição física do exército convencional – e forçá-lo à escolha impossível entre o genocídio assumido e a autocontenção debilitante.

Sua adoção pelo Vietnã do Norte foi uma das primeiras aplicações do princípio geral que depois viria a chamar-se “guerra assimétrica”, no qual um dos lados se arroga o direito a todos os crimes, a todas as covardias, ao mesmo tempo que amarra o adversário numa complexa rede de cobranças morais perante a opinião pública, levando-o à hesitação e à paralisia. O exército de Giap era, nesse sentido, a exata inversão de um exército normal, que arrisca a vida no campo de batalha para proteger o povo. Seus soldados espalhavam-se e diluíam-se no meio da população, usando-a metodicamente como escudo humano. As mortes de civis deliberadamente provocadas pelo seu próprio governo eram em seguida aproveitadas como material de propaganda contra os EUA.

Nem Hitler e Stalin chegaram a tamanha baixeza. Giap, por havê-la praticado gostosamente anos a fio, foi entronizado como santo do movimento comunista internacional.

Muitos jornalistas ocidentais – brasileiros inclusive – foram cúmplices voluntários da operação. O repórter José Hamilton Ribeiro, da revista Realidade, confessou que ele e seus colegas repassavam aos leitores, como notícias confiáveis, aquilo que sabiam perfeitamente ser pura desinformação vietcongue.

A vitória de Giap foi aliás devida antes a esses amáveis colaboradores do que à astúcia macabra da sua estratégia. Na ofensiva do Tet, ele caiu na sua própria armadilha, retirando o exército de sob as saias da população e expondo-o num ataque maciço. Resultado: suas tropas foram esmagadas, mal restando o suficiente para invadir a embaixada americana em Saigon e aterrorizar funcionários civis. A imagem destes em debandada, porém, foi transmitida pelos jornalistas americanos pró-vietcongue (a quase totalidade deles) como prova de “derrota” do seu país, causando a crise política que obrigou o presidente Johnson a retirar suas tropas do Vietnã, curvando-se ante um inimigo militarmente destroçado. O próprio Giap, anos depois, reconheceu que suas armas mais eficazes foram a mídia esquerdista chique e os movimentos “pacifistas” que amarraram as mãos do governo americano, entregando o Vietnã do Sul e o Camboja ao domínio dos comunistas, os quais ali puderam então matar tranqüilamente 3 milhões de civis, a salvo de qualquer protesto ocidental audível.

Pois bem, foi à doutrina giapiana da covardia organizada que a Venezuela aderiu oficialmente, contando, para implementá-la, com a ajuda do Brasil, no mínimo sob a modalidade do fornecimento de armas, mas idealmente como apoio à adoção da “guerra do povo” como doutrina militar global da Comunidade Sul-Americana de Nações.

Se as nossas Forças Armadas, o último reduto da honestidade e do patriotismo no Brasil, consentirem em colaborar com os planos do governo da Venezuela, não restará alternativa para os cidadãos honrados – se ainda existirem depois disso – senão sair do país.

Meus votos de ano novo a todos os brasileiros resumem-se num só: que isso não chegue a acontecer.

* * *

Vocês leram as denúncias do jornalista Vítor Vieira, em www.videversus.com.br, sobre a corrupção no Fórum Social Mundial? Pensem nelas, na próxima vez em que quiserem aceitar, como alternativa eleitoral ao PT, um entusiasta desse empreendimento.

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