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Radiografia do caso Obama

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio (editorial), 12 de setembro de 2008

Mesmo na hipótese altamente improvável de que Barack Hussein Obama venha a tirar da cartola uma certidão de nascimento autêntica e demonstrar enfim sua condição legal de cidadão americano, restará sempre o fato líquido e certo de que uma certidão falsa foi apresentada ao público, oficialmente, pela sua campanha eleitoral (v. a análise irrespondível de um perito forense em http://atlasshrugs2000.typepad.com/atlas_shrugs/2008/07/atlas-exclusive.html).

Crime é crime, e não deixa de sê-lo pelo simples fato de a conduta do acusado vir eventualmente a sugerir, ex post facto, que foi um crime desnecessário e prejudicial a ele mesmo. Se Obama for eleito, será, segundo parece, o primeiro presidente americano a ser empossado trazendo nas costas uma condenação criminal. Embora abafado até o extremo limite do possível pela grande mídia e nem de longe mencionado durante a Convenção que sacramentou entusiasticamente o candidato democrata, o processo já está correndo (v. www.obamacrimes.com). Foi movido num tribunal federal da Filadélfia pelo advogado Philip Berg, um militante clintoniano cuja única intenção, segundo ele diz, foi a de poupar ao seu partido o dano incomparavelmente maior de eleger um inelegível, ou mesmo um elegível que já no dia da posse estará carimbado oficialmente como criminoso.

A pergunta que não me sai da cabeça é: por que os líderes do Partido Democrata estão aceitando, aparentemente sem grande preocupação, o risco desse vexame colossal? É impossível que não saibam da certidão forjada, é impossível não perceberem que estão arriscando a sorte do seu partido no blefe mais autofrustrante de todos os tempos. É impossível, sobretudo, que o próprio Obama não saiba dessas coisas.

Uma hipótese plausível é a de que tudo seja um cálculo maquiavélico para dar a presidência não ao inexperiente Obama e sim ao tarimbado Joe Biden. O Partido Democrata terá colocado no cargo algo que pelo menos leva jeito de presidente e não um Messias de programa de auditório, com a vantagem adicional de entrar para a História como a agremiação heróica que elegeu o primeiro presidente negro dos EUA, infelizmente retirado do poder – oh, mundo cruel! — por uma vasta conspiração direitista de advogados e juízes. Obama será jogado fora como um preservativo usado, mas levando como prêmio de seus esforços a recordação dos quinze minutos de fama e um cronograma garantido de conferências acadêmicas milionárias pelos próximos dez ou vinte anos.

A trêfega adesão dos Clintons a uma candidatura que até a véspera não aceitavam de maneira alguma fala em favor dessa hipótese. Biden é amigo do casal há décadas, e na campanha pelas eleições primárias ele cortejou Hillary o tempo todo, na óbvia expectativa de um cargo ministerial. Biden na presidência seria o retorno póstumo da Era Clinton em forma de resíduo fantasmal, como numa sessão espírita.

Há no entanto uma outra hipótese, mais sinistra, que não nega a primeira, mas a complementa espetacularmente. Para enxergá-la com clareza, é preciso ter em conta os seguintes fatores:

(1) Obama não é o candidato preferido do eleitor americano, mas é o candidato preferido da espécie humana. Na Europa ocidental e oriental, na Ásia, na África e na América Latina, uma campanha de endeusamento como jamais se viu no mundo deu ao medíocre senador de Illinois as proporções de um salvador mítico do universo e não somente dos EUA. Essa campanha não é um aglomerado de curiosas coincidências, ela tem unidade e coerência notáveis, não só no estilo retórico demencial, que toma símbolos publicitários como realidades palpáveis, e não só na orientação política subjacente, uniformemente anti-americana, mas também nas fontes que a subsidiam e orientam, entre as quais se destacam os recursos bilionários dos potentados árabes, das organizações esquerdistas e terroristas, de George Soros e do lobby globalista em geral. Na forma como no conteúdo, na identidade dos seus porta-vozes como no seu teor ideológico indisfarçável, a campanha obamista internacional é apenas a condensação eleitoral da onda de ódio anti-americano que veio crescendo, sem descontinuar, desde o fracasso do “socialismo real”, e que hoje é o único pólo aglutinador do movimento revolucionário no mundo.

(2) Nessa campanha, que não é só publicitária mas visa a uma “mudança” real, Obama não entra só como um símbolo – embora nesse papel tenha um brilho incomum – e sim também como um efetivo executor. Seu programa de governo, em todos os pontos substantivos (excluídas portanto somente algumas concessões verbais ao patriotismo americano), consiste sumariamente em demolir a economia americana por meio de impostos e legislações restritivas, em substituir a cultura americana tradicional pelo lixo “multiculturalista”, em transferir a organismos internacionais parcelas essenciais da soberania americana e em colocar os EUA de joelhos ante as “reivindicações legítimas” (palavras dele, porca miséria!) dos terroristas anti-americanos. Se todos os inimigos dos EUA apóiam esse sujeito, é por um motivo inteiramente óbvio: ele é um traidor feito sob medida, um agente local a serviço de poderes extranacionais, um Quisling em toda a linha. Embora nem todos o declarem em voz alta, praticamente todo mundo nos EUA enxerga isso. A diferença é que uns gostam, outros não. Ambos fingem que não vêem: estes, porque reconhecer esses fatos abertamente seria confessar um estado de pânico, de calamidade pública, pior do que mil furacões da Louisiana; aqueles, porque a camuflagem é a essência da traição.

(3) É claro que, para desempenhar sua parte no plano, Obama nem precisa chegar à presidência. Que quase metade do eleitorado seja imbecilizada ao ponto de endeusar um candidato tão somente pela força de seus slogans de campanha, sem examinar nem mesmo seu programa de governo e aceitando ignorar por completo sua biografia – a mais comprometedora que já se viu em tão alto escalão –, já é um dano irreparável. Os valores da democracia americana já foram corroídos pelo anti-americanismo externo e interno ao ponto de milhões de eleitores desejarem conscientemente – embora não confessadamente – um traidor na presidência. Esse mal já está feito e, sob esse aspecto, a campanha de Obama, mesmo que perca as eleições, como parece mesmo que vai perder, já saiu vencedora. O resto do serviço, no caso improvável de uma vitória dos democratas, Joe Biden poderia fazer até melhor que Obama: afinal, é o sujeito que quer reprimir a exploração de novos poços de petróleo nos EUA depois de ter apoiado a cessão de belas reservas petrolíferas do Alasca… à Rússia.

Escrúpulos de comunista

Olavo de Carvalho

Jornal do Brasil, 11 de setembro de 2008

A propósito da notícia publicada no último dia 30 pela Agência Reuters, com o título “Doação da Gerdau ao PSOL abre debate ideológico na esquerda”, devo lembrar aos distintos leitores que todo o dinheiro dos partidos comunistas e pró-comunistas do mundo vem de uma ou várias das seguintes fontes:

1. Roubos, assaltos, seqüestros, narcotráfico e outros crimes.

2. Trabalho escravo em quantidades jamais vistas antes no Oriente ou no Ocidente.

3. Desapropriações sumárias, sem indenização, impostas à força, não raro mediante o assassinato do proprietário, rico ou pobre (pobre, na maioria dos casos).

4. Lavagem de dinheiro da KGB e órgãos similares, obtido pelos meios acima e investido em negócios capitalistas por intermédio de testas-de-ferro (as maiores fortunas do mundo, hoje em dia, têm essa origem).

5. Subsídios estatais e privados extorquidos mediante chantagem psicológica e ameaça de violências ou drenados sutilmente da rede de ONGs esquerdistas que cobre meio planeta.

6. Contribuições de militantes, que podem chegar a 50 por cento dos seus salários (e ai de quem não pague em dia!).

7. Uma imensidão de negócios lícitos e ilícitos, nos ramos de indústria, mídia, edições, publicidade, bancos, educação etc., que colocam comunistas e seus aliados entre os maiores capitalistas do universo.

8. Ajuda vinda de ricos “companheiros de viagem”, seja em troca de favores ou do mero aplauso.

9. Ajuda ocasional recebida de milionários direitistas ou pelo menos não comunistas, empenhados, por algum motivo que não cabe discutir agora, em agradar seus inimigos.

Nenhuma quantia proveniente das oito primeiras fontes jamais causou o menor problema moral a seus recebedores comunistas. Ao contrário, eles estão persuadidos de que é seu direito e dever embolsar todo o dinheiro do mundo, porque eles são bons, mesmo quando matam, escravizam, roubam ou torturam em massa, e os outros seres humanos são maus, mesmo quando se limitam a ganhar honestamente a vida. Só o dinheiro vindo da última origem mencionada suscita alguns escrúpulos de consciência – não por causa da natureza da fonte, já que “pecunia non olet”, mas porque, raios!, às vezes a coisa é divulgada na mídia e pega mal entre os comunistas não beneficiados diretamente pela doação. Aí a consciência moral comunista desperta e seus rugidos de indignação sacodem o ar em torno. Debates “éticos” acalorados eclodem por toda parte, colocando em questão a pureza ideológica dos beneficiados e seu direito de contaminar-se em tão más companhias.

A maneira como a mídia noticia esses episódios dá a entender não só que se trata de escrupulosidade moral nobre e genuína, mas que isso diferencia os partidos de esquerda de seus concorrentes direitistas e que, de modo geral, embolsar dinheiro do adversário é a única mancha possível – mesmo assim incerta – na ilibada moralidade comunista. De um só golpe, a mais patente hipocrisia é transfigurada em prova de virtude suprema, ao passo que a imensidão de crimes cometidos com total frieza pelos maiores ladrões, exploradores e assassinos do mundo desaparece do horizonte do debate, como se não houvesse aí nenhum problema moral a discutir. O único pecado concebível em que um comunista pode sujar-se é receber, em público, dinheiro do inimigo. O resto são só virtudes.

Essa lisonjeira auto-imagem publicitária dos comunistas tornou-se norma de redação obrigatória para toda a mídia. O jornalismo nacional acabou virando um órgão do debate interno da esquerda, encerrando os leitores, para sempre, numa redoma mental onde se torna impossível escapar, mesmo em imaginação, aos valores e critérios do esquerdismo. Hoje em dia, até para criticar a esquerda o cidadão é obrigado a pensar segundo as categorias que ela determina. Isso é precisamente o que Antonio Gramsci chamava de “hegemonia”.

Checando biografias

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio (editorial), 11 de setembro de 2008

Enquanto nos EUA, no Brasil e no mundo a grande mídia esquerdista (desculpem a redundância) vasculha a biografia de Sarah Palin nos seus mínimos detalhes, trazendo ao público as revelações chocantes de que ela pertence à Igreja Pentecostal, de que sua filha transou com o namorado e de que (acrescenta a pérfida Ann Coulter) seu cabelereiro teve uma multa de trânsito em 1978, nada, absolutamente nada aí se conta a ninguém sobre alguns episódios da vida de Barack Hussein Obama, decerto irrisórios e desprovidos de qualquer alcance político, não é mesmo? Eis oito exemplos:

1. Ele foi admirador e companheiro de protestos do pastor Louis Farrakhan, aquele segundo o qual “o judaísmo é a religião do esgoto”. Isso faz tempo, mas depois de eleito senador ele deu 225 mil dólares em verbas federais à igreja de seu amigo Michael Pfleger, onde Farrakhan é um dos mais freqüentes e aplaudidos pregadores convidados.

· Pfleger, ainda mais radical que Jeremiah Wright: http://www.youtube.com/watch?v=LjJlsGrlbUs

2. No Quênia, ele deu apoio eleitoral a um agitador que depois organizou a destruição de trezentos templos cristãos e o assassinato de mais de mil fiéis, cinqüenta deles queimados vivos numa igreja, sem que Obama viesse a dizer uma só palavra contra essa gentil criatura.

3. Ele disse que o terrorista William Ayers (da quadrilha do “Homem do Tempo”) era apenas um seu vizinho com quem jamais conversava de política, mas depois se descobriu que ele e Ayers dirigiram juntos uma ONG que coletou 72 milhões de dólares para movimentos de esquerda, sendo um interessante exercício intelectual conjeturar como puderam fazer isso sem falar de política.

4. Neste preciso momento ele responde na Pensilvânia a um processo de falsidade ideológica, por ter apresentado a seus eleitores uma certidão de nascimento obviamente forjada. A verdadeira, se existe, até hoje não apareceu, e o beautiful people da mídia não releva o menor interesse em conhecê-la.

· Processo contra Obama: www.obamacrimes.com

5. Embora ele diga que sempre foi cristão, todos os seus colegas e professores de escola primária, bem como seu meio-irmão e sua meia-irmã, afirmam que ele era muçulmano na época em que ali estudava.

6. Por duas décadas ele freqüentou semanalmente uma igreja que alardeava a “teologia da libertação” mais escancaradamente comunista e anti-americana, e depois disse que não tinha a menor idéia do conteúdo do que ali se pregava.

7. Não é só sobre suas origens ou sobre sua religião que Obama cultiva segredos. Também não é só sua certidão de nascimento autêntica que continua inacessível. Embora gabando-se de sua carreira em Harvard, ele se recusa a mostrar o histórico de seus estudos universitários. Os fofoqueiros maldosos dizem que ele tem vergonha de mostrar suas notas baixas (talvez ainda mais baixas que as de George W. Bush, Al Gore e John Kerry), mas agora se sabe que ele tem um motivo mais forte para encobrir os detalhes da sua passagem por Harvard: seus estudos ali foram pagos por Donald Warden, um americano que, islamizado sob o nome de Khalid Abdullah Tariq al-Mansour, veio a se tornar um dos mentores do grupo terrorista Panteras Negras, fund-raiser para a organização pró-terrorista African-American Association e autor de um livro segundo o qual o governo americano planeja matar todos os negros.

8. Em cinco campanhas eleitorais, o mais ativo coletor de fundos para Obama foi o vigarista sírio Tony Rezko, condenado por dezesseis crimes. Uma vez no Senado, Obama retribuiu com dinheiro público a gentileza, convencendo vários prefeitos a investir um total de 14 milhões de dólares num projeto imobiliário do malandro.

Os brasileiros não saberão de nada disso assistindo ao “Jornal Nacional”, nem os americanos à CNN. Ante as acusações gerais de que John McCain não checou direito a biografia de Sarah Palin, o colunista Don Feder sugere que a de Obama, por sua vez, foi checada meticulosamente – por uma comissão integrada por Forrest Gump, o Inspetor Clouseau e o Agente 86, Maxwell Smart. E, quando Obama comete um lapsus linguae, dizendo “minha fé muçulmana” em vez de “minha fé cristã”, todas as almas santas do esquerdismo mundial se revoltam ante as insinuações, vindas de maldosos direitistas, de que isso possa significar alguma coisa. Eu mesmo sou tão perverso que cheguei a me perguntar se Obama não trocava os pés pelas mãos justamente por ser muito difícil, até para um ator tarimbado, exibir-se como um pavão no poleiro e ao mesmo tempo esconder-se como um rato na toca.

Mas Obama nem precisaria ser tão escrupuloso na camuflagem. A mídia esconde tudo por ele – para quê preocupar-se em vão ao ponto de ficar nervoso e atrapalhar-se no discurso? Afinal, que são os pequenos deslizes do candidato democrata em comparação com a gravidez solteira de Bristol Palin? Toda a esquerda chique, que sempre batalhou pela “liberação sexual da juventude”, está hoje escandalizada, chocada, perplexa ante essa semvergonhice incomum, sem dúvida um risco maior para a segurança dos EUA no caso de Sarah Palin chegar à vice-presidência. Com o detalhe especialmente elucidativo de que, uma vez desencadeada a campanha de ataques à devassidão abominável da família Palin, essa mesma onda é explicada retroativamente como fruto do moralismo reacionário dos americanos e assim transfigurada num argumento fulminante contra a eleição de candidatos conservadores.

***

P. S. – Já habituado a apostar contra a classe jornalística e ganhar sempre (se eu botasse dinheiro nisso estaria milionário), fui o único correspondente brasileiro nos EUA a anunciar, com antecedência de duas semanas, que Sarah Palin era o nome mais provável para a candidatura à vice-presidência na chapa McCain. A mídia nacional inteira cumpriu fielmente, como sempre, seu dever de chutar e errar. Quem mais caprichou foi o correspondente do Estadão, que fez uma lista de dez – não dois ou três, mas dez – vicepresidenciáveis, e nenhum deles era Sarah Palin.

 

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