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Olavo de Carvalho

Jornal do Brasil, 8 de setembro de 2005

Nos países comunistas, não existe jornalismo propriamente dito. Existe a imprensa oficial, que é parte integrante dos serviços de inteligência. O jornalista estrangeiro que ocupe qualquer cargo na mídia de um desses países está lá por ser pessoa de confiança do serviço secreto local, e nenhum serviço secreto que se preze tem confiança senão em seus agentes pagos ou em indivíduos que de algum outro modo estejam sob o seu controle.

Quando esse jornalista volta para o seu país de origem, volta como voltou o sr. José Dirceu, que nunca explicou como veio a operar o milagre de “desligar-se” da inteligência cubana, da qual ninguém antes dele jamais saiu senão pelas vias estreitas da aposentadoria vigiada, da deserção ou da morte.

Assim como o sr. Dirceu decerto apenas mudou de posto, do mesmo modo o jornalista brasileiro que retorne à terra natal depois de ter trabalhado na Rádio Havana, na Rádio Praga, na Agência Tass, no jornal Granma ou em instituições similares volta em geral a serviço do mesmo governo comunista, apenas com função diferente. Dadas as suas qualificações profissionais, o mais razoável é que se torne um agente de influência.

“Agente de influência” é termo técnico. Designa o oficial encarregado de (des)orientar a opinião pública conforme as necessidades da estratégia revolucionária. No Brasil, quase ninguém sabe da diferença entre agentes de influência e meros jornalistas de esquerda. Mas o critério distintivo é bem simples: verifique se o sujeito trabalhou na mídia de algum governo comunista e se, uma vez no Brasil, continua agindo em prol do comunismo. A possibilidade de que esses dois capítulos entrem numa mesma biografia por mera coincidência é tão pequena que não vale o cálculo.

No momento, as duas prioridades máximas da estratégia comunista na América Latina, fora a aposta periclitante na transição pacífica do Brasil para o socialismo, são a “revolução bolivariana” do sr. Hugo Chávez e a narcoguerrilha colombiana que financia atividades subversivas no continente. Quanto a este último ponto, qualquer navegante da internet pode observar a pressa desesperada com que se montou um esquema mundial de proteção ao sr. Olivério Medina, para apresentá-lo como vítima de uma conspiração americana e impedir que a polícia obtenha dele alguma prova do auxílio criminoso que, segundo ele mesmo declarou numa festa de políticos, as FARC deram à campanha eleitoral do PT em 2002. O movimento é protagonizado por entidades estreitamente vinculadas às Farc através do Foro de São Paulo, isto é, beneficiárias ao menos políticas, se não também financeiras, das atividades do sr. Medina.

Quanto à revolução venezuelana, seus feitos mais escandalosos, que os exilados divulgam nos EUA, jamais saem nos nossos jornais e TVs, entidades cuja circunspecção nesses assuntos é um exemplo edificante para a juventude desbocada dos nossos dias. Mas o silêncio obsequioso da maioria não satisfaz a quem exige rendição total. A Associação Brasileira de Imprensa, por exemplo, acaba de aprovar uma moção de repúdio ao antichavismo obsessivo da mídia brasileira, o qual, embora jamais tenha sido notado por nenhum leitor ou telespectador, deve ser mesmo de uma onipresença brutal e constante, já que sustentado por “espúrios interesses” ianques e servido, segundo a moção, por “muitos jornalistas” nesta parte do planeta. Como os antichavistas no jornalismo nacional são meia dúzia e me acontece ser um deles, agradeço a honrosa multiplicação imaginária do nosso contingente, coloco meus extratos bancários à disposição dos interessados em saber das forças ocultas que me subsidiam (pedindo que me informem caso descubram alguma, para eu poder mandar a conta), e aproveito a ocasião para informar que o autor da moção é o sr. Mário Augusto Jacobskind, ex-editor da revista estatal cubanaPrismas . Em caso de dúvida quanto ao significado possível desta informação, clique back to top.

Amantes do furacão

Olavo de Carvalho


Diário do Comércio, 5 de setembro de 2005

Até o momento em que escrevo esta coluna, o Brasil não está entre os 25 países, os 25 únicos países que, dos quase duzentos membros da ONU, ofereceram ajuda às vítimas do furacão Katrina. Estamos mesmo é com Hugo Chavez, um sociopata insensível, que preferiu zombar dos cadáveres com uma oferta cínica de… petróleo!

Os EUA não precisam de ajuda nenhuma do exterior. Muitas cidades americanas já foram destruídas por terremotos, incêndios e furacões. Foram reconstruídas, sem ajuda de quem quer que fosse, pelo povo cujo trabalho suado salvou os russos, várias vezes, de morrer de fome, e ainda reergueu a Alemanha, a Itália, a França, a Inglaterra e o Japão depois da guerra.

Os EUA não precisam de ninguém. Mas, quando a simples intenção humanitária é sonegada tão maciçamente por países que sem a ajuda americana já nem mesmo existiriam, a conclusão inevitável é que o ódio espalhado no mundo pela brutal campanha de difamação sustentada pelo sr. George Soros não se volta contra os srs. Bush e Rumsfeld, mas contra a nação americana enquanto tal: seu povo, sua história, seus valores, sua simples existência física.

Os americanos criaram a única sociedade decente que existe no planeta, a única onde moral, humanitarismo e piedade ainda contam para alguma coisa, a única onde a terça parte do povo faz trabalhos voluntários para socorrer outros povos, a única que alimenta e ampara as nações que a combatem, a única onde os próprios direitos da cultura nacional são negados para dar mais espaço a imigrantes presunçosos, a única onde até terroristas estrangeiros sanguinários presos em combate têm os direitos dos cidadãos locais, a única que constantemente se coloca a si própria em questão com uma coragem intelectual inigualável, a única onde a luta pela justiça é a própria substância da vida nacional, a única que se condena a si mesma antes de jogar as culpas nos outros, a única que, vencedora numa guerra, retirou imediatamente suas tropas, deixando que os derrotados reconquistassem sua liberdade e dignidade, enquanto seu grande parceiro de vitória permanecia por décadas nos territórios ocupados, com tanques, canhões e pelotões de fuzilamento, sugando sangue de dezenas de povos e ainda acusando os americanos de “imperialismo”.

Os americanos criaram a única nação que, julgada em comparação com as outras – e não com os padrões angélicos artificiosos com que elas a julgam precisamente para fugir da comparação humana na qual sabem que sairiam perdendo –, tem mais motivos de se orgulhar que de se envergonhar.

A existência da América é uma vergonha para os russos, que juraram destruí-la e acabaram de chapéu na mão, implorando socorro. É uma vergonha para a China, que acumula armas nanotecnológicas na esperança insana de matar de varíola e tifo a população americana inteira mas não pode usá-las, porque seria mandar para a panela a galinha que bota ovos de ouro nas estatais de Pequim. É uma vergonha para o mundo islâmico, que com toda a sua bela oratória religiosa de mil e quatrocentos anos jamais conseguiu criar uma sociedade que não fosse, em maior ou menor medida, a negação viva das promessas corânicas de liberdade e justiça. É uma vergonha para os latino-americanos, que não suportam a comparação com o vizinho do Norte sem roer-se de desprezo a si mesmos e buscar alívio em histrionismos e fanfarronadas de uma abjeção sem par.

A campanha do sr. Soros somou todas essas vergonhas, para jogá-las sobre a América. A campanha está surtindo efeito.

Por isso, pela primeira vez na história da pretensa “ordem internacional”, a afetação de humanitarismo, usual nas catástrofes naturais, cedeu lugar à indiferença explícita, quando não aos sorrisinhos de satisfação. O mundo está hoje repleto de amantes de Katrina, como ontem de admiradores de bin-Laden.

Louisiana desconhecida

Alguns capítulos da verdadeira história da tragédia de New Orleans, cujo reverso fictício vocês lêem na mídia brasileira todos os dias.

A Louisiana é o estado mais corrupto dos EUA, uma Petelândia do Norte. Há décadas o governo federal envia verbas enormes para obras públicas, o dinheiro some. Técnicos passaram anos alertando que as barragens do lago Pontchartrain não agüentariam um solavanco mais sério, ninguém ligou.

Fora as refinarias de petróleo, o Estado mal tem infra-estrutura industrial. Milhões de desempregados obesos, brindados pela previdência social até com vouchers do MacDonald’s, passam as tardes em cadeiras de balanço, nas varandas de suas casas em ruínas, curtindo uma ociosidade deprimente e sem esperança. A taxa de delinqüência é a maior do país. O turismo sexual move a economia. Desordem, ilegalidade, roubalheira, confusão: estava tudo pronto para que, ao primeiro abalo da casca de civilização que ainda recobria o cenário, a Louisiana encenasse uma espécie de “Lord of the Flies” tamanho Spielberg.

Dois dias antes de romperem as barragens, o governo do Estado, alertado pelo serviço meteorológico, determinou a evacuação das áreas de risco. Os sábios da grande mídia acharam que era um exagero, porque o furacão ainda era considerado de categoria 3, tolerável. O povo acreditou na mídia e no prefeito cuja indolência a confirmava.

A cinco milhas da zona que viria a ser atingida, há terra seca, moradias, aeroporto, serviços públicos. A população teve dois dias para salvar a vida. Bastava andar cinco milhas. Ninguém andou, nem foi incentivado a isso. O governo federal ofereceu convocar a Guarda Nacional para ajudar na evacuação, ninguém quis. Nossa polícia dará conta do recado, garganteavam.

No tumulto que se seguiu, a polícia em desespero abriu as portas das cadeias, liberando milhares de delinqüentes que logo se armaram e espalharam novos motivos de pânico entra uma população já aterrorizada.

Tantos são os crimes e tantos os criminosos na longa preparação da tragédia, que os primeiros jamais serão investigados e os segundos jamais serão punidos. O remédio, naturalmente, é cuspir no culpado de sempre. George W. Bush provocou o furacão porque não assinou o protocolo de Kyoto. George W. Bush gastou no Iraque o dinheiro da reforma das barragens. George W. Bush não convocou a Guarda Nacional em tempo. George W. Bush não mandou o Exército para socorrer a multidão de vítimas, porque eram negras e ele é um maldito racista branco.

Adianta dizer que mil Protocolos de Kyoto não mudariam o clima terrestre em tão pouco tempo, sobretudo porque essa fraude monumental isenta de restrições ecológicas os maiores poluidores do mundo, China e Índia?

Adianta dizer que o dinheiro que foi para o Iraque não era da reforma e que, mesmo se fosse, jamais a barragem ficaria pronta antes de chegar o furacão?

Adianta dizer que quem não quis a Guarda Nacional em tempo foi o governo da Louisiana, e que aliás a Guarda Nacional é uma organização de voluntários, espalhados por suas casas e empregos, impossíveis de reunir em número suficiente para um desafio dessas proporções em menos de três ou quatro dias?

Adianta dizer que uma lei americana centenária proíbe a mobilização do Exército para qualquer assunto interno, que mudar essa lei seria uma discussão de meses no Congresso e que George W. Bush não é o Congresso?

Não, não adianta. Nos EUA, é claro, só uma fração mínima da opinião pública levou a sério as calúnias escabrosas que, como sempre, vieram pela boca dos Jesses Jacksons e Michael Moores. No Brasil, elas passam por verdades absolutas.

Jornalismo da vaca amarela

O colunista Zuenir Ventura aderiu à campanha lançada pela sua colega Miriam Leitão – aqui comentada no artigo anterior — para fazer de conta que ninguém na redação do Globo sabia da corrupção petista, pela simples razão de que jamais tive uma coluna semanal ali, jamais escrevi nada que pudesse alertar do assunto os meus colegas e, se escrevi, eles, coitadinhos inocentes, nunca leram. Como Groucho Marx, não lêem jornais que os aceitam como empregados.

Quinze anos de ocultação de crimes valem por outros tantos crimes. Quando por fim os delitos originais são revelados sem que ninguém mais consiga escondê-los, a saída de emergência é ocultar a ocultação. É a engenharia do esquecimento. Miriam e Zuenir lideram o pelotão de empreiteiros.

Com exceção de uns poucos, cujos nomes não cito para não fazer deles alvos de ódio, não há mais jornalistas na redação do Globo. Há somente agentes de influência do Foro de São Paulo, mentirosos compulsivos, covardões oportunistas, signatários compulsivos de manifestos pró-Chavez e, é claro, clones em miniatura de Duda Mendonça.

Direi que são uma vergonha para a profissão? Mas como ter a certeza de que compreenderão o que quer dizer “vergonha”? Sua memória talvez não chegue tão longe.

Suma patifaria

Quando comecei a falar do Foro de São Paulo, desagradando um jornal que esperava que eu nada fizesse contra o seu querido socialismo além de repetir os argumentos econômicos usuais – e já então sem efeito — do falecido dr. Roberto Campos, a gangue do candidato Lula ficou logo alarmada. Depois das eleições, seria fácil, com verbas federais, obter da mídia o silêncio obsequioso que viria a se mostrar tão eficaz. Naquela época, porém, era preciso inventar um desmentido às pressas. O desmentido veio pelas mãos do “assessor internacional” de Lula, o sr. Giancarlo Summa, o qual, em nota oficial, afirmava taxativamente ser o Foro apenas um encontro informal de debates, sem qualquer alcance estratégico ou decisório.

Respondi que encontros informais de debates não emitiam resoluções, muito menos resoluções sempre unânimes como as do Foro (v. http://www.olavodecarvalho.org/semana/10192002globo.htm ).

A resposta bastava, mas agora veio outra melhor. E veio da boca do próprio presidente da República, no discurso extraordinariamente vexaminoso, mesmo para os padrões lulísticos, com que enalteceu as condecorações oferecidas a alguns de seus puxa-sacos mais devotados: “Então, nós passamos a ter uma relação privilegiada com presidentes e com ministros que eram militantes, junto conosco, do Foro de São Paulo.”

Ou seja: o clube informal de debates, além de emitir resoluções, tinha também militantes. Ouviram bem? Militantes. Não sei onde anda o sr. Summa. O que sei é que é uma delícia ver o presidente, ex ore suo, meter um carimbo de mentiroso na testa do assessor que tentou lhe encobrir as indecências.

A verdadeira invasão

Não satisfeitos de enviar ao Brasil duzentas toneladas anuais de cocaína em troca de armas contrabandeadas do Líbano, os homens das Farc treinam bandidos nos morros cariocas, recrutam brasileiros para o narcotráfico e atiram em nossos soldados na Amazônia, ao mesmo tempo que continuam transitando à vontade no Palácio do Planalto sob a proteção das autoridades federais e participando de festinhas em Brasília com políticos governistas, nas quais se gabam de ter financiado a campanha presidencial do PT. Será coincidência que pela primeira vez um desses tipos, o sr. Olivério Medina, tenha sido preso justamente no momento em que a fortaleza de seus protetores no governo federal ameaça desabar, e não antes?

No Equador e na Bolívia, a política interna é ditada por grupos “bolivarianos” subsidiados por Hugo Chavez e orientados, através dele, por Fidel Castro.

Na Venezuela, policiais e juízes de Cuba, autorizados a isso por uma lei de Hugo Chavez, podem prender qualquer um nas ruas, seja cubano, venezuelano ou de qualquer outra nacionalidade, sem que o infeliz tenha sequer o direito de apelar aos tribunais locais.

Milícias venezuelanas, por sua vez, operam dentro do território da Colômbia, ajudando as Farc.

É esse o panorama do que alguns agentes de influência, bem colocados na mídia, nas universidades, nas academias militares e na Escola Superior de Guerra, chamam de “soberania nacional”, jurando que a coisa mais patriótica do mundo é defendê-la contra uma iminente “invasão ianque”.

O prezado leitor acha que algum desses indivíduos é idiota o bastante para acreditar sinceramente que Fidel Castro, Hugo Chávez e os homens das Farc sejam patriotas brasileiros, arrebatados de emoção verde-amarela, devotos da memória de Caxias, ciosos da honra nacional e da integridade do nosso território?

Acha que são sonsos ao ponto de ignorar que a promiscuidade judicial cubano-venezuelana, a onipresença triunfante da narcoguerrilha e a hegemonia absoluta do Foro de São Paulo são, já, a dissolução das fronteiras nacionais e a preparação da futura União das Repúblicas Socialistas Latino-Americanas?

Pois é. Nada disso. Eles sabem perfeitamente bem que nenhum país da AL tem condições de repelir sozinho a intromissão multilateral armada e corruptora, que aquilo que chamam “invasão americana”, se um dia chegar a se materializar, será na mais enfática das hipóteses o envio de umas poucas tropas a pedido de governos locais acossados, como aconteceu na Colômbia, que desencadear uma onda de pânico anti-americano é apenas diversionismo calculado para legitimar, sob desculpa alarmista e falsa, o fortalecimento da máquina chavista-fidelista-narcótica que oprime o continente.

Sabem perfeitamente que a ocupação norte-americana de uma parte qualquer da América Latina, mesmo ínfima, está fora de cogitação, porque os EUA não são uma Cuba qualquer, onde um cachorro louco fardado sai rosnando ordens e todo mundo obedece. Os EUA têm leis, têm uma ordem constituída, têm liberdade de imprensa, têm um parlamento, e quem quer que apareça em público propondo mesmo a título de simples conjeturação teórica uma invasão da América Latina receberá mil vezes mais pauladas do que o pastor Robertson, que sugeriu ainda mais conjeturalmente um tiro, apenas um tiro, um tirico de nada, na cabeça de anta do sr. Hugo Chavez.

Sabem que ninguém, nos EUA, quer um metro quadrado, um centímetro quadrado, um milímetro quadrado da América Latina, nem dado de graça. Sabem que, se a população do Brasil inteiro, de joelhos, implorar aos americanos: “Invadam-nos”, a resposta será: “Não, obrigado. Vocês têm idéia de quantos soldados e funcionários teríamos de enviar para botar ordem nessa bagunça infernal que vocês armaram aí? Têm idéia de quanto custaria isso? Daria para reconstruir duzentas New Orleans.”

Pois é, aqueles fulanos sabem de tudo isso, mas mentem, porque só são jornalistas nominalmente. Em substância, são agentes de influência, o que é coisa totalmente diversa. Explicarei a diferença num dos próximos artigos.

Aí vem tudo de novo

Olavo de Carvalho

Zero Hora, 4 de setembro de 2005

Em 11 de março de 2004, mais de um ano antes do escândalo do Mensalão, escrevi no Jornal da Tarde de São Paulo: “Se por um motivo qualquer o PT cair em total descrédito e não tiver mais condições de governar, entrará em ação o Plano B: suicidar o governo alegando que falhou porque estava muito ‘à direita’ e aproveitar-se da oportunidade para acelerar a transformação revolucionária do país, seja radicalizando a política oficial, seja reciclando o partido dominante por meio de expurgos e autocríticas, seja transferindo sua militância para outra e mais agressiva organização de esquerda.”

Porém muito antes disso, por volta de 1993, quando a elite petista brilhava nas CPIs, encurralando os adversários sob imputações criminais temíveis sem lhes dar nem mesmo o tempo de responder, escrevi e repeti dezenas de vezes que tudo aquilo não era senão a tradicional camuflagem leninista dos crimes incalculavelmente maiores que os próprios acusadores já estavam preparando ou cometendo naquele mesmo momento.

Não disse nada disso por adivinhação. Estudei a psicologia esquerdista ao longo de toda a minha vida adulta, para me livrar das obsessões que a freqüentação dessa gente havia incutido na minha mente juvenil, e tudo o que escrevo a respeito é baseado em deduções tiradas de precedentes históricos abundantes, bem como dos princípios estratégicos que os produziram.

Nas duas ocasiões, ninguém quis me ouvir. Até intelectuais soi disant liberais riam do que chamavam de minha paranóia antipetista. No Brasil é assim: as pessoas julgam tudo pela impressão de verossimilhança, ditada pela onda do momento, e não por estudo sério do assunto. E, quando descobrem que erraram, inventam logo explicações anestésicas para se iludir de que são mais inteligentes do que quem acertou. Para usar os termos do dr. Freud, sua mente é conduzida pelo princípio do prazer e não pelo princípio de realidade. Querem sentir-se bem, e não entender o que acontece. Querem imaginar-se normais enquanto vivem de fantasias, e por isto tapam olhos e ouvidos ante a extravagância das situações. Não percebem o quanto é doente a sua simulação de normalidade.

Tenho a certeza de que, mesmo depois de tudo o que aconteceu, os “formadores de opinião” deste país não vão querer me ouvir sobre o capítulo seguinte da história, que eles mesmos estão ajudando a escrever. Esse capítulo está planejado para ser a repetição exata do anterior, apenas com o PT trocado pelo P-SOL e o Sr. Lula pela Sra. Heloísa Helena, a nova encarnação da santidade comunista.

Lembro aos distintos – em vão, reconheço de novo – que essa senhora jamais protestou contra a aliança PT-Farc, contra a presença de narcoguerrilheiros armados treinando bandidos nos morros cariocas, contra a ocultação geral da existência do Foro de São Paulo, contra a bandalheira sangrenta de Hugo Chávez na Venezuela, contra a opressão contínua do povo cubano pela polícia secreta mais assassina e torturadora da América Latina – contra nenhuma das condições estratégicas que, no plano continental, prepararam a montagem discreta e eficiente da máquina criminosa do PT.

Bem ao contrário, a moralidade do seu partido pode ser avaliada pela acolhida respeitosa que dá a um notório assassino de crianças, o sr. Achille Lollo, terrorista italiano que ateou fogo à casa de um inimigo político, matando queimados os dois filhos do infeliz. Condenado pela justiça da Itália, o sr. Lollo andou foragido por muito tempo e reapareceu no Brasil, onde permanece sob a proteção do governo petista. O sr. Lollo é um dos principais teóricos e mentores do P-SOL — e o P-SOL é, exatamente como o PT, membro ativo do Foro de São Paulo, colaborador da estratégia continental de Fidel Castro e Hugo Chavez, parceiro portanto das Farc e do MIR chileno. Não é preciso dizer mais nada.

Transferir para o partido da Sra. Heloísa Helena o manto de idoneidade fingida que escorregou dos ombros do PT é cair de novo no mesmo engodo, com a obstinação duplamente culpada de quem, tendo negado a verdade uma vez, se crê por isso mesmo autorizado a negá-la de novo e de novo e de novo, até à crise final num paroxismo de loucura.

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