Ciro Gomes

Por José Nivaldo Cordeiro


11 de julho de 2002

Ciro Gomes pode se tornar o grande fenômeno das eleições que se aproximam. Ele está na legenda que é a herdeira do velho “Partidão” (PPS) e é apoiado por gente que fez carreira na esquerda. Militou no PSDB, tendo chegado ao posto de ministro da Fazenda. Sua plataforma política é, portanto, de esquerda.

Ciro veio de uma família conservadora de Sobral, cidade de seu Estado de origem, o Ceará, tendo sido toda a vida discípulo e protegido de governador Tasso Jereissati, empresário e político poderoso daquele Estado. Esse histórico conservador forma um grande contra-peso ao seu presente esquerdista.

Ocupou vários cargos eletivos, entre eles o de governador do Ceará. As fontes disponíveis dão conta de que fez um bom governo e não há acusações sobre a sua lisura na condução dos negócios públicos. Tem um bom currículo administrativo.
Seu guru econômico é Mangabeira Unger,o intelectual da MIT cujas idéias parecem nascer diretamente dos debates do antigo ISEB nos anos cinqüenta. Unger é um estatista convicto, na linha da Terceira Via européia e do Partido Democrata dos EUA. Um esquerdista light, em resumo.

Tem como característica de personalidade uma certa arrogância e pavio curto que, paradoxalmente, o credenciam para ser um bom orador. Usa muito bem os recursos da televisão. Essa impetuosidade, aliada com a juventude, coloca um imponderável sobre o seu comportamento depois da sua eventual subida ao poder. Sabemos que um presidente da República nunca deve ser explosivo e deve ter como máxima virtude a paciência.

Será que ele é, de fato, de esquerda? Penso que sim, mas tem vivência o bastante e histórico também que lhe permitem aumentar o grau de realismo sobre a ação do Estado e os seus limites. Comparado com os outros dois candidatos (Lula e Serra), é o que tem perfil mais conservador. Ele alia experiência administrativa com uma origem menos mudancista. Certamente será o nome em que os conservadores descarregarão os seus votos, já no primeiro turno, se revelar reais chances de chegar lá. Muitos dos líderes dos PFL não escondem a sua preferência por ele.

Ciro vai ser uma sombra ameaçadora sobre a candidatura Serra. Se Ciro crescer nas pesquisas, as chances de Serra se tornar o desaguadouro dos votos conservadores e anti PT caem. E penso até que no segundo turno Ciro reúne as melhores condições para derrotar Lula. Os próximos dois meses serão decisivos para consolidar as tendências do eleitorado.

Ciro está vivo no jogo, para desespero dos Tucanos e a alegria dos inimigos de Serra.

Uma questão de GLP

Por José Nivaldo Cordeiro

10 de julho de 2002

O meu distinto leitor deve ter pensado, ao ler o título desse artigo, que o mesmo trata do Gás Liquefeito de Petróleo – o GLP que se usa como gás de sozinha. Acertou e nem poderia errar, pois o tal gás é a estrela do momento. A partir dele, desenvolvi um outro GLP – Grau de Loucura Política, que outro nome não pode ter a política que a Petrobrás (Petrossauro para os liberais) tem feito nos últimos meses para o preço desse combustível.

O GLP de minha autoria, que é o mesmo índice do aumento de preço concedido ao GLP combustível, tem o seu aumento proporcionalmente inverso à popularidade dos governantes e daqueles seus correligionários que buscam se eleger. Não é à toa que o candidato governista está a patinar nas pesquisas de opinião. Os burocratas da Petrobrás estão decididos a transformar o GLP – o gás, em artigo de luxo, só acessível aos ricos.

Notícias de diferentes jornais têm mostrado a desproporção entre o preço desse combustível e os salários recebidos pelas populações mais pobres, o que está levando ao crescente uso de combustível alternativo, isto é, lenha, por absoluta incapacidade das pessoas poderem comprar o produto. É uma tristeza. Os burocratas estão fazendo as pessoas retornarem ao começo do século XX.

Para tirar a limpo a questão, acessei o site da Agência Nacional de Petróleo – a ANP (www.anp.gov.br), em busca de estatísticas. Elas confessaram o crime hediondo que os burocratas estão fazendo contra seu próprio povo, isto é, nós todos. Os dados estão atualizados até março, antes dos novos aumentos de preços cavalares que aconteceram desde então. Peguei alguns Estados para ilustração do desempenho do percentual de crescimento da venda no produto do 1º trimestre acumulado em relação a igual período de 2001:

  • Brasil: -5,0%
  • São Paulo -3,6%
  • Piauí -18,1%
  • Ceará -9,7%
  • Bahia -27,7%
  • Distrito Federal +2,3%
  • Região Nordeste -16,2%
  • Região Sudeste -0,9%

Analisando os números, veremos que quanto mais pobre é o Estado, maior é a queda de consumo. Quanto mais pobre a região, idem. Parece que os políticos e os burocratas têm raiva dos mais pobres.

A notícia mais relevante de hoje é que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) dobrou em junho em relação a maio, passando de 0,21% para 0,42% por conta principalmente do aumento do GLP, o gás, claro. Vimos que no final de semana a notícia mais importante foi a estagnação nas pesquisas do candidato governista à presidência da República. Penso que a causa é também o GLP, no caso o meu índice.

Se eu fosse conselheiro político do Planalto, diria: cuidado com o GLP, os dois, o gás e o Grau de Loucura Política. Nomearia alguém de confiança para administrar a Petrossauro, pois de nada adiantará a propaganda política e as promessas de campanha se os dois GLPs continuarem a subir nesse ritmo.

Da mesma forma, se fosse conselheiro dos candidatos de oposição, não falaria de outra coisa na TV. Quem elege o presidente, sabemos todos, são as classes “D” e “E” (eufemismo dos marketeiros para se referir aos pobres que não podem mais comprar GLP). O gás poderá ser o seu grande cabo eleitoral. O gás não, claro, ele só serve mesmo para queimar, mas o seu preço, que fritará a insensibilidade dos governistas.

O escárnio é que os que estão no governo sempre fizeram discurso favorável aos pobres. Como se vê, na prática, a teoria é outra.

Notícias eleitorais

Por José Nivaldo Cordeiro

9 de julho de 2002

Os resultados das pesquisas de opinião para os principais cargos majoritários divulgados no fim de semana que passou trazem uma grande notícia, no sentido de sua importância política e estratégia: José Serra não decolou. Com isso, todo o esquema de poder que controla o Palácio do Planalto pode ser varrido, subindo em seu lugar outra estrutura de forças políticas.As manchetes dos jornais trazem meu conterrâneo Ciro Gomes e sua ascensão. Deveriam ter trazido Serra e a sua estagnação, notícia de muito maior importância. Se a situação se mantiver, veremos o rebanho dos fisiológicos que a sua candidatura conseguiu reunir se bandear para outros nomes. Será impiedosamente cristianizado. Ninguém pode ser candidato de si mesmo. Serra bateu demais em fortes lideranças políticas tradicionais e afastou de si grandes puxadores de votos, esquecendo-se que não se ganha eleição de véspera e muito menos se constrói a condição de governabilidade ignorando os chefes políticos tradicionais. Errou duas vezes. Deveria ter copiado o método de FHC, porém a sua personalidade é muito diferente: ele prefere sempre o confronto ao entendimento, prefere a decisão solitária à colegiada, prefere o artificialismo a seguir o caminho natural. Precisaria agora voar alto nas pesquisas, mas seu corpo e suas asas são de um nutrido avestruz, que jamais deixa o nível rasteiro. Está impossibilitado de voar.

É cada vez maior a chance de Lula ganhar ainda no primeiro turno. Penso que o candidato só perde para si mesmo, para seus próprios erros e os de sua base política. A estupidez política que se vê em Alagoas (base eleitoral bem pequena) e que se vê também em Minas Gerais (segundo maior colégio eleitoral) pode comprometer a sua eleição. O escrutínio do segundo turno é uma outra eleição e aí alguém com o perfil de Ciro Gomes pode atropelar por fora, inclusive porque ele pode catalisar os apoios políticos desprezados pela coalizão governista e receber de braços abertos os fisiológicos, tão cortejados pelo candidato oficial, que ficariam agora órfãos.

Outra notável notícia é a vigorosa candidatura de Paulo Maluf em São Paulo, mostrando que o maior Estado da Federação está dentro das tendências internacionais de consagrar nas urnas os candidatos mais conservadores. É provável que Maluf sozinho seja o maior responsável pelo fracasso eleitoral da candidatura Serra, na medida em que enfraquece o esquema da social-democracia no maior colégio eleitoral do País. E não é só. Tuma e Quércia, o primeiro notavelmente conservador e o segundo com um passado de derrotas retumbantes, poderão, junto com Maluf, varrer os chamados “progressistas” do PSDB do poder em São Paulo. É uma reviravolta sensacional.

Enfim, serão muitas as variantes até outubro; muitas serão as emoções. Nada como uma eleição atrás da outra.