Por José Nivaldo Cordeiro

9 de julho de 2002

Os resultados das pesquisas de opinião para os principais cargos majoritários divulgados no fim de semana que passou trazem uma grande notícia, no sentido de sua importância política e estratégia: José Serra não decolou. Com isso, todo o esquema de poder que controla o Palácio do Planalto pode ser varrido, subindo em seu lugar outra estrutura de forças políticas.As manchetes dos jornais trazem meu conterrâneo Ciro Gomes e sua ascensão. Deveriam ter trazido Serra e a sua estagnação, notícia de muito maior importância. Se a situação se mantiver, veremos o rebanho dos fisiológicos que a sua candidatura conseguiu reunir se bandear para outros nomes. Será impiedosamente cristianizado. Ninguém pode ser candidato de si mesmo. Serra bateu demais em fortes lideranças políticas tradicionais e afastou de si grandes puxadores de votos, esquecendo-se que não se ganha eleição de véspera e muito menos se constrói a condição de governabilidade ignorando os chefes políticos tradicionais. Errou duas vezes. Deveria ter copiado o método de FHC, porém a sua personalidade é muito diferente: ele prefere sempre o confronto ao entendimento, prefere a decisão solitária à colegiada, prefere o artificialismo a seguir o caminho natural. Precisaria agora voar alto nas pesquisas, mas seu corpo e suas asas são de um nutrido avestruz, que jamais deixa o nível rasteiro. Está impossibilitado de voar.

É cada vez maior a chance de Lula ganhar ainda no primeiro turno. Penso que o candidato só perde para si mesmo, para seus próprios erros e os de sua base política. A estupidez política que se vê em Alagoas (base eleitoral bem pequena) e que se vê também em Minas Gerais (segundo maior colégio eleitoral) pode comprometer a sua eleição. O escrutínio do segundo turno é uma outra eleição e aí alguém com o perfil de Ciro Gomes pode atropelar por fora, inclusive porque ele pode catalisar os apoios políticos desprezados pela coalizão governista e receber de braços abertos os fisiológicos, tão cortejados pelo candidato oficial, que ficariam agora órfãos.

Outra notável notícia é a vigorosa candidatura de Paulo Maluf em São Paulo, mostrando que o maior Estado da Federação está dentro das tendências internacionais de consagrar nas urnas os candidatos mais conservadores. É provável que Maluf sozinho seja o maior responsável pelo fracasso eleitoral da candidatura Serra, na medida em que enfraquece o esquema da social-democracia no maior colégio eleitoral do País. E não é só. Tuma e Quércia, o primeiro notavelmente conservador e o segundo com um passado de derrotas retumbantes, poderão, junto com Maluf, varrer os chamados “progressistas” do PSDB do poder em São Paulo. É uma reviravolta sensacional.

Enfim, serão muitas as variantes até outubro; muitas serão as emoções. Nada como uma eleição atrás da outra.

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