Decapitados e decapitadores

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio (editorial), 22 de julho de 2008

Num seriado da TV estatal britânica BBC, uma organização cristã “de extrema-direita”, com nome sutilmente racista (White Wings, “Asas Brancas”), decapita um inocente muçulmano “politicamente moderado”, sob o pretexto – oh, quão paranóico! – de que a tradição cristã do Reino Unido está sob ameaça.

Não sei precisamente a quantidade de cabeças cristãs que têm rolado no mundo islâmico nos últimos anos – várias dúzias, até onde acompanhei o noticiário –, mas sei o número exato de muçulmanos decapitados pelos cristãos, fundamentalistas ou não, no Ocidente ou no Oriente: zero.

Quando uma TV estatal decide chamar os decapitados de decapitadores, atribuir a eles o fanatismo sangrento daqueles que os matam e ainda acusá-los de paranóicos quando se sentem ameaçados, uma coisa é clara: o proprietário dessa TV está em guerra contra a religião dessas pessoas e, na ânsia de extingui-la, não se vexa de recorrer à calúnia deliberada e cínica. Quando esse próprietário é o governo de uma das nações mais poderosas do mundo, o risco que a comunidade visada está exposto não é nada pequeno. É pelo menos tão grande quanto a imaginária “White Wings” diz que é.

Semanas antes, quase ao mesmo tempo que o governo britânico legalizava a poligamia e autoridades judiciais proclamavam que a implantação da lei islâmica no Reino Unido era apenas uma questão de tempo, a BBC havia proibido seus redatores de usar o termo “ditador” para referir-se ao falecido Saddam Hussein, aquela gentil criatura que consolidou seu poder presidencial matando os deputados de oposição e depois espalhou cemitérios clandestinos por todo o Iraque, preenchendo as valas comuns com centenas de milhares de rebeldes e indesejáveis em geral.

Simultaneamente, uma pesquisa do American Textbook Council (v. www.worldnetdaily.com/index.php?pageId=63872) mostrou que os livros de História distribuídos na rede de escolas públicas dos EUA são francamente pró-islâmicos, enquanto toda expressão pró-cristã é ali cada vez mais desestimulada e reprimida sob todas as formas, incluindo expulsão, prisão e estágios obrigatórios de “reeducação da sensitividade”.

Também quase ao mesmo tempo, a Suprema Corte dos EUA concede aos terroristas islâmicos presos em território estrangeiros os mesmos direitos dos cidadãos americanos, enquanto a grande mídia e os megabilionários globalistas conjugam esforços para eleger presidente dos EUA um muçulmano (relativamente) enrustido.

Mas, é claro, só um fanático militante da “White Wings” veria em tudo isso uma convergência entre os três grandes projetos de dominação mundial – o metacapitalista, o comunista e o islâmico – num esforço comum de realizar a velha meta do filósofo marxista Georg Lukács: destruir a civilização judaico-cristã.

“Judaico-cristã” não é só um modo de dizer. A guerra não é só contra os cristãos: a BBC tanto demonizou Israel que o governo de Tel-Aviv decidiu vetar a entrada de representantes dessa emissora nas entrevistas coletivas oficiais. Claro: de que adianta contar tudo a repórteres que depois escrevem o contrário? De que adianta mostrar-lhes dezenas de bombas lançadas diariamente contra Israel se depois eles vão pintar toda e qualquer reação israelense, mesmo desproporcionalmente modesta, como se fosse uma iniciativa isolada, sem motivo, inspirada pela pura brutalidade?

A inversão revolucionária em ação

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 21 de julho de 2008

Tanto em artigos de jornal como em aulas e conferências tenho exposto algumas conclusões de um longo estudo empreendido sobre a mentalidade revolucionária. As principais são as seguintes:

1. A mentalidade revolucionária, tal como aparece documentada nos escritos e atos de todos os líderes revolucionários desde o século XV, sem exceção notável, não consiste na adesão a esta ou àquela proposta político-social concreta, mas numa certa estrutura de apreensão da realidade, caracterizada pela inversão da ordem temporal e causal e da relação sujeito-objeto, daí decorrendo uma variedade de inversões secundárias.

2. Essas inversões não configuram apenas uma “doença espiritual”, no sentido que F. W. von Schelling e Eric Voegelin dão ao termo, mas uma doença mental em sentido clínico estrito. A mentalidade revolucionária é uma variante específica do “delírio de interpretação”, síndrome descrita pioneiramente pelo psiquiatra Paul Sérieux em seu livro clássico Les Folies Raisonnantes. Le Délire d’Interprétation (Paris, Alcan, 1909; acessível online em http://web2.bium.univ-paris5.fr/livanc/?cote=61092&p=1&do=page).

Observações do dr. Sérieux: “Enquanto em geral as psicoses demenciais sistematizadas repousam sobre perturbações sensoriais predominantes e quase permanentes, todos os casos que aqui reunimos são, quase que exclusivamente, baseados em interpretações delirantes; as alucinações, sempre episódicas quando existem, não desempenham neles papel quase nenhum… A ‘interpretação delirante’ é um raciocínio falso que tem por ponto de partida uma sensação real, um fato exato, o qual, em virtude de associações de idéias ligadas às tendências, à afetividade, assume, com a ajuda de induções e deduções erradas, uma significação pessoal para o doente… A interpretação delirante distingue-se da alucinação e da ilusão, que são perturbações sensoriais. Difere também da idéia delirante, concepção imaginária, inventada ponto por ponto, não deduzida de um fato observado.” Difere ainda, segundo o autor, da mera interpretação falsa, isto é, do erro vulgar, por duas razões: (1) “O erro é, no mais das vezes, retificável; a interpretação delirante, incorrigível.” (2) “O erro permanece isolado, circunscrito; a interpretação delirante tende à difusão, à irradiação, ela se associa a idéias análogas e se organiza em sistema.”

Noutro artigo explicarei a diferença específica entre a mentalidade revolucionária e as demais variedades de delírio de interpretação. Aqui pretendo apenas ilustrar algo que tenho dito e repetido dezenas de vezes: a inversão da realidade é um fator tão constante e onipresente no pensamento revolucionário de todas as épocas, que praticamente podemos encontrar amostras dele no que quer que os porta-vozes de ideologias revolucionárias digam sobre assuntos do seu interesse político. A quantidade de exemplos disponíveis é tão imensa, que a única dificuldade para o pesquisador é o “embarras de choix”, a escolha dos casos mais óbvios e ilustrativos.

Seleciono aqui, a esmo, um artigo do sr. Leonardo Boff publicado no último dia 14 (v. Que futuro nos espera?).

Citando Arnold Toynbee, o autor diz que uma constante na decadência das civilizações é a ruptura do equilíbrio entre a quantidade de desafios e a capacidade de resposta de cada civilização. “Quando os desafios são de tal monta que ultrapassam a capacidade de resposta, a civilização começa seu ocaso, entra em crise e desaparece.”

Aplicando esse conceito à descrição do panorama atual, diz o sr. Boff: “Nosso paradigma civilizacional elaborado no Ocidente e difundido por todo o globo, está dando água por todos os lados. Os desafios globais são de tal gravidade, especialmente os de natureza ecológica, energética, alimentar e populacional que perdemos a capacidade de lhe dar uma resposta coletiva e includente. Este tipo de civilização vai se dissolver.”

Após resenhar com a ajuda de Eric Hobsbawm e Jacques Attali algumas possibilidades de desenvolvimento catastrófico da situação, o sr. Boff enuncia a única esperança que resta, no seu entender: “A humanidade, se não quiser se autodestruir, deverá elaborar um contrato social mundial com a criação de instâncias de governabilidade global com a gestão coletiva e eqüitativa dos escassos recursos da natureza.” Em suma: governo mundial socialista.

Todos os fatos mencionados no artigo são reais, mas colocados sistematicamente nos lugares errados.

1. Os desafios que o sr. Boff menciona para ilustrar a tese de Toynbee não a ilustram, mas vão parar muito longe dela. O que Toynbee tem em vista não são dificuldades materiais como as citadas, mas acima de tudo a pressão simultânea de um “proletariado interno” e de um “proletariado externo”, ambos empenhados em destruir a civilização visada. O primeiro pode ser exemplificado pelos imigrantes ilegais que recebem do governo americano toda sorte de benefícios (negados até aos residentes legais) e com isso se fortalecem para hostilizar a cultura local e lutar pelo desmembramento dos EUA. O “proletariado externo” é representado pela multidão de organizações empenhadas numa violenta e incessante campanha de anti-americanismo, na qual o próprio sr. Boff é uma voz de destaque ao menos na escala brasileira. A ação dos dois proletariados é intensamente fomentada e subsidiada pelos adeptos do governo mundial, que em seguida apresentam o decorrente enfraquecimento dos EUA como um fenômeno impessoal e involuntário, camuflando a profecia auto-realizável mediante o apelo a “constantes históricas”.

2. Dos quatro desafios citados pelo sr. Boff – crise ecológica, alimentar, populacional e energética –, os três primeiros afetam muito menos o Ocidente do que os países comunistas e islâmicos e suas respectivas áreas de influência. Nunca houve desastre ecológico que se ombreasse aos efeitos da explosão em Chernobyl ou da poluição geral na China, nem há drama populacional que se compare com o chinês, nem carência alimentar tão assustadora quanto se observa nos países da África sob domínio islâmico e comunista (Sudão, Zimbábue). Se um paradigma foi algum dia ameaçado pelos três problemas que o sr. Boff assinala, é o paradigma anti-ocidental da China, da Rússia, dos países islâmicos. No Ocidente, em vez de superpopulação, o que há hoje é despopulação; em vez de carência alimentar, obesidade endêmica; e em nenhuma parte do mundo os riscos ecológicos, reais ou imaginários, estão sob controle tão estrito quanto nos países capitalistas desenvolvidos. Como poderia uma civilização encontrar-se ameaçada de extinção iminente por desafios que nela estão ausentes ou sob controle? E como poderia ser substituída com vantagem por um “novo paradigma” inspirado justamente nas nações que sucumbem inermes ante esses mesmos desafios? A inversão da realidade é aí tão simétrica, tão patente, tão literal, tão ingênua até, que não se poderia desejar um exemplo mais claro e didático do delírio de interpretação.

Quanto à crise energética, ela não existe nos EUA mas é um risco possível, que se torna iminente graças à ação… de quem? Dos mesmos adeptos do governo mundial, as Pelosis e Obamas, que bloqueiam por todos os meios a abertura de novos poços de petróleo, fazendo com que a nação proprietária das maiores reservas de petróleo do mundo se torne dependente de fornecedores estrangeiros. Estes, por sua vez, com o dinheiro que arrecadam do seu maior cliente, financiam não só campanhas de propaganda contra ele, mas até mesmo movimentos terroristas, ao mesmo tempo que eles próprios se armam até os dentes para a “guerra do povo inteiro” (expressão do general Giap adotada por Hugo Chávez) contra o “dominador imperalista” que os alimenta. Em resultado da “quebra da ordem imperial – são palavras do sr. Boff – entra-se num processo coletivo de caos… A globalização continua mas predomina a balcanização com domínios regionais que podem gerar conflitos de grande devastação… Esta situação extrema clama por uma solução também extrema”. A solução extrema é, evidentemente, aquela acima apontada, o socialismo planetário.

Ou seja: dos quatro “desafios” que segundo o sr. Boff inviabilizam a civilização do Ocidente e clamam pelo advento do governo mundial, três só existem entre os inimigos do Ocidente e o quarto é inoculado no Ocidente por eles mesmos na base do espalhar doenças para vender remédios.

O sr. Boff, sendo ele próprio um dos agentes da operação – ainda que dos mais modestos –, sabe de tudo isso. Sua percepção dos fatos é exata. Sua interpretação do quadro é que é toda invertida, detalhe por detalhe, compulsivamente, para criar um sistema de erros no qual a perfídia revolucionária possa parecer a mais alta expressão do bem e da virtude.

The revolutionary inversion in action

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, July 21, 2008

I have been presenting, in newspaper articles as well as in lectures and conferences, a few conclusions of an extensive study on the revolutionary mentality. Here are the chief ones:

1. The revolutionary mentality, as it appears recorded in the writings and acts of every revolutionary leader since the fifteenth century, without one notable exception, consists not in adhering to this or that concrete politico-social proposal but in a certain structure of apprehension of reality, characterized by the inversion of the causal and temporal order and of the subject-object relation, a variety of secondary inversions deriving therefrom.

2. These inversions constitute not only a “spiritual disease,” in the sense given to the term by F. W. J. von Schelling and Eric Voegelin, but a mental disease in the strict clinical sense. The revolutionary mentality is a specific variant of “interpretation delusion,” a syndrome whose pioneering description by the psychiatrists Paul Sérieux and Jean Capgras was set forth in their classic book Les Folies Raisonnantes: Le Délire d’Interprétation (Paris: Alcan, 1909; also available online at http://web2.bium.univ-paris5.fr/livanc/?cote=61092&p=1&do=page).

Sérieux and Capgras remark: “While most of the dementing systematized psychoses rest upon predominant and almost permanent sensory disorders, all the cases that we have collected under the foregoing term are, almost exclusively, based upon delusional interpretations; hallucinations, episodic whenever existing, play hardly any role here. . . . [The interpretation delusion] is a false reasoning that has as its point of departure a real sensation, an exact fact, which, by virtue of associations of ideas conditional upon tendencies, upon affectivity, takes on, with the aid of erroneous inductions and deductions, a personal significance to the patient. . . . The interpretation delusion is distinguished from hallucination and from illusion, which are sensory disorders. . . . [It also] differs from delusional idea, an imaginary conception that is made up altogether or at least not drawn from an observed fact.” It differs too, according to the authors, from mere false interpretation, that is, from vulgar mistake, for two reasons: First, “the error is said to be, more often than not, rectifiable; the delusional interpretation, incorrigible.” Second, “the error remains isolated, circumscribed; the delusional interpretation tends to diffuse, to radiate, it associates itself with analogous ideas and organizes itself into a system.”

In a subsequent article I shall explain the specific difference between revolutionary mentality and the other varieties of interpretation delusion. Here I intend only to illustrate something that I have said and repeated dozens of times: the inversion of reality is so constant and so omnipresent a factor in the revolutionary thought of all periods that samples of it can be found in whatever the mouthpieces of revolutionary ideologies utter about subjects of their political interest. A researcher has such an immense amount of instances at his disposal that the only difficulty for him is the embarras de choix, the choice of the most obvious and illustrative cases.

I select here, at random, an article by the world-famous liberation theologist Leonardo Boff published last July 14 in Jornal do Brasil (see http://jbonline.terra.com.br/editorias/pais/papel/2008/07/14/pais20080714007.html).

Quoting Arnold Toynbee, the author says that a constant in the decay of civilizations is the disruption of the balance between the number of challenges and each civilization’s capacity to respond. “When the challenges are such that they exceed the capacity to respond, the civilization starts to decline, enters in crisis, and disappears.”

Applying this concept to the description of the current state of affairs, Mr. Boff says: “Our civilizational paradigm, developed in the West and spread throughout the globe, is everywhere failing to hold water. So severe are the global challenges, especially those concerning ecology, energy, food, and population, that we have lost our capacity to deliver a collective and inclusive response. This kind of civilization shall dissolve.”

Having reviewed, with the aid of Eric Hobsbawn and Jacques Attali, some possible catastrophic developments of the situation, Mr. Boff enunciates what, in his mind, is the only hope left: “Mankind, if it is unwilling to destroy itself, must devise a world social contract by creating global governance agencies for the collective and equitable management of nature’s scarce resources.” In short, socialist world government.

Every fact mentioned in his article is real, but systematically misplaced.

1. The challenges that Mr. Boff mentions to illustrate Toynbee’s thesis do not illustrate it, failing by far to bear it out. What Toynbee has in view are not such material difficulties as those referred to, but above all the simultaneous pressure of an “internal proletariat” and of an “external proletariat,” both engaged in destroying the target civilization. The former can be exemplified by the illegal immigrants who receive from the American government every sort of benefits (denied even to legal residents) and thereby grow stronger in order to assault the local culture and fight for the dismemberment of the United States. The “external proletariat” is represented by the multitude of organizations engrossed in a violent and incessant campaign of anti-Americanism, in which Mr. Boff himself, at least on the Brazilian scale, is a prominent voice. The action of the two proletariats is intensely promoted and subsidized by the supporters of world government, who then present the ensuing debilitation of the United States as an involuntary and impersonal phenomenon, disguising the self-fulfilling prophecy through the appeal to “historical constants.”

2. Of the four challenges adduced by Mr. Boff—ecology, food, population, and energy crises—the first three affect much less the West than Islamic and Communist countries along with their respective spheres of influence. Never has there been an ecological disaster that ranks in its effects with the Chernobyl explosion or with the widespread pollution in China, nor is there population drama that compares to the Chinese one, nor even food shortage as scary as that observed in such African countries under Islamic and Communist rule as, respectively, Sudan and Zimbabwe. If ever a paradigm was menaced by the three problems that Mr. Boff indicates, it is the anti-Western paradigm of China, of Russia, of Islamic countries. In the West, instead of overpopulation, there is nowadays depopulation; instead of food shortage, endemic obesity; and nowhere in the world are ecological risks, whether real or imaginary, kept under such strict control as in developed capitalist countries. How could a civilization be under threat of imminent extinction when the challenges to it are absent or under control? And how could it be advantageously replaced by some “new paradigm” inspired precisely by the nations that helplessly succumb to these same challenges? The inversion of reality here is so symmetrical, so patent, so literal, even so naïve, that one could not wish for a clearer and more didactic instance of interpretation delusion.

As to the energy crisis, there is none in the United States, but it is a possible risk, which is becoming imminent thanks to the activity of—you guessed it—those very supporters of world government, the likes of Pelosi and Obama, who by every possible means block new drilling, turning the owner of the largest oil reserves in the world into a nation dependent upon foreign suppliers. These, in their turn, with the money collected from their major client, finance not only propaganda campaigns but even terrorist movements against it, while at the same time arming themselves to the teeth for the “people’s war” (General Giap’s expression adopted by Hugo Chávez) against the “imperialist monster” that feeds them. As a result of the “breakdown of the imperial order”—again Mr. Boff’s words—“there begins a collective process of chaos. . . . Globalization continues, but balkanization predominates, with regional powers that may give rise to greatly devastating conflicts. . . . This extreme situation calls for an equally extreme solution.” Evidently, the extreme solution is the aforementioned planetary socialism.

In other words, of the four “challenges” that according to Mr. Boff make Western civilization inviable and call for the advent of world government, three exist only among the enemies of the West, the same enemies who inoculate the fourth one into it by spreading diseases in order to sell medicine.

Mr. Boff, himself one of the agents in the operation, albeit of a lesser kind, is aware of all this. His perception of the facts is exact. It is his interpretation of the picture that is altogether inverted, detail by detail, compulsively so, to create a system of errors in which revolutionary perfidy may look like the highest expression of good and virtue.

Translated by Alessandro Cota and Bruno Mori