Leituras

Psicologia da KGB no Rio Grande do Sul

Carlos Alberto Reis Lima

20 de maio de 2001

Violência contra a infância”. Com este título a Zero Hora de 18 de maio de 2001 na sua página de Opinião nos brindou com uma das mais brilhantes peças escritas da psicopatologia ou da sociopatologia contemporânea. O texto foi assinado por Suzana Braun, psicóloga e policial. Foi exatamente o que transpareceu: um texto que poderia perfeitamente ser atribuído a um policial-psicólogo da KGB soviética comunista ou um torturador sádico da Gestapo da Alemanha nacional-socialista. Crueldade, frieza, indiferença, sociopatia. Tais os atributos destes assassinos e de quem considera a família e seu predicado de lugar sagrado, “um mito”, justamente algo que as civilizações, e mesmo antes delas, os primeiros grupamentos humanos primitivos, já assim a consignavam. Dizer o que esta psicóloga-policial fascista disse, revela total indiferença quanto à verdadeira natureza, pura e primordial da família, por isso mesmo nuclear e esteio de toda e qualquer sociedade. Tal “lugar sagrado” confundido com um “mito” na ótica canhestra e doentia desta militante-cidadã “deve ser revisto”. Ou ela quis dizer destruído?

Para esta mulher-policial, que presta um inestimável serviço a uma ordem fria e ateística, tão cruel e brutal como os estupradores que ela imagina combater, mas que não são outra coisa senão o resultado desta ideologia-cidadã totalitária, “certos lares são verdadeiras ditaduras familiares em violência sexual doméstica”!  Para ela as soluções são simples e primárias, o que condiz com a inteligência de esbirros militantes de partidos totalitários: eliminar o último espaço livre da sociedade, a família; o último liame ético entre as pessoas sem a intermediação asséptica do Estado. Pensa ela justificar-se tal desatino porque imagina na estreiteza do seu espírito que a família deve sofrer a urgente intervenção de um Estado para coibir a violência. Além disso, tal Estado não deve recusar a ajuda de delatores os quais devem acioná-lo a partir de “setores da sociedade”, não identificados por ela. Esta sociedade, coerentemente com o pensamento malsão da psicóloga-policial, não poderá ser  composta de famílias, ou indivíduos livres, porquanto estes não devem existir mais em um futuro próximo, mas sim por “cidadãos” formados no espírito da “Ética na Política”, a contrafação mais abjeta do mínimo do que se possa entender por ética. A “mobilização da sociedade” contra a violência sexual contra crianças, como quer a terrível doutora, é a arma com que ela pensa debelar tal mal. Mas pergunta-se: como pode uma sociedade amedrontada pelo abandono a que foi relegada por um Estado absolutamente hostil a qualquer forma de repressão, mesmo às legítimas e constitucionais, servir ao propósito de proteger a si e as suas crianças sem contar com a íntegra e irrefutável dignidade da maior e primeira instituição humana?

O que esta doutora não sabe e nem imagina é que tudo isto decorre do assédio sufocante do Estado neoliberal dos nossos tempos. Ao se retirar da economia, este Estado social-liberal, monstrengo moderno, que com dificuldade esconde a sua face totalitária, nos encharcou de direitos. Assim os primários costumam chamar o instrumento mais atual de limitação da liberdade que se conhece: direitos. A perda progressiva dos espaços privados, trocados no balcão das “garantias” legais, nos leva à violência pública da qual criminosamente tal Estado se eximiu de combater. Este é o despudor com que o Leviatã socialista-liberal, refém dos direitos de uma “cidadania” armada e feroz, fere a nossa realidade íntima. Os estupradores maiores são os seus policiais, soldados e psicólogos. Como diziam os romanos desesperados com a fúria assassina dos seus imperadores: quis custodie custodiem, quem guarda os guardas? Quem nos salvará deste atentado à moral e à família, doutora psicóloga?

Amaral Ferrador, 20 de maio de 2001.

Carlos Alberto Reis Lima
médico
reislima@pro.via-rs.com.br

Recolocando em circulação informações essenciais

Prefácio a A Face Oculta da Estrela, de Adolpho J. de Paula Couto

Olavo de Carvalho

15 de maio de 2001

Um dos itens essenciais do cardápio gramsciano que hoje regula a dieta mental brasileira é o controle das informações, com a supressão de todas aquelas que possam trazer dano ao projeto revolucionário comunista. Foi preciso quarenta anos de “ocupação de espaços” (termo técnico gramsciano) nos jornais, nas editoras e nas instituições culturais em geral para obter esse efeito, que hoje pode se considerar satisfatoriamente conquistado. Notícias, livros e idéias inconvenientes foram tão eficazmente retirados do mercado, que a simples hipótese de que possam existir já desapareceu da imaginação popular. Se mencionamos, por exemplo, a agressão comunista que desencadeou o conflito do Vietnã, ninguém sabe do que estamos falando, pois a mentira tola de que os EUA começaram a guerra já fincou raízes na opinião pública como um dogma inabalável. Se falamos de “estratégia revolucionária”, todos arregalam os olhos, porque estão certos de que isso não existe. Se aludimos aos planos em avançado estado de realização para restaurar no América Latina o império comunista que se perdeu no Leste Europeu, somos imediatamente rotulados de fantasistas e paranóicos, embora esse objetivo tenha sido proclamado aos quatro ventos por Fidel Castro no Foro de São Paulo.

Claro: todas as informações que dariam credibilidade às nossas palavras foram suprimidas da imprensa, das livrarias, da memória nacional enfim. Até das escolas militares foi suprimida a disciplina de “Guerra revolucionária” cujo estudo fazia da classe fardada o último reduto de uma consciência alerta contra o avanço comunista.

Dezenas e dezenas de livros publicados na última década sobre as novas estratégias da revolução comunista foram colocados fora do alcance da população brasileira por um eficiente cordon sanitaire em torno do mercado editorial e da imprensa cultural, hoje reduzidos quase que por completo à condição de instrumentos auxiliares da estratégia de dominação esquerdista. Roendo pelas bordas, contornando o enfrentamento direto, evitando a pregação explícita, essa estratégia conseguiu tão completamente dominar as consciências, que muitos, nos meios jornalísticos e culturais, repetem os slogans da moda sem ter a menor idéia de que são palavras-de-ordem comunistas.

Há, é claro, os colaboradores conscientes. Mais que conscientes: profissionais. A CUT, o PT, o MST têm em sua folha de pagamento milhares de profissionais das comunicações. É um exército de repórteres e redatores maior que o da Globo, da Abril, da Folha e do Estadão somados. Eles bastariam para fazer daquelas organizações esquerdistas as maiores indústrias jornalísticas e editoriais do país. Mas o fato é que eles não são pagos para escrever: são pagos para não escrever. São pagos para “ocupar espaços” nas editoras de jornais, livros e revistas, bloqueando por sua simples presença as palavras inconvenientes e espalhando, por sua simples conversação diária, as palavras convenientes. Mesmo nessa elite ativista, poucos têm a consciência de que sua função é de censores e manipuladores. Tal é a sutileza do gramscismo, que sempre conta com o efeito do implícito e não-declarado. Não é preciso nem mesmo dizer a esses profissionais o que fazer: imbuídos das convicções desejadas, colocados nas posições decisivas, eles irão sempre na direção esperada, como água no ralo. Os outros, então, ao repetir o que eles dizem, não terão a menor idéia do projeto global com o qual estão colaborando. Tão automático e impensado é esse mecanismo, que um dos maiores especialistas em manipulação de intelectuais no mundo soviético, Willi Münzenberg, o chamava “criação de coelhos”: para começar, basta um casal. O resto vem por força da natureza. Mas o que se plantou nas redações, com dinheiro aliás recebido do exterior, não foi um casal de coelhos: foram alguns milhares de casais. O efeito multiplicador é irresistível.

Hoje, na segurança, na desenvoltura pomposa e arrogante com que pessoas que ignoram tudo do assunto nos asseguram que o comunismo é coisa do passado ao mesmo tempo que repetem servilmente slogans comunistas sem saber que são slogans comunistas, reside a melhor garantia de que os planos anunciados por Fidel Castro no Foro de São Paulo serão realizados com a cumplicidade sonsa de milhões de imbecis tranqüilos e auto-satisfeitos.

Nada mais urgente do que recolocar em circulação as informações suprimidas. Só isso poderá restaurar a possibilidade de um debate realista sobre temas que hoje estão entregues à imaginação banal de palpiteiros ignorantes e à engenharia consensual dos estrategistas que os manipulam.

Na reconquista dessa possibilidade, este livro está destinado a tornar-se um marco memorável. Aqui, pela primeira vez, reúne-se uma documentação suficientemente ampla para demonstrar o caráter ineludivelmente comunista, revolucionário e conspirador de uma organização que, aos olhos dos desinformados, passa ainda como a encarnação por excelência de uma esquerda renovada, democrática, purificada de toda contaminação com o passado totalitário.

A coragem, a paciência e a determinação com que seu autor, Adolpho J. de Paula Couto, reuniu e ordenou estas provas fulminantes da perfídia esquerdista farão dele, para sempre, alvo do ódio dos atuais senhores da moral. Creio que nada de mais honroso se poderia dizer de um homem de bem.

São Paulo, 15 de maio de 2001

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Adolpho J. de Paula Couto, A Face Oculta da Estrela, Gente das Letras, Porto Alegre. Telefone do autor: 051 225-6588.

Revolução

Mendo Castro Henriques

Euronotícias, 27 de abril de 2001

Para os que ainda não perceberam que a esquerda, mesmo onde adote uma fachada nacionalista, é hoje o principal agente de trituração das autonomias nacionais na máquina do globalismo, este notável artigo do prof. Mendo Castro Henriques, que só agora chegou às minhas mãos, pode soar como um estridente toque de despertador. – O. de C.

Estamos hoje confrontados com uma revolução global sem encontrarmos respostas locais. Enquanto no 25 de Abril os factores de decisão internos foram mobilizados “tant bien que mal” para os três objectivos de democratização, descolonização e desenvolvimento, 26 anos depois a paralisia invade progressivamente os governantes à medida que tomam consciência que não conseguem, ou não sabem, compensar a perda de instrumentos nacionais de decisão com a defesa das prioridades do povo português.

A opinião pública converge na observação dos sintomas de crise: falta de autoridade do estado, menosprezo da justiça, descalabro da contas públicas; reconhece os diagnósticos levados a cabo por organismos internacionais e nacionais; e, contudo, tem grandes dificuldades em optar por uma terapêutica de novas políticas públicas porque lhe escondem muito do como, onde e quando se deve fazer a intervenção. O prognóstico é reservado.

As sondagens mostram que ninguém está contente mas poucos mudam já o sentido de voto; a diferença entre o socialismo democrático e a social democracia está longe de entusiasmar. E toda essa prudência popular não é um cheque em branco ao Governo Guterres nem um cheque cruzado à Oposição; só mostra que a vox populi se abstém perante partidos que não trazem gente nem ideias novas,. A seu modo, está consciente de que a democracia nacional vive uma revolução que exige alternativas a sério. 

Revolução não é apenas a conquista violenta do poder. Revolução é toda a aceleração política que arrasta um povo para um processo que não domina nem compreende. E a força das revoluções provém menos da violência, que do caos e da opacidade que as acompanham, e que faz perder o sentido dos valores e das proporções, instaurando a desorientação e dispondo a população a aceitar, em nome da segurança, quaisquer exigências dos novos poderes.

 Na actual revolução, confrontam-se poderes globais que continuam a crescer – e cuja natureza poucos parecem compreender – e as comunidades de cidadãos moldadas pelo sentido da história e da esperança que ainda dispõem de meios de afirmação. O palco dessa revolução tanto é a sede dos grandes organismos internacionais como os lugares remotos onde, simplesmente, se vive. Politicamente, Lisboa está a igual distância de Bruxelas e de Monfortinho. Se esquecer isto, o país é vencido pela revolução global. Quem nos fizer esquecer isto, é culpado de traição.

 A revolução global é um resultado de processos independentes que começam a entrosar-se a partir do século XVIII: o aumento da população referido por Malthus, a absorção de civilizações menores pelas maiores, conforme a constante de Ellsworth Huntington (1889-1975), a centralização do poder e aumento dos meios de dominação descritos por Jouvenel. A população do globo jamais parou de crescer, os contactos entre civilizações intensificaram-se, e o poder tornou-se cada vez mais forte e centralizado à custa dos poderes intermediários, num processo só parcialmente compensado pela democratização das instituições.

Para agravar este ciclo histórico, tivemos dois séculos de concepções prometaicas segundo as quais o homem deveria reinventar o mundo, em vez de apenas o tentar governar. O número de receitas mundiais inventadas foi impressionante, e mais impressionante ainda o número de vítimas imoladas nesse altar, até atingirmos os cem milhões de vítimas do comunismo. Supor – à Saramago – que tudo isso tenha resultado de desvios acidentais de um ideal que permanece nobre é, no mínimo, ingenuidade, nuns casos perversão e estupidez, e noutros ainda conspiração.

O problema não se extinguiu com o fim do comunismo. As democracias ficam ameaçadas onde o Estado nacional, desprovido de instrumentos de decisão pela sua integração em espaços supra-nacionais, se deixa enredar na utopia do governo mundial, na hibridez das soluções pseudo-liberais, na supressão da liberdade de decisão das gerações futuras, enfim, a herança pesada da Internacional Socialista.

Aqui chegamos a Portugal. Em vez de se bater pela coesão nacional e pelas causas nobres de que o RMG é a jóia – sem coroa – do Governo Guterres, a esquerda portuguesa conduzida por projectos fracturantes apenas contribui para eliminar bastiões da velha autonomia dos poderes nacionais.

No confronto da revolução global, a esquerda portuguesa corre o risco de cumprir com subserviência uma só tarefa: debilitar o Estado nacional, despertando reivindicações que não possam ser atendidas com os recursos internos, no que se refere à ecologia, à distribuição de rendimentos, aos direitos de imigrantes e minorias étnicas. E faz tudo isto inquietando valores e símbolos que são a base psicológica e cultural das autonomias nacionais.

O menosprezo pelo estatuto da família, a legislação sobre o aborto, os entraves à liberdade de ensino, o reconhecimento das uniões de facto, a ausência de educação para a cidadania, o equívoco permanente entre descriminalização e liberalização das drogas, a irrrsponsabilidade no tratamento da religião católica, são causas em que o próprio Partido Socialista se divide, recua, e avança, pendendo ora ao centro ora à esquerda radical.

Mas o mais preocupante é que tais iniciativas legislativas vão acostumando as pessoas a novos padrões morais pautados pela intervenção crescente do Estado na vida privada: o Estado adquire tanto mais poder sobre seus cidadãos quanto mais se submeta, no plano externo, aos desígnios mundialistas. Não queremos o Estado a dar-nos lições de moral !

“O dinheiro não tem cheiro” terá dito o Imperador Vespasiano a seu filho Tito, ao ser acusado de lançar um imposto sobre banhos públicos. Se o Estado português enveredar definitivamente pela extensão da sua capacidade legiferante a matérias que deveriam ser reguladas pela sociedade civil, nomeadamente as relações íntimas entre seres humanos, sem dúvida que até poderá vir a legislar sobre o uso de banhos públicos; mas nem sequer cobrará impostos; os assuntos sérios ficarão para os vencedores da revolução global.

 

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