Prefácio a A Face Oculta da Estrela, de Adolpho J. de Paula Couto

Olavo de Carvalho

15 de maio de 2001

Um dos itens essenciais do cardápio gramsciano que hoje regula a dieta mental brasileira é o controle das informações, com a supressão de todas aquelas que possam trazer dano ao projeto revolucionário comunista. Foi preciso quarenta anos de “ocupação de espaços” (termo técnico gramsciano) nos jornais, nas editoras e nas instituições culturais em geral para obter esse efeito, que hoje pode se considerar satisfatoriamente conquistado. Notícias, livros e idéias inconvenientes foram tão eficazmente retirados do mercado, que a simples hipótese de que possam existir já desapareceu da imaginação popular. Se mencionamos, por exemplo, a agressão comunista que desencadeou o conflito do Vietnã, ninguém sabe do que estamos falando, pois a mentira tola de que os EUA começaram a guerra já fincou raízes na opinião pública como um dogma inabalável. Se falamos de “estratégia revolucionária”, todos arregalam os olhos, porque estão certos de que isso não existe. Se aludimos aos planos em avançado estado de realização para restaurar no América Latina o império comunista que se perdeu no Leste Europeu, somos imediatamente rotulados de fantasistas e paranóicos, embora esse objetivo tenha sido proclamado aos quatro ventos por Fidel Castro no Foro de São Paulo.

Claro: todas as informações que dariam credibilidade às nossas palavras foram suprimidas da imprensa, das livrarias, da memória nacional enfim. Até das escolas militares foi suprimida a disciplina de “Guerra revolucionária” cujo estudo fazia da classe fardada o último reduto de uma consciência alerta contra o avanço comunista.

Dezenas e dezenas de livros publicados na última década sobre as novas estratégias da revolução comunista foram colocados fora do alcance da população brasileira por um eficiente cordon sanitaire em torno do mercado editorial e da imprensa cultural, hoje reduzidos quase que por completo à condição de instrumentos auxiliares da estratégia de dominação esquerdista. Roendo pelas bordas, contornando o enfrentamento direto, evitando a pregação explícita, essa estratégia conseguiu tão completamente dominar as consciências, que muitos, nos meios jornalísticos e culturais, repetem os slogans da moda sem ter a menor idéia de que são palavras-de-ordem comunistas.

Há, é claro, os colaboradores conscientes. Mais que conscientes: profissionais. A CUT, o PT, o MST têm em sua folha de pagamento milhares de profissionais das comunicações. É um exército de repórteres e redatores maior que o da Globo, da Abril, da Folha e do Estadão somados. Eles bastariam para fazer daquelas organizações esquerdistas as maiores indústrias jornalísticas e editoriais do país. Mas o fato é que eles não são pagos para escrever: são pagos para não escrever. São pagos para “ocupar espaços” nas editoras de jornais, livros e revistas, bloqueando por sua simples presença as palavras inconvenientes e espalhando, por sua simples conversação diária, as palavras convenientes. Mesmo nessa elite ativista, poucos têm a consciência de que sua função é de censores e manipuladores. Tal é a sutileza do gramscismo, que sempre conta com o efeito do implícito e não-declarado. Não é preciso nem mesmo dizer a esses profissionais o que fazer: imbuídos das convicções desejadas, colocados nas posições decisivas, eles irão sempre na direção esperada, como água no ralo. Os outros, então, ao repetir o que eles dizem, não terão a menor idéia do projeto global com o qual estão colaborando. Tão automático e impensado é esse mecanismo, que um dos maiores especialistas em manipulação de intelectuais no mundo soviético, Willi Münzenberg, o chamava “criação de coelhos”: para começar, basta um casal. O resto vem por força da natureza. Mas o que se plantou nas redações, com dinheiro aliás recebido do exterior, não foi um casal de coelhos: foram alguns milhares de casais. O efeito multiplicador é irresistível.

Hoje, na segurança, na desenvoltura pomposa e arrogante com que pessoas que ignoram tudo do assunto nos asseguram que o comunismo é coisa do passado ao mesmo tempo que repetem servilmente slogans comunistas sem saber que são slogans comunistas, reside a melhor garantia de que os planos anunciados por Fidel Castro no Foro de São Paulo serão realizados com a cumplicidade sonsa de milhões de imbecis tranqüilos e auto-satisfeitos.

Nada mais urgente do que recolocar em circulação as informações suprimidas. Só isso poderá restaurar a possibilidade de um debate realista sobre temas que hoje estão entregues à imaginação banal de palpiteiros ignorantes e à engenharia consensual dos estrategistas que os manipulam.

Na reconquista dessa possibilidade, este livro está destinado a tornar-se um marco memorável. Aqui, pela primeira vez, reúne-se uma documentação suficientemente ampla para demonstrar o caráter ineludivelmente comunista, revolucionário e conspirador de uma organização que, aos olhos dos desinformados, passa ainda como a encarnação por excelência de uma esquerda renovada, democrática, purificada de toda contaminação com o passado totalitário.

A coragem, a paciência e a determinação com que seu autor, Adolpho J. de Paula Couto, reuniu e ordenou estas provas fulminantes da perfídia esquerdista farão dele, para sempre, alvo do ódio dos atuais senhores da moral. Creio que nada de mais honroso se poderia dizer de um homem de bem.

São Paulo, 15 de maio de 2001

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Adolpho J. de Paula Couto, A Face Oculta da Estrela, Gente das Letras, Porto Alegre. Telefone do autor: 051 225-6588.

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