Yearly archive for 2000

João Ubaldo e o besteirol

Texto e comentário

  1. O besteirol dos 500 anos

JOÃO UBALDO RIBEIRO

O Estado de S. Paulo, domingo, 23 de abril de 2000

Levando-se em conta nossa pitoresca realidade contemporânea, até que a quantidade de besteiras ditas e escritas sobre o controvertido aniversário do Brasil não dá para surpreender. O que chateia um pouquinho é que diversas dessas besteiras continuarão a perseguir-nos pela vida afora, algumas talvez trazendo conseqüências indesejadas. A principal delas, naturalmente, é a de que o Brasil começou em 1500, quando nem mesmo no nome isso aconteceu, posto que éramos uma ilha quando os portugueses primeiro viram as terras daqui e, durante muito tempo, o Brasil que duvidosamente existia não tinha nada a ver com o Brasil de hoje.

A impressão que se tem é que, do povo às autoridades e mesmo aos entendidos, acha-se que o Brasil já estava no mapa, com as fronteiras e características atuais, no momento em que Cabral chegou. Teria tido até um nome nativo, já proposto, pelos mais exaltados, para substituir “Brasil”: Pindorama, designação supostamente dada pelos índios ao nosso país. Não sou historiador, mas também não sou tão burro assim para acreditar que os índios tinham qualquer noção geopolítica, ou alguma idéia de que pertenciam a um “país” chamado Pindorama. Não havia qualquer país, é claro, nem sequer a palavra Pindorama devia fazer sentido para os ocupantes que os portugueses encontraram aqui, se é que ela era usada mesmo. No máximo, significaria o único mundo conhecido deles. Parece assim que os nossos índios administravam impérios e cidades como os dos maias, astecas ou incas, quando na verdade, que perdura até hoje, viviam neoliticamente e a maioria esgotava os numerais em três – era o máximo que conseguiam contar e o resto se designava como “muito”.

Como corolário disso, vem a tese de que fomos invadidos. Com perdão da formulação pouco ortodoxa da pergunta, quem fomos invadidos? Todos nós, salvante os mais ou menos 400 mil índios que sobraram por aí, somos descendentes dos invasores, inclusive os negros, que não vieram por livre e espontânea vontade, mas também não viviam aqui na época de Cabral e hoje constituem parte indissolúvel de nossa, digamos assim, identidade. Imagino que haja quem pense que, diante de uma delegação portuguesa, algum diplomata ou general índio tenha argumentado que se tratava da ocupação ilegal de um Estado soberano do Oiapoque ao Chuí e que aquilo não estava certo, cabendo talvez a intervenção das Nações Unidas.

Se a História tivesse tomado rumos um pouquinho diferentes, nossa área hoje podia estar subdividida em vários países diferentes, uns falando português, outros espanhol, outros holandês, outros francês. Do Tratado de Tordesilhas às capitanias hereditárias, aos movimentos separatistas e à ação do barão do Rio Branco, muita coisa se passou para que nos tenhamos tornado o Brasil que somos hoje. Ninguém chegou aqui e descobriu o Brasil já pronto e acabado (se é que podemos falar assim mesmo agora), isto é uma perfeita maluquice. O Brasil, é mais do que óbvio, se construiu lentamente e às vezes aos trancos e barrancos.

Compreende-se que nativos de países como o Peru, o México e outros, notadamente na América Central, se sintam invadidos. Até hoje são numerosos e discriminados, muitos nem falam espanhol e, quando aportaram os conquistadores, tinham cidades maiores do que as européias. (3) Mas nós? Quem, com a notável exceção do amigo pataxó e da jovem senhora xavante que ora me lêem, foi aqui invadido? Vamos supor, já jogando no terreno da absoluta impossibilidade, que o chamado mundo civilizado ignorasse a existência destas terras até hoje. Teríamos aqui, não o Brasil, mas uns 4 milhões de nativos de beiço furado e pintados de urucu e jenipapo (nada contra, até porque furamos as orelhas, nos tatuamos e usamos batom, é uma questão de estilo), que não falavam as línguas uns dos outros, matavam-se entre si com alguma regularidade e cuja tecnologia não era propriamente da era informática. Brasil mesmo, nenhum.

Mas está ficando politicamente correto, suspeito eu que por motivos incorretíssimos, abraçar a tese da invasão do Brasil. “Nós fomos invadidos, fomos invadidos!”, grita em português brasileiro, a única língua que sabe, um manifestante mulato, em Porto Seguro. Será possível que não se perceba a vastidão dessa sandice? Daqui a pouco – e aí é que mora o perigo – entra na moda de vez e os resquícios das nações indígenas que ainda subsistem deverão aspirar à soberania sobre os territórios que ocupam. Como na Europa Oriental, cada etnia quererá ter seu Estado e sua autonomia, com bandeira, hino, moeda (dólar, para facilitar) e passaporte. Que beleza, forma-se-á por exemplo, depois de um plebiscito entre os índios, o Estado Ianomâmi, completamente independente e ocupando área bem maior do que muitos outros países do mundo juntos, reconhecido pelas organizações internacionais e protegido pelo grande paladino da liberdade dos povos, os Estados Unidos, que mandariam missionários e ajuda econômica e tecnológica e, dessa forma, investiriam desinteressadamente numa área tão pobre em recursos econômicos e que tão pouca cobiça desperta, como a Amazônia. E, se protestássemos, a Otan bombardearia o Viaduto do Chá, a ponte Rio-Niterói e o Elevador Lacerda, como advertência. Cometeram-se e cometem-se crimes inomináveis contra os índios, que devem ter seus direitos assegurados. Também se cometeram e cometem crimes contra grande parte dos brasileiros não-índios, outra vergonha que precisa ser abolida. Mas isso não tem nada a ver com a tal invasão, assim como a outra série de besteiras intensamente veiculada, segundo a qual, se não houvéssemos sido colonizados pelos portugueses, estaríamos em melhor situação, assim como estão em melhor situação a antiga Guiana Inglesa, o Suriname, a Indonésia, a Nigéria, a Somália, o Sudão e um rosário interminável de ex-colônias européias, quando na verdade se trata de um caso claro de o buraco achar-se bem mais embaixo. Como é que se diz “babaquice” em tupi-guarani?

  1. Comentários de Olavo de Carvalho

Não há nada a comemorar. O descobrimento foi uma violência, um estupro, um roubo que privou de seus direitos os autênticos brasileiros, habitantes e donos desta terra por usucapião desde milênios antes da chegada dos portugueses, que só trouxeram maldade e doenças a esses povos que aqui viviam em harmonia paradisíaca.”

Nenhuma frase foi mais repetida na comemoração dos 500 anos de Brasil. Martelada e remartelada dia e noite por intelectuais e políticos, índios e antropólogos, Tvs e rádios, jornais e cartazes, camisetas e livros de escola. Um massacre publicitário. É próprio desse tipo de propaganda atemorizar preventivamente os recalcitrantes, numa advertência tácita de que não se atrevam a contestar nem mesmo em pensamento a mensagem onipresente. E de fato ninguém se atreve: cada um teme ser olhado com hostilidade, excluído da comunidade dos bons cidadãos, acusado de racismo, de nazismo, de virtual assassino de índios e negros, um genocida, um inimigo da espécie humana, um verdadeiro Judas, responsável pelo Holocausto, pela crucificação de Cristo, pela extinção do mico-leão dourado, pelas taxas de juros e pela explosão de Chernobyl.

Nenhuma campanha de persuasão pública, ao longo de toda a nossa História, se compara a essa lavagem cerebral de proporções continentais. Nem para fazer a Guerra do Paraguai, para derrubar o Império, para abolir a escravatura, para enfrentar o Eixo nos campos da Itália ou para vencer quatro Copas do Mundo mobilizamos tanta energia propagandística quanto nesse esforço nacional para transformar 500 anos de história numa ocasião de vergonha, luto e penitência, para negar enfim a legitimidade moral da nossa existência enquanto nação.

Curiosamente, ouvi essa frase pela primeira vez aos dez ou onze anos, e não levei mais de cinco minutos para perceber que se tratava de um raciocínio esquizofrênico, de uma contradição de termos, de um joguinho lógico tipo Aquiles e a tartaruga. Mas, naquela época, ela era dita cum grano salis. Quem a pronunciava tinha a consciência de enunciar um gracejo para mexer com portugueses ou uma mentirinha piedosa para massagear o ego indígena.

Hoje todos a repetem a sério, com ares de quem ensina uma verdade científica ou uma doutrina moral da mais alta dignidade. A reação espontânea de um cérebro sadio, de perceber no ato a incongruência, é sufocada como tentação abominável, e logo termina por desaparecer das consciências. A absurdidade consagra-se como um lugar-comum, incorpora-se à linguagem corrente como a tradução universalmente aceita de uma verdade evidente de per si.

Quando a mente de uma criatura chega a esse grau de paralisia, de estupidez, de letargia abjeta, já não há mais nada a conversar com ela. Assim é hoje o homem brasileiro. João Ubaldo Ribeiro está de parabéns por ser, dentre as vozes oficiais das classes falantes, a primeira que vence o natural desânimo e se dispõe a discutir o que, em condições normais, não teria jamais de ser discutido.

Sua crônica “O besteirol dos 500 anos” (O Estado de S. Paulo, domingo, 23 de Abril de 2000) é uma obra de caridade feita para aliviar, por instantes ao menos, a miséria mental de um povo que hoje se acomoda tão bem à mais espantosa privação intelectual quanto mais baba de indignação ante qualquer vazamento de dinheiro.

Eu gostaria apenas de acrescentar-lhe as seguintes notas:

  • Que líderes negros, ao mesmo tempo que chamam os brancos de “invasores” do Brasil, isentem da mesma pecha os membros de sua própria raça sob a alegação de que vieram a contragosto, eis um argumento muito usado nos últimos dias, e no qual há menos burrice do que racismo puro e simples. Os brancos trazidos à força como prisioneiros já formavam um contingente enorme quando os escravos negros começaram a chegar. Se a condição de invasor é definida pela participação voluntária na ocupação do território – o que está subentendido no argumento que desculpa os negros -, esses brancos evidentemente não podem ser catalogados como invasores, a não ser que o critério adotado para condenar ou absolver o participante involuntário seja estritamente racial: forçado a lutar contra os índios, o prisioneiro será declarado culpado se for branco, inocente se for negro.

 

  • Não é muito realista explicar como emanação espontânea da babaquice nacional o requintado argumento sofístico que, atribuindo a sociedades tribais as prerrogativas de modernos Estados soberanos, torna o público cego e surdo para a mais óbvia das realidades: que a noção mesma de soberania, bem como de lei e direito em geral – inclusive o direito de usucapião invocado para nomear os índios “os verdadeiros donos do Brasil” – foi trazida e ensinada pelos europeus a povos que não tinham a menor idéia dessas coisas. Para qualquer ser humano no pleno gozo de suas faculdades mentais, um direito que vem trazido no bojo de uma mudança histórica não pode ser alegado contra essa mesma mudança histórica: não se pode alegar em defesa da autoridade imperial de Pedro II as prerrogativas constitucionais dos governantes republicanos, em favor da antiga religião estatal romana os princípios cristãos que a aboliram ou em prol do domínio colonial inglês os direitos estatuídos pela Constuição Americana. A percepção intuitiva dessas coisas faz parte da natureza humana. Faz parte do que os escolásticos chamavam sindérese, o conhecimento espontâneo dos princípios básicos subentendidos em qualquer regra moral. Mas pode ser suprimida por uma doutrinação estupidificante do tipo 1984, que habitue as almas a repetir slogans autocontraditórios e a aceitá-los sem exame, até que a abstenção do juízo crítico se torne automática e irreversível. O cidadão que aceite uma vez o argumento da “nação indígena” injeta na própria mente uma espécie de vírus informático puerilizante que o incapacitará para o julgamento moral dos casos mais óbvios. Essa técnica mistificadora não foi inventada por índios analfabetos, mas por técnicos a serviço de ONGs e governos estrangeiros. Até a ONU e a Unesco dão cursos regulares sobre como criar e dirigir “movimentos sociais”, e hoje não há em parte alguma do Terceiro Mundo um só grupo revoltado que não tenha sido formado e treinado por profissionais suecos, ingleses, americanos, franceses. O discurso vem pronto e é muito bem calculado para paralisar o raciocínio crítico ante qualquer protesto apresentado em tons patéticos. No caso brasileiro, a rebelião extemporânea contra um dominador que já foi embora há dois séculos é o melhor diversionismo preventivo contra qualquer veleidade de revolta contra os invasores atuais. Crianças e adolescentes são particularmente vulneráveis a esse tipo de manipulação psicológica, hoje aplicado em todas as escolas com a aprovação e o estímulo das autoridades. Não é preciso enfatizar a brutalidade psicológica, o maquiavelismo criminoso por trás desses esforços soi disant humanitários. Mas é claro que pessoas adultas, mesmo letradas, caem no engodo com a mesma facilidade das crianças: a solicitude com que nossas lideranças de esquerda se prestam a colaborar com os novos invasores forma um contraste deprimente com os inflamados discursos nacionalistas que lhes sobem aos lábios ante o leilão de qualquer empresa estatal. E essa gente não vê a menor contradição em defender o patrimônio de uma nação ao mesmo tempo que, com o discurso antidescobrimento, se nega a legitimidade da existência mesma dessa nação. A consciência nacional está em decomposição, o Brasil está caindo para um estado de menoridade intelectual que, daqui a pouco, tornará razoáveis e legítimas quaisquer pretensões estrangeiras de nos administrar como colônia.

 

  • Não estudei os maias, mas a cultura azteca, com todo o seu avanço tecnológico, era uma monstruosidade, um totalitarismo sangrento fundado no sacrifício ritual de seres humanos. Diariamente, em cada cidade e aldeia, se arrancava o coração de uma vítima, geralmente criança, para oferecê-lo ao deus Sol, a pretexto de persuadi-lo a iluminar a Terra na manhã seguinte. Em 1985 visitei o Museu da Universidade Livre e inúmeros templos remanescentes em vários pontos do México, lendo o que encontrava a respeito e observando, nos monumentos e pinturas sacras, as marcas da imaginação inconfundivelmente macabra de toda uma civilização que não conseguia conceber a divindade senão sob o aspecto do terrível e do persecutório. Além disso, os aztecas foram apenas os últimos da fila numas dezenas de povos que ali se sucederam na base da destruição sangrenta dos antecessores, não raro por meios de uma covardia ímpar, como por exemplo espalhar cascavéis numa aldeia adormecida ou convidar os membros da tribo vizinha para uma festa e envenená-los todos de uma vez. Os espanhóis que fizeram cessar à força esse morticínio milenar merecem a mesma gratidão que as tropas aliadas que destruíram o III Reich, com a ressalva de que estas tiveram muito menos complacência com os não-combatentes, incluindo velhos, mulheres e crianças. A sociedade azteca era tão perversa que já aspirava à sua própria destruição: quando Hernán Cortez entrou com um punhado de soldados arrasando tropas mil vezes superiores em número, os índios acreditaram que era seu deus, Quetzalcoatl, que voltava à Terra para um acerto de contas. E acho que foi mesmo. Se não foi ele, foi um deus melhor, talvez aquele a quem os espanhóis chamavam o Espírito Santo. Se existe o direito moral de protestar contra a extinção da sociedade e da religião aztecas, existe também o de proclamar que a erradicação do canibalismo, da clitorectomia ou dos campos de concentração foi uma violência cultural intolerável. Se em nome do relativismo cultural pode-se justificar os sacrifícios humanos ou qualquer atrocidade “cultural” do mesmo estilo, com muito mais razão se poderia argumentar em favor da escravatura mesma, afinal um hábito muito mais disseminado, menos truculento e economicamente mais útil do que arrancar corações para dar de comer ao Sol.

 

  • A história oficial diz que o canibalismo aqui só era praticado por umas poucas tribos. Não sei. Mas muitas outras faziam – e fizeram até recentemente — controle da natalidade pelo delicado expediente de sepultar vivas as crianças indesejadas. Com a chegada da Funai, esse costume foi progressivamente abandonado e as tribos começaram a crescer. Muitos dos índios que hoje gritam contra os “invasores brancos” teriam sido enterrados como excedente populacional se a maldita civilização ocidental não tivesse violado a integridade das culturas indígenas, ensinando-lhes que matar crianças não é um meio decente de reduzir despesas. Se ela mesma aliás vem desaprendendo essa lição, regredindo ao ponto de aceitar como normais e respeitáveis os costumes bárbaros que outrora ajudou a erradicar, é normal que ela perca rapidamente a autoridade moral que tinha sobre os índios e agora consinta em ouvir deles, com a cabeça baixa, as mais extraordinárias absurdidades.

 

  • Outra sentença repetida ad nauseam nas últimas semanas é que “os índios já estavam aqui milênios antes da chegada dos portugueses”. Daí conclui-se que cinco milhões de índios– a quarta parte da população da cidade de São Paulo – tinham a propriedade legítima e incontestável de um território maior que a Europa, enquanto dez milhões de portugueses se espremiam numa área exígua e passavam fome sem ter mais onde plantar. Na verdade os índios não tinham é propriedade nenhuma e direito nenhum, porque as tribos espalhadas pelo território não constituíam uma nação e nem sequer um condomínio, vivendo antes como bandos hostis ocupados em desalojar-se uns aos outros por meios da violência, malgrado a abundância de espaço livre, roubando aos inimigos não somente suas terras mas também – era o costume – suas mulheres, às vezes também seus cadáveres, para comê-los. E ninguém se dá conta da verdadeira cisão esquizofrênica que é preciso trazer na alma para poder advogar, a um tempo, o direito de os Sem-Terra invadirem fazendas e a legitimidade sacrossanta da posse de um continente inteiro por um grupo que constituiria, nessas condições, a mais poderosa casta latifundiária de todos os tempos.

 

  • De outro lado, os lusos também estavam na Lusitânia, os gauleses na Gália, os bretões na Bretanha e os saxões na Saxônia milênios antes da chegada dos romanos. Se vieram a crescer e tornar-se por sua vez dominadores foi porque não rejeitaram a nova cultura como um estupro, mas a aceitaram e a absorveram como um dom salvador e se tornaram, até com mais legitimidade do que os romanos, seus representantes e portadores. Muitos de nossos índios fizeram isso: abandonaram a cultura tribal, entraram na nova sociedade, adotaram a religião cristã. O Parlamento e as universisases estão repletos deles, e cada família antiga deste país se orgulha de ter mais de uma gota de sangue indígena. Os outros caíram vítimas de uma antropologia maluca intoxicada do “relativismo cultural” da charlatã Margaret Mead e empenhada em conservá-los como objetos de museu e bichinhos de estimação. Os primeiros representam a força e a glória das raças indígenas. Os segundos, a vergonha e a morbidez de um atavismo insano, alimentado e manipulado por um dominador mais rico e malicioso do que aquele contra o qual hoje ostentam uma revolta esquizofrênica e deslocada no tempo. Nada mais patético do que um índio que, acreditando ou fingindo lutar contra o fantasma do domínio português extinto, se torna instrumento e servo do dominador globalista. O barão de Itararé tinha razão ao contestar Auguste Comte: os vivos não são governados pelos mortos; são governados pelos mais vivos.

 

  • É verdade que, num Brasil cada vez mais afastado de suas raízes espirituais pelo impacto avassalador do globalismo materialista, a fidelidade dos índios às suas tradições religiosas é um exemplo capaz de fazer corar um frade se o frade for realmente de pedra e não daquela substância eminentemente não-ruborizável que forma a dupla Betto e Boff. Eu mesmo escrevi coisas bem contundentes em defesa dessas tradições. Mas elas adquirem valor somente como alternativas neo-românticas ao anticristianismo militante da sociedade moderna. Ante uma população descristianizada, elas se tornam, de maneira quase paradoxal, um testemunho de Cristo. Um testemunho parcial e tosco, mas, no deserto espiritual contemporâneo, um testemunho valioso. Mas concluir daí que são melhores do que o cristianismo pleno é subtrair-lhes até mesmo esse valor de contraste, fazendo delas apenas mais um instrumento de desespiritualização do mundo. Eis por que a preservação das tradições indígenas é uma causa ambígua, que só deve ser defendida com os maiores cuidados para que as boas intenções, caminhando sobre um fio de navalha, não sejam retalhadas e postas à venda no mercado das mentiras contemporâneas.

 

  • O protesto de João Ubaldo Ribeiro só pôde ser publicado porque veio com a assinatura de um membro da Academia bastante queridinho das esquerdas e porque se limitou a constatar, com a leveza habitual dos escritos desse autor, os aspectos mais periféricos e folclóricos de uma situação que, bem analisada, é de gravidade trágica. Qualquer abordagem mais séria do problema está rigorosamente proibida em toda a imprensa nacional. O jornalista gaúcho Janer Cristaldo sofreu ameaças, processos e exclusão do ofício pelo crime de ter denunciado como farsa (sem jamais ter sido contestado com fatos e argumentos) o suposto massacre de uns índios na fronteira Brasil-Bolívia. O livro do ex-secretário da Segurança Pública de Roraima, coronel Menna Barreto, A Farsa Inanomâmi (Biblioteca do Exército, 1996), a obra mais importante sobre o uso da fachada indigenista para a ocupação da Amazônia por ONGs e governos estrangeiros, não foi nem será noticiado em qualquer jornal deste país. Nesse depoimento ditado no leito de morte, e do qual dois terços foram suprimidos pelas autoridades antes de autorizar a publicação póstuma, o autor denuncia que nunca existiu nenhuma tribo Ianomâmi, que uma tribo biônica foi montada às pressas por agentes imperialistas para dar um arremedo de legitimidade à reivindicação de um “Estado indígena” administrado por organismos internacionais.

 

  • Com mais razão ainda, estão vetadas pela censura prévia quaisquer notícias de violências e atrocidades cometidas por índios contra as populações das cidades próximas às suas reservas (e cada brasileiro que retorna dessas regiões tem coisas horríveis a contar). Mas a probição nâo abrange somente os fatos da atualidade. As violências de índios contra brancos e a crueldade interna da sociedade indígena foram suprimidas dos livros de História, para que as novas gerações, após a lavagem cerebral que sofrem nas escolas, jamais venham a saber que a “brutal destruição” das culturas indígenas consistiu sobretudo na extinção de costumes hediondos como o canibalismo, a liquidação sistemática de prisioneiros, o sepultamento de crianças vivas e o roubo de mulheres. Outro dia, num noticiário da TV sobre uma exposição comemorativa dos 500 anos, duas imagens mostradas uma logo apósa outra resumiram da maneira mais eloqüente o estado de barbárie e de estupidez a que a mentalidade nacional está sendo reduzida pelo esforço conjugado da mídia: primeiro, vinha o arcebispo da Bahia repetindo melosamente os pedidos convencionais de “perdão” da Igreja católica por ter cristianizado os índios à força; logo em seguida, as câmeras mostravam o manto envergado pelos caciques durante o rito de devorar solenemente os cadáveres de seus adversários. Pedir perdão por ter substituído a costumes como esse a prática da religião cristã é fazer-se, despudoradamente, apóstolo de Satanás.

 

  • Raciocinando como esse prelado, eu teria também um pedido de perdão a apresentar. Meu nome de batismo é homenagem a Santo Olavo, rei e padroeiro da Noruega. A história desse santo guerreirro é contada na Saga de Olaf Haraldson, de Snorri Sturlson, leitura deliciosa, um clássico da literatura épica. Na juventude, Olavo notabilizou-se pelo gosto das aventuras e por um bizarro senso de humor: mandavam-no selar um cavalo, ele selava um bode e saía correndo para não apanhar do avô. Ainda adolescente, comandou com sucesso batalhas navais. Depois deu de rezar e, quando subiu ao trono, tornou-se o sujeito que cristianizou a Noruega a muque. Antes, as populações locais tinham costumes bem semelhantes aos dos nossos índios: invadiam aldeias para roubar mulheres, queimavam todos os prisioneiros, jogavam no lixo as crianças indesejadas. Olavo mandou parar com essa história e, para mostrar que não estava brincando, matou os chefes e sacerdotes de várias tribos e disse que faria o mesmo com quem não se batizasse. O pessoal então parou de enterrar criancinhas vivas e começou a confessar e comungar. Hediondo genocídio cultural, não é mesmo? Pensando nos feitos imperialistas desse meu homônimo, passo noites em claro, batendo no peito em crises de arrependimento midiático pela extinção da cultura viking. Afinal, aqueles fulanos estavam lá, como aqui a turminha do Xingu, milênios antes da chegada dos cristãos…

 

Skidmore: Faça o que eu digo e não o que eu faço

17 de abril de 2000

Carta de um observador inteligente

Prezado Professor Olavo de Carvalho,

A revista Veja desta semana publicou uma entrevista com o brasilianista Thomas Skidmore, que pretendeu nos alertar para o fato de a nossa elite intelectual aplicar, equivocadamente, soluções estrangeiras aos problemas brasileiros. Essa constatação soou, para os jornalistas de Veja, como uma grande novidade, merecedora de destaque – tanto que o título da entrevista é “Chega de Receitas”. Primeiramente, constato que o alerta do americano só pode ser tido e vendido como novidade por quem nunca tenha lido Olavo de Carvalho, ou tenha se esquecido de que o leu. Razão pela qual cabe acrescentar às palavras de Skidmore que, além de não termos uma classe intelectual que capte a nossa realidade, ainda nos damos ao luxo de ignorar solenemente os poucos espíritos que conseguem, heroicamente, produzir algo totalmente diferente do discurso da nossa delirante classe acadêmica que, quanto mais desvinculada da realidade se torna, mais convicta fica de que seu problema é a falta de recursos para a produção de estudos que justifiquem suas teses, numa espécie masturbação incessante que, quanto mais insiste em negar os fatos, mais fantasias possibilita. Mas o pior de tudo é que o homem que nos critica por não termos “cabeças tentando formular políticas alternativas”, por não termos “uma receita própria”, por seguirmos “a política que vem de Washington” em vez de procurarmos “uma solução brasileira”, nos elogia porque o Presidente Fernando Henrique tem “enfatizado a necessidade de reconhecer os direitos das minorias”. O Sr. Thomas, embora salientando os “problemas” da política de cotas de vagas para negros, cita-a como um sinal de avanço na discussão da discriminação racial. Assim, o sujeito que nos acusa de importar soluções alienígenas acha maravilhoso que adotemos aqui os problemas existentes no estrangeiro. Teremos avançado na discussão da questão racial quando os nossos negros, seguindo o exemplo de seus irmãos americanos, se revoltarem contra a exploração de que são vítimas e os brancos brasileiros tomarem consciência dos males que causaram. Para o Sr. Thomas, seguir o receituário do FMI é um sinal do vácuo da intelectualidade brasileira. Já a intenção de adotarmos a política americana em relação aos negros não é tão grave assim; chega a ser uma prova da nossa evolução, cuja prova insofismável, para o Sr. Skidmore, é O FATO DE COLOCARMOS A QUESTÃO NOS MESMOS TERMOS QUE OS AMERICANOS. Ou seja, a cópia servil de fórmulas é execrável em matéria econômica, mas em outras áreas é coisa bastante aceitável. Se seguimos as orientações de Bill Clinton, estamos importando soluções que não nos servem. Já se um negro brasileiro supõe ser tão discriminado quanto um negro americano, está avançando, e não importando um problema, porque os dramas dos nossos negros são, por certo, bastante semelhantes aos dos “afro-americanos”.

Note ainda, por favor, que o Sr. Thomas utiliza a expressão “direito das minorias” para se referir à questão racial no Brasil. Basta isso para nos dar, primeiro, a noção de sua capacidade para pensar os problemas sem adotar as “fórmulas” que ele critica e, segundo, nos indicar quem alimenta os nossos intelectuais com soluções que contrariam os fatos, a lógica e a razão. Nossa classe pensante, que o Sr. Skidmore repudia, tem com as idéias defendidas pelo historiador americano um parentesco maior do que ele gostaria de reconhecer.

Amilcar Nadu

paulofrancis@hotmail.com

Resposta de Olavo de Carvalho

Você viu as coisas como são. O homem nos vende sua receita no instante mesmo em que nos aconselha fugir de todas as receitas. E nos vende logo a mais inadequada, a mais alienada. Finge-se de amigo do Brasil para nos impingir a politica clintoniana do “dividir para reinar”. Será que um dia nossos nacionalistas perceberão que essas fórmulas de democracia prêt-à-porter são mais perigosas para a unidade nacional do que todas as privatizações? Uma empresa vendida ao estrangeiro pode ser recomprada ou, em caso extremo, encampada. A unidade cultural, uma vez fragmentada em comunidades étnicas mutuamente hostis, não se recupera nunca. Por isso os mesmos poderes estrangeiros a quem interessam certas privatizações dão dinheiro a rodo à militância esquerdista para fomentar a criação artificial de conflitos raciais. Por isso o discurso da nossa esquerda é suicida e auto-neutralizante: ele fortalece aquilo que sonha destruir.

O “multiculturalismo”, com toda a legislação paternalista correspondente, serve precisamente para nações onde as comunidades étnicas não querem viver juntas, mesclar-se, esquecer suas diferenças e unir-se na celebração da unidade do espírito, mas apenas coexistir intactas, justapostas e mutuamente estranhas, tendo o Estado por mediador. O multiculturalismo é a paz racial das nações racistas.

O Brasil tem coisa melhor a oferecer ao mundo.

O modelo brasileiro de integração racial é o melhor que existe, só comparável ao modelo islâmico (28 nações sem conflito racial), mas livre, ademais, dos problemas de hostilidade religiosa que neste subsistem.

O que temos de fazer é aprofundar nossa compreensão desse modelo, aperfeiçoá-lo (pois ainda há enclaves racistas, grupos mal integrados no tronco maior da nossa cultura), elaborá-lo intelectualmente e fazer dele uma política autoconsciente que possa ser ensinada, como terapêutica, às nações ainda enfermas de loucura racista.

Um abração do

Olavo de Carvalho

Debates e provas

Olavo de Carvalho

Apostila do Seminário de Filosofia

Tema para uma das próximas aulas do Seminário de Filosofia

Raciocinar sem pressupostos é impossível, mas reduzi-los ao mínimo é, para o filósofo, uma obrigação. E mesmo esse mínimo, em algum ponto da viagem, terá de se tornar objeto de exame, retroativamente, para que daí saiam glorificados como princípios ou rebaixados à condição de hipóteses provisórias que, tendo uma vez servido de motor de arranque, podem ser desligadas quando o barco já está em movimento.

De tal modo a redução dos pressupostos é atividade essencial e característica da filosofia, que o alto coeficiente de espírito filosófico presente numa discussão pode ser medido pela míngua de postulados admitidos em comum pelas partes em disputa, e o baixo pela abundância deles. Enquanto numa discussão vulgar os contendores apelam de improviso a mil e um postulados colhidos do senso comum, das opiniões do auditório ou de seus respectivos campos especializados de estudo, dois filósofos em confronto não admitirão discutir – se o fizerem filosoficamente – senão com base nuns poucos postulados admitidos explicitamente desde o início, à luz dos quais tudo o mais que o debatedor vulgar poderia dar por pressuposto se torne passível de exame e arbitragem. A redução significa, pois, esclarecimento. Não pode haver clareza, nem portanto argumentação racionalmente probante, onde as bases da prova se encontrem dispersas numa multiplicidade difusa de fontes e autoridades, aguardando que a destreza do orador ou um feliz acaso vão buscá-las no calor do debate para extrair delas algum efeito surpreendente para confundir o adversário.

Do voto de pobreza em matéria de pressupostos decorre outra característica essencial do debate filosófico: sua soberania ante os saberes particulares. Enquanto no debate vulgar a superior dotação de conhecimentos especializados confere ao debatedor uma indiscutível vantagem sobre seu concorrente, no confronto filosófico essa superioridade é de pouca valia, porque esses conhecimentos, a não ser na hipótese de serem de antemão postulados como válidos por ambas as partes (o que supõe que ambas os dominem por igual), só terão força probante se puderem ser dedutivamente legitimados desde os princípios admitidos em comum e, em vista disso, não estão numa posição mais privilegiada que a de qualquer outra alegação possível.

Do mesmo modo, as opiniões e sentimentos habituais do auditório, tão úteis para o debatedor cuja vitória dependa de aprovação do público, de nada servem em filosofia exceto se, à luz dos princípios admitidos, puderem se demonstrar válidos.

O estreitamento da base de pressupostos é condição sine qua non da validade da prova obtida – donde se conclui que perante as exigências superiores da filosofia, quase todos os debates intelectuais, seja nas questões públicas, seja no campo das ciências especializadas, não são senão exercicios de virtuosismo persuasório mais ou menos levianos e de resultados bastante duvidosos, a não ser no caso de se curvarem a essas exigências e se tornarem autênticos debates filosóficos.

Dito de outro modo, para o filósofo, só o debate filosófico em sentido estrito tem valor probante, e o tem justamente em razão da redução e explicitação dos pressupostos. Todos os demais debates não provam nada, por mais honestos que pareçam desde o ponto de vista das platéias ou por mais científicos que os julgue a opinião especializada.

Um filósofo não deve, pois, levar muito a sério esses debates. Se deles participar, estará obrigado, seja a admitir o caráter pessoal e até certo ponto arbitrário das opiniões que defenda, seja a buscar para elas um fundamento filosóficamente válido, o qual, porém, nas condições concretas do debate vulgar, deverá ser conservado num discreto segundo plano ou reservado para exposição sistemática em outra ocasião, cedendo o lugar, no calor da hora, a outro tipo de argumentos, mais ou menos improvisados e de menor validade filosófica. O que importa nessas horas para a preservação da integridade filosófica é que ele os apresente de modo a que permitam a qualquer momento sua conversão, mediante simples descompactação analítica, em provas filosoficamente válidas.

Digo “descompactação” por um motivo muito simples: é necessário que na conversão do discurso retórico para o dialético e deste para o analítico o conteúdo dos argumentos permaneça substancialmente o mesmo.

Nas discussões correntes, mesmo entre intelectuais, em geral não é possível ir além da argumentação retórica, ou prova por verossimilhança. Essa limitação provém seja da falta de espaço, nos jornais e revistas, seja da pouca disposição do público para acompanhar até o fim alguma demonstração mais “técnica” do que quer que seja. Para o debatedor que possui o conhecimento da prova cabal, é extremamente constrangedor ter de limitar-se a umas indicações gerais dela, as quais podem não soar mais convincentes do que qualquer improviso retórico leviano que o adversário lhes oponha. Mas essas indicações gerais, se forem realmente um resumo de demonstrações rigorosas, deixam ao menos ao debatedor a boa consciência de que essas demonstrações podem ser oferecidas noutra ocasião, tão logo o adversário, caso seja honesto, consinta em passar do mero confronto momentâneo ao teste aprofundado da verdade e do erro.

É nessa passagem que se verifica a diferença crucial entre dois tipos de argumentação retórica: aquela que é retórica apenas em função das limitações externas do debate, e aquela que é retórica por essência e fatalidade, por não poder ser outra coisa e por não poder valer senão retoricamente, isto é, como aparência persuasiva para um auditório determinado. A diferença vem da ambigüidade mesma do verossímil. Verossímil é parecer verdade. Mas há um parecer que é um aparecer e um parecer que é simular: há uma verossimilhança que é face externa da verdade profunda e uma verossimilhança que se finge de verdade, que usurpa o lugar da verdade e recebe as honras devidas à verdade.

Essa diferença aparece justamente na descompactação dos argumentos. O argumento retórico por excelência é o entimema, o silogismo com premissa não declarada. O entimema abrevia o discurso e lhe confere a pungência das afirmações breves, o fulgor das frases de efeito. Quando desdobramos analiticamente os entimemas, descobrimos suas premissas e as premissas destas premissas. Aí alguns entimemas revelam ser apenas a compactação de longas cadeias de provas perfeitamente razoáveis ou mesmo absolutamente inatacáveis, ao passo que outros se denunciam como puras maquiagens destinadas a disfarçar a falta de provas ou mesmo a completa falsidade das alegações. Retoricamente, ambos valiam o mesmo, pareciam igualmente persuasivos. Descompactados, um é alguma coisa, o outro não é coisa nenhuma. Ao analisar-se, submeteram-se à prova dialética, isto é, ao confronto interno de seus contrários. Um saiu ileso, reforçado mesmo. O outro desmembrou-se em fragmentos inconexos e já não pode ser remendado.

Há, pois, dois tipos de argumentação retórica: a retórica dialetizável e a não dialetizável. A primeira resiste à exposição de seus mecanismos internos, a segunda não. Muitas vezes a diferença aparece nitidamente já na simples exposição retórica, quando a compactação dos silogismos em entimemas é feita de tal modo que o leitor avisado apreenda instantaneamente a demonstração subentendida. Quando essa operação é bem sucedida, a argumentação obtém o máximo de força probante enxertado no máximo de compactação persuasória.

O filósofo que entre numa discussão corrente deve tomar o cuidado de não empregar argumentos retóricos pela sua pura força retórica, mas de usar somente daqueles que levem dentro de si, ocultas e compactadas, as mais rigorosas provas analíticas, resistentes a duros testes dialéticos. Se assim ele não vencer a discussão logo na primeira oportunidade, terá ao menos a certeza de poder levar a discussão mais adiante, subindo a níveis mais complexos e exigentes de demonstração, enquanto seu adversário, tão logo o combate saia do terreno do mero confronto de aparências, não terá remédio senão calar-se e desistir.

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