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A próxima crise americana

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 26 de setembro de 2008

Jamais se vasculhou o passado de alguém com tanta ânsia de encontrar crimes e vergonhas como a grande mídia tem vasculhado a vida de John McCain e Sarah Palin. Até o momento, tudo o que se encontrou foi uma garota que transou com o namorado, um policial demitido em circunstâncias um tanto deprimentes e um assessor de campanha que teria sido bem remunerado por Fannie Mae e Freddie Mac. E, destas três miseráveis picuinhas, nada se provou de ilegal quanto à segunda e a terceira se revelou absolutamente falsa: o sujeito já havia se demitido da sua firma de advocacia quando ela começou a trabalhar para os gigantes falidos. Em compensação das atenções universais voltadas obsessivamente para essas antinotícias, nada ou quase nada se vê no New York Times ou na CNN – muito menos na mídia brasileira – sobre os fatos simplesmente escabrosos da biografia de Barack Hussein Obama – biografia tão repleta de lances comprometedores que simplesmente não é possível contá-la, mesmo no estilo mais frio e comedido, sem dar a impressão de campanha difamatória.

Outro dia contei que há um processo contra o candidato democrata, movido por um fulano que diz ter cheirado cocaína e mantido relações homossexuais com ele, sofrendo, em seguida perseguições da campanha obamista. Fui imediatamente acusado de querer difamar o candidato como pederasta. Com toda a evidência, não sei se Obama é gay ou cocainômano, mas a existência do processo é um fato, e não foi Obama quem o moveu: foi o declarante que o moveu contra Obama. Se está mentindo, então é completamente louco e arrisca desgraçar sua vida apostando tudo numa mentira fútil.

Nada desse calibre existe contra Sarah Palin ou John McCain. Nenhum dos que falam contra eles pôs a cabeça em risco transformando as acusações em processo judicial. E olhem que as imputações do alegado companheiro de farras são o que há de mais brando e insignificante no currículo negativo de Obama.

Infinitamente mais sério é o processo por falsidade ideológica que corre contra ele num tribunal da Pensilvânia. Não foi movido por nenhum republicano fanático, mas por um conhecido militante democrata e antibushista, o advogado Phillip Berg. A petição inicial do processo vem anexada de várias peritagens que demonstram ser falsa a certidão de nascimento divulgada pela campanha de Barack Obama para provar sua cidadania americana. O que está em jogo não é somente a possível inelegibilidade do candidato, mas, independentemente disso, a sua condenação como falsificador de documento público. Berg solicitou que o tribunal apressasse a intimação do réu, por um motivo muito simples: se esta questão não for resolvida logo, e Obama vier a ser eleito presidente antes da conclusão do processo, os EUA estarão metidos, de repente, na maior crise constitucional da sua história. O presidente legalmente eleito não só terá de ser declarado inempossável, mas irá direto da glória para a cadeia, culpado de ter ludibriado a nação inteira com o blefe político mais boboca de todos os tempos. O eleitorado de Obama, após o monstruoso investimento emocional que fez num candidato cuja biografia desconhece quase por completo, ficará naturalmente enfurecido e acusará a justiça americana de “golpe”. O país terá de escolher entre a Constituição e a paixão obâmica. Se escolher a primeira, estará dividido por uma fronteira de ódio insanável. Se escolher a segunda, terá, de um só lance, abdicado de toda a sua história, de todos os seus valores e de toda a sua dignidade no altar de um capricho de seus inimigos.

Como a carreira e a projeção de Barack Obama são obviamente uma criação de forças antiamericanas conjugadas – coisa que pode ser demonstrada facilmente pelas fontes do seu financiamento –, creio que aí se pode encontrar uma explicação bastante razoável para o desinteresse aparente com que o Partido Democrata tem tratado essa bomba-relógio destinada a explodir dentro de algumas semanas. Para fins de destruição dos EUA, colocar Obama na presidência é um grande avanço, mas a crise constitucional que pode se seguir à declaração da sua inelegibilidade retroativa é melhor ainda. Não tenho a menor dúvida de que os criadores do personagem Barack Obama estão perfeitamente conscientes do processo e da absoluta impossibilidade de contorná-lo. Eles sabem que a bomba vai explodir e não são idiotas ao ponto de achar que fechando os olhos podem suprimi-la da existência.

As atitudes independentes e até insolentes tomadas nos últimos dias pelo candidato vice-presidencial Joe Biden são um sinal, discreto mas revelador, de que talvez os engenheiros do fenômeno Obama não contem tanto com usá-lo como presidente dos EUA, mas apenas como vírus para gerar a crise e dividir a nação americana por um conflito que, no momento, ela não pode suportar.

A coisa é tão grave que a própria campanha McCain-Palin prefere encobri-la, continuando a fingir que não há nada de errado com a candidatura Obama. Nunca houve, na história americana, um silêncio tão explosivo. Muito provavelmente McCain sabe da destruição iminente do seu adversário e não quer posar como diretor de cena do vexame espetacular que se prepara. Mesmo na hipótese de que alguém intimide Philip Berg e o obrigue a retirar o processo, nada impede que milhares de outros processos similares sejam abertos até a véspera das eleições ou – pior ainda – mesmo depois delas. Obrigar o país a escolher entre sua Constituição e um ídolo pop – com o risco de uma guerra civil no primeiro caso e da completa desmoralização no segundo – parece mesmo uma piada demoníaca. Se os dois partidos fazem de conta que não sabem de nada é porque estão conscientes do inevitável. Sua ignorância é fingida, mas a da mídia nacional é autêntica. Às vezes me pergunto quanto a Folha ou o Globo pagam a seus chefes de redação e colunistas políticos para que se esmerem tanto em não saber nada.

Mais curiosidades obâmicas

Olavo de Carvalho

Jornal do Brasil, 25 de setembro de 2008

A coluna de Maureen Dowd citada no artigo anterior era falsa. O engraçadinho que a enviou a mim sabia disso, pois não pode tê-la colhido nas páginas do New York Times, onde ela nunca esteve.

Em todo caso, não a mencionei como prova de nada, apenas como ilustração, curiosa mas dispensável, de algo que já estava bem provado por mil e um outros meios: que, se a candidatura de Barack Obama, como qualquer outra, é subsidiada por uma multiplicidade de fontes, o mesmo não se pode dizer da sua carreira total, criada e financiada desde o início por pessoas ligadas a organizações pró-terroristas e/ou ao banditismo puro e simples. Quem formou sua mentalidade foram os doutrinadores extremistas Frank Marshall Davis e Jeremiah Wright, quem o lançou na política foi o terrorista William Ayers (do grupo “Homem do Tempo”), quem pagou seus estudos em Harvard foi um mentor dos “Panteras Negras”, quem mais coletou dinheiro para ele nas eleições ao Senado foi um vigarista sírio condenado por dezesseis crimes. Que essa candidatura desperte o entusiasmo de todos os grupos pró-terroristas e partidos comunistas do mundo não prova uma “conspiração” em sentido estrito – tecnicamente, nenhum movimento histórico de amplitude mundial pode ser chamado uma “conspiração” –, mas também não pode ser uma inocente coincidência ex post facto. Obama nasceu desse meio, alimentou-se dele, e o aplauso que daí recebe é apenas o reforço final necessário para que a ambição longamente acalentada de destruir os EUA desde dentro (e desde cima) deixe de ser apenas um sonho de mentes malignas e se torne uma temível realidade.

Ahmadinejad tem razão: a eleição de Obama, se acontecer, será o sinal verde para a conquista da América pelo Islam revolucionário e seus parceiros comunistas, como a sedução da alma do príncipe Charles por um guru muçulmano, mais de vinte anos atrás, – ignorada pela mídia até hoje – foi o início da conquista da Inglaterra. Esta geração dificilmente passará sem que o mundo veja a autodissolução da Igreja anglicana e sua transformação em entreposto do islamismo. Mas talvez passe sem que os EUA – e portanto Israel – consumem sua rendição sacrificial ante o altar de seus inimigos. A presente eleição americana não é o último lance dessa disputa, mas é certamente um dos mais decisivos.

Ainda não sei ao certo como a crise econômica sustada pela ação rápida da Presidência americana se insere nesse quadro, mas sei que ela foi criada pelos democratas, que agora escondem suas culpas, como sempre, por trás de acusações ao governo e extraem proveito eleitoral de seus próprios crimes ignorados pela população. Fannie Mae e Freddie Mac já estavam encrencados em 2005 e o Senado discutia uma lei para impedir o desastre. A lei foi bloqueada pelos senadores Hillary Clinton, Christopher Dodd e – vejam só – Barack Obama, que em seguida receberam vultosas contribuições de campanha de Fannie e Freddie. (Leiam a história em http://www.bloomberg.com/apps/news?pid=newsarchive&sid=aSKSoiNbnQY0, e fiquem tranqüilos: ninguém me enviou a matéria por e-mail, eu mesmo a li na página da Bloomberg.)

Seria ingênuo esperar de esquerdistas uma conduta mais decente. Nas últimas semanas, eles apelaram aos expedientes mais extremos para esculhambar a candidatura McCain: montaram grupos terroristas armados de coquetéis Molotov para desmantelar a convenção republicana (cem incendiários foram presos na véspera, mas os remanescentes ainda fizeram um belo estrago), espalharam fofocas escabrosas sobre a família Palin (incluindo insinuações de incesto), armaram um escândalo nacional em torno da demissão de um policial no Alasca, como se fosse um novo Watergate, e invadiram os e-mails de Sarah Palin, publicando tudo (droga!, não havia nada de comprometedor). E a Folha de S. Paulo, com a cara mais bisonha do universo, informa a seus queridos leitores que Obama está escandalizado com o baixo nível dos ataques vindos da campanha McCain…

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