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Ainda há tempo

Olavo de Carvalho

Jornal do Brasil, 10 de maio de 2007

Uma notícia do UOL, traduzida do El País, informa que o governo da Polônia planeja derrubar os monumentos construídos no território polonês pela URSS, “ incluindo os dedicados aos soldados do Exército Vermelho que libertaram a Polônia dos nazistas”. O preconceito pró-comunista embutido no texto não poderia ser mais visível. Os soviéticos jamais libertaram a Polônia; eles a invadiram – e invadiram duas vezes: uma em parceria com os nazistas, no começo da guerra, outra contra eles, no fim. A ocupação soviética, ali como em toda a Europa Oriental, não foi nem um pouco menos cruel que a nazista. Enquanto os EUA ajudavam os países derrotados a tornar-se potências econômicas independentes, a URSS só espalhava terror e miséria nas nações que tomou dos alemães. Desde que tive a grata ocasião de caminhar sobre a estátua de Lenin jogada num depósito de lixo em Bucareste, tenho pensado no seguinte: Não só os monumentos erigidos à glória do comunismo têm de ser demolidos, mas todos os que colaboraram para a construção da mais vasta monstruosidade política de todos os tempos devem ser tratados como os criminosos cínicos e desumanos que são – incluindo nisso o beautiful people comunista que ainda brilha na nossa mídia e no nosso Parlamento, ditando regras, posando de santo, empanturrado de verbas públicas.

Ao protestar contra a decisão polonesa, o governo russo mostrou sua fidelidade inalterada ao culto de Lênin e Stálin, mas não é da Rússia que vem hoje o grosso do ódio estrangeiro à Polônia católica. Desde a queda da URSS a elite comunista se refugiou nos organismos políticos internacionais, de onde comanda a guerra anticristã, antijudaica e anti-americana sob novos pretextos publicitários e com armas emprestadas à estratégia anestésica do socialismo fabiano. Os gurus iluminados da ONU já ameaçam processar os governantes da Polônia por sua oposição ao abortismo, apoiada na vontade majoritária do povo polonês. Pela primeira vez na História, impedir um morticínio tornou-se “crime contra a humanidade”.

Nesse momento, a proposta de um acordo anti-abortista entre o Vaticano e o governo brasileiro mostra claramente o intuito papal de ampliar a frente de resistência à opressão global, cujas iniciativas contra os cristãos e os judeus no Ocidente já vão assumindo as feições nítidas de um genocídio cultural, contrapartida do genocídio tout court que prossegue, impune e mal camuflado, nas nações islâmicas e comunistas.

Funcione ou não o acordo, uma coisa é certa: se Bento XVI toma essa iniciativa, é sinal de que tem em mente algo como uma estratégia abrangente para a autodefesa da religião contra o assédio ateístico cada vez mais brutal e mendaz. Ainda há tempo para isso, mas em dois milênios de cristianismo nada trouxe mais dano à Igreja do que a acomodação com as esquerdas adotada no Concílio Vaticano II. João Paulo II esboçou uma volta atrás, mas no fim do reinado já estava engrossando o coro do anti-americanismo universal. “O destino da Igreja será decidido no Brasil”, disse seu sucessor. Oremos para que saiba avaliar o peso de suas próprias palavras.

Lênin e o nosso Lênin

Olavo de Carvalho


Jornal do Brasil, 21 de dezembro de 2006

Convidado a definir sua posição ideológica, o sr. presidente já deu três respostas: (1) É de esquerda. (2) Nunca foi de esquerda. (3) Foi de esquerda mas já não é mais.

As três juntas exemplificam didaticamente algo que há anos venho tentando em vão explicar à Zé-Lite. Quando lhes digo que Lula é comunista, que Marco Aurélio Garcia é comunista, ou até que Hugo Chávez é comunista, essas cândidas criaturas me respondem: “Mas será mesmo que eles ainda acreditam nisso?” O pressuposto da pergunta é que a filiação ideológica é uma crença subjetiva, mais ou menos de tipo religioso, que para funcionar tem de ser sincera.

Ora, as idéias, as crenças íntimas, só são determinantes do comportamento no caso dos homens intelectualmente diferenciados, capazes de dirigir seus atos desde o centro da sua consciência. Indivíduos mentalmente passivos, fragmentários, não agem desde si próprios, mas desde a estimulação ambiente, desde as pressões e seduções que recebem do seu grupo de referência. Um velho ditado francês ensina: “Quer mudar as opiniões do homem medíocre? Mude-o de lugar.”

Daí esta precaução de método: para saber a filiação ideológica de qualquer político brasileiro, não pergunte em que ele crê, mas com quem ele anda, a quais pressões e injunções ele é sensível, em quais esquemas de ação coletiva está metido.

Os grupos de referência de Lula são dois: a esquerda continental e a alta burguesia com a qual ele passou a conviver depois de eleito presidente. Seus compromissos com o primeiro são antigos, públicos e notórios. Com o segundo, são recentes e discretos: qualquer demonstração de afeto mais ostensiva, e lá vem paulada da esquerda inteira.

A diferença essencial é que, desses dois grupos, só o primeiro tem um projeto estratégico abrangente. A burguesia — mesmo a internacional – contenta-se com afagos a seus interesses financeiros imediatos, apostando, por puro wishful thinking , que a economia acabará ditando os rumos da política. A posição geográfica de Lula na intersecção desses dois grupos define a sua orientação ideológica: satisfazer as exigências econômicas imediatas da burguesia ao mesmo tempo que vai fortalecendo o esquema estratégico esquerdista de longo prazo. Mantém o capitalismo funcionando para alimentar com ele a máquina do poder esquerdista que acabará por dominar o espaço político inteiro. Todo mundo sai contente, sem pensar no amanhã sinistro que está sendo gerado com isso.

Os burgueses querem apenas dinheiro, os revolucionários querem o poder absoluto, a posse integral dos meios de matar. A história provou que é possível satisfazer a ambos. Mas o primeiro a descobrir isso e a usá-lo como arma estratégica foi Lênin. Ele sabia que no fim das contas, o dinheiro é nada, o poder de matar é tudo. Por isso conseguiu implantar a ditadura comunista na Rússia ao mesmo tempo que persuadia os investidores estrangeiros de que não era comunista de maneira alguma. Lula não é Lênin: apenas repete por automatismo, em resposta às pressões do meio, o jogo de ambigüidades que Lênin inventou. Quando Marx disse que a história se repete como farsa, não sabia que estava falando da história do socialismo.

Os motivos do general

Olavo de Carvalho


Jornal do Brasil, 3 de agosto de 2006

Se alguém ainda tem dúvida quanto aos motivos que levaram o general Barros Moreira a transformar a Escola Superior de Guerra em agência de publicidade do MST, por favor informe-se sobre a palestra que ele deu na Faculdade Boa Viagem, no Recife, em novembro de 2005. O homem é obviamente um chavista devoto, um servidor do Foro de São Paulo.

Oficiais militares presentes à palestra ficaram chocados de ver até que ponto a infiltração comunista havia colocado a ESG a serviço da revolução continental, lutando contra a qual tombaram tantos soldados brasileiros cuja memória, para os Moreiras, parece não significar nada. Recebi pela internet o depoimento de um daqueles oficiais. Se o general vier com desconversa, publico o documento na íntegra.

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O novo míssil russo Topol RS 12 tem velocidade bastante para atingir Washington ou Nova York antes de ser notado pela defesa espacial americana. Na mais branda das hipóteses, já estamos em plena Guerra Fria II. A Rússia e a China nunca saíram da corrida armamentista, enquanto os EUA desativavam parcelas cada vez maiores do seu arsenal atômico. Mas o Topol RS 12 é algo mais: é arma construída especialmente para um ataque à América.

A esta altura, é impossível negar a existência de uma articulação bélica mundial contra os EUA (leiam Steven W. Mosher, Hegemon. China’s Plan to Dominate Asia and the World; Jerome R. Corsi, Atomic Iran; Stanislav Lunev, Through the Eyes of the Enemy). É claro que o recurso a um ataque maciço pode ser substituído indefinidamente pela “guerra assimétrica”, onde a arma principal, no fim das contas, é a mídia. Mas, qualquer que seja a via adotada, o objetivo é claro: a destruição dos EUA enquanto potência e a instauração de “outro mundo possível”, um paraíso de paz e liberdade sob o governo — adivinhem! — dos generais chineses, dos aiatolás iranianos, da máfia russa (que é o próprio governo russo) e de seus colaboradores menores, os Mugabes, Castros e Chávez. É patética a esperança rósea que tanta gente deposita em algo que, examinado realisticamente, é o horror em estado puro. A diferença entre as sociedades nascidas da tradição judaico-cristã e as suas inimigas é tão patente, o contraste entre a liberdade relativa e a tirania absoluta é tão impossível de esconder, que só a abdicação voluntária das responsabilidades da razão pode levar alguém a tomar partido daquilo que existe de mais perverso e repulsivo.

A promessa do esquerdismo à humanidade foi bem resumida num cartaz ostentado por uma militante palestina enragée numa recente passeata anti-ocidental em Londres: “Aguardem o verdadeiro Holocausto”. Mas todos os que lutam para chegar a isso já estão preparados para, uma vez atingido o objetivo, choramingar que seus ideais foram traídos. O sentimento de inocência incondicional é inerente à psicologia das almas criminosas.

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Quem quiser saber como funciona a indústria da autovitimização palestina, que arranca lágrimas de milhões de idiotas, assista ao documentário “Pallywood”, em http://www.youtube.com/watch?v=c1oq7oGO_N8.

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