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1968 reencarnado

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 9 de outubro de 2008

Escreve na edição do dia 8 do Washington Post o colunista E. J. Dionne, importante formador de opinião com muita influência nos meios católicos de esquerda: “O debate de ontem tornou claro que o esforço de John McCain no sentido de mudar o foco da campanha para as guerras culturais dos anos 60 não vai funcionar. Os eleitores querem candidatos que falem sobre problemas e como resolvê-los, especialmente os enormes problemas com que nos confrontamos agora.”

Bem, se E. J. Dionne quer problemas enormes, é fácil indicar-lhe um que é talvez o maior de todos os que a sua nação já enfrentou: a onda mundial de ódio aos EUA, que boicota por toda parte as iniciativas diplomáticas, militares e comerciais do governo americano, favorece a ação dos terroristas no plano internacional e a de seus aliados e protetores dentro do território americano e fomenta toda sorte de sabotagens, confusões, erros desastrosos e políticas suicidas que desembocam na presente crise econômica do país.

Esse movimento é exatamente o contrário do que o otimismo vão dos “neoliberais” anunciava que aconteceria em seguida à queda do regime comunista na URSS. Ele substitui com vantagem tudo o que a velha encarnação soviética do movimento revolucionário tentou fazer para destruir os EUA. No seu conteúdo e na sua retórica, ele não difere substantivamente das “guerras culturais dos anos 60”, que permanecem em última análise a sua fonte básica de inspiração. A diferença está no tamanho: na comparação, elas se reduzem às dimensões de uma farra de estudantes. Naquela época, suas únicas armas, materialmente falando, eram pedras e coquetéis Molotov. Geograficamente, seu alcance não ia além de Paris, de Nova York e da California. Sua força vinha principalmente do apoio midiático e do paternalismo cúmplice que amolecia o coração de seus inimigos. Decorridas quatro décadas, a gritaria estudantil transformou-se num movimento mundial magistralmente organizado, apto a acionar campanhas anti-americanas com um discurso uniforme em escala planetária, da noite para o dia, em articulação estreita com organizações terroristas na Europa, na Ásia e na América Latina, prontas para ações muito mais vastas e destrutivas do que tudo o que se viu na década de 60. Na época, quem pensasse em estourar algo do tamanho das Torres Gêmeas seria enviado ao hospício. Hoje não há mais hospícios (foram fechados por influência da antipsiquiatria, uma das armas ideológicas da guerra cultural) e as idéias dos loucos adquiriram uma tremenda viabilidade prática.

O anti-americanismo global é a continuação das “guerras culturais dos anos 60” por outros meios — que não excluem, mas absorvem e transcendem infinitamente os anterioriores. Ele não surgiu espontaneamente: foi criado e fomentado desde dentro e desde fora dos EUA por um conjunto de poderes formidáveis, entre os quais se destacam algumas das fortunas bilionárias que subsidiam a candidatura Obama — como por exemplo a de George Soros, a do príncipe saudita Alwaleed bin Talal (cujo emissário Khalid Al-Mansour financiou os estudos de Obama em Harvard), e a da própria Penny Pritzker, coordenadora financeira da campanha do candidato democrata e dona do Hotel Hyatt de Nova York, onde a elite esquerdista, sob protestos de centenas de judeus do lado de fora, prestou rica homenagem ao mais explícito inimigo dos EUA e de Israel, o presidente iraniano Ahmadinejad. Não existe, nem no planeta Terra nem em Hollywood, uma só celebridade anti-americana que não apóie de todo o coração o candidato democrata. Estariam loucas, drogadas, apostando tudo contra si mesmas, ou têm objetivamente algo a ganhar com a vitória dele? A acreditarmos no discurso eleitoral de Obama, ele tem hoje intenções exatamente opostas às de seus fãs mais ardentes, a quem no entanto representou com tanta fidelidade ao longo de toda a sua carreira política. Como observou Thomas Sowell, “Obama está se candidatando com uma imagem que é diretamente oposta a tudo o que ele andou fazendo durante duas décadas. Sua habilidade em fugir do seu passado é tão notável quanto as grandes escapadas de Houdini.”

Um político não se conhece pelo que ele promete hoje, mas pelo que ele fez ontem. Segundo Dionne, quem quer que obedeça a esse princípio do senso comum está “desviando o debate para as guerras culturais dos anos 60”. Mas não são os próprios adeptos do culto obâmico universal que chamam o 1968 de “o ano que não terminou”? Não são eles que dão à mitologia esquerdista dos anos 60 uma atualidade temível no Fórum Social Mundial, na onda terrorista e na virulência centuplicada do anti-americanismo global? Na verdade, concentrar o fogo dos argumentos no discurso de Obama, evitando tocar no seu passado, é fugir dos “enormes problemas com que nos confrontamos agora”, nos quais esse passado se perpetua e se amplia poderosamente, e aceitar como genuína a imagem de um Obama ideal, inventada para fins de pura propaganda. Se Dionne exige que os candidatos republicanos façam precisamente isso, é porque ele próprio personifica na atualidade um resíduo vivo e atuante daquelas “guerras culturais”: a teologia da libertação, que ele absorveu de Harvey Cox e que faz dele a contrafação simiesca de um pensador católico, empenhada em persuadir os fiéis a que não olhem o Messias democrata com os olhos da cara, e sim com os olhos da fé.

Um blefe descomunal

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 9 de outubro de 2008

Entrevistado sobre a ligação entre Barack Hussein Obama e o terrorista William Ayers, o advogado e cientista político Steve Diamond entregou ao New York Times as provas documentais de que Ayers havia fundado a ONG Chicago Annenberg Challenge (CAC) e nomeado Obama diretor da entidade. O jornal preferiu esconder as provas e proclamar que “segundo várias pessoas envolvidas no caso, Ayers não influenciou em nada a nomeação de Obama.”

Os documentos falam por si. São cartas entre Ayers e a Brown University, patrocinadora da CAC, mostrando que a autoridade de compor a diretoria dessa ONG incumbia inteiramente ao próprio Ayers. Mais que “influenciar a nomeação” de Obama, ele o nomeou pessoalmente.

Veja os papéis no site de Diamond, http://globallabor.blogspot.com/2008/09/obamaayers-update-letters-show-bill.html e explicações suplementares do repórter Aaron Klein em http://www.wnd.com/index.php?fa=PAGE.view&pageId=77075.

Às provas, o New York Times preferiu as meras opiniões de terceiros, porque estas negavam a dívida de Obama para com Ayers. A mídia esquerdista chique, insisto, é puro crime organizado. Organizadíssimo. A matéria do NYT saiu ao mesmo tempo que os anúncios da campanha de Obama que qualificavam de “insulto” a afirmação de Sarah Palin de que Obama tem ligações estreitas com terroristas, acusação aliás já feita pela própria Hillary Clinton em abril (v. http://www.politifact.com/truth-o-meter/statements/440). E mal o NYT havia acabado de abafar a denúncia de Steve Diamond, quando a Universidade de Illinois veio confirmá-la integralmente, divulgando cento e quarenta caixas de documentos – não cento e quarenta documentos, mas cento e quarenta caixas – que reconstituem com detalhes todo o trabalho conjunto desempenhado na CAC pela dupla Obama-Ayers (v. http://elections.foxnews.com/2008/08/26/newly-released-documents-highlight-obamas-relationship-with-ayers).

Outra denúncia que, com a ajuda da grande mídia, a tropa-de-choque obamista tem desmentido naquele tom de dignidade ofendida tão típico da eloqüência esquerdista é a da troca de favores entre o candidato e o vigarista sírio Tony Resko, já condenado por dezesseis crimes. Resko foi um dos principais financiadores da campanha de Obama ao Senado. Obama jura: “Nada fiz em favor dele.” Em resposta, o Sun Times publicou as cartas que o senador então recém-eleito escreveu a várias prefeituras recomendando que investissem num projeto imobiliário do malandro (v. http://www.suntimes.com/news/politics/425305,CST-NWS-obama13.article).

Tal como aconteceu com a ocultação do Foro de São Paulo pela totalidade da classe jornalística brasileira, o manto de proteção estendido em torno de Obama não pode ser explicado como efeito casual da mera incompetência. Desde que o momento em que apostou tudo em Obama, a grande mídia dos EUA abandonou os últimos escrúpulos de idoneidade, perdeu todo o respeito pelos direitos do público e partiu para a manipulação cínica do eleitorado, sem a qual um candidato tão obviamente desprovido de credibilidade não teria jamais a menor chance, como Lula não teria tido no Brasil se o povo soubesse de sua parceria com as Farc, o Mir chileno e organizações congêneres.

Caprichando na falsificação, a Associated Press disse que a denúncia das ligações perigosas de Obama tinha “subtons racistas” (http://www.breitbart.com/article.php?id=D93KD6Q00&show_article=1). A alegação é manifestamente absurda, mas, na esquerda, quem liga para isso? Desde o início, a propaganda obamista tratou de inibir os críticos por meio da chantagem racial. A AP, que só nominalmente não é órgão da campanha obamista, leva a trapaça às últimas conseqüências ao chamar de “racismo” qualquer insinuação de que a folha corrida de Obama é enegrecida não pela cor da sua pele, mas pela cumplicidade com Ayers – um branco. Já expliquei aqui (http://www.olavodecarvalho.org/semana/080721dc.html) que a inversão revolucionária de sujeito e objeto pode ser observada não só nas grandes linhas do discurso ideológico de esquerda, mas até nos detalhes mais mínimos da sua tática verbal. Quod erat demonstrandum, pela enésima vez.

O símbolo “candidato negro” tem uma força inibitória automática, tão contundente em si mesma que, para encarná-lo nas presentes eleições, o Partido Democrata não precisou nem mesmo escolher um negro americano típico, mas sim o que podia haver de mais atípico, de mais extravagante.

Primeiro, Obama não é descendente de escravos, mas sim de proprietários de escravos. O Islam, religião que ele herdou do pai e da qual obteve sua primeira educação na Indonésia, é a cultura mais escravagista dos últimos dois milênios. Sete séculos antes que o primeiro português comprasse seu primeiro escravo africano, os muçulmanos – árabes e negros misturados – já capturavam brancos na Europa, asiáticos na Ásia e africanos na África, levando-os, aos milhões, para servir como escravos em Meca e Medina (muitas vezes capando-os, a caminho, para vendê-los a preço melhor como eunucos) – e continuaram firmes no escravagismo muito tempo depois de o Ocidente ter abandonado essa prática.

Mais atípica ainda é a história moral da família Obama. O pai do senador é um estrangeiro bígamo que só ficou no território americano pelo tempo necessário para engravidar uma coitada e dar no pé. Nunca fez nada pelo bem do filho, que acabou sendo entregue à caridade de um casal de brancos. Dizer que isso é a imagem média da família negra americana seria uma ofensa racista intolerável. Maior ainda é o contraste entre os Obamas e as famílias dos presidentes americanos em geral, de George Washington a George W. Bush: jamais um candidato presidencial nos EUA veio de um lar tão destrambelhado.

Por fim, Obama não é o tipo do “left liberal” que personifica usualmente a ideologia do Partido Democrata. Contrastando com o discurso moderado e patriótico com que ele tem conquistado a confiança dos eleitores, toda a sua carreira, subsidiada desde seus tempos de estudante por pessoas e entidades pró-terroristas, é a de um anti-americano e anticristão radical, discípulo dos Panteras Negras e da “black liberation theology”. No Senado, ele permaneceu fiel a seus mentores e patrocinadores, votando, sistematicamente, mais à esquerda do que qualquer outro senador americano, de hoje ou de qualquer outra época. Se todos os inimigos dos EUA torcem tão ardentemente por ele, não é sem razão. Nenhum político com um currículo tão ruim seria jamais aceito como candidato à presidência americana se o partido que o escolheu não possuísse garantias de que a verdadeira história desse indivíduo permaneceria desconhecida do público, encoberta sob densas camadas de atenuações e desconversas. Independentemente do resultado das eleições, a mera candidatura Obama constitui, por si, o maior e mais bem sucedido esforço jamais tentado para corromper e destruir desde dentro o sistema democrático americano.

Mas é da natureza do blefe ser tanto mais eficiente quanto mais forçado. O fingimento pequeno, verossímil, desperta nas vítimas aquela pontinha de suspeita que as convida ao exercício da inteligência crítica. A farsa exagerada, grotesca, descomunal, faz o público duvidar de que alguém seja idiota o bastante para tentar enganá-lo com um truque tão besta. E por isso mesmo o truque besta funciona. Se Obama fosse um negro americano médio, e além disso fosse apenas moderadamente esquerdista ou levemente desonesto, sua reputação seria facilmente reduzida a cacos. Como ele é monstruosamente atípico, e ademais seu comprometimento com a traição e o crime é o mais profundo e completo que já se viu num candidato à presidência dos EUA, o tamanho do perigo que se anuncia parece grande demais para ser verdade, e o eleitor, iludido pela confiança rotineira na ordem normal das coisas, não percebe que está diante da maior anomalia política da história americana.

***

Em resposta ao meu artigo “Salvando a mentira” (http://www.olavodecarvalho.org/semana/080919dc.html), o Ombudsman da Folha tenta defender seus colegas de redação alegando que, se o jornal mentiu em prol dos Rosenberg nas páginas internas, não o fez na chamada de capa. Como a mentira foi imperfeita – alega o engraçadinho –, salvou-se portanto metade da verdade, o que, para ele, é mais que suficiente como prova da idoneidade do jornal. Notem bem: há uma diferença substantiva entre a mentira material, mesmo em número elevado, e a mente deformada que dilui o próprio critério de distinção entre a verdade e a mentira, fazendo com que esta prevaleça sempre, seja diretamente, seja sob a forma de meia-verdade. No caso da Folha, a deformação foi até elevada à segunda potência, porque, praticada em primeiro lugar pelo redator da matéria, foi em seguida legitimada por aquele que tem nominalmente a incumbência de corrigi-la.

Muito esquisito

Olavo de Carvalho

Jornal do Brasil, 2 de outubro de 2008

A esta altura, o site do advogado democrata Philip Berg (www.obamacrimes.com) já teve 17 milhões de visitas, mas o processo que ele move contra Barack Obama continua rigorosamente ausente das páginas dos grandes jornais, do horário nobre da TV e até da propaganda McCain-Palin.

Berg alega que Obama não provou ser legalmente cidadão americano e que, para piorar, o candidato democrata divulgou pela internet uma certidão de nascimento falsa.

O primeiro ponto é indiscutível. Em 15 de setembro Berg enviou intimações ao réu, ao registro civil e ao hospital do Havaí onde Obama alega ter nascido, solicitando que apresentassem a certidão original impressa. Não recebeu nada até agora. Obama tinha prazo até o dia 24 para responder. Em vez de mostrar a certidão, liquidando com o processo no ato, ele entrou com um pedido de dispensa (motion for dismissal), alegando que Berg não oferecera provas suficientes para justificar a abertura do processo e ademais não tinha legitimidade como queixoso, por não ter sofrido dano pessoal no caso.

Respondendo à moção no dia 29, Berg afirmou que como militante e contribuinte democrata ele sofre prejuízo, sim, de uma candidatura falsa que ameaça desmoralizar o seu partido caso se confirme, depois das eleições, que a certidão original de Obama não existe mesmo.

Berg insiste que, se o tribunal não julgar o caso antes do dia da votação, e Obama vier a ser eleito, os EUA estarão sujeitos à maior crise constitucional da sua história, com a presidência ocupada por um estrangeiro sem qualificação legal para o cargo.

Nesse ínterim, o site www.Factcheck.org afirmou que seus editores examinaram a versão impressa da certidão e que o documento é autêntico. Para maior clareza, publicou fotos do original, mostrando que atende a todos requisitos alegadamente faltantes, como o carimbo em alto relevo e a assinatura do cartorário. Segundo o site, as novas fotos do documento ali publicadas “não foram editadas de maneira alguma”.

Berg respondeu – e qualquer visitante da página pode notar – que, “sujeitando as fotos originais da certidão a porcentagens extremas de compressão, sem ao mesmo tempo reduzir o tamanho das imagens, o site obteve fotos tremidas, embaçadas, totalmente inúteis para a detecção de qualquer detalhe”. A simples tabela das porcentagens de compressão, afirma Berg, “incrimina o Factcheck e destrói por completo a sua credibilidade”. Berg suspeita que “Factcheck alterou propositadamente as fotos e imagens escaneadas para perpetuar a fraude imposta ao público americano”.

Berg publicou a tabela de compressões no dia 21. Atualizando a defesa da autenticidade da certidão no dia 26, Factcheck omitiu-se de responder à objeção do advogado e nem mesmo mencionou o nome dele.

O leitor que me desculpe por ocupar o espaço quase inteiro desta coluna com notícias, em vez das análises e comentários que a ela incumbem. É que essas notícias estão ainda mais ausentes da mídia brasileira que da americana, e, quando falta o material noticioso para o comentarista comentar, só resta ao infeliz fornecê-lo ele próprio, cumprindo o dever alheio antes de poder cumprir adequadamente o seu.

Segue-se o comentário espremido:

(1) Não sei se as acusações de Berg são verdadeiras, mas, apresentando uma motion for dismissal em vez da certidão que teria estrangulado o processo no nascedouro, os advogados de Obama deram a entender que o documento realmente não existe. O procedimento esquivo de Factckeck sugere a mesma coisa.

(2) A grande mídia está obviamente mais interessada em ciscar fofocas da família Palin do que em esclarecer a nacionalidade de Obama ou suas ligações com as pessoas e entidades notoriamente pró-terroristas que financiaram seus estudos em Harvard e sua carreira política desde o início.

(3) Tudo isso é imensamente esquisito, pelo menos tanto quanto a solícita ocultação do Foro de São Paulo pela grande mídia nacional, sem a qual Lula jamais teria sido eleito nem muito menos reeleito.

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