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Velhas feridas

Olavo de Carvalho


O Globo, 6 out 2001

Negar a um país agredido militarmente o direito de reagir, obrigá-lo a submeter a organismos estrangeiros a decisão e o comando de suas operações de defesa, eis decerto um ataque mais devastador à sua soberania nacional do que poderia sê-lo a derrubada de mil torres de mil World Trade Centers.

Por ter derrubado as torres, Osama bin Laden é acusado mundialmente de um crime colossal. Mas infinitamente mais criminosos são aqueles que se aproveitam da desorientação momentânea da vítima para atacá-la simultaneamente por todos os lados, exigindo-lhe não apenas que abdique do direito elementar de autodefesa, mas que o faça de joelhos, com humildade e contrição, reconhecendo no atentado terrorista uma sentença divina, cuja justiça superior — já que Deus escreve direito por linhas tortas — não é minimamente afetada pelo detalhe acidental de ter entrado em vigor por meios criminosos.

Mal assentada a poeira dos edifícios tombados, milhares de bocas entraram em ação para reverter contra os EUA a onda de indignação espontânea que se erguera no mundo contra os autores do atentado. Em uníssono, como um coro bem disciplinado, líderes e intelectuais esquerdistas esforçam-se para completar na esfera jurídica, política e diplomática a obra que bin Laden iniciou no campo militar. Sim, que outro objetivo poderia bin Laden ter em vista com as agressões de 11 de setembro senão fazer vergar a espinha dorsal dos EUA, humilhar e debilitar a nação mais forte e mais próspera do mundo? E como alcançar mais eficazmente esse objetivo senão roubando dessa nação o direito de revide e forçando-a a desgastar-se num extemporâneo “mea culpa” no instante em que ela mais precisa de concentrar suas forças e seu orgulho nacional para defender-se do agressor?

A articulação lógica dos atentados e da artificialíssima onda de anti-americanismo que se seguiu poucos dias depois é tão evidente, que toda afetação de bons sentimentos por parte dos promotores dessa campanha perversa se desmascara a si mesma, no ato, como patente hipocrisia dos maiores e, na verdade, únicos aproveitadores do crime.

Únicos, sim. Que benefício podem extrair das atrocidades de bin Laden os países islâmicos? Ser expostos aos olhos do mundo como nações de bárbaros, de assassinos, de fanáticos? Voltar contra si mesmos os canhões e as ogivas nucleares dos EUA? Só se forem mais loucos do que os retrataria o mais rancoroso anti-islamismo que se possa conceber.

Que benefício pode esperar Israel? Ficar espremido entre dois fogos numa guerra de proporções mundiais? Expor os judeus de Nova York, de Londres, de Paris, ao rancor vingativo dos muçulmanos que aí habitam em número incomparavelmente superior ao deles? Impensável.

E os EUA, então, que podem esperar ganhar, seja com os ataques do dia 11, seja com o envolvimento numa guerra que pode se alastrar e jogar contra eles metade do mundo?

Não, os EUA não ganham nada, Israel não ganha nada, os países islâmicos não ganham nada.

Só quem pode ganhar e aliás já está ganhando é uma classe bem definida de pessoas, não identificadas com nenhuma nação em particular, mas unidas por um propósito ideológico e estratégico comum. Quem ganha é internacional esquerdista.

A velocidade indecente com que, passado o escândalo do primeiro momento, a máquina mundial da propaganda anti-americana entrou em ação, para vibrar sobre o corpo combalido da vítima um segundo e mais portentoso golpe, não pode ser explicada senão pela coerência absoluta de propósitos entre o primeiro ataque e o segundo, entre o bin Laden das montanhas do Afeganistão e os milhares de bins Ladens da diplomacia e da mídia.

A hipótese, aliás, de que o primeiro disparasse seus Boeings numa pura efusão de iniciativa isolada, anárquica, sem qualquer respaldo num propósito político de maior envergadura, é suficientemente pueril para não merecer sequer ser discutida. Sobretudo depois que a unidade desse propósito já nem cuida mais de camuflar-se, mas, sem temer represálias, se exibe despudoradamente na convergência de tantos discursos, de Koffi Annan a Fidel Castro, passando por uma infinidade de solícitos Baltazares Garzóns.

Não sei se essas forças armaram bin Laden. Mas, armadas por ele, impõem hoje aos EUA uma ameaça infinitamente mais temível que a de todos os kamikazes e talebãs de mil e uma noites de pesadelo.

O que não se pode negar é que algo a emergência desse estado de coisas nos ensina. Ela destrói, de um só golpe, o mito do mundo unipolar. Nunca existiu mundo unipolar. A Guerra Fria foi simplesmente substituída por um novo duelo de gigantes: de um lado, os EUA; de outro, um agregado multinacional de poderes que inclui a “intelligentzia” esquerdista mundial, os organismos internacionais (ONU, Unesco, OMS, OIT, FMI, Banco Mundial), milhares de ONGs e um punhado de conglomerados financeiros que, mesmo quando de capital majoritariamente americano, têm interesses que vão muito além dos da nação americana e freqüentemente contra eles. Esse agregado representa claramente o núcleo da Nova Ordem Mundial, uma força dirigista e socialista que vive de sugar energias vitais dos EUA, usá-las em projetos megalômanos de controle universal que restringem a soberania nacional americana junto com a dos demais Estados e, por fim, lançar a culpa de tudo na própria nação americana.

Não conheço mais de três ou quatro brasileiros que saibam do conflito mortal que hoje opõe os interesses americanos aos do globalismo. Massa e elites, não só no Brasil, mas em todos os países do Terceiro Mundo, são mantidos na ilusão de que os organismos internacionais, por exemplo, são braços do poder americano, o qual na verdade eles estrangulam, subjugam e debilitam a cada dia. Não conheço mais de três ou quatro brasileiros que saibam dos protestos desesperados de nacionalistas estadunidenses contra a opressão globalista que, entre nós, passa por ser a encarnação suprema da ambição nacional americana.

A mobilização repentina e uníssona dos porta-vozes daquele agregado, numa ostensivo ataque à soberania nacional dos EUA, tem o mérito de revelar ao mundo o conflito longamente ocultado. Nunca houve mundo unipolar. O pólo antagônico, apenas, era invisível porque não tinha identidade estatal; sua unidade, camuflada pela pluralidade de suas faces dispersas pelo mundo, só podia ser apreendida mediante um esforço de abstração, dificultoso para muitos, repugnante para outros. A súbita radicalização ocasionada pelos atentados de bin Laden trouxe a revelação forçada dessa unidade. Antes, qualquer um podia recusar-se a vê-la, por inibição de revolver velhas feridas da Guerra Fria. Agora essas feridas supuraram todas de uma vez.

Os novos ditadores

Olavo de Carvalho


O Globo, 29 de setembro de 2001

O Prêmio Imprensa da Embratel foi atribuído este ano à série de TV na qual o repórter Caco Barcelos acusava o Exército de ter assassinado a tiros um casal de terroristas e simulado um acidente rodoviário para ocultar o crime.

Barcelos já recebeu vários prêmios, decerto merecidos. Mas este ele não deveu a nenhum mérito profissional, e sim a uma decisão política destinada a legitimar como bom jornalismo uma farsa já desmascarada, por esta mesma coluna, em 28 de abril de 2001. O que a Embratel acaba de premiar é uma mentira inventada por um soldado desertor que, na tentativa de extorquir do Exército vantagens indevidas, se apresentou — e foi aceito pelo repórter — como testemunha participante de fatos que, se tivessem ocorrido, não poderiam ter sido presenciados por ele: nenhum praça que fuja do quartel aparece atuando numa operação militar dois meses depois de constatada oficialmente sua deserção.

Não creio que Caco Barcelos tenha agido de má-fé. Mas é nítido que se deixou usar como instrumento de uma fraude grotesca e pueril. Ele diz ter pesquisado durante um ano para desencavar suas informações. Mas não seria preciso mais de três horas para obter, no Exército e em livros de domínio público, os documentos que as impugnavam por completo, que não poderiam ter sido ignorados por um pesquisador atento e que depois foram postos à disposição do público no site http://www.ternuma.com.br.

Outras incongruências, ainda mais graves que a mencionada, faziam da reportagem uma invencionice tosca que, se não podia ser aceita como jornalismo, também não se saía melhor como obra de desinformação, tão ingênuas e frágeis eram as bases de papelão que a sustentavam. Os terroristas, que segundo a pretensa testemunha teriam sido mortos em 8 de novembro de 1968, participaram de um assalto três dias depois, segundo o relato — bem mais confiável — de Jacob Gorender. E a alegada simulação de acidente rodoviário era descrita na reportagem em termos que a tornavam fisicamente impossível: as fotos mostravam, na pista, a um metro de distância do local do choque, as marcas de frenagem do carro trombado. Se as vítimas foram postas no veículo já mortas, quem pisou no freio? Um agente kamikaze das forças de segurança, cujo cadáver em seguida se desmaterializou? Ou um ser sobrenatural capaz de frear e sair voando pela janela ao mesmo tempo?

Um recruta que permanece em serviço depois de desertar, dois mortos que ressuscitam às pressas para tentar impedir sua própria morte e depois ainda cometem um assalto — com esses elementos não se constrói uma reportagem, não se constrói nem mesmo uma mentira: só se constrói um insulto à inteligência humana.

Um romance, um filme ou peça de teatro pretensamente históricos podem conservar seu valor quando os fatos que narra se demonstrem falsos. Os méritos da obra de imaginação não dependem de fidelidade ao real. Mas uma reportagem se constitui de fatos e somente de fatos: sem fatos, ela inteira não vale nada. Nada ali portanto restava para ser premiado, exceto a intenção política, muito mal realizada, de desmoralizar o Exército mediante uma acusação falsa.

Premiar uma coisa dessas é desmentir a definição mesma do jornalismo, o qual se distingue da ficção e da propaganda por um certo compromisso intrínseco com a verdade e a prova, compromisso que, no caso presente, foi radicalmente desatendido.

Mas não se pode acusar a Embratel de remar contra a corrente. Boa parte da classe jornalística brasileira já perdeu os últimos escrúpulos e aderiu festivamente à desinformação sistemática que antes se fazia em tablóides de propaganda esquerdista, bem longe da imprensa profissional que, mesmo na polêmica, conservava alguma imparcialidade. Os leitores, privados de alternativas, não apenas passaram a aceitar esse tipo de jornalismo como o único possível mas já estão adestrados para estranhar e rejeitar, como indecência reacionária, o simples exercício do direito de duvidar do que sai publicado.

Há trinta anos não se vê nos jornais deste país, exceto em raros artigos assinados por dissidentes marginalizados, uma única menção às violências cometidas pelos esquerdistas contra o mais brando e tolerante dos regimes autoritários; regime que só tardiamente e a contragosto consentiu no endurecimento de 1968, depois de falhadas todas as tentativas de conter a violência revolucionária mediante o expediente incruento das demissões e cassações, e depois que 84 bombas terroristas já tinham explodido em vários estados, matando transeuntes que nem tinham idéia do que se passava.

A simples cronologia dos fatos mostra que a ditadura não se constituiu como barreira premeditada contra anseios de democracia, mas como anteparo improvisado para deter uma avalanche de crimes hediondos. Por isso ela foi riscada da memória popular e substituída por clichês de propaganda que trinta anos atrás seriam recebidos, mesmo entre militantes de esquerda, com piscadelas de malícia.

Mas não é só a história nacional que sumiu da nossa mídia. Praticamente todos os massacres empreendidos pelos comunistas ao longo desse período, em Cuba, na China, no Vietnã, na África, no Tibete — com não menos de dez milhões de mortos — foram omitidos do noticiário brasileiro ou só mencionados discretamente, com o meticuloso cuidado de não deixar transparecer uma associação demasiado íntima entre os crimes e o lindo ideal político que os produziu, inimputável por direito divino. Enquanto isso, cadernos inteiros de lágrimas e louvores se concediam aos terroristas mortos pelo regime militar, apresentados como combatentes pela democracia e jamais como aquilo que comprovadamente eram: assassinos treinados, a soldo e a mando da ditadura genocida de Fidel Castro.

Também não se pode dizer que o júri do Prêmio Imprensa esteja em descompasso com a moda. Pois a falsificação ideológica das notícias acaba de chegar à apoteose da desinformação com a cobertura da operação Justiça Infinita. A acreditar no grosso da mídia local, o brasileiro fica com a impressão de que a Humanidade está unida contra George W. Bush, de que explosões de pasmo e indignação se voltam por toda parte contra a mobilização americana de combate ao terrorismo e não contra o próprio terrorismo, que é o que se lê na imprensa do mundo civilizado. Somente no Iraque e nos países comunistas é possível enganar tão completamente leitores e espectadores. Brasileiros residentes no exterior escrevem-me revelando seu espanto ante essa barreira de palavras que isola do mundo a nossa opinião pública e a aprisiona num paroquialismo fanático e imbecil. A diferença é que, naquelas ditaduras, os jornalistas são obrigados a fazer isso. Aqui, fazem porque querem, porque gostam, porque são eles mesmos os ditadores, investidos enfim do poder discricionário que por tanto tempo invejaram nos militares.

Casta de farsantes

Olavo de Carvalho

O Globo, 22 de setembro de 2001

 “O maior perigo das bombas é a explosão de estupidez que elas provocam.” (Octave Mirbeau, 1850-1917)

Diante dos ataques do dia 11, uma onda de indignação se levantou espontaneamente nos corações brasileiros contra o terrorismo internacional. Desde então, o mandarinato acadêmico local se esforça, por todos os meios e artifícios, para fazê-la voltar-se contra o país atacado. Tão vasta é nisso a mobilização de cérebros que, se igual dispêndio de neurônios fosse aplicado em tarefas úteis, o Brasil, que jamais ganha um prêmio de pesquisa científica no universo, ganharia todos. É espantoso ver como o nosso povo, sempre tão revoltado com a drenagem de verbas do Estado por parte dos senhores parlamentares, consente docilmente em sustentar com seus impostos uma casta ainda mais inútil e perversa que a dos políticos. Mais inútil, mais perversa e mais cara. O Brasil é o país que, no mundo, mais tem professores universitários per capita em relação à população discente: um para cada oito alunos. Um pajé para cada oito índios. Dir-se-ia que é o país mais culto da Terra. Mas, com louvabilíssimas exceções, cada um desses pajés tem seus próprios objetivos, uma agenda secreta que nada tem a ver com ensino, cultura, civilização. Fingindo lecionar, cada um só trata de promover a revolução socialista que fará dele, professor fulaninho, um ministro de Estado, um oficial da polícia secreta ou, na mais modesta das hipóteses, um comissário do povo.

Ser intelectual neste país é fazer a revolução gramsciana, que é a tomada do poder pelos intelectuais. Ser intelectual acadêmico é fazê-lo com dinheiro público. Quando um desses doutores, com um ar de superior isenção científica, impinge ao caro leitor a versão de que os atentados foram obra da “extrema direita” ianque, e não de fanáticos estimulados pela mídia esquerdista internacional, o que ele está fazendo, meu amigo, é tratar você como um cão de Pavlov, como um urso de circo, como um bichinho desprezível que está aí para dançar e abanar o rabinho à voz do mestre, sem poder ou querer pensar. Ele está mentindo e manipulando a serviço da operação de guerra psicológica que, neste como em todos os atentados, dá respaldo aos terroristas e amplifica os efeitos políticos de suas ações. Ele não é um analista, um estudioso, um professor: é um terrorista de beca, designado para a seção de desinformação por ser covarde demais, velho demais ou esperto demais para ser desperdiçado em investidas truculentas.

Em outras partes do mundo, um falsário pensaria duas vezes antes de tentar repassar ao público uma nota tão ostensivamente falsa. No mundo, há pessoas, inclusive na casta acadêmica, que sabem que os militantes de extrema direita nos EUA, incluindo milicianos, profetas do apocalipse, suprematistas brancos e tutti quanti, são, segundo a contagem do FBI, pouco mais de quatro mil; que eles são monitorados pela polícia em cada um de seus passos e que, no fim das contas, constituem a força política mais irrisória do planeta, só relevante graças à mídia esquerdista que os usa como espantalhos… No mundo, há pessoas que viram o temido e alardeado movimento neonazista alemão dissolver-se junto com o governo comunista de Berlim Oriental que o financiava… No mundo, há pessoas que, ante o discurso de inculpação da “extrema direita”, logo reparariam na dubiedade escorregadia do termo, usado para fundir numa névoa semântica, de um lado, aqueles marginais que são acuados pelo establishment e, do outro, o próprio establishment: anarquistas de porão, nazistas e anti-semitas, conspirando com capitalistas americanos e judeus para que estes consintam em explodir-se a si mesmos com a pura finalidade de suscitar uma onda de ódio antiesquerdista. A imagem é tão pueril que dificilmente algum agitador acadêmico em seu juízo perfeito ousaria puxá-la de dentro da cartola ante um público maduro. Mas, no Brasil, não apenas damos ouvidos a essa gente. Pagamos para que nos reduza à menoridade mental.

Igualmente imbecilizante, embora de maneira um pouco menos ostensiva, é o apelo geral ao argumento lançado por Fidel Castro de que os atentados, maus em si, são moralmente explicáveis ou justificáveis como reações de desespero ante a onipresença sufocante do poderio americano.

Que onipresença é essa? Não há um só país do mundo sob ocupação americana, enquanto em Lhasa, Tibete, restam menos tibetanos do que soldados chineses; e no próprio país que dá abrigo a Bin Laden não foram os americanos e sim os russos que mataram um milhão de afegãos, só parando o morticínio quando a ajuda americana fez pender a balança para o lado muçulmano.

E que desespero é esse, que se volta contra o mais generoso dos benfeitores? Com exceção do que se passou no Kuwait e em Granada, há décadas os EUA, manipulados pela ONU, só tomam parte em intervenções no estrangeiro quando é para ajudar comunistas a tomar o poder ou a manter-se nele. Assim foi, por exemplo, nas agressões comunistas a Angola e Goa. Assim foi em Katanga, onde as tropas da ONU, subsidiadas e aplaudidas pelo governo americano, devastaram uma província rebelde para integrá-la na ditadura sangrenta de Patrice Lumumba, um filhote da KGB. Assim é hoje na África do Sul, onde a ONU e o establishment nova-iorquino, por baixo de sua retórica anti-racista, dão cobertura à “limpeza étnica” promovida pelos comunistas contra os fazendeiros bôeres. E, quando esse tipo de política desemboca num massacre de proporções colossais como o de 1994 em Ruanda, quando 800 mil pessoas foram trucidadas por hordas intoxicadas de ideologia igualitária, não só o Departamento de Estado se cala, nem só o Conselho de Segurança da ONU se omite, mas a própria mídia americana faz o possível para abafar o sentido ideológico dos acontecimentos, reduzindo a uma “guerra entre selvagens” o que foi na verdade o efeito lógico e previsível de uma longa insuflação doutrinal revolucionária. Com uma regularidade quase obsessiva, desde que Roosevelt fez vista grossa ante a revolução na China sob a desculpa mirabolante de que Mao Tsé-Tung não era comunista e sim um “reformador agrário cristão”, até as concessões suicidas feitas ao armamentismo chinês por um presidente eleito com verbas de campanha chinesas, ciclicamente ressurge na política americana, com intensidade crescente ao longo dos anos, essa conduta pérfida e masoquista: favorecer os comunistas mediante operações nebulosas que, para cúmulo de cinismo ou de loucura, são apresentadas ao público como anticomunistas. Para os comunistas, o benefício é duplo. De um lado, recebem a ajuda material: dinheiro, armas, apoio dos organismos internacionais. De outro, a cada nova ocasião, ganham um pretexto altamente verossímil para vociferar na mídia contra mais uma sórdida investida do anticomunismo ianque.

Como poderia qualquer esquerdista deste mundo estar “desesperado” com uma situação tão confortável?

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