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Crianças malvadinhas

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 6 de julho de 2015          

Desmoralizada, acuada pela Justiça, desprezada e achincalhada abertamente por 91% da população brasileira, a quadrilha comunolarápia decidiu reagir mediante uma onda de bravatas e ameaças, fazendo o que pode para macaquear com trejeitos histéricos a virilidade e a coragem, duas coisas que seus líderes só conhecem por ouvir falar.
Essas gesticulações circenses não assustam a ninguém, mas, se às vezes nos fazem rir, outras vezes deprimem e podem levar às lágrimas o cidadão que, contemplando tanta miséria e deformidade, se lembre de que elas são, afinal de contas, o rosto do Estado brasileiro, o rosto da nação.
A mim elas fazem lembrar antes aquele vídeo do youtube, em que um boxeador nocauteado, estendido no chão como um trapo, continuava a esmurrar o ar, como se a luta tivesse um round suplementar no mundo dos sonhos.
Um dos lances mais comoventes da guerrinha dos fracassados contra o destino foi protagonizado pelo deputado Paulo Pimenta, ao pedir a prisão do jovem brasileiro que xingou a sra. Dilma Rousseff na Califórnia.
Xingar um governante em público é, em circunstâncias normais, um crime. Mas, quando o país inteiro está fazendo isso nas ruas, nas praças, nos estádios e nos panelaços, punir seletivamente um cidadão isolado é como tentar desviar um furacão à força de puns.
No meu modesto entender, o rapaz da Califórnia só errou num ponto. Xingar a presidente de “terrorista” é inócuo, pois isso ela já sabe que é. Eu, em vez disso, a teria xingado de “mocreia”, pois há sempre um risco de que, malgrado a impopularidade avassaladora, ela continue se achando linda.
Não menos patética foi a indefectível sra. Maria do Rosário, ao dar queixa contra um indivíduo anônimo e não identificável que, cruzando com ela no meio da massa, teria previsto a sua morte em data incerta e não sabida, por causas não mencionadas.
À polícia ela não deu a mais mínima pista que pudesse levar à descoberta do ofensor sem rosto, conhecido unicamente pelo nome de “Alguém”.
Sem a menor esperança de novas averiguações, ficou, pois, registrada apenas a identidade da vítima, mas isso é pura redundância, pois quem não sabe que a sra. Maria do Rosário é uma vítima?
Depois foi a vez do sr. Jacques Wagner que, tentando ser ministro da Defesa, mas não tendo ninguém a defender contra o que quer que seja, escolheu a apresentadora Maju Coutinho como alvo de ataques fictícios, fabricados inteiramente por MAVs a serviço do governo, e saiu bravamente em campo para defender a moça contra seus inimigos imaginários.
Não foi essa, admito, a mais notável performance carnavalesca do sr. Wagner, que jamais superará o seu feito de 2007, pioneiramente registrado por mim (leia aqui), quando, governador da Bahia, ele patrocinou um tremendo beijo lésbico em público entre sua esposa e a do então ministro da Cultura, Gilberto Gil.
Essa é a razão pela qual, quando me dizem que o Sr. Wagner não somente existe mas é ministro da Defesa, sinto-me à beira de ter um ataque de nervos como o do dr. Paulo Ghiraldelli e sair gritando: “É mentira! É mentira! É mentira! É mentira! É mentira! É mentira! É mentira! É mentira! É mentira!”
Também me pergunto se os altos oficiais das Forças Armadas não temem que, se o homem teve a cara de pau de fazer o que fez com a mulher de um ministro, ele venha a sentir-se ainda mais à vontade para fazê-lo — agora que ele próprio é ministro — com as mulheres de seus subordinados, isto é, as mulheres deles.
Qualquer que seja o caso, a atividade dos MAVs nos últimos dias não se limitou a criar racistas eletrônicos. Mais ou menos uma semana atrás recebi esta mensagem de um amigo que, por motivos óbvios, prefere permanecer anônimo:
“Professor Olavo, estou com uma informação de inteligência de que atacarão e derrubarão a sua página pessoal em breve, está sabendo? Depois do bloqueio de três dias virá o bloqueio de sete e depois o de 30. Vão denunciar todas suas postagens em massa e qualquer uma será interpretada como fora dos padrões. Outra coisa que eles farão é pegar o seu mail vinculado à sua conta e colocá-lo como administrador de diversas páginas falsas. (Sim, é possível fazer isso). Nestas páginas vão colocar pornografia e o administrador (no caso, você) será punido e banido do Facebook.”
O aviso do bloqueio de três dias cumpriu-se no prazo.
É isso o que dá ter duzentos mil seguidores no Facebook e não dizer a eles uma só palavrinha em louvor do governo. Também não é de espantar que, como toda censura, a do Fabebook oculte a sua própria existência: como minha esposa divulgasse na sua página a suspensão da minha, a dela também foi suspensa.
Vamos falar o português claro. Uma censura direta, feita oficialmente por funcionários do governo, é muito mais decente do que contratar moleques para derrubar páginas do Facebook. Quando um governo acossado por investigações de corrupção apela a um expediente tão pueril para tapar a boca dos denunciantes, é inevitável concluir que ele todo se compõe de crianças malvadinhas

Deformidades mentais

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 31 de dezembro de 2014

          

Pelo menos desde os estudos de François Furet, que datam de duas décadas atrás (especialmente Le Passé d’une Illusion, 1995), já não é permitido a nenhuma pessoa intelectualmente responsável ignorar que a formação comunista não introduz apenas algumas crenças falsas na mente humana, mas deforma gravemente a sua percepção da realidade em geral, nas grandes como nas pequenas coisas, na esfera da política e da História como na da moral e dos sentimentos.
Isso transparece em praticamente qualquer atitude pública de um líder ou militante comunista, mas com diferentes graus de nitidez. Em certos casos é preciso escavar fundo, em outros a deformidade se evidencia logo ao primeiro exame, só permanecendo invisível ao próprio indivíduo que a ostenta e aos membros do seu círculo que padecem do mesmo handicap.
Como é regra geral entre psicopatas, bem como entre os histéricos que os imitam, os comunistas não revelam suas verdadeiras intenções quando estão com medo, mas quando se sentem seguros contra um inimigo minoritário que lhes parece indefeso o bastante para ser estraçalhado sem grande dificuldade. Encorajados pela vantagem numérica, passam da desconversa escorregadia à ostentação do ódio mais descarado e inumano, sem medo de ser felizes com a desgraça alheia.
Por isso, entendo que a amostra mais reveladora da política brasileira nos últimos tempos não é o Petrolão, mas o caso Bolsonaro. A própria diferença de proporções entre um escândalo mundial e uma intriga de galinheiro já implica que num deles os sintomas apareçam com mais clareza. Se no primeiro o que se observa é uma corrida desperada aos subterfúgios, às desculpinhas e ao confusionismo mais alucinante, no segundo cada novo assanhadinho  que acrescenta sua voz ao coro dos decapitadores se esmera em exibir, não só com despudor, mas com orgulho obsceno, toda a feiúra e sujeira da sua alma.
O mais recente deles foi o comentarista de futebol e política, Juca Kfouri, que, no intuito de criminalizar per fas et per nefas o deputado da direita, modificou a frase ofensiva dita à deputada Maria do Rosário e bem documentada em vídeo, de “Jamais estupraria você porque você não merece”, para “Só não estupro você porque você não merece”, transformando um sarcasmo cruel, mas inócuo, numa apologia do estupro, se não numa ameaça de cometê-lo. Kfouri, com toda a evidência, não julga Bolsonaro pelo que este disse, mas pelo que gostaria que ele tivesse dito para mais facilmente poder condená-lo.
Raras vezes a má-fé de um caluniador se revelou de maneira tão escancarada. Confiram aqui. Se existisse no jornalismo brasileiro um pingo da tão propalada “ética”, o autor dessa fraude abjeta, caso não pedisse desculpas ao ofendido, seria expulso da profissão a cusparadas.
Na mesma semana, a deputada federal Manuela D’Ávila (PCdoB-RS) afirmou que “quando ele (Bolsonaro) diz que Maria do Rosário não merece ser estuprada, diz subliminarmente que algumas mulheres merecem e que ele é sim um potencial estuprador”. Vejam aqui. Como já expliquei aqui, o verbo “merecer” foi usado pelo deputado para insinuar, de maneira canhestra e, a meu ver, com patente injustiça, que a ofendida não tem os dotes físicos requeridos para despertar desejo em estupradores ou em qualquer homem que seja.
A sra. D’Avila transfigura o gracejo de mau gosto numa afirmação literal de que algumas mulheres merecem realmente sofrer violência sexual. Mas, se foi isso o que o deputado quis dizer, por que excluiria desse destino brutal justamente a mulher que naquele momento ele desejava hostilizar, reservando o “mérito” para as que nada haviam feito contra ele? Isso seria um anti-insulto completamente vazio, um flatus vocis sem nenhum poder de fogo. A interpretação que a sra. D’Avila faz  do episódio revela a mesma sanha kfouriana de forçar a semântica para dar às palavras do deputado a acepção de uma ameaça criminosa, não recuando nem mesmo ante o ilogismo mais gritante. A incapacidade de perceber sarcasmo é às vezes sintoma de doença mental, às vezes prova de analfabetismo funcional. Em qualquer dos dois casos, como pode a sra. D’Avila estar qualificada para sondar “intenções subliminares” numa frase cujo sentido e cujo tom lhe escapam tão completamente? Como aceitar que tão ostensiva demonstração de inépcia lingüística habilite sua autora a bancar a psiquiatra forense?
Não é a primeira vez que o deputado é alvo de ataques desse tipo, tão odientos quanto despropositados. Um cartaz do PT, recentemente distribuído pela internet, responsabilizava-o moralmente pelos cinqüenta mil estupros registrados no Brasil (número que discutirei num artigo vindouro), sem explicar, é claro, como os rigores da legislação anti-estupro exigida pelo sr. Bolsonaro poderiam ter produzido tão paradoxal resultado.
Fiel a essa lógica invertida, a sra. Jandira Feghali, do PCdoB, não só xingou novamente o deputado de “estuprador”, sem apontar quem diabos ele teria estuprado, como também pediu a cassação do seu mandato pelo crime de haver respondido com grosseria à agressão intempestiva, sem provocação ou motivo, que sofrera da deputada Maria do Rosário Nunes.
Não vejo por que defender o deputado. Pela enésima vez ele vai provavelmente vencer e humilhar seus perseguidores. A própria Manuela D’Ávila reconheceu a inocuidade jurídica do antibolsonarismo organizado, ao declarar que o deputado “se empodera pelas recorrentes absolvições” (sic) – como se absolvições nada valessem face à ciência superior de uma mocinha que mal entende o que lê. E a explosão caluniosa do sr. Kfouri foi causada pela sua frustração diante do fato de que só quatro entre os vinte e oito partidos do Congresso aderiram ao pedido de cassação.
No entanto, é irresistível, diante da estranheza do fenômeno, investigar o que poderia tê-lo causado. É o que farei nos próximos artigos. A coisa é muito mais reveladora do que o leitor pode imaginar à primeira vista.
P. S. — Eu seria o último a supor que o sr. Kfouri fingiu conscientemente sua indignação ante o que chamou de “covardia” dos partidos não-aderentes. O fingimento histérico não é jamais premeditado: é um modo de ser arraigado e constante, uma segunda natureza: a mente deformada pela auto-intoxicação comunista não precisa deformar-se de novo e de novo para cada encenação subseqüente – o teatro permanece em função ininterrupta, não deixando espaço para que o ator perceba algum hiato entre o personagem representado e a sua condição real de pessoa humana. É por isso que, diante da conduta histérica, falham por completo os critérios usuais de distinção entre a sinceridade e a hipocrisia.

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