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A miséria no mundo

Olavo de Carvalho


Diário do Comércio, 10 de outubro de 2005

Amigos que muito respeito pedem-me às vezes que escreva algo sobre pobreza, desigualdade social ou coisa assim. Sendo esse o assunto mais mexido e remexido em campanhas eleitorais, discursos parlamentares, teses universitárias, editoriais sapientíssimos, debates de botequim e congressos internacionais de especialistas em tudo, sinto-me naturalmente inibido de entrar numa conversa na qual praticamente todos os membros da espécie humana, por direito de nascimento, se sentem convidados a opinar e na qual, pela insuperável limitação de tempo decorrente da afluência universal ao microfone, cada um só pode desfrutar do seu direito de falar quando exerce com ainda mais tenacidade o direito de não ouvir.

Por isso mesmo tenho acreditado que a minha maior contribuição ao melhoramento da condição social dos desfavorecidos seria uma espartana abstinência de opiniões. Isso não quer dizer que não pensasse no assunto. Pensava nele, sim, mas sem nenhuma esperança de chegar a diagnósticos gerais ou propor terapêuticas. Movido por aquela prudência quase obsessiva que nasce da ignorância consciente, julguei que antes de me alçar a tão altos vôos seria recomendável coletar um certo número de observações básicas fáceis de confirmar, mas suficientemente amplas, na generalidade do seu alcance, para ter alguma utilidade em futuras especulações mais ambiciosas. Em compensação da penúria de opiniões e propostas, não me esquivo de maneira alguma a fornecer aos interessados uma lista dessas constatações:

1. Até onde alcança a visão do historiador, a pobreza e a desigualdade são as condições mais gerais e permanentes do ser humano na Terra. Não são de maneira alguma anomalias observadas, aqui e ali, sobre um fundo universal de prosperidade e igualdade. Também não são mutações sobrevindas após uma etapa historicamente registrada de riqueza geral e justa distribuição. O comunismo primitivo é uma conjeturação mítica exatamente como a Idade de Ouro de Hesíodo.

2. Em nenhuma etapa histórica anterior ao século XVIII europeu observa-se um estado de espírito marcado pela revolta geral, radical e crescente contra a desigualdade social em qualquer das suas formas. Essa revolta, partindo da França, veio junto com a crença na possibilidade de uma sociedade inteiramente planejada por uma elite de revolucionários iluminados.

3. A idéia da sociedade planejada sofreu muitas modificações desde então, mas toda tentativa de realizá-la produziu níveis de miséria e desigualdade social nunca imaginados pelas gerações anteriores. O mais radical desses experimentos, o “Grande Salto para a Frente” da China revolucionária, matou de fome trinta milhões de pessoas em uma década – por certo o mais notável desastre econômico de todos os tempos, só comparável a devastações produzidas por catástrofes naturais. Na Rússia soviética, após sete décadas de comunismo, o cidadão médio consumia menos proteínas do que um súdito do tzar, e tinha menos meios de adquirir um automóvel do que um negro da África do Sul sob apartheid .

4. Só povos que se atiraram de cabeça na aventura capitalista conseguiram elevar significativamente o padrão de vida de suas populações, mas em muitos países a prosperidade veio junto com um crescimento ainda maior do aparato burocrático-estatal, resultando naquela mistura de capitalismo e socialismo que leva o nome genérico de “fascismo”, um regime que deságua quase que naturalmente na autodestruição por meio da guerra.

5. Embora desde o século XVIII as esperanças de uma vida melhor para os pobres viessem associadas à expectativa de uma ampliação geral dos direitos civis e políticos, em muitos países esses dois objetivos entraram em conflito, ora sacrificando-se a liberdade em nome da igualdade, ora esta em nome daquela.

6. Somente um país conseguiu manter-se numa linha de desenvolvimento econômico constante e progressiva eliminação da pobreza sem sacrifício considerável das liberdades individuais: os Estados Unidos da América. Coincidência ou não, esse foi o país em que a doutrina da sociedade planejada foi recebida com maior frieza e hostilidade, só alcançando alguma aceitação nos períodos de atividade militar intensa (presidências de Woodrow Wilson, Franklin D. Roosevelt e Lyndon B. Johnson).

7. Desde a época de Johnson, no entanto, a tendência ao controle estatal crescente e à restrição das liberdades nos EUA tem aumentado perigosamente nas últimas décadas, com ou sem atividade guerreira concomitante. Essa tendência vem associada a projetos de uma Nova Ordem global, fortemente apoiada por uma elite de metacapitalistas (a explicação do termo encontra-se em http://www.olavodecarvalho.org /semana/040617jt.htm ), que, para realizar sua ambição de uma sociedade planejada global, já se mostraram dispostos a sacrificar parcelas importantes da própria soberania nacional americana. (O conflito mortal entre globalismo e interesse nacional americano, o fato capital da nossa época , é totalmente desconhecido do público brasileiro, graças à ignorância maciça – não raro voluntária – da classe jornalística e daquela raça de macacos, mistos de papagaios, com cérebros de jumento e almas de víbora, que a si próprios se denominam “intelectuais”. Há muitos livros a respeito, mas a fonte mais acessível é o site de Henry Lamb, http://www.sovereignty.net , que abrirá para o leitor uma infinidade de outras fontes.)

8. Hoje em dia, a promessa de eliminação radical da miséria e da desigualdade social no mundo, repetida ao ponto de disseminar por toda parte uma explosiva impaciência com a continuidade desses males, é alardeada principalmente pelos centros de difusão do projeto globalista, cujo porta-voz mais notório é a ONU. Dessa mesma origem provêm inúmeros outros projetos associados, como o da uniformização mundial dos padrões educacionais, o de um controle ecológico global o de uma fusão administrativa de todas as religiões numa espécie de gerência espiritual do planeta. Não pretendo opinar sobre os planos econômicos da ONU e demais entidades associadas, que não estudei a fundo, mas tenho a certeza de que não estão desligados dos projetos nas áreas de educação, ecologia e religião, já que, se me permitem, o globalismo é global, isto é, holístico, uma visão unificada construída ao longo de meio século e não uma colcha de retalhos improvisada. Tal como no século XVIII, a utopia do progresso igualitário vem hoje no bojo de um projeto civilizacional integral, a ser realizado por meio do planejamento centralizado. A diferença é que os philosophes se tornaram burocratas, têm poder decisório, recursos financeiros ilimitados e escala de ação global.

9. Um breve exame do Index of Economic Freedom , aqui citado na semana retrasada, basta para mostrar que os níveis máximos de miséria e desigualdade social coincidem com os locais de maior interferência estatal e economia planejada. O argumento em favor da economia planejada global é que os planejamentos falharam porque adotados em escala nacional, defrontando-se ao mesmo tempo com dificuldades que transcendiam as fronteiras das nações. Basta portanto universalizá-los e tudo correrá às mil maravilhas.

10. O programa globalista não é a mesma coisa que a expansão mundial do capitalismo, um processo historicamente espontâneo no qual ele toma carona parasitária, tal como aconteceu em escala nacional em vários países, onde o crescimento do capitalismo teve como efeito colateral a ascensão dos metacapitalistas e a proliferação dos seus aliados naturais, os burocratas e os intelectuais ativistas. Nesse sentido, a profecia de Karl Marx de que o capitalismo geraria os seus próprios coveiros se revelou acertada, com a ressalva de que esse papel não coube nem poderia caber aos proletários, mas à parcela mais ambiciosa politicamente da própria classe capitalista e aos “intelectuais” (no sentido gramsciano e ampliado do termo). Esta ressalva, por sua vez, foi diagnosticada e expressa em tempo hábil pelos socialistas fabianos – especialmente Bernard Shaw –, não sendo, pois, de espantar que o fabianismo tenha se tornado, formal ou informalmente, a ideologia dominante das elites burocráticas globalistas. A tensão aparentemente insolúvel entre expansão do capitalismo e centralização burocrática mundial lateja no fundo do conflito, acima mencionado, entre os EUA e os organismos globais.

11. Exatamente como as propostas globalistas em educação, ecologia e cultura religiosa – cujas fontes analisarei em outro artigo –, a promessa de eliminação mundial da pobreza é uma parte integrante de um discurso ideológico globalista, e a ela não corresponde nenhum mecanismo prático de realização exceto aqueles já desencadeados espontaneamente – e anteriormente — pela expansão planetária do capitalismo, à qual o globalismo só vem a acrescentar, em última análise, um elemento parasitário: os custos crescentes de uma burocracia planetária cada vez mais intromedida, paralisante e contraproducente.

12. A luta contra a pobreza e a desigualdade social encontra-se hoje no seu ponto de máxima tensão. De um lado, a revolta radical contra esses males milenares se incorporou de tal modo à mentalidade coletiva, que por toda parte se espalhou a expectativa insana de soluções globais a prazo relativamente curto. De outro lado, essa mesma expectativa alimenta o crescimento da burocracia planetária que suga e desvia para seus próprios objetivos políticos os frutos da expansão mundial do capitalismo, retardando a distribuição dos seus benefícios a bilhões de seres humanos necessitados.

13. O Brasil, nesse panorama, é uma folha levada na tempestade, incapaz não só de controlar o seu destino mas até mesmo de compreendê-lo, graças à inépcia geral dos “intelectuais” nacionais, que estão entre os mais despreparados, levianos e pretensiosos do mundo.

Assim descrito o quadro, na medida das minhas possibilidades, e ressalvada qualquer imprecisão devida à pressa da redação jornalística, permito-me agora emitir uma opinião. Como qualquer outro ser humano, eu desejaria uma vida melhor para todos, mas, ao contrário da maioria deles, não acredito que se deva esperar algum progresso substancial na busca desse objetivo ao longo das próximas décadas, apesar de todas as conquistas da técnica agrícola e industrial. A tensão entre capitalismo e globalismo não resultará necessariamente em tragédia global, mas é quase impossível que ela não desemboque mais cedo ou mais tarde em agressões militares de conseqüências incalculáveis. O capitalismo é uma força de expansão, o globalismo uma força de contração. Equivalem, no simbolismo alquímico, ao mercúrio e ao enxofre. A produção da resultante – alquimicamente, o sal – é um processo infinitamente delicado, sutil e complexo, mais sujeito ao acaso e à providência divina do que ao arbítrio humano. A atenção devota, a paciência, a prudência e a busca constante da compreensão do processo são aí incomparavelmente mais úteis e necessárias do que os programas e as palavras-de-ordem. Mais úteis ainda para aqueles países que, sem ter voz ativa no processo, não podem contar senão com a esperança de uma adaptação vantajosa às circunstâncias de cada momento. Infelizmente, é precisamente nesses países que prolifera de maneira mais incontrolável a raça dos “intelectuais” amantes de slogans e palavras-de-ordem.

***

Tal como expliquei aqui semanas atrás, o presidente George W. Bush, embriagado por altos planos para o Oriente Médio, levou até o limite da imprudência a aposta no unanimismo bipartidário. Suas concessões ao partido adversário, que começaram com uma política fiscal inversa à prometida em campanha e culminaram na nomeação de uma contribuinte de Al Gore para a Suprema Corte, passando por uma tolerância quase suicida para com os imigrantes ilegais, receberam finalmente um “basta” da base conservadora. Isso já era esperado aqui desde muito tempo. Só é novidade para a mídia brasileira, que, após ter pintado Bush com as cores do conservadorismo radical, não podia mesmo enxergá-lo com suas dimensões reais de conciliador compulsivo. Vista daqui, a mídia brasileira é uma infindável comédia de erros.

Automacumba semântica

Olavo de Carvalho


Diário do Comércio, 25 de julho de 2005

O termo “neoliberalismo” foi inventado para enganar os nacionalistas, camuflando a aliança discreta entre a esquerda latino-americana e os poderes globais.

WASHINGTON, DC – Acabo de ler a entrevista do sr. Rubens Requeijão na revista Caros Umbigos , e lá vem de novo esse personagem de comédia da Atlântida tentando assustar criancinhas com o fantasma do “neoliberalismo” – o culpado de todos os males.

Mas é só um exemplo entre infinitos. A facilidade, a desenvoltura, a segurança com que no Brasil se usa esse termo, como se designasse uma entidade patente e arquiconhecida, é para mim o sinal mais evidente da psicose nacional, do completo divórcio brasileiro entre linguagem e realidade.

É deprimente observar como os autoproclamados representantes do “pensamento crítico”, incapazes da mais elementar análise crítica de seu próprio discurso, se deixam hipnotizar pelas palavras que empregam. Não existe nenhum “pensamento crítico” se você continua preso numa malha de compactados verbais, impotente para descascar suas várias camadas de significado e confrontá-las com os dados de realidade que presumidamente elas designam. Só o que existe, nessas condições, é pensamento mágico, é automacumba semântica.

“Neoliberalismo”, no vocabulário usual da esquerda – que no Brasil de hoje é o da mídia e da intelectualidade inteiras –, é uma corrente de opinião que favorece (a) a livre-empresa contra a intervenção estatal na economia, (b) o globalismo em detrimento dos interesses nacionais e (c) a moral judaico-cristã tradicional em oposição aos princípios “politicamente corretos”, buscando, por esses três meios, (d) ampliar a hegemonia norte-americana no mundo em prejuízo dos interesses das nações pobres. Com essas características, o neoliberalismo aparece como (e) sinônimo da “direita”, dando-se por pressuposto que (f) é a ideologia dominante no mundo dos negócios e entre os políticos antipetistas e anti-esquerdistas em geral.

Dado o objeto, só resta tomar posição diante dele: a primeira coisa que no Brasil se espera de um político, de um jornalista, de um formador de opinião, é que se defina – ou consinta em ser definido pelos outros – a favor ou contra o neoliberalismo. Tal seria a questão fundamental, o supremo divisor de águas que separa não apenas duas correntes políticas, mas dois sistemas de valores, duas concepções da existência.

A síntese dos elementos designados pela junção das camadas de significado forma um desenho apto a despertar o ódio dos nacionalistas, terceiromundistas e progressistas em geral. Como slogan político criado para reunir forças num vasto front anti-americano, o termo é perfeitamente apropriado.

Só resta perguntar se o objeto assim concebido pode existir efetivamente ou se, ao contrário, o impacto persuasivo da palavra não reside precisamente no fato de que ela junta numa síntese ideal elementos que, na realidade, só podem existir como entidades separadas, heterogêneas ou antagônicas. Um breve exame tirará isso a limpo:

1) Globalismo não é simples abertura de mercados: é introdução de regulamentações em escala mundial que transferem a soberania das nações para organismos internacionais. Nenhum apóstolo da economia de mercado é sonso o bastante para não perceber, hoje em dia, que a abertura das fronteiras arrisca não produzir um paraíso de liberdade econômica, e sim a proliferação de legislações e controles em escala global – o Leviatã dos leviatãs. A incompatibilidade lógica traduz-se, no plano da ação política, como briga de foice entre os liberais clássicos e os planejadores-legisladores econômicos globais. Nos EUA, isso é um fato do dia-a-dia. Mas, como no Brasil e em outros países da América Latina a mídia intoxicada de lendas esquerdistas jamais menciona esse fato, a união harmônica e indissolúvel de liberalismo clássico e globalismo pressuposta no conceito de “neoliberalismo” parece não só viável como realmente existente. Rarissimamente encontrei entre brasileiros um colunista de mídia, cientista social, empresário, analista econômico ou estrategista militar que tivesse alguma consciência desse engano monumental.

2) Um dos temas mais discutidos nos EUA é a contradição aparentemente insolúvel entre abertura econômica e segurança nacional. Os chineses, por exemplo, têm alguma chance de vencer a Chevron na concorrência para a compra da Unocal (a nona maior companhia americana de petróleo), mas, se isso acontecer, as conseqüências estratégico-militares podem ser desastrosas. A maior parte dos poços da Unocal está na Ásia, mais perto da China que dos EUA. Se os chineses cumprirem sua ameaça de invadir Taiwan, a quem a Unocal chinesa vai fornecer combustível? A eles ou às tropas americanas, comprometidas a defender a ilha custe o que custar? E não são só as empresas privadas que, na sua ânsia de livremercadismo absoluto, colocam o país em risco. O próprio governo americano, semanas atrás, estava quase fechando um negócio bilionário de venda de reatores nucleares à China, quando a Câmara dos Deputados, no último instante, vetou a brincadeira. Afinal, só um doido canta vitória comercial quando consegue bom preço na venda de armas ao inimigo que jurou matá-lo. Diante de fatos dessa envergadura – e eles são milhares –, como acreditar nos tagarelas brasileiros quando proclamam que a “idolatria do mercado” é um instrumento do poderio americano? Aqui, quem grita contra essa idolatria são precisamente os conservadores. Há pelo menos dez anos eles estrilam contra a orgia de investimentos na China, que os economicistas de plantão justificavam sob a desculpa da liberdade econômica, dotada, segundo eles, do poder miraculoso de gerar a liberdade política. Hoje as conseqüências dessa ilusão são tão evidentes que há mesmo quem suspeite que ela foi plantada na mente dos investidores americanos com o propósito consciente de esvaziar a ideologia capitalista dos valores morais e culturais que a sustentam, reduzi-la a um triunfalismo econômico suicida e usá-la como instrumento de liquidação das defesas nacionais americanas. Se essa hipótese lhes parece demasiado assustadora para ser verdade, lembrem-se de que a abertura econômica acoplada à destruição sistemática das bases morais do americanismo foi a marca registrada da era Clinton – e ninguém aqui ignora a intensa troca de favores entre os Clintons e a espionagem chinesa. Como lembrou o colunista Terence P. Jeffrey no semanário Human Events – de muita influência nos círculos bushistas –, os chineses leram Clausewitz e chegaram à conclusão de que comprar certos bens de capital é também “fazer política por outros meios”, isto é, guerra por outros meios.

3) Se identificar o globalismo com a ambição nacional americana já é maluquice bastante, ainda mais insano é associá-lo ao conservadorismo religioso que, nos EUA, vem crescendo ano após ano. Para o automatismo mental brasileiro, nada mais óbvio e autoprobante do que essa associação. O cérebro nacional acostumou-se a saltar direto das palavras às reações emocionais que elas evocam, sem a menor necesside de referência a alguma realidade do mundo exterior. Assim, a associação verbal é infalível: religião = reacionarismo; reacionarismo = capitalismo; capitalismo = imperialismo ianque; imperialismo ianque = globalismo; globalismo = neoliberalismo; logo, a moral religiosa tradicional é um instrumento do neoliberalismo. Esse método puramente galináceo de raciocínio é hoje obrigatório em todas as universidades brasileiras, e tamanha é a sua autoridade que a simples tentação de corrigi-lo já desapareceu do fundo das almas. Deve portanto soar como um escândalo intolerável a informação que vou dar a seguir: todos os conservadores religiosos americanos – cristãos ou judeus – são, em maior ou menor medida, contra o globalismo. E são contra por um motivo muito simples: o projeto de cultura mundial administrada, que vem junto com a uniformização econômica do planeta, traz no seu bojo as sementes de uma neo-religião híbrida, meio ecológica, meio ocultista, criada em laboratório por engenheiros comportamentais da ONU (procurem saber quem é Robert Müller), e cuja implantação resulta pura e simplesmente na destruição completa do cristianismo e do judaísmo. Não foi por coincidência que uma onda de anti-semitismo e anticristianismo se espalhou pelo planeta nas últimas décadas: ela veio por intermédio da rede global de ONGs subsidiadas pela ONU e por fundações milionárias, empenhadas na “guerra cultural” pela criação de uma civilização biônica inaceitável para toda mentalidade religiosa tradicional. Mais especialmente, o ataque cultural globalista se volta contra a cultura americana, tentando criminalizar e destruir as suas raízes judaico-cristãs e substituí-las por uma nova moral abortista e hedonista adornada pelo culto de Gaia ou fetiches similares. Nos EUA não há quem não esteja consciente de que esse é o verdadeiro divisor de águas, o verdadeiro campo de combate pelo domínio dos corações e mentes no século XXI. Os debates brasileiros passam a anos-luz de distância do centro dos acontecimentos.

4) Por fim, é absolutamente falso que a esquerda, no Brasil ou em qualquer outro país do continente, oponha alguma resistência ao globalismo, exceto o mínimo indispensável para fins de camuflagem. Nenhuma corrente política existe para se opor àqueles que a subsidiam. As fontes de dinheiro para a esquerda, tanto na América Latina quanto nos EUA e na Europa, são hoje bem conhecidas, e elas são precisamente as mesmas que, a pretexto de livre mercado, financiam o estabelecimento da Nova Ordem Global: as fundações Ford, Rockefeller, MacArthur e sobretudo a rede tentacular de agentes do multibilionário golpista George Soros – eis aí os grandes financiadores e protetores do chavismo, do lulismo, do fidelismo e de todas as demais patologias políticas que, numa atmosfera geral de loucuras e mentiras, tem se apossado velozmente do poder em várias nações do continente. A essas fontes capitalistas devem somar-se os agentes políticos (Partido Democrata, Diálogo Interamericano, os Clintons, os Kennedys e uma multidão de Carters) que ajudam a drenar para os mesmos destinatários o dinheiro do governo americano, principalmente as verbas da USAID. O leitor encontrará nos sites www.discoverthenetwork.org e www.activistcash.com um mapeamento bem minucioso da circulação de dinheiro entre os potentados do globalismo e as organizações que, na América Latina e em outras partes do Terceiro Mundo, fingem combatê-los. Essa elite invariavelmente toma partido da burocracia mundial quando esta fere o interesse nacional dos EUA, tal como aconteceu na guerra do Iraque, nas discussões sobre o Tratado da Lei do Mar, na introdução da moral “politicamente correta” na educação emericana etc. Financiando a esquerda do Terceiro Mundo, ela tem a seu serviço um útil instrumento para enfraquecer a resistência americana, facilitando a implantação do governo mundial que a ONU já declarou ser seu objetivo prioritário para as próximas décadas.

Para isso, precisamente, serve o termo “neoliberalismo”: para ludibriar nacionalistas sonsos nos países pobres, desviando suas pretensões de resistência antiglobalista no sentido de um anti-americanismo despropositado que, hoje, é um dos instrumentos essenciais da ascensão da burocracia mundial.

Intelectuais esquerdistas tagarelas do Terceiro Mundo são os tipos mais caricatos e desprezíveis que a humanidade já conheceu. Estão sempre dispostos a inventar belas desculpas para servir a tudo o que não presta.

Quem quer que use o termo “neoliberalismo” com ares de  falar a sério só pode ser um manipulador de idiotas ou um idiota manipulado. Não creio que algum dia terei interesse em saber em qual dessas duas classes se incluem o sr. Requeijão e os redatores de Caros Umbigos.

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