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Lá vem encrenca

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 19 de dezembro de 2005

WASHINGTON, D.C. – Quarta-feira da semana passada, li num despacho da agência Efe, reproduzido em vários jornais brasileiros, o seguinte: “ O presidente George W. Bush afirmou hoje que admite a responsabilidade pelos erros existentes nos dados dos serviços de Inteligência, que foram determinantes na decisão de lançar a guerra contra o Iraque”. O jornalista que escreve uma coisa dessas deveria ser processado e preso por fraude. Bush, que não teve responsabilidade nenhuma por aqueles erros, estaria mentindo contra si mesmo se a assumisse. Ele se declarou responsável pela decisão de ir à guerra, não pela produção dos erros de inteligência que afetaram parcialmente essa decisão. O texto do seu discurso do dia 13 é claro e não dá margem a nenhuma confusão entre uma coisa e outra. O despacho da Efe é, com toda a evidência, falsificação proposital, não sei se fabricada diretamente pela agência internacional ou resultado de maquiagem aplicada nas redações brasileiras. Mas, como se sabe, contra Bush vale tudo. Nos EUA, todo mundo entendeu o pronunciamento do presidente como um sinal de recuperação do seu poder de iniciativa depois de um período de inércia e paralisia. O discurso atemorizou e confundiu os democratas, ao ponto de jogá-los num esforço desesperado para tentar apagar da memória pública a pregação derrotista de uns dias atrás, com que esperavam fazer dano ao presidente e que só serviu para colocá-los numa posição humilhante. O discurso foi, manifestamente, uma vitória de George W. Bush. Transformar uma exibição de superioridade moral numa patética confissão de culpa é o suprassumo da falsificação.

Ademais, as informações que Bush recebeu do serviço secreto britânico sobre armas de destruição em massa não estavam tão erradas quanto o público imagina. Muitas dessas armas foram realmente encontradas (já mencionei aqui a lista publicada no livro de Richard Miniter, Disinformation). Dizer que elas não existiam, que Bush as inventou, é desinformação criminosa, colaboração ativa com o inimigo. Bush sabe disso, mas o número de traidores nos altos círculos de Washington é tão grande que, se ele dissesse a verdade a respeito deles, desencadearia a maior crise política da história americana. Ele tem procurado contornar a situação, tentando desarmar os traidores pouco a pouco, discretamente, ao mesmo tempo que, em público, os trata como se fossem patriotas bem intencionados. Aqui todo mundo sabe que é fingimento, que a elite esquerdista do Partido Democrata é uma quinta-coluna, que Bush está simplesmente tratando de ganhar terreno aos poucos por não sentir que tem força para sustentar ao mesmo tempo uma guerra no exterior e uma crise de governabilidade no interior. Os Clintons, os Kennedys e tutti quanti , por sua vez, fazem de conta que querem a volta dos soldados americanos, mas, na hora H, votam contra ela. Agem assim porque sabem que, quando Bush se livrar da carga iraquiana, estará pronto para esmagá-los como quem pisa numa lagartixa. Ele tem informações suficientes para mandar muitos deles para a lata de lixo ou para a cadeia. Tem evitado usá-las, porque isso seria o fim do Partido Democrata, a destruição do tradicional equilíbrio bipartidário que é a base da democracia americana. Mas, se acuado, não terá remédio senão lançar o ataque final. E aí haverá choro e ranger de dentes. Os republicanos estão tão armados que têm medo de si mesmos.

Um item importante do arsenal, guardado com a maior discrição durante meses e que está para ser liberado pelo secretário Rumsfeld para discussão no Congresso, é o sumiço de um dossiê que, um ano antes do 11 de setembro, revelava a presença em território americano de uma célula da Al-Qaida chefiada pelo terrorista Mohammed Atta, um dos mentores do atentado ao World Trade Center. Na época, o investigador do Departamento de Defesa que estava seguindo essa pista, o tenente-coronel Tony Shaffer, foi simplesmente impedido de passar a informação ao FBI, que assim não pôde desmantelar a célula. Impedido por que? Porque o então presidente Clinton – conforme escrevi na Zero Hora de Porto Alegre 30 de maio de 2004 – “havia centralizado na Casa Branca o controle direto de todos os órgãos de segurança e bloqueado propositadamente as comunicações entre eles. A CIA, o FBI e outras agências estavam então conduzindo investigações paralelas sobre as verbas ilegais de campanha dadas ao candidato Clinton pelo exército da China e os subseqüentes favores que, uma vez eleito, o gratíssimo presidente prestou aos serviços de espionagem chineses. Sem intercâmbio de informações, os investigadores não puderam, na época, juntar os fios da trama.”

Paulo Francis costumava dizer que Clinton sairia da Casa Branca algemado. Saiu livre, mas a nação pagou por isso um preço intolerável: as informações sobre Mohammed Atta não chegaram ao FBI e a operação terrorista que poderia ter sido abortada foi levada a cabo com sucesso literalmente… estrondoso. Foi decerto o maior crime que um presidente dos EUA já cometeu contra o país, com o agravante do motivo torpe: esquivar-se de pagar por um crime anterior.

Mas a sujeira não terminou aí. Em 2003, estava reunida a famosa comissão parlamentar de inquérito cuja principal ocupação foi abafar a responsabilidade do Congresso pela declaração de guerra baseada em informações inexatas e jogar a culpa de tudo em George W. Bush. Ela improvisou para isso até mesmo um heroizinho postiço, Richard Clarke, que brilhou por quinze minutos e depois desapareceu para sempre na noite dos tempos quando se comprovou que não só seu depoimento era falso como sua identidade também era (isso já deveria ter bastado para esvaziar a comissão, mas a mídia, que emprestara todos os seus megafones a Clarke, foi discretíssima ao noticiar sua desmoralização). Pois bem: o coronel Shaffer passou a essa comissão um dossiê com todas as informações sobre a célula de Mohammed Atta e sobre a supressão delas pelo governo Clinton. A comissão fez de conta que não viu. No seu relatório final, um tratado de antibushismo, nem sequer mencionou o dossiê. Nenhuma ocultação de crime é perfeita se não se oculta a si mesma. A comissão completou o trabalho sujo de Bill Clinton.

Para vocês entenderem por que ela fez isso, têm de saber um detalhe: a assessora que Clinton designou para tapar os canais de comunicação entre os serviços de inteligência chamava-se Jamie Gorelick. Quem é ela? Entre os favores prestados pelo governo Clinton à China em retribuição da ajuda de campanha, favores que os órgãos de inteligência estavam justamente investigando na ocasião, estava a permissão dada a uma subsidiária da General Electric para vender ao exército chinês equipamentos que, segundo se revelou depois, serviam para a fabricação de mísseis intercontinentais direcionados ao território norte-americano. Jamie Gorelick era advogada dessa subsidiária. Se ela tivesse saído do palco no fim do governo Clinton já teria levado para casa uma bela folha de serviços criminosos. Mas em 2003 ela era deputada — e foi designada para qual comissão? Essa mesma comissão da qual eu estava falando. Ou seja: a criadora do bloqueio geral que paralisou os serviços de segurança e possibilitou o atentado de 11 de setembro foi encarregada de investigar as falhas de segurança que possibilitaram o atentado de 11 de setembro. Não é de espantar que o dossiê de Tony Shaffer fosse para o beleléu.

O tenente-coronel, depois disso, andou denunciando a sujeira toda, com o apoio do deputado Curt Weldon (que já mencionei aqui). Mas a denúncia teve boa cobertura só na Foxnews, em programas de rádio, na internet e nuns poucos jornais pró-Bush. A grande mídia, que tem mais amor por Bill Clinton do que a mãe dele, abafou a história até fazê-la desaparecer por completo. E o próprio presidente Bush, cuja persistente discrição quanto aos crimes dos seus adversários políticos beira a abnegação suicida, simplesmente proibiu que Weldon convocasse Shaffer a depor no Congresso. Às vezes não entendo a cabeça desse sr. Bush, uma espécie de Gonçalo Ramires americano, tão desengonçado, tão inarmônico consigo mesmo, tão ousado numas coisas e tímido em outras quanto o personagem de Eça de Queiroz. O homem capaz de declarar guerra ao mundo parece preferir antes deixar que os adversários internos o matem a agulhadas do que jogar logo sobre eles a bomba que tem na mão, capaz de destrui-los todos de uma vez. Ele me lembra o verso de Rimbaud, “ par délicatesse j’ai perdu ma vie ”. Mas, quaisquer que fossem as suas razões íntimas para manter o silêncio, elas parecem não ter resistido à queda de popularidade. Curt Weldon disse esta semana na CNN que o secretário Rumsfeld está para liberar a convocação de Shaffer. “Finalmente o povo americano vai saber a verdade”, afirmou o deputado. Quando acontecer, nem todo o clintonismo da mídia chique poderá abafar a explosão. Talvez nem mesmo a mídia brasileira, a mais mentirosa do mundo, consiga esconder um escândalo desse porte.

A campanha de ódio movida pelos democratas contra George W. Bush é tão violenta, tão histriônica, tão forçada, tão desproporcional com os modestos pecados do presidente – e sobretudo tão injusta para com o sucesso alegadamente impossível que ele está obtendo em consolidar a democracia no Iraque –, que não pode se inspirar tão-somente em motivos ideológicos. A eles soma-se uma desesperada articulação de esforços para salvar a pele de Bill Clinton, de Jamie Gorelick e da comissão do 11 de setembro inteira. É preciso muitos crimes imaginários para encobrir tanta corrupção, tanto perjúrio, tanta alta traição. Tal como aconteceu com o PT no Brasil, os campeões do moralismo indignado, os donos da tribuna de acusação, acabarão se revelando os maiores criminosos de todos. Weldon e Shaffer são dois rottweilers mantidos na coleira só pela mão incerta de Donald Rumsfeld. O secretário está só medindo o tamanho da encrenca que a dupla vai armar quando ele a soltar no galinheiro democrata. E parece que está começando a gostar da idéia.

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Estou acompanhando, divertido, o bate-boca entre Diogo Mainardi e Alberto Dines sobre quem manda no jornalismo brasileiro, o PT ou a Opus Dei. Até o momento, dez a zero para o Mainardi. Dines não conseguiu apontar um só agente daquela organização católica nos altos escalões da mídia nacional. Se algum há, está bem camuflado ou é um monstro de timidez, pois não ousa sequer dizer uma palavrinha contra o anticristianismo militante que erigiu em norma de redação o hábito de carimbar de “extremismo de direita” a simples oposição à lei do aborto. Diga-se de passagem que o próprio Mainardi aprova essa lei, apenas recusando-se a defendê-la pelos meios torpes que se tornaram de praxe entre os coleguinhas – e essa recusa já basta, é claro, para que ele próprio seja catalogado na temível “extrema direita”.

O “Observatório da Imprensa” de Alberto Dines não é uma entidade independente. É um órgão militante, ponta-de-lança do esquerdismo internacional que lhe paga as contas. Já provei isso e nunca fui desmentido. Mainardi, que eu saiba, não recebe dinheiro de nenhuma organização política, mas, pelos critérios da esquerda, o simples salário de jornalista profissional, tão limpo quando pago a esquerdistas, se torna uma espécie de propina corruptora quando vai parar num bolso politicamente incorreto. No jornalismo brasileiro, todos os valores foram invertidos. Quando Dines é subsidiado diretamente pelos interesses políticos que defende, pratica jornalismo idôneo ao ponto de ser aceito como juiz da credibilidade alheia. Quando Mainardi escreve com liberdade aquilo que pensa, é um corrupto a soldo de interesses tenebrosos.

É de espantar que, quantos mais brasileiros aprendem a ler, menos sejam entre eles os interessados em ler jornal?

Manipulando as Forças Armadas

Olavo de Carvalho

Época, 20 de julho de 2002

O corte das verbas militares é, com toda a obviedade, mais uma etapa da pertinaz campanha de destruição das nossas Forças Armadas. Resta saber quem dirige essa campanha e com que fins.

Muitos recusam-se a fazer essa investigação, alegando que não há nada a investigar. Já sabem de onde vem a coisa: vem “dos americanos”. Baseados nessa certeza, agentes da esquerda ocupam espaço na ESG e nas academias militares, cortejam a oficialidade, exploram seus sentimentos patrióticos e buscam integrá-la na grande estratégia anti-americana da revolução continental.

Mas o diagnóstico que vendem ao público militar omite alguns detalhes essenciais:

1) O governo FHC que estaria assim hipoteticamente a serviço do imperialismo norte-americano promove a glorificação dos guerrilheiros comunistas da década de 70, muitos dos quais, ainda vivos, são eles mesmos os atuais propugnadores da aliança “anti-imperialista” com os militares.

2) O mesmo governo que reduziu à míngua as Forças Armadas alimenta o MST com verbas substanciosas sem as quais ele jamais teria se tornado a temível força revolucionária que hoje é.

3) A grande mídia nacional que a esquerda acusa de servir ao imperialismo é o principal instrumento da propaganda esquerdista no país, falseando as notícias sobre o Oriente Médio, encobrindo os crimes de Cuba e da China com um véu de silêncio protetor, usando uma linguagem na qual “conservador” é sinônimo de malvado, bombardeando as Forças Armadas com denúncias escandalosamente falsas de atrocidades anticomunistas e dando força a conluios de jornalistas e promotores para usurpar o papel das seções de inteligência das Forças Armadas de modo a torná-las inofensivas contra a violência revolucionária da aliança MST-Farc.

4) Nas relações com os militares, a esquerda segue uma divisão de tarefas demasiado evidente para não denotar manipulação premeditada: seus ataques às Forças Armadas vêm sempre através de seus agentes na mídia e nas entidades “de direitos humanos”, nunca das lideranças políticas, poupadas para fazer no jogo pavloviano da estimulação contraditória o papel do queijo, não o do choque. O sr. Miguel Arraes, por exemplo, merece o Troféu Camembert do ano.

5) As pressões imperialistas mencionadas acima vieram substancialmente durante a gestão do sr. Clinton, o mesmo que, eleito com a ajuda financeira da China, debilitou as Forças Armadas dos EUA, desmantelou a CIA e o FBI, transferiu o controle de zonas estratégicas para uma estatal chinesa, bloqueou as investigações sobre espionagem no laboratório nuclear de Los Alamos e abarrotou de equipamentos militares e de informação privilegiada o maior agressor potencial do seu país (v. Bill Gertz, “The China Threat”, Washington, 2002).

6) As ONGs acusadas de meter o dedo imperialista no território amazônico não são em geral americanas, mas européias. Servem à CEE, a mesma entidade que dá dinheiro para o sr. Yasser Arafat comprar armas e, de parceria com a ONU, promove a criação de um Tribunal Penal Internacional feito sob medida para criminalizar os EUA e Israel. E quem aplaude as ambições separatistas indígenas que põem em risco a integridade nacional não é o “imperialismo ianque”: é a mídia esquerdista européia.

7) A esquerda é hoje o único movimento político e cultural organizado globalmente, capaz de operações de desinformação em escala mundial.

Da exposição dos fatos, duas perguntas decorrem:

1) Se a máquina estatal americana pode ser manipulada pela desinformação esquerdista, acabando por colaborar servilmente com seu inimigo chinês, por que não poderia, pelos mesmos meios, ser induzida a adotar no Brasil e na AL em geral uma política que fomenta o anti-americanismo entre os militares da região?

2) Se o governo americano não é imune a cair na armadilha de servir a seus inimigos, por que o seriam os nossos militares?

A maior fábrica de mentiras

Olavo de Carvalho


O Globo, 23 de março de 2002

Oficiais do FBI andam dizendo que o núcleo vivo do terrorismo internacional não está em Bagdá ou em Cuba, mas dentro dos EUA, onde entrou de contrabando na bagagem da imigração irrestrita. Mas essa maciça importação de encrencas não começou do nada. Foi longamente preparada pela “revolução cultural” que, desde os anos 60, impôs como doutrina oficial do governo e das elites americanas todo um repertório de crenças que, antes, até uma criança saberia reconhecer à primeira vista como amostras típicas do discurso stalinista.

Não há hoje uma só universidade americana que não subscreva como autêntico relato da história da guerra do Vietnã as mais torpes invencionices da propaganda vietcongue, ou que não aceite como descrição adequada da geopolítica mundial a idéia de que a mais agressiva potência imperialista que já existiu são os EUA — uma potência que, não obstante, jamais manteve sob ocupação um país estrangeiro, que, bem ao contrário, sempre ajudou seus inimigos derrotados a reerguer-se como nações independentes e que, no conjunto das guerras em que se envolveu ao longo de um século, matou menos gente do que a China matou só no Tibete ou a URSS no Afeganistão.

Não há uma só universidade americana que não ensine que o Ocidente cristão foi a mais escravagista das civilizações, quando na verdade foi a única civilização antiescravagista que já existiu e, confrontada com o recrutamento de trabalho escravo durante apenas umas décadas na URSS e na China comunista, a totalidade do escravismo ocidental de dois milênios se reduz um fenômeno de proporções bem modestas.

Não há uma só grande universidade americana que não ensine que o “macarthismo” dos anos 50 foi uma cruel perseguição a inocentes, quando hoje se sabe, pelos Arquivos de Moscou, que praticamente todos os interrogados pelo Comitê McCarthy estavam realmente a serviço da espionagem soviética.

Nas artes e espetáculos, o panorama não é diferente. Filmes, peças de teatro, shows, exposições de pinturas e fotografias, uma boa parte com financiamento oficial, são um incessante bombardeio de propaganda esquerdista. O leitor pode avaliar o conjunto por uma amostragem simples: veja quantos filmes americanos produzidos desde os anos 60 passam num só dia nos vários canais de TV a cabo e anote quantos deles contêm mensagens de antiamericanismo explícito ou pelo menos implícito. São praticamente todos. E ainda há na nossa imprensa canalhas ou imbecis que exploram o estereótipo de Hollywood como “usina de sonhos” (expressão do crítico comunista Bela Balász) voltada à glorificação do “american way of life”. Hollywood tornou-se uma máquina de propaganda comunista e de arrecadação de fundos para o Comintern já desde a década de 30, numa operação engenhosa e sutil coordenada pessoalmente por Stálin, e até hoje não mudou em nada. As manifestações de ódio compacto da classe cinematográfica a Elia Kazan -— um patriota que ousou falar contra o genocídio stalinista -— já bastariam para ilustrar o que estou dizendo. Mas, se têm dúvidas, leiam “Hollywood Party”, de Kenneth Billingsley, e pasmem diante da astúcia com que a “intelligentzia” comunista soube tirar proveito do “show business” e ainda denunciá-lo como instrumento do imperialismo ianque.

E a imprensa, então? Já na década de 30, o “New York Times”, por meio de seu correspondente em Moscou, Walter Duranty, homem da KGB, ocultou premeditadamente a extinção de seis milhões de ucranianos pela “arma da fome”, como a chamava Stálin. Desde então, a falsificação pró-comunista do noticiário cresceu em escala industrial. Leiam “Bias”, de Bernard Goldberg, “Beyond Elian Gonzalez”, de Carlos Wotzkow e Agustin Blazquez, e “Cuba in revolution”, de Miguel A. Faria Jr., e verão que não há limites para a mendacidade comunista que se apossou da grande mídia nos EUA.

Ao irradiar-se sobre o Terceiro Mundo, a falsificação do noticiário americano chega a produzir efeitos de uma absurdidade grotesca. Recentemente, no Brasil, houve intensa mobilização de esquerdistas contra uma planejada homenagem ao sr. Henry Kissinger. Acusavam-no de conspiração em favor da ditadura de Augusto Pinochet e até de envolvimento no assassinato de um general chileno de oposição. Bem, pode até ser que Kissinger estivesse metido nessas coisas. Isso faria dele um criminoso, é claro. Mas não há provas concludentes de nada disso. Em compensação, é pública, notória e arquiprovada a cumplicidade ativa do ex-secretário de Estado no maior genocídio ocorrido no mundo desde o fim da II Guerra. Ao negociar a paz no Vietnã, sua preocupação essencial foi a de evitar que os vietcongues desmobilizados caíssem nas mãos do Vietnã do Sul. Para salvar os coitadinhos, ele ajeitou as coisas de modo que, bem ao contrário, o Vietnã do Sul caísse nas mãos dos vietcongues, que aí, como era obviamente de se esperar, empreenderam a completa liquidação dos adversários e ajudaram a estender a ditadura comunista ao vizinho Camboja. Resultado: três milhões de mortos — quinze vezes o total de vítimas da própria guerra.

A longa folha de serviços pró-comunistas de Henry Kissinger ultrapassa infinitamente qualquer ajudinha que ele possa ter dado, como vil gorjeta, a ditadores direitistas. É fato notório, por exemplo, que ele forçou seu governo a vender aos soviéticos a tecnologia que os habilitou a produzir seus primeiros mísseis de ogivas múltiplas, colocando em risco a segurança dos EUA. Terá ele feito algo de comparável em favor de Pinochet, dos presidentes militares brasileiros ou do seu próprio país?

Kissinger, de fato, é um criminoso. Um grande criminoso pró-comunista. Provavelmente o maior que já houve nos EUA. Mas, graças ao milagre da mentira midiática, os comunistas puderam desfrutar dos seus serviços no campo diplomático-militar e reciclá-lo depois como espantalho imperialista para assustar uma população de basbaques tupiniquins, com a prestimosa, solícita e unânime —- desavergonhadamente unânime —- ajuda da imprensa local.

Sim, porque a única diferença entre a farsa midiática nos EUA e no Brasil é que, lá, ainda há muitos jornalistas corajosos capazes de se opor à massa de seus colegas, ao passo que aqui até mesmo as vítimas diretas de agressão por parte da mídia são as primeiras a derramar-se em rapapés e salamaleques ante a autoridade suprema da classe jornalística, autoconstituída numa espécie de semente dos serviços de inteligência de um futuro Brasil socialista.

Mas, malgrado a valente resistência de um David Horowitz, de um Brent Bozell, de um Walter Williams, de Thomas Sowell, de um Bernard Goldberg e tantos outros, a mídia dominante dos EUA é hoje a maior força de propaganda antiamericana que já existiu.

O FBI, pois, nada descobriu de novo: após quatro décadas de exportação das idéias que legitimam toda violência antiamericana, por que os EUA não passariam a exportar essa violência mesma?

 

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