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Doença moral hedionda

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 19 de setembro de 2005

Há uma década e meia a Heritage Foundation de Washington e o Wall Street Journal publicam anualmente o Index of Economic Freedom, volumoso estudo comparativo dos controles estatizantes e da liberdade de mercado nas várias nações. Os critérios diferenciais abrangem a propriedade governamental dos meios de produção, a participação acionária do Estado nas empresas de economia mista, a incidência de impostos sobre a iniciativa privada e a dose maior ou menor de legislações restritivas.
É, de longe, a publicação econômica mais importante do mundo, a única que permite, numa visão abrangente, avaliar sem muita dificuldade os méritos respectivos do capitalismo e do socialismo, não segundo os argumentos concebidos para justificá-los, mas segundo o seu desempenho real no esforço para dar uma vida melhor ao conjunto da população dos países ao seu alcance.
Ano após ano, a realidade desse desempenho é ali mostrada com uma profusão de dados e com uma integridade metodológica que nenhum estudioso da área ousou jamais contestar. Essa realidade pode ser formulada em termos simples e inequívocos: quanto maior a dose de controle estatal, mais miséria, mais opressão, mais sofrimento; quanto maior o índice de liberdade econômica, mais prosperidade, mais respeito aos direitos humanos, mais oportunidades para uma vida digna oferecidas a faixas mais extensas da população.
Qualquer esquerdista intelectualmente capacitado a ler uma publicação desse tipo tem, diante dela, no mínimo a obrigação de ficar em dúvida quanto à superioridade moral excelsa que a propaganda política atribui ao socialismo e de moderar um pouco aquele tom de certeza absoluta e inquestionável com que sempre atribui ao adversário, pelo simples fato de ser pró-capitalista, as piores e mais baixas intenções.
Na mais modesta das hipóteses, uma consciência moral tão elevada quanto aquela que se arrogam os esquerdistas deveria ter ao menos um pouquinho de senso da verdade, ao menos um pouquinho da humildade necessária para admitir os fatos e tirar alguma conseqüência deles.
Mas isso está infinitamente acima do que se pode esperar dessas criaturas. Quanto mais deploráveis os resultados econômicos do socialismo, quanto maior a dose de crimes e violências necessários para produzi-los, tanto mais enfática a alegação de superioridade, tanto mais inabalável o sentimento de possuir o monopólio da bondade humana, tanto mais virulento o discurso esquerdista contra o capitalismo e seus defensores. Quanto mais extensas as provas do seu erro, tanto mais arraigada e intolerante a sua certeza, tanto menor a sua disposição de conceder ao adversário o benefício da dúvida ou até mesmo o direito à palavra, que com a maior desenvoltura lhe cassam ao mesmo tempo que, numa apoteose de cinismo, o rotulam de dogmático e intolerante.
Observar esse contraste, repetidamente, ao longo dos anos, é ser arrastado a uma conclusão que a alma rejeita, mas que a consciência impõe inexoravelmente: o socialismo não é uma opinião política como qualquer outra, é uma doença do espírito, uma deformidade moral hedionda, pertinaz e dificilmente curável.
A observação pessoal é confirmada por estudos consistentes como “La Fausse Conscience”, Joseph Gabel, “Intellectuals”, de Paul Johnson, “Modernity Without Restraint”, de Eric Voegelin, “Fire in the Minds of Men”, de James Billington e outros tantos inumeráveis.
Não há nada de estranho em que o mesmo diagnóstico se aplique ipsis litteris ao nazifascismo, já que este não passa de uma variante interna do socialismo — obviedade histórica que na época dos fatos era universalmente conhecida e que só a propaganda maciça pode ter apagado da memória pública ao menos em alguns países.
Nem é de espantar que, observados de perto, na escala de suas atitudes pessoais, os mais destacados expoentes da ideologia socialista se revelem invariavelmente personalidades cruéis, sem moral, sem amor ao próximo, sem o mínimo de sentimentos humanos nem mesmo por seus familiares e amigos. Estudem as biografias de Karl Marx, de Lênin, de Stalin, de Mao-Tsé-Tung, de Pol-Pot, de Fidel Castro – sobretudo os depoimentos do médico pessoal de Mao e os das filhas de Stalin e Castro — e vejam se há algum exagero em chamar esses indivíduos de monstros, ou de perversos os que os admiram.
Quem quer que, conhecendo esses fatos, ainda julgue que o oceano de crueldade e sofrimento produzido por esses personagens e pelos movimentos que lideraram é preferível aos “males do capitalismo”, decididamente não tem senso de proporções, não tem maturidade intelectual ou humana bastante para ser admitido como interlocutor respeitável num debate de idéias.
Desgraçadamente, é justamente esse o tipo de indivíduo que hoje dá o tom das discussões nacionais e se arroga, com sucesso, o papel de medida-padrão das virtudes humanas, à luz da qual devem ser julgados todos os atos, seres e situações. A covardia e o despreparo gerais da classe dominante no Brasil fizeram dela a cúmplice ao menos passiva da ascensão desses celerados ao primeiro escalão da hierarquia social, de onde hoje é quase impossível removê-los.

Desculpas sem culpa

Alguns leitores, levados à perplexidade pelo simples fato de que sua única fonte de informações é a grande mídia brasileira – o que é pior até do que não ter informação nenhuma –, pedem-me que explique por que o presidente Bush, se não teve culpa do atraso no socorro à Louisiana, pediu desculpas como se tivesse. Bem, antes de tudo, é impressionante o número de brasileiros que opinam sobre a política dos EUA sem conhecer nem mesmo os rudimentos da legislação americana, que os meninos da Virginia ou do Texas aprendem na escola. Não vi, por exemplo, um só dos opinadores compulsivos que pululam nos nossos jornais dar o menor sinal de saber que o governo federal americano não pode socorrer um Estado sem pedido do governo local, que para fazer isso o presidente Bush teria de decretar intervenção federal, destituindo na prática a governadora. Se ele fizesse isso, o Partido Democrata pediria imediatamente o seu impeachment, alegando abuso da autoridade presidencial, e os EUA teriam de enfrentar, junto com a inundação da Louisiana, a maior crise política desde Watergate. Seria um segundo e simultâneo desastre nacional. Por isso Bush decidiu deixar o socorro preparado e esperar a solicitação oficial da governadora, limitando-se a pressioná-la psicologicamente por telefone. Os democratas sabiam que, agindo assim, ele se expunha a arcar com todas as culpas sem ter nenhuma. Não tenho dúvidas de que isso entrou nos cálculos da governadora Kathleen Branco quando, contra todas as probabilidades, contra toda a lógica, contra todo o bom-senso, adiou o pedido de socorro até o limite da tragédia e, ainda mais inexplicavelmente, bloqueou a entrada da ajuda proveniente dos Estados vizinhos. Partindo da premissa de que o objetivo prioritário era salvar a população atingida pelas águas, um acúmulo tão persistente de delongas no meio de uma situação tão premente é de uma absurdidade tamanha que só pode ser explicado pela loucura completa. Mas Kathleen Blanco não é louca. Não resta portanto outro motivo plausível exceto a premeditação de um golpe mortal a ser desferido na carreira do presidente – um objetivo que, para o desesperado e fanatizado Partido Democrata, é certamente mais urgente do que salvar umas quantas vidas. Se essa hipótese lhes parece ruim demais, é porque vocês não sabem o que é hoje o Partido Democrata. É o partido de George Soros, o partido do dinheiro chinês, o partido do oil-for-food, o partido empenhado em desarmar os EUA e colocar a nação de joelhos ante os Kofi Annans da vida. É um gigantesco PT, arrotando patriotismo e abrindo as fronteiras aos terroristas e narcotraficantes. George W. Bush não é certamente o político mais hábil de todos os tempos. É apenas um homem honesto que tenta fazer o melhor, mas foge por todos os meios a um choque frontal com a oposição democrata. Não sei por que ele faz isso. Pretendo descobrir um dia. Porém mais de uma vez ele já mostrou que prefere antes sacrificar sua carreira do que admitir um estado de divisão interna num país em guerra. Não sou como os demais colunistas brasileiros, que diariamente dão conselhos e até ordens ao presidente dos EUA, ao general Sharon, ao Papa e, nos momentos de maior modéstia, a Deus Todo-Poderoso. Mas, cá com os meus humildes botões, acho que Bush está errado, que é inútil um presidente simular união nacional quando o país está repleto de traidores organizados para destruí-lo. O melhor talvez fosse partir para a ruptura – e teria sido precisamente esse o resultado de uma intervenção federal forçada. Mas não estou na pele do presidente americano, e não sei se ele, ou qualquer outro governante do planeta, teria cacife para enfrentar ao mesmo tempo uma catástrofe natural e uma crise institucional, além de uma guerra e da mobilização interna contra ela, sem contar a hostilidade da Europa e da ONU. Para evitar essa hipótese, ele se curvou ao jogo de seus adversários. Não teve culpa direta por nada, mas, como cristão, assumiu a responsabilidade da escolha política. Sei que, na mídia brasileira, a simples hipótese de um governante ser cristão sincero parece absurda e é objeto de chacota. Mas isso revela algo sobre a mentalidade da mídia brasileira, não sobre a de George W. Bush.

Grijalbo Júnior

Quando peguei em flagrante delito de patifaria intelectual o dr. Grijalbo Fernandes, então presidente da Anamatra (Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho), o acusado apelou ao expediente sumamente porcino de alegar que a denúncia feria a honra de toda a classe de juízes do trabalho – como se fosse composta integralmente de patifes iguais a ele – e de brandir contra mim uma ameaça de processo por “dano moral coletivo” (v. http://www.olavodecarvalho.org/semana/050514globo.htm, http://www.olavodecarvalho.org/semana/050521globo.htm e http://www.midiasemmascara.org/artigo.php?sid=3757). Provando que a classe não se sentira nem um pouco ofendida pelo desmascaramento do figurão que a representava tão mal, mas sim pela tentativa manhosa de usá-la como escudo contra a verdade, a juíza Marli Nogueira, de Brasília, passou um didático pito naquele seu colega, ensinando-o a ler nas minhas palavras o que estava lá, não o que ele desejaria fazer crer que estivesse. Para desmoralizar um pouco mais as pretensões grijálbicas, logo em seguida o Tribunal do Trabalho da 3ª. Região, de Belo Horizonte, por indicação do juiz Ricardo Antônio Mohallem, ele próprio integrante da diretoria da Anamatra, me concedeu a medalha da Ordem do Mérito Judiciário do Trabalho “Juiz Ari Rocha”. Inconformado com a homenagem, que por si desmascarava a calúnia levantada contra mim pelo dr. Grijalbo, agora apareceu um Grijalbo II, ou Grijalbo Júnior, mais conhecido como Orlando Tadeu de Alcântara, presidente da Anamatra 3, para escrever ao Tribunal uma carta de protesto na qual repete a calúnia anterior e lhe acrescenta umas novas, entre as quais a de que “o Sr. Olavo de Carvalho, nas suas idéias e manifestações, sempre desprezou a democracia, o direito e a paz social”. Nem Tadeu nem Grijalbo acreditaram jamais numa só palavra que escreveram contra mim, pois se acreditassem não se contentariam com fanfarronadas pueris e passariam das palavras aos atos, movendo logo o alardeado processo, coisa que não fizeram nem farão, a não ser talvez quando tiverem a garantia de que o réu não será condenado por suas ações, mas, como nos regimes de Stalin, Mao e Fidel Castro, por sua “ideologia de classe”. Por enquanto, só o que conseguiram foi uma resposta ríspida e corajosa do juiz Mohallem, que além de desmascarar a discriminação ideológica brutal por trás da afetada preocupação com a “democracia”, ainda aproveitou a ocasião para se desligar da entidade, mostrando que a companhia de Grijalbos e Tadeus não convém realmente a homens honrados. Tenho a certeza absoluta de que o dr. Mohallem, e não eles, é representativo da classe dos juízes do trabalho. Mas, em qualquer classe social, a voz da maioria honesta é hoje sufocada pela algazarra de uma minoria de ativistas histéricos, mentirosos cínicos, que ousam rotular de “ofensa à democracia” o que quer que se diga contra os regimes genocidas de sua devoção.

Quem enganou quem

Na Espanha, a Associação das Vítimas do Terrorismo anunciou que promoverá uma onda de manifestações de protesto contra a acomodação do primeiro-ministro Zapatero com os terroristas do ETA e contra a ocultação, pelo governo espanhol, de informações que poderiam levar à prisão dos criminosos. Francisco José Alcaraz, presidente da entidade, anunciou que as mobilizações “não terão precedentes na História da Espanha”. Logo, portanto, ficará claro ante os olhos de todos quem enganou quem no plebiscito de 2004 (v. http://www.olavodecarvalho.org/semana/040325jt.htm).

O malvado Bush contra a infeliz Louisiana

Olavo de Carvalho


Diário do Comércio, 12 de setembro de 2005

A lei americana é clara: o presidente da República não pode interferir nos Estados, mesmo em caso de calamidade pública, exceto a pedido do governo local. Até o quarto dia do furacão a governadora da Louisiana, Kathleen Blanco, recusou a ajuda das autoridades federais. Quando finalmente a aceitou, e de má-vontade, em menos de uma hora a ajuda chegou a New Orleans.

Tudo o que o presidente podia fazer antes disso era colocar as equipes e tropas federais de prontidão, aguardando o chamado da autoridade estadual. George W. Bush fez isso em tempo. Na Guarda Nacional e na FEMA ( Federal Emergency Management Agency ), milhares de soldados, funcionários, médicos e enfermeiros, com helicópteros e ambulâncias, remédios e armas, mapas e planos de socorro, esperaram ansiosamente, durante os quatro dias mais longos das suas vidas, o sinal para entrar em ação. Quando o sinal chegou, New Orleans já estava inundada.

Pior. Vendo que os organismos federais estavam de mãos atadas ante a teimosia da governadora, o presidente Bush passou toda a sexta-feira, dia 3, preparando com seus assessores a complexa operação jurídico-burocrática que a lei e o Congresso exigem para autorizar a intervenção federal não solicitada, um caso raríssimo e, para os padrões do orgulhoso federalismo americano, traumático. Enquanto isso, o furacão se aproximava. Pouco antes da meia-noite, sentindo que estava perdendo a corrida contra o furacão, o presidente ligou pessoalmente para a governadora, suplicando que ela assinasse o pedido. De novo ela se recusou. Mais tarde soube-se que, em reunião com sua equipe, ela havia comentado que a entrada dos federais em cena seria desmoralizante para a administração estadual. Os esforços do presidente para salvar milhares de pessoas foram frustrados pela vaidade de uma politiqueira de província. Mas não só os do presidente. A sra. Kathleen “Deixa Comigo” Blanco recusou-se também a aceitar um pacote multi-estadual de ajuda, bloqueando a entrada das tropas da Guarda Nacional e até das equipes da Cruz Vermelha que aguardavam nas fronteiras dos Estados vizinhos.

Sábado, pouco antes de as águas atingirem New Orleans em cheio, Bush telefonou novamente à governadora, insistindo que ela assinasse o pedido de socorro, decretasse o estado de emergência na Louisiana e determinasse a evacuação obrigatória das áreas de risco. A mulherzinha concordou, mas com reservas: topou a evacuação, mas parcial em vez de total, e o estado de emergência, mas ainda sem intervenção das equipes federais. Foi diante dessa prova final de má-vontade que o presidente colocou então em ação o esquema preparado desde a véspera, decretando “estado de desastre nacional” e impondo pela força a entrada do socorro federal na Louisiana.

As duas conversas da madame com George W. Bush foram gravadas. Quem quer que jogue a culpa do atraso no presidente é um mentiroso a serviço do que existe de pior na América. Resta ainda a hipótese de que seja um idiota do Terceiro Mundo, para quem a esquerda chique de Nova York é a máxima autoridade moral do planeta.

Mas não parou por aí a notável performance da sra. Blanco e do prefeito da cidade, Ray Nagin. New Orleans tinha um plano de socorro detalhado e preciso, elaborado fazia mais de um ano com base num exercício simulado e no estudo dos erros cometidos por ocasião do furacão George, de 1998. Os pontos principais eram: (1) A população das zonas de risco deveria ser evacuada completamente, e não levada para lugares como o Superdome e o Convention Center, expostos aos roubos e ao vandalismo. (2) Como seria preciso transportar pelo menos trezentas mil pessoas, todos os ônibus municipais e escolares deveriam ser utilizados para isso.

Como foi executado o plano?

(1) Avisados pelo National Hurricane Center , com dois dias de antecedência, de que seria preciso evacuar a cidade, a governadora e o prefeito não fizeram absolutamente nada. Quando o furacão chegou, fizeram pior que nada: obstinados na evacuação parcial, enviaram as vítimas justamente para o Superdome e o Convention Center, onde a desordem e a violência se repetiram multiplicadas por mil. A evacuação total só foi decretada no domingo, em obediência tardia às ordens do presidente.

(2) Os ônibus da Prefeitura e das escolas não foram usados. A recusa de mobilizá-los foi proposital. Logo antes de a cidade ser atingida, o diretor dos serviços municipais de emergência, Joseph Mathews, declarou à revista U. S. News and World Report : “Nossa política oficial é que cada cidadão assuma o encargo de arranjar seus próprios meios de evacuação.” Esqueceu-se de mencionar um detalhe: segundo o censo de 2003, aproximadamente cem mil habitantes da região não têm carro. Resultado: saíram a pé, de carona ou em viaturas de polícia, numa confusão dos diabos. Estacionados nas suas respectivas garagens, os ônibus que deveriam socorrê-los acabaram sendo eles próprios submergidos e destruídos pelas águas.

Aceito, por fim, em desespero de causa, o socorro federal veio com tudo, em menos de uma hora. Mas já era tarde. New Orleans agonizava. O prefeito nem viu nada: estava em Baton Rouge. Só voltou para botar a boca no mundo contra George W. Bush. Ironicamente, sua maior queixa contra o presidente foi a de não ter enviado os ônibus extras da Greyhound solicitados para o transporte dos flagelados. Bem, como o presidente ou a Greyhound poderiam imaginar que a Prefeitura estava com falta de ônibus porque tinha deixado os seus boiando no lava-rápido?

Mas a indignação fingida do prefeito fazia sentido. Tanto ele quanto a sra. Blanco são do Partido Democrata, que desde as últimas eleições atravessa a fase mais deprimente da sua história: perdeu a Presidência, perdeu a maioria no Parlamento, perdeu vários governos estaduais, e ainda enfrenta, pela primeira vez em décadas, a reação crescente dos conservadores nos três fronts que antes ele dominava tranqüilamente, a mídia, a educação e o debate cultural (v. South Park Conservatives. The Revolt Against Liberal Media Bias , de Brian C. Anderson, New York, Regnery, 2005). A revelação do vexame criminoso da dupla Nagin-Blanco seria a versão política do furacão Katrina arrombando portas e janelas da agremiação combalida, o raio de Júpiter abatendo-se sobre um edifício periclitante. Era preciso evitar isso a todo preço. Se antes mesmo da chegada da ajuda federal a prioridade máxima dos políticos locais já era a de salvar a própria pele, imaginem depois. Mal iniciada a contagem dos cadáveres, todos os megafones foram acionados para desviar as atenções dos fatos e jogar a culpa na única autoridade que tinha cumprido o seu dever nessa história. A tropa-de-choque foi a mesma de sempre: Hillary Clinton, Ted Kennedy, Jesse Jackson, Michael Moore, a nata da vigarice elegante, afilhada de George Soros e madrinha de Hugo Chávez. Com a simultaneidade e a uniformidade de praxe nessas campanhas, os slogans e palavras-de-ordem atravessaram o planeta, repetindo-se fielmente de Pequim a Caracas, de Nova York a São Paulo. Confiante no ilimitado poder persuasivo da absurdidade estupefaciente, o partido dos radicais de limusine apelava ao protocolo de Kyoto, que teria miraculosamente parado as águas como Moisés se não lhe faltasse a maldita assinatura americana, enfatizava inexistentes poderes presidenciais que Bush não acionou por ser cruel como a peste e, last not least , denunciava o racismo do governo federal que, ciente da maioria negra entre as vítimas do desastre, teria retardado de propósito o socorro para aproveitar o ensejo de branquear a população. O servilismo descarado com que os comentaristas brasileiros – os Magnolis, os Saders e tutti quanti — macaqueiam essas tolices ao mesmo tempo maliciosas e pueris mostra que a nossa classe letrada, em matéria de inteligência, está abaixo de qualquer redneck , de qualquer caipirão americano, daqueles que circulam pelas estradas em camionetes dos anos 50 com uma calibre 12 na cabine, ou de qualquer daqueles negões de dois metros que ficam rindo à toa e exibindo suas proteínas nos shopping centers com um CD-player na orelha, calça pela canela e camiseta até o joelho. Aqui, 55 por cento do povão, segundo pesquisas recentes, perceberam na hora o engodo. No Brasil, cem por cento das mentes iluminadas acreditaram em tudo. Ou pelo menos desejam ardentemente que você acredite.

Louca? Loucos somos nós

A sra. Heloísa Helena, pré-fabricada no Foro de São Paulo para ser a nova encarnação da moral e dos bons costumes na hipótese da desbeatificação de São Lulinha (detalhes em http://www.olavodecarvalho.org /semana/050904zh.htm ), vem-se destacando como peça importante no esquema montado às pressas, em escala mundial, para apresentar o sr. Olivério Medina como vítima inocente de uma trama fascista e impedir que ele seja entregue pela Polícia Federal às autoridades colombianas.

O sr. Medina, como ninguém ignora, é aquele emissário das Farc que, numa festinha de políticos em Brasília, contou ter trazido uma polpuda contribuição ilegal da narcoguerrilha colombiana à campanha eleitoral do PT.

Na época, a central petista de gerenciamento de danos, ativíssima na mídia brasileira, apelou à linda explicação de que tudo não passara de uma bravata com que o convidado estrangeiro tentara impressionar políticos interioranos. Mas, se o PT ameaçava processar o deputado Alberto Fraga, que apenas divulgara a denúncia de segunda mão, por que se absteve de fazer ameaça idêntica à fonte mesma de onde brotara a acusação presumidamente falsa? Quem, em seu juízo perfeito, processa o cúmplice acidental ao mesmo tempo que poupa o autor principal do delito, se não tem para isso motivos ocultos? Mais ainda, como seria possível que as Farc, a tropa armada e assassina mais rica e poderosa do continente, que alimenta pretensões de ser aceita mundialmente como força política legítima, continuassem confiando num fanfarrão leviano, sem nem cogitar em removê-lo das altas funções de representante seu num país cuja proteção e amizade são essenciais para o futuro da organização?

O fato é que, estupidificada por décadas de intoxicação esquerdista, a opinião pública brasileira, tão suspicaz contra miúdos Joões Alves e Juízes Lalaus, se acostumou a curvar-se com credulidade beócia ante qualquer desculpa esfarrapada que venha de bocas ungidas pela bênção de Che Guevara.

Agora, a operação “Tirem o Medina da Encrenca” tem sólidas razões de ser. Se alguém tem provas de que as Farc deram ou não deram dinheiro do narcotráfico para o PT, é ele. E a diferença entre esse cidadão estar no Brasil ou na Colômbia é a mesma que se viu no caso análogo do sr. Fernandinho Beira-Mar. Lá, interrogado pelo Exército, o rapaz cantou como um canário com dor de corno, explicou com detalhes como injetava anualmente no mercado brasileiro duzentas toneladas de cocaína colombiana em troca de armas contrabandeadas do Líbano. De volta ao Brasil, foi levado para estrear um show no Parlamento, onde humilhou as excelências todas com respostas atravessadas que não diziam absolutamente nada, sendo depois transportado para um presídio de segurança máxima que lhe garante, sobretudo, a máxima segurança contra perguntas incômodas. Até agora, naturalmente, nada mais disse nem lhe foi perguntado.

E se o sr. Medina não for apenas um sonso boquirroto? E se ele for o agente sério e eficiente que as Farc, tão ingênuas, coitadinhas, continuam enxergando nele? Neste caso, a declaração feita em Brasília adquire um peso bem diferente e o sr. Medina se torna uma prova viva, não só dos delitos petistas, considerados na escala menor da pura corrupção local, mas da existência de uma máquina criminosa de dimensões continentais, empenhada em subjugar dezenas de países por meio do narcotráfico, do morticínio, da fraude e da mentira organizada. Neste caso, o risco de que ele venha a ser interrogado pelos oficiais colombianos que arrancaram aquela história escabrosa do sr. Fernandinho é realmente temível e tem de ser evitado custe o que custar. Sinceramente, acho que esta hipótese é bem mais verossímil — principalmente porque casos idênticos já se observaram inúmeras vezes no mundo – do que as explicações desesperadoramente postiças inventadas até agora para encobrir as relações PT-Farc. Parece mesmo que a fábrica de explicações já desistiu de teimar na negação peremptória, a qual nem a credulidade brasileira pode continuar levando integralmente a sério, e passou à etapa seguinte: o amortecimento do fato consumado. Até a coluna do sr. Alcelmo Góes no Globo já admite que a contribuição ilegal das Farc aconteceu mesmo, só que – acrecenta o colunista — a direção do partido não sabia de nada. Decerto ela é ainda mais ingênua que o comando das Farc.

Quanto à sra. Heloísa Helena, como explicar que a autora de tantos discursos histéricos contra a corrupção do PT passe a empenhar-se com tamanho vigor no esforço de impedir que a possível testemunha máxima da criminalidade petista continue caladinha no Brasil em vez de ir cantar na Colômbia? A forma da pergunta já traz em si a resposta: uma coisa é armar um teatrinho local, afetando indignação contra o governo para salvar, como expliquei no artigo citado acima, o projeto revolucionário da esquerda, no qual, sem dúvida, os denunciados do momento viriam a ser reaproveitados amanhã ou depois, em cargos menores, talvez, mas ainda honrosos. Outra coisa é permitir que as investigações assumam magnitude internacional, com a previsível revelação de crimes incomparavelmente mais graves do que tudo o que tem vindo à tona no Brasil até agora. O furor ético da sra. Heloísa Helena parece ter os seus limites – os limites da conveniência estratégica. Se for esse o caso, não será injusto concluir que, como Dom Quijote, ela é “ loca, si, pero no tonta .”

Amantes do furacão

Olavo de Carvalho


Diário do Comércio, 5 de setembro de 2005

Até o momento em que escrevo esta coluna, o Brasil não está entre os 25 países, os 25 únicos países que, dos quase duzentos membros da ONU, ofereceram ajuda às vítimas do furacão Katrina. Estamos mesmo é com Hugo Chavez, um sociopata insensível, que preferiu zombar dos cadáveres com uma oferta cínica de… petróleo!

Os EUA não precisam de ajuda nenhuma do exterior. Muitas cidades americanas já foram destruídas por terremotos, incêndios e furacões. Foram reconstruídas, sem ajuda de quem quer que fosse, pelo povo cujo trabalho suado salvou os russos, várias vezes, de morrer de fome, e ainda reergueu a Alemanha, a Itália, a França, a Inglaterra e o Japão depois da guerra.

Os EUA não precisam de ninguém. Mas, quando a simples intenção humanitária é sonegada tão maciçamente por países que sem a ajuda americana já nem mesmo existiriam, a conclusão inevitável é que o ódio espalhado no mundo pela brutal campanha de difamação sustentada pelo sr. George Soros não se volta contra os srs. Bush e Rumsfeld, mas contra a nação americana enquanto tal: seu povo, sua história, seus valores, sua simples existência física.

Os americanos criaram a única sociedade decente que existe no planeta, a única onde moral, humanitarismo e piedade ainda contam para alguma coisa, a única onde a terça parte do povo faz trabalhos voluntários para socorrer outros povos, a única que alimenta e ampara as nações que a combatem, a única onde os próprios direitos da cultura nacional são negados para dar mais espaço a imigrantes presunçosos, a única onde até terroristas estrangeiros sanguinários presos em combate têm os direitos dos cidadãos locais, a única que constantemente se coloca a si própria em questão com uma coragem intelectual inigualável, a única onde a luta pela justiça é a própria substância da vida nacional, a única que se condena a si mesma antes de jogar as culpas nos outros, a única que, vencedora numa guerra, retirou imediatamente suas tropas, deixando que os derrotados reconquistassem sua liberdade e dignidade, enquanto seu grande parceiro de vitória permanecia por décadas nos territórios ocupados, com tanques, canhões e pelotões de fuzilamento, sugando sangue de dezenas de povos e ainda acusando os americanos de “imperialismo”.

Os americanos criaram a única nação que, julgada em comparação com as outras – e não com os padrões angélicos artificiosos com que elas a julgam precisamente para fugir da comparação humana na qual sabem que sairiam perdendo –, tem mais motivos de se orgulhar que de se envergonhar.

A existência da América é uma vergonha para os russos, que juraram destruí-la e acabaram de chapéu na mão, implorando socorro. É uma vergonha para a China, que acumula armas nanotecnológicas na esperança insana de matar de varíola e tifo a população americana inteira mas não pode usá-las, porque seria mandar para a panela a galinha que bota ovos de ouro nas estatais de Pequim. É uma vergonha para o mundo islâmico, que com toda a sua bela oratória religiosa de mil e quatrocentos anos jamais conseguiu criar uma sociedade que não fosse, em maior ou menor medida, a negação viva das promessas corânicas de liberdade e justiça. É uma vergonha para os latino-americanos, que não suportam a comparação com o vizinho do Norte sem roer-se de desprezo a si mesmos e buscar alívio em histrionismos e fanfarronadas de uma abjeção sem par.

A campanha do sr. Soros somou todas essas vergonhas, para jogá-las sobre a América. A campanha está surtindo efeito.

Por isso, pela primeira vez na história da pretensa “ordem internacional”, a afetação de humanitarismo, usual nas catástrofes naturais, cedeu lugar à indiferença explícita, quando não aos sorrisinhos de satisfação. O mundo está hoje repleto de amantes de Katrina, como ontem de admiradores de bin-Laden.

Louisiana desconhecida

Alguns capítulos da verdadeira história da tragédia de New Orleans, cujo reverso fictício vocês lêem na mídia brasileira todos os dias.

A Louisiana é o estado mais corrupto dos EUA, uma Petelândia do Norte. Há décadas o governo federal envia verbas enormes para obras públicas, o dinheiro some. Técnicos passaram anos alertando que as barragens do lago Pontchartrain não agüentariam um solavanco mais sério, ninguém ligou.

Fora as refinarias de petróleo, o Estado mal tem infra-estrutura industrial. Milhões de desempregados obesos, brindados pela previdência social até com vouchers do MacDonald’s, passam as tardes em cadeiras de balanço, nas varandas de suas casas em ruínas, curtindo uma ociosidade deprimente e sem esperança. A taxa de delinqüência é a maior do país. O turismo sexual move a economia. Desordem, ilegalidade, roubalheira, confusão: estava tudo pronto para que, ao primeiro abalo da casca de civilização que ainda recobria o cenário, a Louisiana encenasse uma espécie de “Lord of the Flies” tamanho Spielberg.

Dois dias antes de romperem as barragens, o governo do Estado, alertado pelo serviço meteorológico, determinou a evacuação das áreas de risco. Os sábios da grande mídia acharam que era um exagero, porque o furacão ainda era considerado de categoria 3, tolerável. O povo acreditou na mídia e no prefeito cuja indolência a confirmava.

A cinco milhas da zona que viria a ser atingida, há terra seca, moradias, aeroporto, serviços públicos. A população teve dois dias para salvar a vida. Bastava andar cinco milhas. Ninguém andou, nem foi incentivado a isso. O governo federal ofereceu convocar a Guarda Nacional para ajudar na evacuação, ninguém quis. Nossa polícia dará conta do recado, garganteavam.

No tumulto que se seguiu, a polícia em desespero abriu as portas das cadeias, liberando milhares de delinqüentes que logo se armaram e espalharam novos motivos de pânico entra uma população já aterrorizada.

Tantos são os crimes e tantos os criminosos na longa preparação da tragédia, que os primeiros jamais serão investigados e os segundos jamais serão punidos. O remédio, naturalmente, é cuspir no culpado de sempre. George W. Bush provocou o furacão porque não assinou o protocolo de Kyoto. George W. Bush gastou no Iraque o dinheiro da reforma das barragens. George W. Bush não convocou a Guarda Nacional em tempo. George W. Bush não mandou o Exército para socorrer a multidão de vítimas, porque eram negras e ele é um maldito racista branco.

Adianta dizer que mil Protocolos de Kyoto não mudariam o clima terrestre em tão pouco tempo, sobretudo porque essa fraude monumental isenta de restrições ecológicas os maiores poluidores do mundo, China e Índia?

Adianta dizer que o dinheiro que foi para o Iraque não era da reforma e que, mesmo se fosse, jamais a barragem ficaria pronta antes de chegar o furacão?

Adianta dizer que quem não quis a Guarda Nacional em tempo foi o governo da Louisiana, e que aliás a Guarda Nacional é uma organização de voluntários, espalhados por suas casas e empregos, impossíveis de reunir em número suficiente para um desafio dessas proporções em menos de três ou quatro dias?

Adianta dizer que uma lei americana centenária proíbe a mobilização do Exército para qualquer assunto interno, que mudar essa lei seria uma discussão de meses no Congresso e que George W. Bush não é o Congresso?

Não, não adianta. Nos EUA, é claro, só uma fração mínima da opinião pública levou a sério as calúnias escabrosas que, como sempre, vieram pela boca dos Jesses Jacksons e Michael Moores. No Brasil, elas passam por verdades absolutas.

Jornalismo da vaca amarela

O colunista Zuenir Ventura aderiu à campanha lançada pela sua colega Miriam Leitão – aqui comentada no artigo anterior — para fazer de conta que ninguém na redação do Globo sabia da corrupção petista, pela simples razão de que jamais tive uma coluna semanal ali, jamais escrevi nada que pudesse alertar do assunto os meus colegas e, se escrevi, eles, coitadinhos inocentes, nunca leram. Como Groucho Marx, não lêem jornais que os aceitam como empregados.

Quinze anos de ocultação de crimes valem por outros tantos crimes. Quando por fim os delitos originais são revelados sem que ninguém mais consiga escondê-los, a saída de emergência é ocultar a ocultação. É a engenharia do esquecimento. Miriam e Zuenir lideram o pelotão de empreiteiros.

Com exceção de uns poucos, cujos nomes não cito para não fazer deles alvos de ódio, não há mais jornalistas na redação do Globo. Há somente agentes de influência do Foro de São Paulo, mentirosos compulsivos, covardões oportunistas, signatários compulsivos de manifestos pró-Chavez e, é claro, clones em miniatura de Duda Mendonça.

Direi que são uma vergonha para a profissão? Mas como ter a certeza de que compreenderão o que quer dizer “vergonha”? Sua memória talvez não chegue tão longe.

Suma patifaria

Quando comecei a falar do Foro de São Paulo, desagradando um jornal que esperava que eu nada fizesse contra o seu querido socialismo além de repetir os argumentos econômicos usuais – e já então sem efeito — do falecido dr. Roberto Campos, a gangue do candidato Lula ficou logo alarmada. Depois das eleições, seria fácil, com verbas federais, obter da mídia o silêncio obsequioso que viria a se mostrar tão eficaz. Naquela época, porém, era preciso inventar um desmentido às pressas. O desmentido veio pelas mãos do “assessor internacional” de Lula, o sr. Giancarlo Summa, o qual, em nota oficial, afirmava taxativamente ser o Foro apenas um encontro informal de debates, sem qualquer alcance estratégico ou decisório.

Respondi que encontros informais de debates não emitiam resoluções, muito menos resoluções sempre unânimes como as do Foro (v. http://www.olavodecarvalho.org/semana/10192002globo.htm ).

A resposta bastava, mas agora veio outra melhor. E veio da boca do próprio presidente da República, no discurso extraordinariamente vexaminoso, mesmo para os padrões lulísticos, com que enalteceu as condecorações oferecidas a alguns de seus puxa-sacos mais devotados: “Então, nós passamos a ter uma relação privilegiada com presidentes e com ministros que eram militantes, junto conosco, do Foro de São Paulo.”

Ou seja: o clube informal de debates, além de emitir resoluções, tinha também militantes. Ouviram bem? Militantes. Não sei onde anda o sr. Summa. O que sei é que é uma delícia ver o presidente, ex ore suo, meter um carimbo de mentiroso na testa do assessor que tentou lhe encobrir as indecências.

A verdadeira invasão

Não satisfeitos de enviar ao Brasil duzentas toneladas anuais de cocaína em troca de armas contrabandeadas do Líbano, os homens das Farc treinam bandidos nos morros cariocas, recrutam brasileiros para o narcotráfico e atiram em nossos soldados na Amazônia, ao mesmo tempo que continuam transitando à vontade no Palácio do Planalto sob a proteção das autoridades federais e participando de festinhas em Brasília com políticos governistas, nas quais se gabam de ter financiado a campanha presidencial do PT. Será coincidência que pela primeira vez um desses tipos, o sr. Olivério Medina, tenha sido preso justamente no momento em que a fortaleza de seus protetores no governo federal ameaça desabar, e não antes?

No Equador e na Bolívia, a política interna é ditada por grupos “bolivarianos” subsidiados por Hugo Chavez e orientados, através dele, por Fidel Castro.

Na Venezuela, policiais e juízes de Cuba, autorizados a isso por uma lei de Hugo Chavez, podem prender qualquer um nas ruas, seja cubano, venezuelano ou de qualquer outra nacionalidade, sem que o infeliz tenha sequer o direito de apelar aos tribunais locais.

Milícias venezuelanas, por sua vez, operam dentro do território da Colômbia, ajudando as Farc.

É esse o panorama do que alguns agentes de influência, bem colocados na mídia, nas universidades, nas academias militares e na Escola Superior de Guerra, chamam de “soberania nacional”, jurando que a coisa mais patriótica do mundo é defendê-la contra uma iminente “invasão ianque”.

O prezado leitor acha que algum desses indivíduos é idiota o bastante para acreditar sinceramente que Fidel Castro, Hugo Chávez e os homens das Farc sejam patriotas brasileiros, arrebatados de emoção verde-amarela, devotos da memória de Caxias, ciosos da honra nacional e da integridade do nosso território?

Acha que são sonsos ao ponto de ignorar que a promiscuidade judicial cubano-venezuelana, a onipresença triunfante da narcoguerrilha e a hegemonia absoluta do Foro de São Paulo são, já, a dissolução das fronteiras nacionais e a preparação da futura União das Repúblicas Socialistas Latino-Americanas?

Pois é. Nada disso. Eles sabem perfeitamente bem que nenhum país da AL tem condições de repelir sozinho a intromissão multilateral armada e corruptora, que aquilo que chamam “invasão americana”, se um dia chegar a se materializar, será na mais enfática das hipóteses o envio de umas poucas tropas a pedido de governos locais acossados, como aconteceu na Colômbia, que desencadear uma onda de pânico anti-americano é apenas diversionismo calculado para legitimar, sob desculpa alarmista e falsa, o fortalecimento da máquina chavista-fidelista-narcótica que oprime o continente.

Sabem perfeitamente que a ocupação norte-americana de uma parte qualquer da América Latina, mesmo ínfima, está fora de cogitação, porque os EUA não são uma Cuba qualquer, onde um cachorro louco fardado sai rosnando ordens e todo mundo obedece. Os EUA têm leis, têm uma ordem constituída, têm liberdade de imprensa, têm um parlamento, e quem quer que apareça em público propondo mesmo a título de simples conjeturação teórica uma invasão da América Latina receberá mil vezes mais pauladas do que o pastor Robertson, que sugeriu ainda mais conjeturalmente um tiro, apenas um tiro, um tirico de nada, na cabeça de anta do sr. Hugo Chavez.

Sabem que ninguém, nos EUA, quer um metro quadrado, um centímetro quadrado, um milímetro quadrado da América Latina, nem dado de graça. Sabem que, se a população do Brasil inteiro, de joelhos, implorar aos americanos: “Invadam-nos”, a resposta será: “Não, obrigado. Vocês têm idéia de quantos soldados e funcionários teríamos de enviar para botar ordem nessa bagunça infernal que vocês armaram aí? Têm idéia de quanto custaria isso? Daria para reconstruir duzentas New Orleans.”

Pois é, aqueles fulanos sabem de tudo isso, mas mentem, porque só são jornalistas nominalmente. Em substância, são agentes de influência, o que é coisa totalmente diversa. Explicarei a diferença num dos próximos artigos.

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