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Roendo a Grande Barreira

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 27 de agosto de 2007

O segredo tenebroso por trás do manifesto em prol de Quartim de Moraes

Três menções nada honrosas mas inteiramente justas que, de passagem, fiz a João Carlos Kfouri Quartim de Moraes nos meus artigos suscitaram da intelectualidade comunista que domina as universidades neste país uma reação absurda, grotesca, desproporcionalmente histérica: um manifesto assinado por mais de seiscentos ativistas acadêmicos, que me acusam de caluniador, fascista, agente pago do governo americano e até “perseguidor político” do professor da Unicamp (maiores explicações no meu website, www.olavodecarvalho.org , sob o título “Resposta aos puxa-sacos de Quartim de Moraes”).

Os signatários enaltecem em termos candentes as virtudes intelectuais do referido, sem dizer quais são, é claro, mas contrastando-as com a total ausência delas na minha pessoa; e, sem responder a uma só das acusações que fiz a ele, ainda têm o imensurável cinismo de alardear que a mim, não a eles próprios, faltam argumentos para uma discussão séria do assunto.

O manifesto, publicado na internet , não só angariou automaticamente a adesão dos comunistas mais notórios, mas foi endossado pela direção nacional do PT e reproduzido no site oficial do partido, com as assinaturas dos srs. Ricardo Berzoini e Marco Aurélio Garcia. Tudo indica, portanto, que mexi num vespeiro, que o prof. Quartim é mais importante e mais intocável do que todos os outros esquerdistas que critiquei ao longo dos tempos.

Que é que há de tão notável, de tão sacrossanto no professor da Unicamp para que até o partido governante assuma as dores dele e consinta em participar de um empreendimento ridículo no qual nenhuma autoridade respeitável jamais se deixaria envolver?

O caso merece investigação.

Vejamos, em busca de pistas para a solução do enigma, a obra escrita do prof. Quartim. Para uma carreira acadêmica de quarenta anos, ela é pífia e composta quase que inteiramente de obras que ele apenas organizou, não escreveu (detalhe que sua bibliografia tem em comum com a do dr. Emir Sader). No conteúdo, a quase totalidade compõe-se de material de interesse exclusivo da militância (quando não de mera propaganda comunista), sem relevância cultural para pessoas cujo horizonte mental vá um pouco além disso. Olhando o conjunto, só uma conclusão é possível: a produção intelectual do prof. Quartim não pode ser nem mesmo motivo de orgulho pessoal, quanto mais de adoração geral. Logo, não foi por ter atacado um gênio, uma glória intelectual nacional, que meu artigo provocou tanta ira e escândalo.

Outra explicação possível é que feri os brios da tradição esquerdista, blasfemei contra o culto da “luta armada”. Mas esta hipótese também não funciona, porque já escrevi coisas piores contra outros ex-guerrilheiros e ninguém perdeu o sono por isso.

Resta a possibilidade de que as acusações em si sejam absurdas, infundadas e aptas a provocar uma justa revolta. Vejamos uma por uma. Tudo o que escrevi do prof. Quartim foi o seguinte:

1) Tendo sido um dos mandantes do assassinato do capitão Charles Chandler, ele é um assassino com sentença transitada em julgado, e chamá-lo de assassino é um direito elementar de qualquer cidadão brasileiro. Rotular isso de “calúnia” é inverter criminosamente o sentido do Código Penal, que define como tal a imputação falsa e não verdadeira de crime. Na letra e no espírito da lei, quem comete calúnia – contra mim – são os signatários do manifesto.

2) Quartim quer a aproximação entre os esquerdistas e os militares, mas com a condição de que os crimes cometidos pelos primeiros continuem esquecidos, se não premiados, e os dos segundos sejam investigados e punidos. Afirmei isso e repito, pois é traslado fiel de suas próprias palavras e atitudes.

3) Ao apontar como indício da desumanidade do regime escravagista no Brasil as constantes fugas de escravos, o prof. Quartim se omite de dizer que sinal idêntico se observa, em quantidade incomparavelmente maior, na debandada geral de refugiados do regime comunista, de cuja maldade descomunal o mesmo Quartim não diz jamais uma palavra, preferindo, em vez disso, fazer a apologia de Stálin (“Um outro olhar sobre Stalin”, http://www.revan.com.br/catalogo/0269c.htm ).

São afirmações óbvias em si mesmas, irrespondíveis. Que é que Quartim e seus seiscentos protetores têm a objetar a elas? Nada, absolutamente nada. Daí a raiva, o ódio impotente que, sem ter meios de agir, recorre a esse expediente pueril do “manifesto de intelectuais” para tentar impressionar pelo número e intimidar pela exibição de força.

A coleta de assinaturas, é claro, já virou palhaçada. A molecagem foi respondida com molecagem. Centenas de anônimos invadiram o espaço do abaixo-assinado, estourando com piadas escatológicas, ofensivas mas não imerecidas, o grotesco arremedo de seriedade com que seiscentos palhaços tentavam ludibriar o público.

Mas toda a trapaça que arriscaram é nada, em comparação com o ardil logo em seguida montado pela direção nacional do PT ao publicar sua versão do episódio (v. http://www.pt.org.br/sitept/index_files/noticias_int.php?codigo=2710 ). Registrando que minhas críticas ao prof. Quartim começaram em resposta a uma entrevista dada por ele ao site www.vermelho.org , o partido prossegue:

“Nessa entrevista, [Quartim] aventava a possibilidade de estabelecimento de novos vínculos entre setores das Forças Armadas e a esquerda brasileira em torno de um programa nacional e democrático… Diante dos mínimos sinais de que possa haver tal diálogo democrático entre a esquerda e os militares na atualidade, Olavo de Carvalho vocifera…”

Com evidente malícia, o PT omite, do seu relato, justamente a única frase do prof. Quartim que critiquei na sua entrevista: “Cometeríamos a pior das infidelidades à memória de nossos mortos se consentíssemos em pagar, pelas boas relações com os militares de hoje, o preço do esquecimento dos crimes cometidos pela ditadura.”

Essa frase é uma promessa explícita de continuar tratando de maneira desigual os crimes da esquerda e os da direita, isto é, premiando os primeiros e punindo os segundos. Ao omitir esse trecho, o PT tenta dar a impressão de que tudo ia às mil maravilhas no relacionamento amoroso entre os comunistas e as Forças Armadas. Coloquem a frase no lugar e verão que esse relacionamento não passava de uma fachada montada pela liderança comunista para enganar os militares e obter, deles, tudo em troca de nada. Com essas palavras fatídicas, Quartim deu com a língua nos dentes, evidenciando a verdadeira intenção dos comunistas, e eu, em vez de deixá-las passar despercebidas num site que só comunistas lêem, lhes dei um destaque medonho num jornal de circulação nacional.

Eis aí a razão da histeria que o meu artigo provocou. O prof. Quartim, em primeiro lugar, não é um “intelectual esquerdista” comum e sobretudo não é um membro do PT. É um dirigente do Partido Comunista – organização internacional infinitamente mais poderosa do que mil PTs. É regra básica do movimento comunista que a sua atuação se desenvolva sempre em dois planos simultâneos: um, notório e público; o outro, discreto e, em caso de necessidade, clandestino. O comando estratégico esta sempre, por definição, na parte discreta, mesmo em épocas de tranqüila liberdade. Quando uma figura de intelectual comunista aparentemente secundária e modesta como a do prof. Quartim se revela, de repente, mais valorizada do que o próprio presidente da República (a quem chamei até de parceiro de narcotraficantes sem que ninguém perdesse o sono por isso), o que o episódio torna claro é que o personagem tem alguma função essencial na parte discreta da estratégia comunista. Ele não é um garoto-propaganda como o nosso presidente ou uma Angela Guadagnin qualquer. Ele está no centro obscuro de onde emanam as grandes operações que, a longo prazo, buscam decidir o curso da História. Ele não está no show , brilhando ante os holofotes. Está no coração das trevas.

O papel específico do prof. Quartim no presente estado de coisas acabou sendo revelado pela própria nota do PT. Independentemente de outras funções que possa ter no esquema comunista, ele era o homem encarregado de restaurar a esquerda militar que existia antes de 1964, fazendo das Forças Armadas, ou de uma parcela delas, um instrumento da revolução continental. Ele se preparou longamente para isso, promovendo os estudos que depois publicou na série “A Esquerda Militar no Brasil” e em vários artigos de jornais e revistas. Que a infiltração comunista nas Forças Armadas conseguiu alguns resultados efetivos nos últimos anos, é a coisa mais evidente do mundo. A transformação da ESG em megafone da esquerda prova-o da maneira mais evidente. A passividade dos militares ante a escalada subversiva, que em épocas mais saudáveis eles já teriam interrompido com um simples pronunciamento de generais, mostra que a intoxicação comunista conseguiu, pelo menos, espalhar no meio castrense uma espécie de paralisia. Mas a conquista ainda estava longe de ter alcançado seus objetivos. A maioria absoluta dos militares brasileiros continua patriota e conservadora como o era em 1964. Ainda faltava muito para que a obra de engenharia concebida pelo prof. Quartim alcançasse o sucesso pretendido, pondo abaixo, mediante lisonjas e promessas, a “Grande Barreira” – como a chamou, num livro memorável, o general Agnaldo Del Nero Augusto — que sempre se opôs à transformação das Forças Armadas em instrumentos da subversão comunista. A Grande Barreira foi roída, mas não derrubada.

Ao evidenciar as intenções maliciosas e traiçoeiras com que Quartim e seus colaboradores tentavam seduzir os militares, coloquei em risco uma das operações mais delicadas e ambiciosas de infiltração comunista já tentadas nesse país. Eis o motivo do pânico que meus artigos espalharam entre os ativistas acadêmicos.

Confesso que, ao escrever aquelas menções ao prof. Quartim, eu ainda não tinha me dado conta de nada disso. Se violei um segredo tenebroso, foi inteiramente sem querer. Foi a própria reação desproporcional e psicótica dos comunistas que me fez notar que eu havia acidentalmente tocado em algum ponto muito secreto e muito dolorido do esquema revolucionário comunista. Deus escreve direito por linhas tortas.

O PT tira a máscara

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio (editorial), 24 de agosto de 2007

O vídeo preparatório ao 3º Congresso do PT é a prova cabal de tudo aquilo que venho dizendo desse partido há mais de uma década: é um partido revolucionário, empenhado em implantar no Brasil um regime comunista.

Assistam e tirem suas dúvidas. Entre outras coisas, a propaganda deixa claro que o PT foi o fundador e organizador do Foro de São Paulo e, como tal, o responsável direto pelo advento dos Chávez, Morales e tutti quanti , aos quais até os luminares do Departamento de Estado americano imaginaram que ele pudesse servir de alternativa democrática.

Extinguir o capitalismo com a ajuda sonsa dos próprios capitalistas, chegar ao socialismo usando “a democracia como estratégia” ( sic ), é o mínimo que o novo programa petista promete e, não encontrando resistência praticamente nenhuma, vai realizar sem a menor dificuldade, entre sorrisos de suas vítimas subservientes.

Por ter dito a verdade óbvia a respeito do processo revolucionário comunista, que agora o próprio PT assume da maneira mais descarada, fui xingado, escarnecido e ridicularizado, sofri mais difamação do que qualquer outro brasileiro vivo, perdi três empregos na mídia e recebi tantas ameaças de morte que passei a me considerar oficialmente falecido e não me preocupei mais com isso.

Não, não estou me queixando. O fenômeno me toca menos como incomodidade pessoal do que como sintoma da ignorância presunçosa das nossas elites políticas, empresariais e militares, que com perseverança asinina insistiram em rejeitar as minhas advertências e em cultivar uma imagem lisonjeira do petismo, seja em busca de vantagens imediatas – suicidas a longo prazo –, seja simplesmente de proteção poliânica contra uma realidade que se anunciava temível demais para as suas alminhas frágeis e trêmulas.

Também não quero humilhar os derrotados, quero apenas adverti-los novamente, desta vez com a certeza absoluta de que o tempo restante para uma reação eficaz está se esgotando rapidamente, muito rapidamente.

Uma reação eficaz subentende conhecimento exato do estado de coisas e da sua longa preparação histórica, assim como disposição para jogar ao lixo todas as ilusões de que o comunismo acabou, de que o Brasil, por especial proteção divina, é imune à tentação revolucionária, ou de que o governo americano está interessado em defender o nosso país contra a onda castrochavista.

Os americanos só se interessarão por isso se lutarmos para despertar seu interesse. Por enquanto, o único brasileiro que vem tentando fazer alguma coisa nesse sentido sou eu – sem apoio institucional, sem dinheiro, sem um único ajudante e contando apenas com a força de uma cara-de-pau que a mim mesmo me surpreende. Não tenho acesso direto ao governo, mas tenho falado o quanto posso, em think tanks , instituições universitárias e até na Academia de West Point.

Noventa por cento dos que me ouvem me dão razão, mas não posso competir com a ação petista espalhada em Washington e Nova York, protegida até mesmo pelas frações do empresariado brasileiro aí presentes.

Fraqueza suicida

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 20 de agosto de 2007

“A fraqueza atrai a agressão”, dizia Donald Rumsfeld, cujo malogro político não deve fazer esquecer que foi o arquiteto da mais espetacular vitória militar dos tempos recentes, a ocupação em quinze dias de um país inimigo poderoso e bem armado, cujo sucesso contra as tropas invasoras era anunciado como líquido e certo por toda a mídia esquerdista do mundo.

A sentença do ex-secretário da Defesa norte-americano deveria servir de alerta aos antipetistas brasileiros, dos quais muitos se empenham menos em combater o adversário do que em esquivar-se pudicamente da rotulação de conservadores e direitistas, que se fossem homens de coragem ostentariam com orgulho.

Quarenta anos de hegemonia cultural gramsciana fixaram tão bem na mente popular o dogma do monopólio esquerdista das virtudes, que preservá-lo contra a mera suspeita de que possa haver algo de bom na direita se tornou prioridade máxima para os próprios direitistas. Tão longe levam eles a obediência a esse mandamento que, mesmo quando querem denunciar os crimes mais escabrosos da esquerda, se apressam em advertir que o fazem sem o menor intuito político, o que equivale a reconhecer que só a esquerda tem o direito de fazer política.

Do mesmo modo, quando vêem os prodígios de manipulação esquerdista do noticiário, não ousam cobrar da mídia um espaço justo e digno para as vozes conservadoras, muito menos a publicação de tais ou quais notícias omitidas – o permanente genocídio anticristão no mundo ou as relações amigáveis PT-Farc, por exemplo –, preferindo antes solicitar genérica e abstratamente que ela seja “imparcial”, o que além de ser uma impossibilidade prática resulta em elevar a classe jornalística à condição de juiz em vez de mera divulgadora de dados e opiniões dos quais o único juiz abalizado é o público em geral.

Quando se sentem chocados ante a pregação comunista nas escolas, gemem implorando uma utópica educação “apolítica” em vez de exigir virilmente o confronto aberto entre as idéias da esquerda e da direita, mesmo sabendo que aí estas levariam vantagem arrasadora sobre as suas concorrentes.

Similarmente, quando querem protestar contra a ocupação comunista dos púlpitos, dizem que a Igreja deveria ficar fora da política, em vez de exigir, como deveriam, que ela cumpra a missão política que lhe cabe, que sempre lhe coube e que ao longo dos séculos ela sempre cumpriu, que é a de educar e mobilizar os fiéis para a defesa permanente e incondicional dos princípios e valores que justificam a sua própria existência como instituição, princípios e valores esses que são o que há de mais oposto e hostil a toda mentalidade revolucionária, seja ela socialista, nazista, fascista, anarquista, o diabo. Como depositária da mais imutável e supra-histórica das mensagens, a Igreja não pode jamais ser apolítica, no mínimo porque foi ela mesma que, inspirada nessa mensagem, criou as bases de todas as noções essenciais da política no Ocidente, a começar pelas de liberdade civil e direitos humanos. Principalmente não poderia sê-lo numa época em que a tendência dominante se inspira na ambição revolucionária de historicizar o Evangelho, trazendo o Juízo Final para dentro do acontecer temporal e usurpando para um partido político o papel de juiz da humanidade, que incumbe exclusivamente a Nosso Senhor Jesus Cristo.

Aqueles que forçam a Igreja a escolher entre ser de esquerda e abster-se de fazer política a obrigam, na prática, a optar pela primeira alternativa, que tem ao menos o mérito de ser possível.

Todas essas precauções, toda essa pusilanimidade, todas essas concessões ao adversário não impedem, antes estimulam que este os carimbe não só como direitistas mas como extremistas de direita e golpistas e mobilize contra eles todas as armas do ridículo e da intimidação. A sucessão de humilhações que assim atraem sobre si mesmos culmina na decisão do arcebispo Odilo Scherer de proibir a missa do movimento “Cansei” na Catedral da Sé, espaço reservado, como se sabe, aos dignos e cristianíssimos membros do PCC, do MST, da CUT, etc, etc. Que essa decisão seja tomada sob a desculpa cínica de ser a Igreja uma instituição apolítica deveria advertir aos prejudicados que eles fizeram muito mal em fornecer a pessoas indignas de confiança o pretexto retórico que agora estas voltam contra eles.

Só falta agora a direita nacional, numa apoteose de bom-mocismo, continuar se dirigindo a esses manipuladores astutos como se fossem porta-vozes autorizados do próprio Jesus Cristo sobre a Terra. Recusar-se a enxergar que a Igreja Católica no Brasil é revolucionária e cismática é o cúmulo da covardia intelectual. Pela sua colaboração pertinaz e maliciosa com a revolução comunista no continente, muitos dos nossos bispos e arcebispos já estão, segundo a letra e o espírito do Código do Direito Canônico, excomungados há muito tempo. O “Decretum Contra Communismum” assinado por Pio XII e confirmado por João XXIII não deixa a menor margem de dúvida quanto a isso. Não há nada a solicitar a esses prelados traidores. O que há a fazer, o que os conservadores brasileiros fariam se tivessem um pouquinho de fibra, é juntar as provas e solicitar ao Vaticano que a excomunhão já vigente de facto seja subscrita oficialmente. Dirigir-se àqueles servos do comunismo com a filial solicitude devida a autênticos Príncipes da Igreja é uma baixeza inominável. Não contem comigo para isso.

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