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Três notinhas

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio (editorial), 9 de janeiro de 2007

Na TV, 90% do conteúdo se constitui de entretenimento e 10% de pseudo- conhecimento. Na universidade é o inverso.

Ninguém pode negar que há uma diferença radical entre a mídia popular e as universidades brasileiras. Naquela, incluindo jornais, revistas, filmes, programas de TV e sites da internet, o conteúdo se constitui de noventa por cento de entretenimento idiota e dez por cento de pseudoconhecimento. Nas universidades a proporção é exatamente inversa. Confirmo isso, mais uma vez, lendo o artigo que a profa. Jeanne-Marie Gagnebin publicou na Folha sobre o processo Telles x Ustra e comparando-o com o currículo da autora. Neste, logo após uma impressionante lista de títulos acadêmicos, vem uma lista de dezoito teses acadêmicas orientadas pela referida. Clicando os links de cada uma, podemos ler os seus resumos, cujos tamanhos variam de duas a dez linhas. Não há um só deles no qual não apareça pelo menos um erro de português. Isso dá a medida do que se pode encontrar nos textos integrais das teses respectivas e fornece uma boa ilustração quantitativa do fato de que nas universidades brasileiras se pode chegar a chefe de departamento escrevendo Getúlio com LH como o faz o marquês de Sader.

Já a profa. Gagnebin, que melhor faria se ficasse quietinha em casa em vez de aprovar teses escritas em português subginasiano, sai dando lições de moral ao país e diz querer a verdade sobre os “anos de chumbo”. Quer nada. Se quisesse, pediria uma investigação em regra da colaboração entre os terroristas brasileiros e o serviço secreto cubano, a entidade mais assassina que já existiu no continente. Para cada brasileiro armado ou desarmado que foi morto pela ditadura nacional, pelo menos cinqüenta cubanos foram assassinados nos cárceres de Fidel Castro com a solícita cumplicidade moral de brasileiros auto-exilados em Cuba.

Anúncios que o governo trabalhista de Sua Majestade acaba de proibir na tevê britânica em horário acessível às crianças: queijo cheddar, flocos de farelo de trigo, queijo camembert, bolinhos com cobertura de açúcar, mingau de aveia, maionese, cereais de grãos variados, creme semidesnatado, nuggets de galinha, waffles, iogurte grego, presunto, lingüiças, bacon, patês variados, amendoins e creme de amendoim, castanhas de caju, pistache, uvas-passas, groselha, chips de batatinha, azeite de oliva, manteiga, pizza, hambúrguers, ketchup, chocolate, molho inglês, Coca-Cola (e similares) e soda limonada. O que seria das criancinhas se não houvesse burocratas zelosos para protegê-las contra o pecado da gula? Mas – cá entre nós — vocês já viram, na Inglaterra ou no Brasil, alguma camisinha com aviso governamental de que sexo anal pode dar câncer do reto? Ah, isso não! Perigoso mesmo é mingau de aveia.

O crítico Daniel Piza, cujo nome parece estar incompleto e já corrigi para Daniel Piza Nabolla, ficou ofendidíssimo com a minha afirmação de que não tem sentido falar de uma guerra em bloco Oriente x Ocidente porque “o Ocidente revolucionário, ateu e materialista está do lado dos terroristas”. Contra isso ele alega que ele próprio é ateu e materialista sem por isto ser um fã de Bin Laden. Vários leitores do seu blog repetem o argumento, cada um deles gabando-se ser o fulminante exemplum in contrarium que dará cabo da minha teoria.

Desde logo, é claro que não escrevo para analfabetos funcionais, que onde está escrito o Ocidente revolucionário, ateu e materialista lêem cada ateu tomado individualmente. No entender desses imbecis, não pode ter havido nenhuma guerra entre os EUA e a Alemanha, já que havia americanos a favor da Alemanha e alemães a favor dos EUA.

Mas a burrice obstinada desses sujeitos não se contenta de ler errado. Lê a menos: onde você escreve ateu, materialista e revolucionário, eles só lêem os dois primeiros adjetivos, ignorando ou fingindo ignorar que o terceiro está lá para deixar subentendido que os ateus materialistas não-revolucionários não se incluem necessariamente no enunciado geral, isto é, que seus exemplos individuais triunfantemente brandidos contra o meu argumento já estavam impugnados nele de antemão, com a condição de que fosse lido por pessoas alfabetizadas.

Máscara e rosto da direita

Olavo de Carvalho


Zero Hora, 2 de maio de 2004

O Fórum da Liberdade é a única arena de debates verdadeiramente democrática que existe neste país – muito diferente dos festivais de autopromoção esquerdista que o dinheiro público espalhou por toda parte.

O décimo-sétimo, do qual participei em abril na PUC de Porto Alegre, foi o maior e o melhor de todos, talvez por ter sido realizado em ambiente universitário, tradicional feudo esquerdista que pela primeira vez teve a oportunidade de ver liberais e conservadores em pessoa e não pelas lentes deformantes do preconceito estabelecido.

Ao longo de quase trinta anos de ininterrupta “ocupação de espaços”, sem defrontar-se com a mínima resistência, a esquerda conseguiu até mesmo o prodígio de inventar uma direita para seu uso próprio, constituída de banqueiros vorazes e velhos políticos corruptos, oportunistas e sem nenhuma crença política identificável, mas dotados do physique de rôle apropriado para encobrir, com suas panças grotescas, o rosto da direita autêntica, hoje quase desprovida de porta-vozes políticos e constituída tão-somente de intelectuais marginalizados pelo patrulhamento gramsciano, estudantes oprimidos pela inquisição “politicamente correta” e empresários estrangulados pelo fisco. Tão grande é a força hipnótica dos estereótipos, que nem o fato mesmo de aqueles banqueiros e políticos constituírem um dos mais fortes esteios do establishment petista impede que a opinião pública, bem amestrada pelo jogo pavloviano da propaganda oficial, continue a encará-los como a personificação mesma do capitalismo, assim facilmente associado ao mal. É nessa condição que eles vêm servindo de Judas em sábado de aleluia, desviando para sua própria testa as pauladas destinadas ao governo e babando-se de prazer no desempenho desse ofício abjeto.

Para desmontar essa farsa, nada melhor do que a direita subir ao palco e mostrar-se ao público, desalojando os fantoches pré-fabricados que a astúcia esquerdista pôs no seu lugar para desmoralizá-la.

Não há quem, ouvindo um Eduardo Gianetti da Fonseca, um Denis Rosenfield, uma Ruth Richardson, um Daniel Piza, não perceba de imediato três realidades que vêm sendo sistematicamente ocultadas: (1) que o pensamento pró-capitalista é, do ponto de vista intelectual, esmagadoramente superior ao esquerdismo estabelecido; (2) que o liberalismo nada tem a ver com o estereótipo “neoliberal” que a esquerda inventou para encenar vitórias fáceis sobre um adversário fictício; (3) que ser conservador é lutar pela conservação de valores morais e da liberdade, não de privilégios e mamatas – um “conservadorismo” típico, isto sim, dos marionetes a serviço do governo federal.

É para tornar essas realidades patentes que existe o Fórum da Liberdade. Ele cumpre esse papel com honra e brilho incomuns, e para mim tem sido uma alegria poder contribuir de algum modo para o seu sucesso.

Se algo fosse possível fazer para torná-lo melhor ainda, eu sugeriria duas coisas.

Primeira, o Fórum tem de ser levado para outros Estados da federação. O mérito do empreendimento é gaúcho, mas seus benefícios devem estender-se a todos os brasileiros.

Segunda: que o temário, ainda bastante concentrado nos tópicos econômico-administrativos, seja estendido para abranger a estratégia de dominação esquerdista nos seus aspectos político, cultural e criminal. Sei que isso é explosivo, mas a insistência nos assuntos econômico-administrativos pode legitimar uma impressão de normalidade da situação político-social, contribuindo involuntariamente para dar credibilidade à mentira esquerdista imperante. Expor e denunciar a ação revolucionária do “Foro de São Paulo”, coordenação do movimento comunista no continente, responsável por todos os descalabros que hoje atormentam este país, é obrigação de todos os que a conheçam. Ainda há tempo de fazer isso. Mas há cada vez menos tempo.

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