Olavo de Carvalho
Diário do Comércio, 31 de janeiro de 2013
Olavo de Carvalho
Diário do Comércio, 31 de janeiro de 2013
Olavo de Carvalho
Diário do Comércio, 21 de janeiro de 2013
O sr. Lucas Patschiki (ver artigo na edição anterior) tenta desesperadamente camuflar o seu panfleto vagabundo sob as aparências de uma tese científica, mas não tem a esperteza necessária para isso. Se tivesse, não apelaria de maneira tão confiante e ingênua a um dos chavões mais compulsivos e autodenunciadores da propaganda comunista, que é o de tentar desmoralizar o adversário, o anticomunista, como um agente pago da burguesia. No meu caso, a prova que ele fornece dessa vinculação monetária é de uma candura que chega a ser comovente na sua puerilidade: “A preocupação com que Olavo de Carvalho analisa a burguesia brasileira é retribuída, pois o dota de meios e rendimentos para levar essa luta adiante…: sua permanência nos EUA é financiada pelo Diário do Comércio.
Descontado o português subginasiano, impotente para esclarecer se o sujeito da oração subordinada é a preocupação ou a burguesia, ele quis dizer que recebo subsídios do Diário para lutar em favor da classe que o jornal representa.
Sou jornalista profissional há quarenta anos e nunca soube que salário fosse “financiamento”. Se o fosse, e como o próprio sr. Patschiki reconhece haver uma pletora de jornalistas de esquerda nas redações, deveríamos concluir que a burguesia financia muitos agentes para que lutem contra ela e só uns poucos para que a defendam.
É claro que, se ela faz isso, só pode ser por estupidez genuína ou por algum tipo de malícia inversa cuja engenhosidade me escapa. Na primeira hipótese, fica impugnada a tese do sr. Patschiki de que a burguesia detém o controle ideológico dos seus órgãos de imprensa. O sr. Patschiki acredita piamente na segunda, mas não nos fornece a menor explicação do que pode fazer em benefício da burguesia um mecanismo tão paradoxal e contraproducente.
Uma hipótese que nem lhe passa pela cabeça é a de que as empresas de mídia se atêm à mais rigorosa abstinência ideológica na contratação de seus empregados, acabando os esquerdistas por obter aí a superioridade numérica pelo simples fato de praticarem a gramsciana “ocupação de espaços” que a direita ainda não aprendeu.
Todos os jornalistas profissionais recebem um salário, independentemente do conteúdo ideológico daquilo que escrevem. Se o fato de eu ser um deles basta para fazer de mim um agente pago a serviço ideológico de um grupo ou classe, o sr. Patschiki teria a obrigação de perguntar se acusação idêntica não se aplicaria muito mais ao agente que é subsidiado para a tarefa específica de produzir um ataque político a determinada pessoa ou entidade, tal como ele foi financiado, não pelos proletários dos quais se imagina um porta-voz, e sim por um pool de bilionários interesses estatais e privados, a Fundação Araucária, para escrever contra mim e o Mídia Sem Máscara e defender assim a aliança comuno-dinheirista que nos governa.
Todo historiador ou cientista social só pode compreender a posição dos outros na sociedade desde uma consciência clara da sua própria posição, da fonte dos seus meios de sustento, dos grupos que o protegem, etc. Mas o sr. Patschiki, que não é nem uma coisa nem a outra, não apenas não precisa saber de nada disso como de fato não sabe e nem de longe suspeita que deveria saber. Por isso ele pode continuar sonhando que todo salário de jornalista profissional é um “financiamento” ideologicamente comprometedor e ignorando que o financiamento da sua tese é exatamente isso no mundo real e em grau superlativo.
Mais esquisito ainda é que, vendo no salário que recebo do Diário do Comércio uma prova da conspiração fascista financiada pela burguesia, ele nem se dá conta de que, admitida essa hipótese, o comando da conspiração não teria como estar nas minhas frágeis mãos de agente contratado, e sim nas do meu poderoso contratador.
De fato, não tem sentido ele me qualificar como um “litor” – segundo a sua definição, aquele que representa o poder sem exercê-lo – e ao mesmo tempo fazer de mim, e não daqueles que supostamente me comandam, o centro da trama conspiratória.
Talvez haja nisso um secreto desejo de evitar briga de cachorro grande, trocando o comandante pelo comandado e batendo neste para acertar naquele sem que se possa dizer que o faz. Porém há mais provavelmente a confusão patética do semi-analfabeto que, mal conseguindo manejar o idioma pátrio, se mela todo ao tentar fazer bonito com um termo latino.
Qualquer que seja o caso, o fenômeno Patschiki já estava prefigurado na contradição interna da própria doutrina marxista, como expliquei anos atrás: “A teoria marxista da ideologia de classe não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe.
Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária.”
Tudo o que o sr. Patschiki escreve sobre o Mídia Sem Máscara é, de fato, projeção inversa: como a esquerda é um movimento político unitário, riquíssimo e bem organizado, ele tem de imaginar que qualquer bloguinho anticomunista é exatamente a mesma coisa.
Como trabalho científico, sua tese não vale nada, mas vale muito como informe de espião, desses que os comunistas sempre fazem para ter pronta a lista de inimigos a ser assassinados no momento propício.