Por José Nivaldo Cordeiro
17 de Maio de 2002
Ontem eu estava a ouvir o noticiário no rádio, quando me dirigia ao trabalho, ocasião em que ouvi uma entrevista do secretário de Planejamento de São Paulo, Jorge Wilheim, defendendo o novo Plano Diretor da cidade, que está tramitando na Câmara Municipal. O secretário defendia a nova lei, quando fez uma declaração que me deu o que pensar: “planejar é prever e prover”, decretou.Fiquei chocado. Essa frase resume todo o equívoco que os transformadores sociais têm como proposta política. Levada ao pé da letra, seria possível imaginar que, através do mero ato de planejar, poderia se eliminar a miséria do mundo, abolir a escassez.
Pena que não seja simples assim, como querem o secretário e seus pares ideológicos. Ainda me soa aos ouvido o tom professoral com que a ilustre autoridade fez a sua prédica radiofônica, saboreando cada sílaba que pronunciava. Doutoral. Tudo isso para justificar o injustificável, que é a criação de mais impostos sobre os munícipes paulistanos, agora por ocasião da construção civil. Para prover, os políticos de esquerda não têm o menor constrangimento de assaltarem mais e mais o bolso do contribuinte.
Toda a gente sabe que em São Paulo há déficit de oferta de moradias e não será encarecendo a tributação, através de impostos, que o problema será minorado. Muito ao contrário. Tudo pelo popular vira tudo contra o popular. É um Deus nos acuda. É uma conspiração contra o bem-estar da população da cidade
Entendo que nosso secretário, além de errar no instrumento que impede a solução de um problema estrutural, ainda caiu em um equívoco maior. Planejar definitivamente não é prever e prover, mas sim, avaliar devidamente os meios disponíveis para se alcançar um fim almejado. O ato de planejar, em si, é estéril: planejamento não gera nada. Então é absolutamente sofístico vincular o ato de prever com o de prover, se não for considerado, em simultâneo, a escassez de recursos, a limitação de meios para a obtenção dos fins.
Na ânsia de justificar o injustificável – a elevação de impostos – o secretário apenas deu mostra de desprezo pela inteligência dos paulistanos. Sua “aula” foi digna do quadro humorístico da Ofélia, a caricatura do ignorante metido a sabido.