Quem trabalha para quem

Ombro a Ombro, julho de 1999

Você leu “O enigma que é solução”? Então conheça aqui um dos dados do problema.

De hoje em diante, quando você ouvir um sujeito defender “causas populares”, verifique primeiro se ele recebe dinheiro das fundações Ford, Rockefeller ou Carnegie.

E quando ouvir um esquerdista fazer um discurso inflamado contra o neoliberalismo, lembre-se de três coisas: 1ª Neoliberalismo não tem nada a ver com liberalismo. Liberalismo é liberdade para a iniciativa econômica popular; neoliberalismo é economia global dirigida — o socialismo dos ricos. 2ª O neoliberalismo é um projeto abrangente, que inclui (e compatibiliza com os interesses da estratégia global) todos os programas atualmente defendidos pela esquerda no Brasil (aborto, controle de armas, casamentos gays, quotas raciais etc. etc.). 3ª A palavra “neoliberalismo”, na nossa imprensa, não significa nada disso, mas é sinônimo de FHC. Ao falar contra o neoliberalismo, a esquerda está apenas disputando com FHC o cargo de executor local dos planos neoliberais. Ela jamais baterá de frente nos interesses estrangeiros que a sustentam. Não se trata portanto de uma luta contra o dono, mas apenas contra o gerente. Derrubado FHC, mudará o estilo da subserviência: passaremos do esculacho risonho à anarquia sangrenta. Os donos do mundo já anunciaram: para eles, dá na mesma.

A farsa da revolução

Olavo de Carvalho


Jornal da Tarde, 7 de julho de 1999

Alguém ainda tem dúvida de que se prepara uma revolução neste país? Não vou perder meu tempo tentando provar o óbvio. Salto direto para o item seguinte: revolução de quem contra quem?

As duas facções do conflito brasileiro já estão, segundo os revolucionários do momento, perfeitamente definidas. De um lado, a “direita”: o governo, aliado aos poderes globalistas, empenhado em impor ao País um modelo neoliberal fundado na entrega do nosso patrimônio à rapinagem internacional. De outro, a “esquerda”, nacionalista e progressista, empenhada na defesa do que é nosso, disposta a enfrentar o mundo, se preciso for, para inverter os termos de uma injusta barganha que oprime o povo para favorecer banqueiros.

Dito isso, qualquer cidadão cujo senso moral não esteja obnubilado por interesses egoístas optará resolutamente pela última alternativa.

Mas, aí, surge um problema. E se a equação revolucionária, tão nítida e cortante na sua fórmula verbal, não corresponder realmente à divisão das forças em disputa? E se, por baixo das facções aparentes, outros agentes mais poderosos estiverem se mexendo para dar ao espetáculo um desenlace diferente do previsto por ambos os lados em disputa? O menor deslocamento entre discurso e realidade, nessas horas, tornará a revolução um desperdício macabro de sangue, tempo e dinheiro.

Convido portanto o leitor a contemplar o abismo entre as palavras e os fatos.

De um lado, o governo. É verdade que, na esfera econômica, ele favorece o capitalismo internacional. Mas isto quer dizer que seja direitista? Como pode ser direitista um governo que, mais que qualquer de seus antecessores, se empenha em transformar a educação nacional num sistema oficial de doutrinação marxista? Como pode ser direitista um governo que favorece e incentiva todas as reivindicações mais ousadas do neo-esquerdismo mundial – o aborto, o feminismo, a affirmative action ?

De outro lado, a esquerda. É verdade que ela se opõe valentemente à venda de algumas estatais – notadamente aquelas que hoje estão sob o domínio de seus militantes. Mas como podem ser nacionalistas as organizações patrocinadas pelo dr. David Rockefeller? Como podem ser nacionalistas os homens que governam o Rio de Janeiro, cuja primeira preocupação foi a de cumprir à risca o programa de desarmamento das populações diretamente concebido pela central da Nova Ordem Mundial? Como podem ser nacionalistas os homens do MST, financiados e paparicados pela Coroa Britânica? Como pode ser nacionalista o movimento da affirmative action , modelo estrangeiro financiado pela Fundação Ford, pela Comunidade Econômica Européia e pelo BankBoston, e que, para cúmulo de antinacionalismo, nega a unidade nacional para afirmar, acima dela, a unidade racial, numa política de franco-divisionismo que só pode favorecer as ambições internacionais? Como pode ser nacionalista a esquerda ecológica e indigenista, que favorece a ocupação do nosso território por ONGs inglesas?

Lamento informar, mas essa história de revolução está mal contada. Não existe nenhuma esquerda nacionalista em luta contra uma direita internacionalista. Existem, sim, internacionalistas por toda parte, uns tentando sufocar o nacionalismo brasileiro sob pretextos liberais, outros tentando corrompê-lo, reciclá-lo e induzi-lo a servir, com plena inconsciência, à Nova Ordem Mundial. Os primeiros dizem-se liberais, mas tudo fazem para sufocar sob uma burocracia de chumbo toda iniciativa econômica popular. Os segundos dizem-se nacionalistas, mas seus programas e pretextos vêm prontos da mesma central que dita os discursos dos primeiros. Liberalismo e nacionalismo são belos ideais, expressos por belas palavras. Mas são apenas isso e não têm nada a ver com o que está acontecendo aqui. O Brasil é uma ilha de ingenuidade cercada de espertalhões por todos os lados.

A nossa pretensa revolução só terá um vencedor, e não seremos nós. Sufocada ou esvaziada a revolução, o establishment fernandino continuará loteando o Estado; vencedora, receberá a conta de toda a ajuda internacional que a tornou possível, e não haverá concessão, não haverá prosternação, não haverá subserviência que chegue para aplacar a sede de reconhecimento dos nossos benfeitores globalistas, de Rockefeller ao príncipe Charles. Os poucos nacionalistas que sobrarem terão saudades de FHC.

Nossa revolução, enfim, é uma farsa – e o bufão da cena somos nós.

Aviso ao sr. Brum

Olavo de Carvalho

5 de julho de 1999

Chega-me a notícia de que um tal sr. Brum (não darei o nome todo, mas está anotado na minha agenda) procurou os profs. Francisco Antonio Dória e Muniz Sodré, oferecendo-lhes uma mercadoria insólita: histórias escabrosas a respeito de Olavo de Carvalho.

Consta que os dois acadêmicos reagiram de maneira correta e nobre, dizendo, na cara do proponente, que não estavam interessados no negócio.

Para que o sr. Brum não desperdice mais tempo e esforço em vão, sugiro que envie sua proposta diretamente a esta homepage, que lhe fornecerá um cadastro de possíveis clientes, os quais talvez até se disponham a lhe pagar, em troca das escabrosidades prometidas, a quantia equivalente a 1 (hum) cafezinho.

O sr. Brum não me levará a mal se eu aproveitar essa ocasião para tratar dos meus próprios interesses comerciais, oferecendo-lhe, a preço módico, mais algumas informações horripilantes a respeito de mim mesmo, as quais, sendo de primeira mão, certamente obterão altos lucros de revenda no mercado da babaquice universal.