Repercussões na poesia

Poesias de Bruno Tolentino, José Enrique Barreiro, Ângelo Monteiro, Sérgio Valladares e Silvério Duque inspiradas em ensinamentos de Olavo de Carvalho.

Por enquanto só estão disponíveis os poemas de José Enrique Barreiro, de Sérgio Valladares e de Silvério Duque.

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O ESQUECIMENTO DO ETERNO
(JOSÉ ENRIQUE BARREIRO)

“De um lado o espírito da sociedade política, do outro o culto das forças materiais do cosmos. A aliança de religião estatal e religião do cosmos opõe-se à aliança de Deus com o homem.”

OLAVO DE CARVALHO

Se em vez da última legião da história
houvesse luz e fogo incandescente,
o lamentável grito de vitória
do ordinário sobre o transcendente

não vibraria na pele, na memória,
no coração do ser inteligente.
A matemática e toda a sua glória
retórica perfeita, mas tangente,

parceira da história nesse plano,
fechou o cerco à vertical poesia,
e o horizonte é tudo o que sabemos.

A aliança do cosmos soberano
com a música das horas formaria
o equívoco sem graça em que vivemos.
O pássaro da vida, aquele traço
que vai da alma humana ao firmamento,
grudado aqui, no chão do tempo-espaço,
acorrentado à carne e ao pensamento,

não pode ser amor, nem mesmo abraço
e nem palavra-sol, ensinamento.
Canção sem voz, poema sem compasso,
imensidão de luz no esquecimento,

assim caminha, só, a humanidade,
acreditando ser a natureza
e o acontecer horizontal das eras

o território inteiro da verdade,
a fonte incomparável da beleza
e o coração de todas as quimeras.
A metafísica e os seus escuros,
o coração de Deus e seu abismo
diante de um exército seguro
da exatidão da lei e do algarismo:

quem vencerá então o tal enduro?
A terra, o céu e seu paralelismo?
Ou o poder pagão de um cosmos puro
em que o Estado é todo o catecismo?

De um lado, a matéria, densa e forte,
de outro a fé, a suprema insensatez.
Na dobra decisiva dessa esquina

uma resposta sela a nossa sorte:
seremos bárbaros todos de uma vez
ou é maior que tudo a luz divina?
Só uma solução cessa o conflito:
o encontro entre o símbolo profundo
do sonho que atravessa o infinito
com as terras do planalto deste mundo.

No coração da cruz estão unidos
o sal e o mel, o rei e o vagabundo,
o âmago de todos os sentidos,
o Deus mais alto e, em mim, o eu mais fundo.

Se o espírito do amor inteligente
cruzar ali os braços do terreno,
o homem poderá colher o fruto

de tudo aquilo que já é semente —
trocar enfim o módico veneno
pelo eterno sol do absoluto.

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VISÃO
(SÉRGIO VALLADARES)

Ao Professor Olavo de Carvalho
Para o que se perdera fugidio
num instante de luz no céu escuro,
para quem naufragara em mar vazio,
imanente e distante, em torno ao muro,

um sombra tecera um longo fio.
Neste seco deserto, no chão duro,
em sonho germinara o grão macio.
Nome santo a Doçura, nome puro,

num canto recolhido em mim descansa.
Teu olhar investiga o mundo, intenso.
Cada passo executa a mesma dança.

Das cercanias que o teu ser alcança
tu julgas ver além do sítio imenso,
para onde lentamente o céu avança.

***

O HOMEM PÁSSARO
(SÉRGIO VALLADARES)

(soneto em louvor ao Filósofo Mário Ferreira dos Santos)

Ao Professor Olavo de Carvalho.
O número sagrado desta casa,
a que dentre as ruínas se refez,
tu o tens permanente, sem talvez,
em cada coisa agora funda e rasa.

Projetam-te num vôo duas asas…
Um fogo se levanta da nudez
deste homem-pássaro, que tudo fez
incendiar, que tudo fez em brasas!

Num vasto céu de sombras e de luzes,
eis que uma estrela surge deste anelo.
Em teu corpo morada, em teu castelo,

às cinzas da hora morta a que reduzes,
no limiar da forma, a flor e a pedra,
o número-raiz perdura – e medra.

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… À MULHER DE LOT
(SILVÉRIO DUQUE)

UMA CANTILENA PARA SOPRANO E HARPA
SOBRE UM POEMA DE BRUNO TOLENTINO

ao filósofo Olavo de Carvalho, com admiração e atrevimento…

Tudo é memória… e esse breve instante
entre o delírio e o sonho, cada imagem
morta, resume a vida e a sua aragem
de ventos ásperos e extasiantes,

labirinto que sempre atravessamos
quanto mais nos perdemos, não importa
onde termine, há sempre uma outra porta
em que, saudosos, para trás olhamos

e trazemos as nossas próprias sombras,
como um marulho num revoar de pombas,
ou um mistério maior à nossa frente,

porque há um fantasma em nós adormecido
e, entre tantos abismos revividos,
só a visão de Deus é suficiente

I Congresso do Instituto Brasileiro de Humanidades

Vassouras, RJ, 16-18 de junho de 2000

Primeira comunicação

Ao longo de vinte e cinco anos de atividade pedagógica, Olavo de Carvalho deu cursos sobre temas diversos, em muitas cidades do Brasil e algumas do Exterior. Só muito raramente os cursos eram repetidos. Assim, os ensinamentos transmitidos pelo filósofo permaneceram dispersos entre grupos que não tinham qualquer comunicação entre si.

Para dar aos alunos e ex-alunos de Olavo de Carvalho a oportunidade de um intercâmbio de informações e de documentos sobre o que aprenderam nesses cursos, será realizado em 16, 17 e 18 de junho do corrente, no Hotel Mara (Vassouras, Estado do Rio de Janeiro), o I Congresso do Instituto Brasileiro de Humanidades.

Assim, pela primeira o público terá acesso a uma certa visão de conjunto do pensamento filosófico de Olavo de Carvalho. Essa visão é necessariamente experimental e provisória, principalmente por ter como objeto uma filosofia vivente, em constante estado de elaboração.

Não sendo possível abranger todos os temas lecionados, o próprio Olavo de Carvalho fez uma seleção dos oito principais, designando como expositores oito alunos que tiveram a oportunidade de estudá-los mais detidamente. As apostilas principais sobre cada tema serão postas à disposição de todos os presentes. Outros alunos que tenham assistido a aulas ou conferências ou que possuam manuscritos e apostilas de Olavo de Carvalho sobre esses temas estão convidados a complementar as exposições com as informações de que disponham.

O objetivo desde I Congresso é principalmente didático e informativo. Ele não pretende ainda aprofundar a discussão dos temas, mas colocar à disposição dos participantes o materialinformativo que possa servir de base a discussões nos Congressos vindouros do IBH e nos cursos em geral.

Embora o Congresso seja dirigido principalmente a alunos e ex-alunos de Olavo de Carvalho, as incrições serão abertas também para o público interessado em geral, dentro dos limites da capacidade de acomodação do local escolhido.

Os temas serão os seguintes:

  1. Filosofia da Educação. (1) Filosofia como unidade do conhecimento na unidade da consciência e vice-versa. (2) Inteligência e verdade. (3) Os graus de certeza
  2. Gnoseologia. (1) Ser e conhecer. (2) O princípio do conhecimento por presença. (3) O círculo de latência. (4) A tripla intuição fundamental.
  3. Psicologia. (1) A definição de psique. (2) As camadas da personalidade. (3) Astrocaracterologia. (4) O trauma de emergência da razão.
  4. Teoria do discurso 1. Os quatro discursos de Aristóteles.
  5. Teoria do discurso 2. Os gêneros literários.
  6. Ética. (1) Princípios eternos e normas transientes. (2) O princípio de autoria.
  7. Filosofia política. (1) Ser e Poder. (2) Teoria reformada das castas.
  8. Filosofia da História. (1) Quem é o sujeito da História? (2) A noção de “Império” em O Jardim das Aflições.

O início dos trabalhos será na sexta-feira às 17 horas e o término no domingo ás 16h30 Na próxima comunicação serão especificado o cronograma e os expositores.

Inscrição e forma de pagamento

Data
Inscrição
Apartamento duplo
Apartamento single
até 2 de maio
 R$ 60,00  R$ 140,00  R$ 210,00
entre 2 de maio e 2 de junho
 R$ 60,00  R$ 154,00  R$ 231,00

transporte Rio – Vassouras: R$ 50,00 (opcional)

Pagamentos até 2 de maio: O preço da inscrição é R$ 200,00 (incluindo hospedagem) O participante deverá efetuar o pagamento de R$ 100,00 (50%) até o dia 2 de maio e os 50% restantes até o dia 2 de junho. É indispensável o cumprimento dessas datas para garantir reservas e tarifas. Para apartamento single há um adicional de R$ 70,00.

Pagamentos após 2 de maio: Os preços de hospedagem sofrem um aumento de 10%. Com inscrição incluída, os valores finais para apartamento duplo e single ficam sendo, respectivamente, R$ 214,00 e R$ 291,00. O prazo para inscrição termina no dia 2 de junho.

A empresa IETUR, agenciadora do evento, oferece um serviço opcional de transporte Rio-Vassouras (ida e volta) em ônibus, classe turismo, a um preço de R$50,00. Para este serviço é necessário um número de 15 pessoas e a confirmação até 22 de maio. Local e horário do embarque serão confirmados em breve.

Os depósitos deverão ser efetuados em nome de Paulo Vieira da Costa Lopes, na conta 108912-9, agência 3110-0 do Banco do Brasil. Deverá ser enviado um fax do comprovante do depósito para o telefax 021-xx-295 1699.

Coordenação

Paulo Vieira da Costa Lopes e Nanci Galvão (Rio de Janeiro)

Edson Manoel de Oliveira Filho (São Paulo)

Informações

Secretaria do Congresso: Av. N. S. de Copacabana, 195 Sala 414 – Rio de Janeiro (D. Edna), das 14h00 às 20h00 de 2a a 6afeira – Telfax. 021 295-1699 e 275-6439).

Contato em São Paulo: Edson Manoel de Oliveira Filho: Fone 011 572-5363.

Conta bancaria para depósitos: Banco do Brasil, Ag. 3110-0, Conta no 108912-9, em nome de Paulo Vieira da Costa Lopes.

Internet: As informações sobre o Congresso serão periodicamente atualizadas, se necessário, através da homepagede Olavo de Carvalho: http://www.olavodecarvalho.org

Informações por correio eletrônicopaulocl@antares.com.br ou edsonfilho@cy.com.br

Longe de Berlim, fora do mundo

Olavo de Carvalho

Época, 10 de junho de 2000

No debate sobre a globalização, o Brasil fica cada vez mais diferente do planeta Terra

“Sem grande debate ideológico, o interesse da reunião é bastante reduzido”, escreve Arnaud Leparmentier no Le Monde de 3 de junho a propósito do encontro dos chefes de Estado de esquerda e centro-esquerda em Berlim. Mas, para os brasileiros, o que deveria tornar esse acontecimento instrutivo é precisamente a ausência de debate, pois no Brasil ninguém ainda se deu conta de que o processo de globalização é hoje liderado por um consenso de esquerda. Em Berlim, a apologia do Estado empreendedor e as advertências solenes quanto aos “limites do neoliberalismo”, que pareciam ecoar ipsis litteris as falas das Marilenas Chauis ou Marias das Conceições que aqui abundam nos palanques jornalísticos e acadêmicos, foram recitadas por ninguém menos que os chefes de quase todas as nações que mandam no mundo. Pior ainda: isso não suscitou, ali, a menor discussão. Estão todos de acordo.

Em contraste acachapante com esse fato, tão óbvio para a imprensa mundial que esta não o noticiou senão para ressaltar sua falta de novidade, os termos “globalização” e “Nova Ordem Mundial”, quando aparecem no discurso de nossa intelligentsia, vêm sempre e sistematicamente associados a “neoliberalismo”, com a presunção de que se trata de mais um empreendimento da malvada “direita”, dos abomináveis “interesses privados”. Há, portanto, duas Novas Ordens Mundiais: uma no planeta Terra, outra na cabeça de nossas classes falantes, fiéis a seu voto de abstinência em matéria de contato com a realidade.

Graças a essa formidável alienação dos intelectuais, nossa opinião pública, levada a enxergar o panorama de hoje segundo as categorias da velha birra nacionalista contra os Estados Unidos, imagina que pode se opor eficazmente ao novo imperialismo global mediante ataques à nação americana, sem nem de longe perceber que dentro desta se desenrola uma briga de foice entre os interesses nacionais ianques e a Nova Ordem Mundial personificada pelo senhor Bill Clinton.

Em decorrência da mesma causa, o conflito político brasileiro vai se polarizando cada vez mais num sentido contrário ao da política mundial: enquanto nesta se perfilam claramente as duas alas, direita e esquerda (liberal e social-democrata) da Nova Ordem Mundial, ambas moderadas e ambas hostis aos excessos truculentos de um lado e de outro, no Brasil a direita simplesmente desapareceu de cena, sendo substituída por uma postiça “direita da esquerda” (leia meu artigo de 29 de maio), não restando, na programação de nosso canal, senão a luta da esquerda com a esquerda mesmo, seja nas pessoas de dona Marta e dona Erundina, seja nas dos senhores Lula e Ciro Gomes.

Ora, a disputa entre uma direita e uma esquerda moderadas é a essência mesma da dinâmica democrática. Já a briga de social-democratas e comunistas é coisa feia. Onde quer que ela tenha monopolizado a cena, correu sangue. Na Rússia, os comunistas esmagaram os social-democratas e seguiu-se a ditadura leninista. Na Alemanha, foi o inverso, e a vaga deixada pelos comunistas foi preenchida pela ascensão do populismo nazista.

O problema de ficar longe do mundo é que a gente vai chegando cada vez mais perto do inferno.