Dissolvendo os EUA

Olavo de Carvalho


Diário do Comércio (editorial), 23 de junho de 2006

Entre os conservadores americanos, o escândalo do mês é o relatório do Council on Foreign Relations (CFR) que propõe – nada mais, nada menos – a abolição das fronteiras entre os EUA, o México e o Canadá. O plano seria implantado com rapidez fulminante. Por volta de 2010 a nação de Washington e Jefferson simplesmente teria deixado de existir, sendo substituída por uma “Comunidade Norte-Americana” multilíngue e sem identidade cultural.

O documento é de dois anos atrás: a novidade chocante é que o presidente Bush, discretamente, assinou em 2005 um acordo com os governos dos dois países vizinhos para implementá-lo. Ninguém até agora tinha prestado atenção nisso. E ninguém poderia imaginar que o governante eleito por uma maioria de conservadores e nacionalistas tivesse se deixado envolver tão profundamente numa trama globalista anti-americana.

A proposta é nitidamente inspirada na idéia do velho Morgenthau, de chegar ao governo mundial por meio de sucessivas integrações regionais, e se harmoniza às mil maravilhas com a constituição simultânea de uma União das Repúblicas Socialistas Latino-Americanas, inevitavelmente mais dependente de ajuda internacional do que nenhum país capitalista jamais foi.

Só mesmo nesse templos da ignorância que são a universidade brasileira, a Folha de S. Paulo e a Escola Superior de Guerra pode haver ainda quem acredite que globalismo é “imperialismo americano”. O relatório pode ser lido, na íntegra, no site cfr.org.

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Primeira Leitura fechou por falta de anunciantes, enquanto o governo alimentava com verbas oficiais uma revista de propaganda lulista. Tal é o estado de coisas na mídia nacional.

Trinta anos atrás, a distinção entre o jornalismo profissional e o subjornalismo de partido era um ponto de honra para os membros da classe. Cláudio Abramo, mais comunista que Che Guevara, jamais tentou transformar a Folha de S. Paulo num órgão de propaganda esquerdista. Roberto Marinho, um dos mentores do regime de 1964, protegia os comunas do Globo, porque sabia que colocavam a ética da profissão acima do partidarismo.

Hoje em dia um sujeito trabalha para o governo cubano, faz pregação comunista em panfletos eletrônicos com foice e martelo no logotipo, e não só é reconhecido como jornalista profissional mas também ganha um cargo na diretoria da ABI. Depois, chamado de “agente de influência”, que é precisamente o que ele é, se finge de ofendido e processa o jornal que disse a verdade. Não sou de fazer alusões sem dar nome aos burros. Que tal “Mário Augusto Jacobskind“?

Já tive meus arranca-rabos com Janer Cristaldo, mas subscrevo integralmente o que ele disse no seu último artigo: “Jornalista que vende sua capacitação para ideologias ou partidos não passa de um venal. Uma vez que optou pela prostituição, deveria ser sumariamente excluído, e para sempre, das redações de jornal.”

Na realidade do Brasil atual, excluídos são os outros. O próprio Janer, por exemplo.

Cinismo pedagógico

Olavo de Carvalho

Jornal do Brasil, 22 de junho de 2006

O PT está adestrando os brasileiros para que aceitem dele, com docilidade canina, doses faraônicas de tudo aquilo que mesmo em quantidades mínimas os indignava e enfurecia nos governos anteriores.

O cinismo com que os acusados sorriem das denúncias – Mensalão, assassinatos, terrorismo biológico, parceria com narcotraficantes, invasão do Congresso, o diabo – não nasce da cara-de-pau natural. É uma técnica pedagógica, bem conhecida desde Lênin, calculada para quebrar a resistência mental do povo por meio de choques sucessivos, até habituá-lo a uma ética invertida, na qual o crime e a trapaça, desde que praticados por agência ideologicamente aprovada, se tornem fontes de autoridade moral.

Se aplicado uma vez ou duas, o ardil provocaria ódio em vez de submissão. É preciso repeti-lo, em doses crescentes, até que o desespero da razão comece a enxergar na resignação ao absurdo a única esperança de alívio.

Também é preciso que os golpes não atinjam um ponto só, mas, variando a direção do ataque, dêem uma impressão de onipresença sufocante, repentina e devastadora como uma nuvem de gafanhotos. Todos os setores da vida devem ser acossados por um bombardeio simultâneo de novas regras, cada uma delas insensata e ridícula em si mesma, mas terríveis e assustadoras no conjunto e na prepotência súbita com que se impõem. Do dia para a noite, tudo se inverte. Possuir uma fazenda é crime; invadi-la e queimá-la é um direito e um dever. O sistema representativo é opressão; a violência é democracia. Revoltar-se contra os abusos do governo é perseguição macartista; calar a oposição é liberdade. Assassinos e ladrões são vítimas; suas vítimas são criminosas.

Depois de alguns anos desse tratamento, toda resistência começa a ceder. A malícia da operação é tão imensa, a crueldade psicológica que a inspira é tão obviamente diabólica, que até almas bem estruturadas se recusam a acreditar em tamanha perversidade. Então, como crianças aterrorizadas, inventam uma outra realidade, mais amena, e juram para si próprias que estão vivendo dentro dela. E é aí mesmo que se tornam inofensivas e dóceis como planejado.       

           

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Se vocês querem saber quem é Evo Morales, dêem uma olhada no site http://www.univision.com/content/content.jhtml?cid=781409. Espremido pelo jornalista Jorge Ramos com perguntas sobre Cuba, narcotráfico e direitos humanos, o invasor da Petrobrás se atrapalha todo e faz um strip-tease moral entre cômico e obsceno. É a imagem viva da ignomínia comunista diante da qual o nosso presidente se baba de admiração.           

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Não conheço fanáticos mais irracionais do que os adeptos de teorias científicas. Quando discuto com um entusiasta de Newton, de Darwin, de Georg Cantor, de Richard Dawkins, saio até com a impressão de que os comunistas são pessoas razoáveis, dispostas ao diálogo. Nada se compara à fúria sagrada com que, desafiados em suas crenças, os profissionais da razão se dispensam de usá-la e partem para o arremedo provinciano do argumentum auctoritatis.

Em resposta ao meu artigo anterior, meia dúzia de Ph.-Ds. me escreveram, indignados, alegando que se a teoria de Newton fosse absurda não teria sido possível extrair dela tantas aplicações técnicas, incluindo as viagens espaciais. Um título de doutor deve estar custando muito barato, a julgar pelo número de pessoas que logram obtê-lo sem haver sequer aprendido que aplicações técnicas, mesmo espetaculares, não têm jamais o poder de provar teoria alguma. Se é para dar o exemplo das viagens, basta lembrar que todos os cálculos de navegação aérea e marítima ainda são feitos segundo a astronomia de Ptolomeu. Se a eficácia dessa aplicação provasse alguma coisa, Copérnico estaria frito. Toda e qualquer técnica se baseia num recorte postiço da realidade, sem o qual a ação humana teria de estender-se ao infinito. A técnica nada prova exceto a sua própria possibilidade, e mesmo assim dentro de um conjunto de condições rigidamente limitadas.

Apelo urgente de Olavo de Carvalho a seus leitores brasileiros

Olavo de Carvalho

Prezados amigos,

Desde que cheguei aos EUA, em maio de 2005, assumi como dever pessoal, fora e independentemente do meu trabalho de correspondente jornalístico e da preparação do livro A Mente Revolucionária, informar ao maior número possível de jornalistas, intelectuais, empresários e políticos americanos a verdade sobre o estado de coisas no Brasil, a abrangência dos planos do Foro de São Paulo, a aliança entre partidos de esquerda e organizações criminosas, a colaboração ativa e essencial do governo Lula na revolução continental cujas personificações mais vistosas são Hugo Chávez e Evo Morales.

Continuo firme nesse empenho até hoje. Ele consome, de fato, a maior parte do meu tempo.

O objetivo imediato é conscientizar a elite americana da loucura que faz ao dar suporte político, jornalístico e financeiro a organizações latino-americanas de esquerda que, por baixo de uma persuasiva máscara democrática e legalista, conspiram com o Foro de São Paulo para a disseminação do caos revolucionário no continente.

A intenção última, talvez irrealizável mas nem por isto menos obrigatória moralmente e digna do esforço, é atenuar ao máximo o fluxo de uma ajuda bilionária sem a qual a revolução comunista na América Latina morreria de inanição.

Bem sei que, entre os componentes da referida elite, muitos ajudam o comunismo latino-americano de maneira consciente e deliberada, movidos pela convicção pessoal, pela vaidade, pela estupidez pura e simples ou, o pior de tudo, pelas vantagens que assim pretendem obter para a consecução de seus próprios planos estratégicos, de envergadura incomparavelmente mais vasta que os do Foro de São Paulo.

Com essa parcela da elite não adianta nem conversar, é claro. Mas há centenas de organizações conservadoras, leigas, cristãs e judaicas, que ludibriadas por falsa informação acabam permitindo que o potencial da sua boa-fé e os dons da sua generosidade sejam desviados para finalidades que atentam contra seus próprios valores e princípios. Há também órgãos do próprio governo americano, que, induzidos a trabalhar nesse sentido por administrações federais anteriores pró-esquerdistas, continuam, pela força da rotina burocrática, a apoiar aquilo que deveriam combater.

Essa situação anormal e doentia resulta de um trabalho de muitas décadas feito aqui pelo lobby esquerdista internacional, cujos agentes lograram se infiltrar por toda parte, dominando ostensivamente os órgãos culturais do governo e a grande mídia das capitais, e camufladamente atuando até mesmo dentro de organizações conservadoras.

A política oficial do governo de Washington, de dar apoio à “esquerda moderada” na esperança de que sirva de barreira às ambições da “esquerda radical”, é fundada inteiramente em desinformação proposital espalhada há décadas por entidades poderosas como o CFR e as fundações Rockefeller, Ford e Soros. Nos últimos anos, uma crescente onda de revolta contra essas entidades espalhou-se entre a maioria conservadora. Informações longamente ocultadas sobre seus planos e atividades começam a jorrar na mídia conservadora e a ser discutidas abertamente nos think tanks. O momento é propício para mostrar que, entre as inumeráveis mentiras com que essas macro-organizações manipularam a opinião pública americana, havia algumas sobre o nosso país e os nossos políticos. Só para vocês fazerem uma idéia de até onde vai o cinismo dessa gente, o CFR nomeou, para chefe da sua Força-Tarefa encarregada de influenciar a política de Washington para com o Brasil, nada menos do que o sr. Kenneth Maxwell, aquele mesmo que, usando da sua suposta autoridade de “especialista”, tentou persuadir o Brasil de que o Foro de São Paulo nem sequer existe.

Há no Brasil pessoas ambiciosas e iludidas que acreditam poder influenciar o governo americano por meio de contatos diretos com o Departamento de Estado e a presidência da República. Tolice. Primeiro: os EUA não são o Brasil, onde o Executivo pode mudar o curso das coisas a seu belprazer. Aqui, tudo depende de longas discussões, da conquista dos corações e mentes da elite formadora da opinião pública, do exercício, em suma, da democracia. No Brasil, já nem sabem o que é isso. Imaginam que Bush é um Lula de direita. Segundo: tanto Bush quanto Condoleezza Rice podem ser conservadores o quanto queiram na intimidade das suas almas, e não tenho motivo para duvidar da sinceridade de um nem da outra; mas o fato é que são ambos membros do CFR e têm suficiente amor às suas carreiras para não cuspir muito ostensivamente no prato em que comeram. Eles só mudarão a orientação da política de Washington para com a América Latina se sentirem que têm respaldo para isso nos órgãos formadores da opinião republicana. Convencê-los pessoalmente é desnecessário e inútil. Provavelmente já estão até convencidos. O importante é convencer suas fontes de apoio. Ninguém vai conseguir nada com cochichos de gabinete. Isto aqui não é uma republiqueta, onde tudo se obtém pela amizade do chefão. Democracias simplesmente não funcionam assim. O que tem de ser feito é público e aberto.

Contra o trabalho consolidado de centenas de ONGs esquerdistas que aqui operaram durante décadas até obter o controle quase total do fluxo de informações sobre o Brasil na grande mídia, vejo que estou praticamente sozinho. Sozinho e sem recursos. Minha sorte é que (1) nos think tanks conservadores existe agora uma fome de informações autênticas sobre a revolução latino-americana; (2) a grande mídia não é tão grande assim: os conservadores dominam os talk-shows de rádio, que alcançam uma faixa de público bem maior que a dos jornais da esquerda chique; (3) como não estou ligado a interesse partidário nenhum, represento somente a mim mesmo e digo apenas aquilo em que pessoalmente acredito, há nesses meios um número enorme de pessoas que acreditam em mim. Nada tem mais autoridade ante uma platéia americana do que a independência individual (justamente aquilo que no Brasil torna o cidadão um virtual suspeito). Desde que cheguei, fiz várias conferências em think tanks, escolas e congressos, despertando o interesse e a franca aprovação de platéias altamente preparadas, nas quais se incluiam pop stars da mídia conservadora, cientistas políticos de excelente prestígio acadêmico e até subsecretários de Estado.

O momento, repito, é propício. O véu da mentira latino-americana está para ser rasgado, e CFR nenhum poderá impedir que isso aconteça.

Aqui aprendi o que é democracia. A democracia não dá liberdade a ninguém. Apenas dá a cada um a chance de lutar pela liberdade. A gente percebe isso, materialmente, na coragem e disposição de combate com que tantos americanos, hoje, se erguem contra o establishment esquerdista chique e não raro conseguem vencê-lo usando os meios postos à sua disposição pelo Estado de direito. Esses meios estão também ao alcance de quem deseje restabelecer a verdade sobre o Brasil.

Não quero me gabar dos resultados obtidos, mas sei que, na mídia conservadora e nos think tanks republicanos, já quase ninguém mais acredita na mentira idiota de que Lula é um antídoto à subversão chavista. Estou consciente de ter contribuído ativamente para sepultá-la. Mais dia, menos dia, notícias do falecimento chegarão ao governo americano, se é que já não chegaram.

Para isso, usei de todos os recursos com que contava: conferências, artigos, cartas, telefonemas, distribuição de provas e documentos, inumeráveis conversações pessoais. De vez em quando coloco no meu site algumas amostras do que tenho feito.

O problema é que tudo isso custa trabalho, tempo e dinheiro. Normalmente, um esforço dessa envergadura deveria ser obra de equipe. Seria preciso ter aqui uma ONG independente, sem ligação com partidos ou “redes”, com um time de conferencistas, redatores, tradutores, relações públicas e fund-raisers, habilitada a fazer o que todas as ONGs fazem: conferências de imprensa, debates, newsletters, mala-direta, um website atualizado diariamente e publicação de livros.

Não dispondo de nada disso, faço tudo eu mesmo. Não tenho nenhuma ONG pelas costas, nenhum patrocinador, nenhum suporte político ou empresarial. Meu visto de jornalista também não permite que eu trabalhe em empresas locais. Tudo o que escrevo e leciono por aqui, é de graça. A totalidade dos meus meios de sustento consiste no salário que me vem do Brasil e na ajuda de dois ou três amigos, sempre os mesmos.

Não estou me queixando. Estou felicíssimo de poder fazer o que faço. Mas faria muito mais, e com resultados incomparavelmente mais velozes, se tivesse algum respaldo financeiro para isso.

O salário que recebo pelo meu trabalho jornalístico é suficiente para dar à minha família uma vida modestamente confortável no interior da Virgínia, onde tudo custa três vezes mais barato (e é dez vezes mais bonito, confesso) do que em Washington ou Nova York. Mas a tarefa de que me incumbi exige muito mais do que posso gastar. Só para vocês fazerem uma idéia, a primeira coisa que fiz em vista dos meus planos foi dar a mim mesmo um curso abreviado de política americana: história, leis, instituições, grupos, pessoas, correntes de idéias. Logo em seguida, formei um cadastro das entidades que podiam ser úteis para o meu objetivo e tratei de me inscrever em várias delas, para poder freqüentar seus encontros, receber suas publicações, etc. Por fim, iniciei um programa de viagens a Washington para contatos pessoais e conferências. Quanto custou isso tudo? Quanto custa formar, em menos de um ano, um especialista em política americana? Quanto custam centenas de livros, dezenas de assinaturas de revistas e subcrições em think tanks, não sei quantas diárias de hotel e alguns milhares de galões de gasolina? Mensalmente, gastei nisso metade ou mais do meu salário, enchendo-me de dívidas, submetendo minha família a sacrifícios humilhantes e incomodando amigos brasileiros com obsessivos pedidos de socorro.

Cheguei a um ponto em que já não posso continuar trabalhando assim. Ou monto uma estrutura de trabalho capaz de concorrer com adversários poderosos, ou trato de buscar um consolo impossível naquela história do passarinho que tentava apagar o incêndio na floresta levando gotinhas de água no bico. Não quero ficar me vangloriando de gotinhas inúteis. Quero fazer alguma coisa que dê resultado. Quero fazer e sei como fazer. E nada melhor para me ajudar nisso do que as contribuições individuais de pessoas que confiam em mim. Incomparavelmente melhor do que apoios institucionais, empresariais e partidários. Elas são um reforço generoso e livre que em nada afeta a minha independência.

Nos EUA, depender apenas das contribuições espontâneas do público aumenta muito a credibilidade de uma campanha, de um jornal eletrônico ou de uma ONG.

A constituição de uma ONG nos EUA é coisa complexa e dispendiosa. Antes mesmo de chegar a isso, preciso de meios para viajar com mais freqüência a Washington, para publicar uma newsletter, para atualizar diariamente o meu site em inglês, para me inscrever em mais instituições, estender meus contatos para outros Estados, freqüentar mais congressos, etc. etc.

Preciso de ajuda já. Não quis pedi-la antes de chegar ao meu limite. Já cheguei. Por favor, me ajudem a salvar a honra do Brasil. Não quero chegar à velhice extrema pensando que vim de um país que se deixou estrangular sem exercer nem mesmo o direito de espernear. Quero exercer esse direito até o fim, com esperneadas vigorosas que pelo menos deixem o assassino da pátria com uma inesquecível dor na bunda.

Adiei o pedido levando em consideração que a tarefa a que me entreguei foi idéia minha, pessoal, germinada em segredo no meu cérebro maligno, sem pedido ou sugestão de quem quer que fosse. Ninguém, fora eu mesmo, tem a mínima quota de responsabilidade nela. Muito menos, é claro, os jornais que me empregam. Cumpro meus deveres profissionais, vou escrevendo o meu livro e me entrego à devoção patriótica nas horas vagas. Todas as horas vagas.

Bem sei o que essa iniciativa privadíssima pode me custar, se eu voltar ao Brasil. Também sei que, por aqui, meu visto de jornalista me dá direito à permanência indefinida, mas não garantida. Posso ser, de um momento para outro, retirado deste adorável refúgio virginiano, entre esquilos, sapinhos, flores e caipiras, e devolvido direto à toca do lobo, bicho tinhoso que já várias vezes ameaçou acabar com a minha raça. Os riscos da empreitada são portanto consideráveis e, se me sinto autorizado a pedir aos amigos e leitores que a reforcem com seu dinheiro, é porque apostei nela o meu pescoço e a segurança da minha família. Não estou pedindo a ninguém que ofereça mais do que ofereci.

Também não prometo nada, exceto multiplicar o meu esforço na proporção dos recursos que me cheguem. Nunca tive paciência com pessoas que choramingam pedindo que eu lhes dê uma esperança. Minha única esperança é a justiça divina, quando este mundo for desfeito em farrapos. Na existência terrena, a esperança é menos importante do que a fé — e a fé não significa crer numa doutrina, significa ser fiel a um compromisso. Significa ter senso do dever. Com esperança, se possível; sem ela, se necessário.

Com 59 anos de existência no planeta, cheguei à conclusão de que sou o bicho mais teimoso, paciente e obstinado que já conheci. Deve haver um cromossomo de jumento, de elefante ou de camelo na minha constituição genética. Mas até um desses amáveis animais precisa de alimento e estímulo para cumprir sua tarefa – puxar um tronco, atravessar o deserto, carregar tijolos e gente em terreno íngreme.

Estou pedindo a todos os meus leitores e amigos que me ajudem a fazer o que tenho de fazer. Doações pessoais ainda são permitidas e livres de impostos. Quem tiver sensibilidade e condições para isso, que faça uma contribuição por qualquer destes três meios, à sua escolha:

1) Para contribuições em dólares, por cartão de crédito, simplesmente clique o botão abaixo e siga as instruções (no formulário, em resposta ao item “payment for”, escreva simplesmente “donation”):

2) Para depósito bancário em reais – dez, vinte, cem, mil reais ou o que quer que seja –, use a minha conta pessoal do Banco Itaú, agência 4080, c/c 02968-1.

3) Para transferência bancária (DOC), use a mesma conta do Itaú e o meu CPF, 043.909.388-00.

Quem quiser um recibo, que envie um e-mail a olavo@olavodecarvalho.org com uma cópia do comprovante de depósito ou transferência.

Como ainda não tenho uma ONG constituída, isso não dará a ninguém o direito a desconto no imposto de renda nem a qualquer outra vantagem apreciável. Dará direito apenas à minha gratidão e talvez à gratidão da pátria, se esta ainda existir no futuro.

Estou pedindo agora e vou voltar a pedir. Tantas vezes quantas me pareça necessário, pois as despesas não vão parar tão cedo. Agora já me acostumei à mentalidade de um povo que põe seu dinheiro onde põe suas palavras. Aqui, todo mundo contribui para aquilo em que acredita. Eu mesmo, que sou um duro, não escapo. Associações de veteranos, campanhas de evangelização, protestos cívicos, policiais baleados e até uma menininha da Guatemala que não podia comprar seus livros de escola já descobriram que eu existo e aparecem mensalmente na minha caixa postal. Dou um pouquinho, mas dou sempre: toda essa gente trabalha para o bem, e aprendi com os americanos que o dinheiro jamais é neutro – se não serve ao bem, serve ao mal.

Agradecendo antecipadamente,

Olavo de Carvalho

Richmond, Virginia, 20 de junho de 2006