Avançando para a ruína

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio (editorial), 20 de junho de 2008

Ao afirmar que, com a candidatura Obama, “a América avançou muito”, George W. Bush deu mais uma prova de que prefere antes destruir a si mesmo, ao seu partido e ao seu país do que dizer qualquer verdade desagradável aos inimigos políticos que o difamam incessantemente.

Devolver ataques brutais com amabilidade servil é o caminho certo para a lata de lixo da História. O presidente americano já avançou demais nessa direção com seu vezo de depreciar seus próprios méritos reais exaltando os méritos inexistentes do adversário.

A declaração é tanto mais masoquista porque proferida na mesma semana em que o candidato democrata, perguntado se indicaria George W. Bush para embaixador no Iraque, respondeu que escolheria alguém mais competente. Quem pode ser mais competente para representar um país em terra estrangeira do que aquele que a libertou da tirania? Responder à insolência com afagos é sinal de fraqueza e, como dizia Donald Rumsfeld, a fraqueza atrai agressores.

Mas a opinião emitida por Bush não é só inconveniente: é falsa. Avaliar a escolha de um candidato pela cor da pele é, literalmente, julgar os fatos só pela sua aparência epidérmica. Como já expliquei aqui, o que diferencia Barack Obama, o que o torna único na América e no mundo, não é a cor da pele, mas um grau de mendacidade grosseira, vulgar, quase pueril, que jamais se viu em qualquer candidato à presidência de uma grande nação. A candidatura Obama é, nesse sentido, um blefe ostensivo destinado a provar, numa cínica demonstração de força da elite globalista, que o eleitor americano já está amestrado para aceitar, mesmo em prejuízo próprio, qualquer porcaria que venha dela. Isso não é um avanço de maneira alguma: é o sintoma cabal do estado alarmante de deterioração da democracia americana.

Só nesta semana já apareceram mais dois indícios eloqüentes de que o candidato democrata falsifica sua biografia com aquela malícia ingênua dos pequenos estelionatários. Primeiro, ele ainda não entregou à secretaria do Partido Democrata sua certidão de nascimento. Por que um presunçoso que já se considera praticamente eleito haveria de colocar em risco sua candidatura pela omissão de um detalhe burocrático tão banal? Só pode ser porque o documento contém alguma informação inconveniente que ele, como menino surpreendido em flagrante traquinagem, torna ainda mais visível pela canhetrice com que a esconde.

Que informação pode ser essa, é algo que sem grande dificuldade se depreende do segundo indício: agora quem desmente Obama, afirmando que na infância ele foi muçulmano e não cristão como afirma, já não são nem seus colegas de escola — é o seu próprio irmão.

Todos os políticos mentem, mas fazem isso com alguma classe, evitando as mentirinhas tolas mais fáceis de impugnar. Obama não tem esse requinte, ou porque não esteja à altura de observá-lo, ou porque tem costas quentes o bastante para poder ser o mais descuidado dos mentirosos sem ter de se preocupar com as conseqüências.

A esta altura, é eufemismo alertar que Obama, se eleito, pode trazer danos sérios à democracia americana: que um sujeito tão obviamente desqualificado seja aceito como candidato à presidência já é um dano monstruoso e irreversível não só para a nação líder do mundo, mas para toda a humanidade. Essa candidatura é um avanço, sim, mas em direção à ruína final do Ocidente, prenunciando os “mil anos de trevas” de que falava Ronald Reagan.

Far into ruin

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio (editorial), June 20, 2008

When George Bush said that Obama’s nomination “is a statement about how far America has come”, he gave one more proof that he would rather destroy himself, his party and his country than saying any unpleasant truth about political adversaries who slander him endlessly.

Responding brutal attacks with subservient kindness is a straight path to the garbage bin of History. The American president has already gone too far in this direction with his trait of depreciating himself and his real merits while exalting the non-existent merits of his adversary.

The statement is particularly masochist since in this same week the Democrat candidate, when asked if he would indicate George W. Bush as ambassador in Iraq, answered that he would choose someone more competent. Who could be more competent to represent a country in a foreign land than the one who freed it from tyranny? To reply insolence with warmness is a sign of weakness and, as Donald Rumsfeld said, weakness lures aggressors.

The president’s opinion is not only inconvenient. It is false. To assess a choice for a candidate by skin color is, literally, to judge facts for their epidermic appearance. As I explained here, what differentiates Barack Obama, what makes him unique in America and in the world, is not his color, but his level of gross mendacity, vulgarity and childishness, as never seen before in a candidate for the presidency of a great nation. Obama’s candidacy is, in this sense, an explicit sham, a cynical demonstration of strength of a globalist elite, aimed at proving that the American voter is finally prepared to accept any trash that is thrown on them, even to the point of self-destruction. This is by no means going far. It is the ultimate symptom of the alarming state of deterioration of American democracy.

Just this week, two more telling facts have emerged that suggest the democrat candidate fakes his biography with that naïve mischieviousness of little slanderers. First, he has not yet handled to the secretary of the Democrats his birth certificate. Why would an arrogant who already styles himself elected put in risk his own candidacy for a burocratic banal detail? It can only be because the document holds information that is inconvenient for him who, like a nipper caught in a naughty prank, only makes it more visible by the awkwardness with which he tries to hide it.

What information it could be, is something that can be found without difficulty from the second fact. Obama is being disavowed now not by his schoolmates like before, but by his own brother – who says that in childhood he was Muslim and not Christian as he uses to say.

All politicians lie, but with some style, avoiding silly lies easy to be caught. Obama has not this sophistication, either because he is not able to grasp it or because he has friends in places high enough to be the most careless of liars without having to worry about consequences.

At this point, it is an euphemism to warn that Obama, if elected, can bring serious harm to American democracy; that such a disqualified person being accepted as a candidate is in itself a monstrous and irreversible harm not only to the leading nation in the world, but to humanity itself. This candidacy is truly going far, but into the final ruin of the West, announcing the “one thousand years of darkness” Ronald Reagan used to alert us about.

Translated from the Portuguese by Fabio Lins Leite