Olavo de Carvalho
Jornal da Tarde, 3 de janeiro de 2002
Nos EUA, já sobem a algumas centenas os estudos e depoimentos sobre a crescente distorção esquerdista do noticiário nos jornais e na TV.
Entre os livros de maior destaque, vale assinalar “Bias”, de Bernard Goldberg, e “The New Police Thought”, de Tammy Bruce. Goldberg é um repórter esquerdista da CBS, Bruce uma militante feminista, lésbica. Ambos cansaram-se de ser induzidos a mentir a serviço do ativismo esquerdista e contam tudo, tudo. A desonestidade que Goldberg aponta no esquerdismo da CBS é tanta que chega a doer fisicamente. Muito reveladores também são “Coloring the News” de William McGowan, sobre a deformação das notícias pela obsessão de “diversidade cultural”, e “Beyond Elian Gonzalez: Covering and Discovering”, de Carlos Wotzkow and Agustin Blasquez, escrito por sugestão do romancista Guillermo Cabrera Infante, que denuncia como os intelectuais e jornalistas americanos estão sempre dispostos a abdicar de seus altissonantes princípios morais quando se trata do interesse de Cuba.
Como em ciências humanas o único meio de chegar a generalizações válidas é a acumulação das provas monográficas, as teses e documentos produzidos sobre o assunto nos últimos dez anos já bastam para fazer dele um ramo de estudos independente e bem delineado. Graças ao trabalho de centenas de pesquisadores e estudiosos, a existência de um brutal viés esquerdista na mídia norte-americana é hoje um fato estabelecido, que nenhum historiador do futuro poderá ignorar e que mesmo os interessados na manutenção do “status quo”, hoje em dia, não ousam negar de todo.
Isso mostra que pelo menos entre os intelectuais não tem passado despercebido esse fenômeno, de importância central para o desenrolar dos acontecimentos políticos nas próximas décadas. Se a consciência do mal não bastar para curá-lo em tempo, ao menos a presente geração de jornalistas e de estudiosos acadêmicos da mídia norte-americana não passará para a História como um bando de paspalhos, omissos e covardes, refratários a enxergar a nudez do rei.
No Brasil, ao contrário, o silêncio é geral e, ao que parece, obrigatório.
Embora o público esteja perfeitamente consciente do viés esquerdista que deforma o nosso jornalismo — numa pesquisa sobre a cobertura dos atentados de 11 de setembro, 94 por cento de 4300 leitores consultados deixaram isso bem claro —, a existência do estado de coisas é negada da maneira mais acintosa, seja mediante a autoglorificação explícita da corporação jornalística, que se adora até o limite do narcisismo demencial, seja mediante a proibição tácita (e às vezes não tão tácita) de discutir o assunto. Por todos os meios, até as pessoas que deveriam estar mais interessadas em esclarecer o caso nos fazem saber que não gostam de ouvir falar dele.
Mesmo os sites tipo “observatório”, que deveriam ser o último reduto de uma discussão franca, tornaram-se instrumentos de desinformação esquerdista: estão todos sob o controle de militantes ou simpatizantes da esquerda e não servem senão para manter as empresas jornalísticas sob constante chantagem psicológica, ameaçando jogar contra elas a ira da classe quanto não cumprem a quota de esquerdismo considerada indispensável.
Quais as conseqüencias disso para o leitor? Deixando de lado, por enquanto, a desinformação ativa, a produção de informações forjadas, vejamos o que o simples bloqueio ou censura branca de notícias pode fazer para ludibriar o público. Algumas perguntas diretas bastarão para o leitor fazer uma idéia da quantidade de fatos essenciais que lhe estão sendo sonegados:
Qual jornal brasileiro noticiou que em junho Tatyana Koragina, assessora econômica de Putin, recomendou aos russos que trocassem seus dólares por ouro, tendo em vista que ataques iminentes por parte de “forças religiosas e místicas internacionais” fariam a moeda americana despencar?
Qual jornal brasileiro noticiou que as tropas da Aliança do Norte encontraram enorme quantidade de armas chinesas, novas, em posse dos combatentes do Talibã?
Qual jornal brasileiro noticiou a edição do livro do repórter inglês Gordon Thomas, “Seeds of Fire”, que dá provas eloqüentes da colaboração chinesa com o Al-Qaeda?
Qual jornal brasileiro noticiou que o Foro de São Paulo está envolvido num projeto para estender a todo o continente latino-americano os padrões de “liberdade de imprensa” vigentes em Cuba?
Qual jornal brasileiro publicou uma palavra sequer sobre a decifração dos códigos Venona, que revelou que a extensão da espionagem soviética nos EUA dos anos 50 era muito maior do que as supunha o senador Joe McCarthy no auge da sua “paranóia”?
Qual jornal brasileiro já fez alguma reportagem sobre a miséria e o terror que hoje imperam no Vietnã sob o governo daqueles que Jane Fonda, Joan Baez e tantos outros ídolos das campanhas anti-americanas dos anos 60 celebravam como heróis salvadores?
Qual jornal brasileiro noticiou as campanhas de “limpeza étnica” empreendidas na África do Sul sob o patrocínio do governo pró-comunista?