Leituras

Filosofia e literatura: O risco do solilóquio

José Maria e Silva

Opção, Goiânia, 2 de julho de 2000

Literatura e filosofia têm, provavelmente, a idade do homem. Não a tenra idade moderna, datada no homem por Foucault, mas a idade do homem real, descoberto pela antropologia. É pouco provável que o homem de Altamira, exímio demiurgo de bisões rupestres, não fosse também capaz de poetizar o mundo e inquiri-lo. Por isso, quando a Universidade Católica de Goiás propôs-se a realizar o I Colóquio de Filosofia e Literatura, no Auditório do Básico, na Praça Universitária, pareceu que as onze horas de discussão previstas seriam quase nada perto do muito que filósofos, críticos, professores e escritores teriam a dizer sobre esses dois saberes que confluem desde tempos imemoriais. E era de se esperar que a platéia permanecesse atenta até o último minuto de cada conferência, saboreando palavra por palavra, refletindo conceito por conceito. Afinal, discutia-se não só a literatura, mas a filosofia, que, segundo a pensadora uspiana Marilena Chauí, “é o mais útil de todos os saberes”. Em Convite à Filosofia, um best-seller com dezenas de edições, ela afirma que “o primeiro ensinamento filosófico é perguntar: O que é o útil? Para que e para quem é o útil?”. Nada mais justo, portanto, do que aplicar sua máxima a um colóquio que associa a literatura ao “mais útil de todos os saberes”, a filosofia.

Obviamente, não se trata de perguntar se um colóquio do gênero é útil, porque, a se crer em Marilena Chauí, a utilidade é a essência mesma do pensamento filosófico. Trata-se apenas de saber para quem ele foi útil. Mas, à luz do chauísmo, a resposta soa como um paradoxo ” o colóquio não serviu a ninguém. Foi inútil. Ao menos é a impressão que se tem, ante uma platéia que não aplaudia os conferencistas ” agradecia, educadamente, o final das conferências. E as intervenções do público, especialmente no primeiro dia do colóquio, corroboraram ainda mais essa impressão. Quase todos os que pediram a palavra denotaram distanciamento dos assuntos tratados. Uma aluna, que disse ter sonhado com o seminário, tal a sua ansiedade em debater o encontro da literatura com a filosofia, chegou a conceituar ao microfone: “Literatura é amor! Filosofia é amor!” Essa fala tão afetiva pareceu deslocada num colóquio tão douto, mas o deslocamento verdadeiro não foi dela e, sim, dos conferencistas ” fisicamente no Básico da Católica, mas mentalmente no Collège de France.*

Aberto na manhã de 20 de junho, com a palestra do doutor em filosofia José Ternes, da UCG, o evento reuniu professores de várias universidades, entre eles o filósofo Roberto Machado, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Autor de importantes obras sobre Foucault, Nietzsche e Deleuze, Roberto Machado acaba de lançar Foucault, a Filosofia e a Literatura (Jorge Zahar, 2000, 188 páginas). Já Maria Teresinha Martins, autora de Luz e Sombra em Lúcio Cardoso (Editoras da UCG e UFG), sua tese de doutorado, aproximou o escritor mineiro de Deleuze e Blanchot. Deleuze foi retomado por Orlando Bezerra, doutor em filosofia pela UFRJ, enquanto a conferência sobre Jacques Derrida coube ao baiano Evando Batista Nascimento, professor visitante na Universidade Federal do Espírito Santo e autor de Derrida e a Literatura (Editora da UFF, 1999, 364 páginas). Mestrando em filosofia política na UFG, Fábio Ferreira de Almeida falou sobre Bachelard. Luiz Fernando Medeiros, professor na Universidade Federal Fluminense, discorreu sobre a poesia de Armando Freitas Filho. Exceção à francofilia foi a conferência de Maria Aparecida Rodrigues, doutoranda na Umesp, que fez um paralelo entre o existencialismo do alemão Martin Heidegger e as obras de Graciliano Ramos e Clarice Lispector.

Mas a principal ênfase do I Colóquio de Filosofia e Literatura recaiu sobre Michel Foucault. Além das abordagens diretas de Roberto Machado e do mestrando em ciência política na UFG, Dênis Borges Diniz, a obra de Foucault suscitou mais debates, permeando todo o seminário. Sem dúvida, devido ao estranhamento causado por suas idéias a respeito de literatura. Foucault prega a morte do sujeito e, conseqüentemente, a do autor, fazendo com que a relação entre a literatura e a filosofia saia do costumeiro terreno das indagações existenciais para situar-se no arcabouço de um discurso autofundante. Essa a causa primeira da impossibilidade do diálogo entre a especializada plêiade de professores da mesa e a difusa massa de leigos da platéia, pontuada por um e outro professor, mesmo assim, dificilmente capazes de penetrarem tão profundamente ” como o seminário exigia ” na obra de um Foucault, de um Deleuze, de um Derrida. Apenas Foucault, um autor fecundo e desconcertante, por ser diferente até de si mesmo, já bastaria para desnortear o público. Em 1970, ao se candidatar a uma cátedra no legendário Collège de France, Foucault custou a ser compreendido até pelo relator de sua candidatura, Jules Vuillemin. Conta Didier Eribon, em Michel Foucault (Companhia das Letras, 1990), que Foucault saiu batendo a porta do apartamento de Vuillemin, porque Vuillemin continuava achando obscura a noção de enunciados em Arqueologia do Saber, mesmo depois de várias explicações, de viva voz, da parte do próprio Foucault.

O escritor Osman Lins (1924-1978), que antecipou muitas das percucientes críticas do filósofo Olavo de Carvalho às academias, ainda que no seu ambiente específico, as letras, demonstrou, de modo incontestável, o absurdo que é a transposição da última novidade acadêmica européia ou norte-americana para cursos de graduação brasileiros, em que os alunos padecem de um precária formação básica. Ainda que os mestres e doutores que participaram do I Colóquio de Filosofia e Literatura tenham o direito (e até o dever) de comunicar os resultados de suas pesquisas específicas sobre um ou outro autor, o ideal é que adubassem o solo da filosofia geral, antes de plantar a semente de um Derrida ou um Foucault. Isso, provavelmente, evitaria o explícito descompasso entre conferências e intervenções e, sobretudo, entre as conferências e a quase indiferença da maioria do público. Maria Teresinha Martins, observando que os alunos quase nada sabem sobre Lúcio Cardoso, foi a exceção, situando o escritor no contexto geral da literatura brasileira, inclusive com alguns dados biográficos. E Maria Aparecida Rodrigues, pelo próprio tema que abordou, as relações entre Clarice Lispector, Graciliano Ramos e Heidegger, também esteve mais próxima do universo dos alunos. Já Roberto Machado, conciliando profundidade e clareza, a mesma que se encontra em Foucault, a Filosofia e a Literatura, soube ajustar, na medida do possível, o Auditório do Básico ao Collège de France.

Entretanto, não se pode medir a importância de um seminário filosófico com base em sua receptividade junto ao público. Seria levar a sério demais o panfletarismo de Marilena Chauí e transformar a melhor filosofia (geralmente difícil) no pior jornalismo (o de maior audiência). Ao contrário do que pensa a autora de A Nervura do Real (possível mãe de uma nova corrente filosófica, o confusionismo), a filosofia não pode ser “o mais útil de todos os saberes”, pela simples razão de que ela só começa onde outros saberes acabam. A dona de casa sofrida que abraça a teologia carismática tem nela um conhecimento mais utilitário do que todas as filosofias juntas, de Sócrates a Heidegger. Em sua vida de escassas alternativas, o abandono do dogma em favor do conceito haveria de levá-la ao desespero, ao deslindar as causas de seu sofrimento e ver que elas não se assentam no céu mas na terra e que, mesmo assim, é impossível mudá-las. Por isso, o I Colóquio de Filosofia e Literatura foi útil mesmo não estabelecendo uma relação mais profícua com o seu público. Toda vez que departamentos distintos das universidades se abrem ao diálogo interdisciplinar, como propuseram José Ternes, Albertina Vicentini e Goiamérico Felício, os organizadores do colóquio, tanto alunos quanto a própria sociedade beneficiam-se da iniciativa, que contribui para enfraquecer as muralhas quase intransponíveis da especialização.

Pena que a dificuldade do diálogo não se deu apenas entre conferencistas e público. Desacostumada ao debate, a universidade brasileira costuma limitar-se à leitura de autores estrangeiros, posteriormente expostos como quadros estanques de um salão. Em determinados momentos, o I Colóquio de Filosofia e Literatura assemelhou-se a um mural, em que cada conferencista anunciou um quartinho de fundos da filosofia na esperança de dividi-lo com outros sem-tetos do saber. Não que faltasse profundidade aos expositores, mas é que o saber concentrado em ilhas tende a fazer de cada membro da audiência uma garrafa de náufrago num oceano de conhecimentos. Em cada exposição, cápsulas de autores viajavam em universos paralelos, a ponto de não se ter resposta sequer para o próprio tema do seminário ” a confluência entre literatura e filosofia. Ante a pergunta de um dos presentes, que queria saber qual o solo comum entre os dois saberes, o filósofo José Ternes ” que em seu livro Michel Foucault e a Idade do Homem demonstra um medo bíblico de acrescentar qualquer palavra às escrituras sagradas de Foucault ” escapuliu: “Estabelecer regras de encontro é muito perigoso”. Para que, então, realizar-se um colóquio sobre filosofia e literatura senão para tentar dar uma resposta a essa questão? Quando um filósofo recusa a verdade pronta, pode estar abrindo um caminho, mas quando se acomoda na sua negação apriorística, caiu no abismo da ignorância letrada ” a pior forma de perplexidade.

É daí que nasce o solilóquio das especializações, por sinal um paradoxo ” o especialista nega a verdade de sua própria tese para melhor livrá-la do questionamento alheio e poder impô-la como um dogma. É o que faz o especialista em Sartre ouvir o especialista em Foucault falando da morte do sujeito e ficar indiferente (ou o contrário). Numa das tentativas de aproximação entre literatura e filosofia, Maria Teresinha Martins disse que considerava Fernando Pessoa um poeta filosófico. Ora, por que Fernando Pessoa seria um poeta mais filosófico do que outros senão pelos temas que aborda, entre eles a angústia do ser, de significação crucial para o sujeito? Dita entre foucaultianos, a frase de Teresinha Martins deveria soar como uma heresia. Entretanto, José Ternes e Dênis Borges Diniz permaneceram indiferentes a ela, mesmo sendo defensores da visão de Foucault de que a literatura não deve ser pensada sob o prisma de nenhuma teoria da significação. Apenas o escritor Goiamérico Felício, doutor em literatura, foi um pouco mais ousado na tentativa de provocar o debate, primeiro instigando Dênis Diniz a discorrer sobre a inevitável angústia do autor ante a tese que decreta sua morte e, depois (ante a insistência de Diniz em apenas repetir Foucault, afirmando que autor e sujeito morreram), lembrando-lhe que Maurice Blanchot tratara da questão.

Por outro lado, quem assistiu à unção terniana com que Dênis Borges Diniz abordou a literatura em Foucault, deve ter-se espantado ao ouvir de Roberto Machado que, num dado momento, a partir de 1966, Michel Foucault desinteressou-se completamente pela literatura, ainda que ela se mantenha como instrumento importante para a compreensão de sua filosofia, como o próprio Machado procura demonstrar em seu último livro. Por mais que Foucault pense ter matado o sujeito e seus discípulos queiram deificar apenas o seu discurso, é difícil não cobrar do filósofo de carne e osso a responsabilidade ética sobre o que disse em tinta e papel. Como observa Olavo de Carvalho, “a vida do filósofo está para sua filosofia como a jurisprudência está para os códigos”. Aliás, quanto mais se aferram ao discurso de Foucault, negando outros referenciais, mais os foucaultianos caem em contradição. Ao negar o sujeito e sua interação com as coisas, concentrando-se unicamente no discurso, apartados dos homens e do mundo, eles são capazes de falar horas inteiras ou escrever maçudas teses sem recorrer a nenhum outro mortal, senão a Michel Foucault. Com isso, pensam estar sendo fiéis ao mestre e matando o autor, quando na verdade estão criando um Deus ” o sujeito onipresente que nasce do discurso único.

José Maria e Silva

silvajm@uol.com.br

 

Minha aluna e o Marcos Bagno

Olavo de Carvalho

30 de junho de 2000

Carta e comentários

Graça Salgueiro faz parte de um grupo de alunos do Recife, que se reúnem mensalmente para assistir às fitas doSeminário de Filosofia e depois me enviam perguntas por e-mail ou telefone. — O. de C.

Querido professor,

Sou amiga de longuíssima data do escritor e lingüista Marcos Bagno, a quem o senhor se refere no artigo “Quem Come Quem”. Como sua homepage é muito extensa, só recentemente li esse texto e, sendo amiga da pessoa a quem o senhor se refere, e conhecedora do livro Preconceito Lingüístico: o que é, como se faz, me senti, por uma questão de consciência, no dever de informar ao meu amigo o que se falava sobre sua obra. Fiquei estarrecida com o seu artigo, porque, na ocasião em que li o livro achei-o revolucionário (no sentido de transformador). Ocorre que o senhor enxerga o que ninguém mais viu! Seus comentários são absolutamente pertinentes e, por isso mesmo, acreditei ser importante que o autor conhecesse seus argumentos, porque essa é a tese que ele brevemente estará defendendo, no doutorado que faz na USP. Fiquei bem chateada com a resposta que ele me enviou, pois dizia que a sua opinião não contava, que o sr. era um reacionário direitista e que servia de chacota em todas as universidades. Isso me deixou triste por ele, porque mostrou não ter bom alcance de visão, além de não ter maturidade, nem humildade, para averiguar nas críticas, o que poderia melhorar a qualidade do seu trabalho. Mostrou-se bem uspiano, aquele que outrora eu via como uma das pessoas mais cultas e inteligentes que conheci.

Obs. — Não reclamemos do prof. Bagno. Ele merece até um pouco de gratidão. Não podendo refutar as críticas que fiz à sua tese, contenta-se, com exemplar modéstia, em cochichar pelos cantos no recinto fechado da universidade, bem protegido entre seus alunos, longe de mim e de um confronto que em tais condições lhe seria mais temível que a peste. Se ele reagisse em público, isto me obrigaria a desenvolver as observações casuais que fiz no meu artigo, entrando numa análise detalhada que reduziria a pó as demais pretensões científicas desse rapaz, e então eu seria, com justa razão, acusado de bater em criança. Deixemos, pois, as coisas como estão. Outro dia pensei em responder às críticas tolas que ele fizera a um projeto do deputado Aldo Rabelo em defesa da língua pátria. Mas depois admiti que não era necessário: um sujeito chamado Bagno já contém no próprio nome a indicação precisa do que deveria ir fazer.

Não fique triste, querida, pois decepções com amigos de juventude são uma fatalidade incontornável na vida de quem aprende, evolui e vê os companheiros de geração ficando cada vez mais para trás, cada vez mais burros, cada vez mais rígidos e encarquilhados naquela forma de velhice que é, de todas, a única realmente lamentável: a velhice de livre escolha. Certa vez um amigo meu, a quem a ditadura preservou da decadência obrigando-o a refugiar-se nos EUA, onde acabou casando e ficando, veio visitar a terrinha e me convidou a ir a um jantar de ex-alunos do nosso antigo colégio. “Não vá lá”, aconselhei. Ele foi. No dia seguinte estava acabrunhado com o espetáculo de decrepitude prematura que acabara por presenciar. Da infância e da adolescência devemos conservar somente o espírito — a curiosidade da primeira, a coragem da segunda —, nunca as pessoas, a não ser que elas conservem esse espírito também, mas aí já não se tratará de amigos de ontem, e sim de amigos de sempre. Curiosamente, a maior parte de meus amigos tem trinta anos a mais ou a menos que eu: meu círculo de relações divide-se numa ala geriátrica e outra pediátrica. Da minha geração sobraram só três, que estão, veja só, um nos EUA, outro na Itália, outro na China. Dos demais, pouco me importo, pois são a geração mais calhorda que este país já teve — a geração decadente por excelência, no sentido que Rosenstock dá à palavra: “Decadência é ficar acovardado por dúvidas e não ter a coragem de transmitir uma fé à geração seguinte. A decadência da geração mais velha produz a barbárie da mais jovem.” Olhe o José Serra e compreenderá o Marcos Bagno.

Estou lhe comentando esses fatos, embora saiba que em nada há de lhe afetar, para corroborar aquilo que penso a seu respeito. Quando lhe chamo “querido Professor” é por ter um respeito enorme pela sua condição de professor e filósofo, e por confirmar isso na prática, tomando como premissa o que o sr. fala na fita nº 3: ” O filósofo é aquele que transmite um ensinamento, dá o exemplo e exerce uma influência”. Eu venho aprendendo com os seus ensinamentos, seus exemplos e isso, de certa forma, me influencia intelectualmente. Tenho aprendido a ver com olhos mais críticos e a exercitar a lógica, tão sua íntima. Por natureza (e formação – sou psicóloga clínica de linha freudiana) sou muito analítica: analiso tudo, levanto mil hipóteses, vejo todas as possibilidades, até chegar a uma conclusão. Mas, sempre que leio um artigo seu ou assisto uma fita das aulas do Seminário, acabo com a mesma pergunta: “Por que eu não pensei nisso antes?”

Obs. – “Por que é que eu não pensei nisso antes?” é o mais alto elogio que se pode fazer a um pensador. Muito obrigado, minha querida.

Sabe aquela história do ovo de Colombo? Pois é. Fiquei assim com a fita nº 4, quando o sr. aborda a questão da Psicanálise, em que o Consciente, que é o descobridor das outras instâncias psíquicas, não é considerado na ordem das coisas. A sua interpretação é tão óbvia, tão fantástica, o sr. disseca os fatos, ponto por ponto, até chegar na raiz da questão, e por que ninguém viu isso antes? Nem o próprio Freud??? Pode rir, ou me apelidar de “a Louca do Jardim”, mas aplaudi nessa parte. Sou assim, completamente destrambelhada. Rio, choro, aplaudo quando assim tocada. Por isso mesmo fico chocada quando o chamam de raivoso, reacionário, arrogante. Não sei onde está isso tudo escondido, pois eu não consigo ver. Graças a Deus. Não estou lhe jogando confete, até porque acho isso medíocre e babaca; quando lhe digo essas coisas é por honestidade de pensamento e entusiasmo, enorme até, acreditando que o feed-back é uma coisa necessária (embora o sr. já não precise mais disso).

Obs. – “Raivoso” é óbvio que não sou. Uma das coisas que mais irritam certos fulanos é justamente sua incapacidade de me irritar, de me fazer perder o bom-humor e a desenvoltura verbal que vem dele. Não sou raivoso, mas eles adorariam que eu o fosse, pois a raiva emburrece e deixa a gente à mercê do adversário. Todo sujeito raivoso escreve naquele tom de pretensa dignidade ofendida que se infla e engrandece para impressionar e só consegue é cair no ridículo. Como eles ficariam felizes se eu lhes desse assim minha cara a tapa, como eles tão generosamente me dão as suas. Já “arrogante” vem de ab-rogare, = “exigir antes”, e designa o ator que exige aplausos antes do espetáculo. Decerto não é o meu caso, pois esperei até os 48 anos para publicar meu primeiro livro justamente para me certificar de que havia superado a ânsia juvenil de aplausos, mesmo depois do espetáculo. Quanto a “reacionário”, não é qualificativo totalmente injusto. “Reacionário” é a palavra com que os candidatos a tiranos designam aqueles que oferecem uma incômoda resistência às suas tentativas de assalto ao poder. Os comunistas usaram esse termo nos versos da “Internacional” e os nazistas na “Canção de Horst Wessel” para qualificar seus inimigos. A crença subentendida é que quem é contra eles é contra o progresso. Se o progresso consiste em botar essa gente no governo, então sou reacionário, sim, com muita honra, como o foram Nelson Rodrigues, T. S. Eliot, Jorge Luís Borges, Miguel de Unamuno, Fernando Pessoa e tantos outros cujo exemplo me inspira. Prefiro viver no passado a submeter-me a um futuro moldado por Hitler, Stalins, Castros e tutti quanti. Antes um passado vivo que um futuro morto.

Quanto a você, minha querida, pode ser destrambelhada o quanto queira, mas uma coisa é certa: sou seu fã. Sua sensibilidade às nuanças do meu discurso mostra que não assiste às aulas só com a inteligência, mas com o seu ser inteiro, condição, aliás, para que a inteligência esteja lá.

Agora, tem uma coisa que eu queria lhe dizer: a qualidade das fitas (ou a pouca qualidade) tem dificultado a compreensão das palavras ditas em certos momentos, pois com a tradutora, muitas vezes ela não espera o sr. acabar de falar, de modo que nem escutamos o que o sr. diz, nem o que ela diz. Às vezes, também, o sr. põe a mão na boca, num gesto super-comum, mas abafa o som, tornando-o ininteligível. É possível minimizar essas falhas? Estou tentando transcrever as fitas, mas esses acidentes dificultam bastante. Perdoe a exigência; é que tudo isso tem sido muito importante para mim. Até quando o sr. fica no Brasil? Depois que o sr. voltar, posso continuar escrevendo? Se eu não estiver sendo chata, cansativa, inconveniente, gostava imenso que isso fosse possível, mas, por favor, me informe se isso lhe desagrada.

Obs. – Tenho muitos cacoetes que um orador profissional policiaria com mais cuidado. Não prometo livrar-me deles, pois quando estou dando aula fico tão absorvido no assunto que não noto nem se estou de braguilha aberta. O que posso e prometo fazer é solicitar que os alunos me vigiem e que o encarregado da gravação peça repetições das falas obscuras. OK? Quanto à tradutora, minha queridíssima amiga romena Iulia Baran, ela não tem culpa de ser esperta e captar meu pensamento — com notável exatidão — antes de eu acabar a frase. Em todo caso, vou pedir-lhe que ela refreie sua exuberância.

Fico no Brasil enquanto me deixarem. Ainda este ano volto à Romênia, mas por poucas semanas. Quanto às suas cartas, pode enviá-las aos montes, que muito me alegram. Mas de vez em quando fale um pouco de mal de mim, senão os Bagnos vão achar que você está recebendo uma graninha da direita internacional.

Sinto uma necessidade muito grande de comentar as minhas descobertas e, nem sempre tenho com quem. Faço isso sempre com Ronaldo, mas ele está de férias, e por isso anda meio disperso, apesar de continuarmos com o grupo e de nos vermos. Ele também tem a mesma generosidade e paciência com as minhas ignorâncias, como o senhor. Obrigada, mais uma vez, por tudo que venho aprendendo.

Obs. – Obrigado por me deixar ensinar. Em geral, quando tento fazer isso, as pessoas querem me bater.

Beijinhos – Graça Salgueiro.

Obs: – Beijões – Olavo de Carvalho. E abraços afetuosos ao Ronaldo e aos demais membros do grupo.

Sucesso total do I Congresso do Instituto Brasileiro de Humanidades

Hotel Mara, Vassouras, RJ, 17 e 18 de junho de 2000

Vista parcial da platéia.

Bate-papo no jardim do Hotel Mara.

Nelson Lehmann da Silva, Henriette Fonseca, Lúcia de Fátima Junqueira, Olavo de Carvalho.

O embaixador José Osvaldo de Meira Penna, presidindo a sessão, e o palestrante Fernando Manso.

Fotos de Wagner Wuo

Documentos do I Congresso do IBH

Série 1

A documentação do I Congresso do IBH será posta à disposição do público à medida que se torne disponível. Os resumos das palestras deverão aparecer aqui já nos próximos dias. A transcrição completa será publicada em livro e parcialmente reproduzida neste site. As fitas de vídeo, a cargo da É-Realizações, deverão estar prontas para distribuição dentro de algumas semanas.

I. Depoimento

ALVARO VELLOSO DE CARVALHO

O Indivíduo, No. 15 – 23 de junho de 2000

Seria uma pretensão desmesurada minha resumir de forma adequada o que aconteceu no I Congresso do Instituto Brasileiro de Humanidades, ocorrido em Vassouras no último fim de semana. Acredito que maiores detalhes deverão ser disponibilizados nos próximos dias, inclusive as fitas das palestras e talvez até suas transcrições. Quero, pois, apenas dar uma idéia geral do que foi o congresso.

E, antes de mais nada, é preciso dizer que ele superou todas as minhas expectativas, tanto pela organização (considerando-se que foi o primeiro), quanto pelo altíssimo nível das palestras.

A idéia do Congresso era dar um panorama geral da obra do prof. Olavo de Carvalho, uma obra vastíssima, que se estende por praticamente todos os domínios do conhecimento humano, e, para tanto, o próprio professor escolheu oito temas centrais, apesar de deixar de lado outros temas igualmente importantes, como seus trabalhos sobre o simbolismo e sobre religiões comparadas.

Nenhum outro tema poderia abrir os estudos senão a pedagogia desenvolvida por Olavo, por sua vez decorrente de sua concepção da inteligência como “capacidade para apreender a verdade”. O tema foi muito bem apresentado por Ronaldo Castro de Lima Jr., apesar de ele ter sido chamado uma semana antes do Congresso para substituir a pessoa que inicialmente faria a palestra. Para os interessados no tema, um belo resumo das idéias pedagógicas do Olavo encontra-se no texto “Inteligência e verdade”, definido pelo próprio Ronaldo, em sua apresentação, como “preâmbulo iniciático” da filosofia do Olavo..

Estabelecido o conceito de inteligência, resta saber ainda como ela se desenvolve, isto é, estudar a psicologia humana. Os estudos do Olavo sobre assunto foram apresentados em duas palestras. Lúcia de Fátima Junqueira, em apresentação absolutamente brilhante, tratou do tema “A definição da psique e a astrocaracterologia”, mostrando como o Olavo foi buscar o conceito de psique subentendido em toda a diversidade de coisas que os psicólogos modernos dizem a respeito, e como, daí, ele partiu para o estudo do desenvolvimento do caráter no ser humano e, posteriormente, para uma tentativa de correcioná-lo com a figura do céu (daí o nome “astrocaracterologia”). Essa parte da obra é pouco conhecida por quem entrou em contato com o Olavo há pouco tempo, e não há nada publicado a respeito além do livreto O Caráter como forma pura da personalidade. Existem quilos de papel com transcrições de cursos sobre o assunto, e imagino que alguém deverá reuni-los e divulgá-los um dia.

A outra parte da palestra, com aplicações formidáveis em pedagogia, tratou do “Trauma da emergência da razão”, apresentado por Henriette Fonseca. A palestra foi uma grande novidade para mim, e parece que não há nem mesmo transcrições de aulas sobre o assunto, o que é lamentável.

O dito “trauma” é o momento no desenvolvimento cognitivo individual em que a intuição, que é a porta de entrada dos dados, encontra uma barreira onde não consegue penetrar; olha para algo e o encara não mais como substância, mas como pergunta. É aí que o sujeito busca elaborar uma síntese parcial temporária, a partir de sua experiência acumulada.

É evidente a importância do estudo dessa espécie de “ponto de partida” da racionalidade individual, inclusive porque os traumas cognitivos são muito mais importantes para o desenvolvimento do indivíduo do que os traumas afetivos, estes exaustivamente abordados pela psicologia moderna.

Depois da pedagogia e da psicologia, o que mais poderia vir senão a gnosiologia?

E, na palestra mais aguardada do Congresso, Fernando Manso apresentou com coerência e poder de síntese admiráveis as respostas do prof. Olavo às questões mais espinhosas da filosofia, como o fundamento da objetividade do conhecimento e as relações entre sujeito e objeto.

Essa gnosiologia, que é mais propriamente chamada uma “ontognosiologia”, será o tema do muito aguardado livro O Olho do Sol, ainda em fase de preparação, mas algumas de suas idéias centrais já podem ser encontradas na página do prof. Olavo, em textos como “Da contemplação amorosa”, “Kant e o primado do problema crítico”, “Descartes e a psicologia da dúvida”, “Ser e conhecer”, “A unidade de sujeito e objeto”, “Conhecimento e presença”, “Kant e a mediação entre tempo e espaço”, “Notas sobre simbolismo e realidade” e “Identidade e Univocidade”.

Uma observação: pela quantidade de textos que citei, já é possível perceber o valor do trabalho do Fernando, ao unificá-los e expor conceitos anteriormente expostos de forma esparsa sob uma perspectiva única.

A última palestra do primeiro dia foi proferida pelo próprio prof. Olavo de Carvalho, intitulou-se Da Anamnese ao Anagnorismos e versou sobre o “método anamnético” usado pelo prof. Olavo e que me perdoem mas não vou me aventurar a resumir aqui. Digo apenas que este método toma como modelo básico da certeza aquilo que apenas o indivíduo que os conhece testemunhou (os “atos sem testemunha” da frase que abre o site do Olavo) e, aumentando a consciência do indivíduo sobre a própria vida, os próprios atos exteriores e, principalmente, interiores, vai aumentando a sua confiança na própria inteligência para tratar de questões cada vez mais amplas, desde que ele as perceba como objetivamente importantes.

Claro que, a intuição sendo incapaz de ser expressa diretamente, mas apenas por seu reflexo discursivo, era necessário que, complementando a ontognosiologia e o método filosófico, o prof. Olavo desenvolvesse uma teoria do discurso. Ele não a desenvolveu propriamente, mas a descobriu implícita em Aristóteles, estabelecendo uma nova chave interpretativa para o sistema aristotélico.

A excelente palestra do nosso caríssimo amigo e freqüente colaborador Alexandre Bastos teve, justamente, como tema a “Teoria dos Quatro Discursos”.

Essa eu posso me aventurar a resumir da seguinte maneira: o discurso humano é uma potência única, que se atualiza de quatro maneiras diversas (i.e., segundo um determinado esquema de possibilidades), a poética, a retórica, a dialética e a analítica, que se distinguem entre si por seus níveis de credibilidade, que são, respectivamente, possível, verossímil, provável e certo.

O básico da teoria foi expresso no livro Aristóteles em nova perspectiva, lançado pelo prof. Olavo há uns três anos (um de seus capítulos está disponível em português e em francês). Mas Alexandre fez mais que repetir as explicações desse livro. Ele mergulhou nas centenas de páginas de transcrições de aulas do Olavo sobre o assunto, e daí extraiu uma maneira original de expor a importância da teoria e a demonstração de sua veracidade. De quebra, atacou as pretensões totalizantes da “nova escola de retórica” de Chaim Perelman e do formalismo lógico de Wittgenstein.

Ainda dentro da teoria do discurso, Pedro Sette Câmara, que dispensa apresentações, foi o responsável pela exposição dos “Fundamentos metafísicos dos gêneros literários”, teoria dos gêneros literários apresentada no livreto Os fundamentos metafísicos dos gêneros literários e definida pelo próprio Pedro, em sua palestra, como a única além da de Northrop Frye (à qual não se opõe, apenas enfoca o assunto de outra maneira) a propor seriamente uma resposta a respeito do que são realmente os gêneros literários.

O modo de existência dos gêneros literários é definido por Olavo como sendo esquemas de possibilidades que balizam as elocuções, da mesma maneira que as direções do espaço balizam a caminhada. São os modos de elocução.

Pertencendo ao mundo humano, são delimitados pelas mesmas condições que delimitam este: tempo, espaço e quantidade. Dessas determinações, e seus sucessivos entrecruzamentos, são deduzidos os diversos gêneros, sendo, por exemplo, o gênero narrativo decorrente do tempo, o gênero expositivo do espaço e o gênero lírico do número.

A palestra a seguir iniciou o tema geral da “filosofia da ação”, começando do começo: a filosofia da ética, apresentada por este que vos escreve.

Meu trabalho foi, essencialmente, o de coerenciar e reunir demonstrações que tinham sido dadas pelo prof. Olavo em textos e aulas esparsas, sendo que o núcleo do tema se concentrava no “curso de ética” pronunciado no Rio de Janeiro em 1994.

Se eu tivesse escrito um texto para a palestra, com certeza o disponibilizaria aqui, mas fiz apenas apontamentos e um conjunto de citações, que acabariam servindo mais para confundir que para esclarecer.

Dividi a palestra em quatro partes, cada uma delas, por sua vez, dividida em seções:

I- O objeto da filosofia ética, i.e., do que trata a filosofia moral ou ética? O mais importante, neste ponto, era distinguir a filosofia moral das diversas morais sociais, e identificar onde se manisfesta o problema ético.

II- A autoconsciência como fundamento da moral. Neste ponto, mediante rigorosa análise do cogito cartesiano, mostrei, seguindo o Olavo, a absoluta necessidade do princípio de autoria e de que forma ele fundamenta a moral.

III- Resposta às objeções kantianas à objetividade do conhecimento moral.

IV- A materialidade da moral baseada no princípio de autoria, que, embora pareça ser puramente formal, como diria Kant, na verdade, aponta (e fundamenta objetivamente este apontamento) para um valor moral muito claro: a unidade do sujeito.

Tenho certeza de que algum dia o “curso de ética” será revisado e publicado. Mas os princípios básicos dessa exposição estão na terceira parte do texto “Da contemplação amorosa”, bem como no capítulo do Jardim das Aflições sobre a “ética de Epicuro”.

A filosofia da ação continua na investigação sobre “natureza e formas do poder”, definido como tema nuclear das ciências sociais. Esta parte da filosofia política do Olavo foi bem apresentada por Luciano Saldanha Coelho, que seguiu a linha de demonstração dos textos do próprio Olavo sobre o assunto.

Essa linha é basicamente a seguinte: poder é possibilidade concreta de ação; ação é transformação deliberada de um estado de coisas; ação no sentido político é determinar voluntariamente as ações de outrem. Agir, no sentido estrito, é produzir obediência. Os tipos de poder decorrem, então, das motivações objetivas da obediência, que são três: a força física, o dinheiro e o carisma, sendo mais efetivo o poder quanto menos ele estiver “no” indivíduo.

Daí decorrem os modos do poder e suas divisões, com a teoria reformada das castas, que aplica os conceitos hindus de castas à sociologia, definindo as castas como o esquema geral dos modos de atuação dos indivíduos.

Dito assim, é difícil entender a importância dessas observações e a extensão de suas aplicações; isso só ficará claro para quem leia os textos inteiros. Mas algumas dessas aplicações podem ser encontradas no próprio Jardim das Aflições e nos artigos de jornal em que o prof. Olavo analisa a situação política do Brasil e do mundo. Eu mesmo, dentro das minhas muitas limitações, tenho tentado aplicar esses princípios à análise política.

A palestra que encerrou o Congresso foi cercada de suspense, porque não sabíamos se o Marcelo De Polli (webmaster da página do Olavo e expositor com enormes recursos didáticos, que não teve condições de usar), encarregado dela, teria condições físicas de apresentá-la, por ter sido tomado por uma forte febre dois dias antes da apresentação. Na hora, Marcelo acabou aparecendo e, com muitas dificuldades para falar, apresentou a palestra sobre a filosofia da História do Olavo, que parte da pergunta “quem é o sujeito da História?”.

Ora, estão sempre contando a história, mas nunca se definiu claramente a história de quem. Para ser sujeito de qualquer ação, é preciso que o ente preencha as seguintes condições: unidade substancial, unidade autoral e unidade subjetiva. Basta observar isso para notar que a história não pode ser história das classes sociais, porque estas não têm unidade autoral, nem das raças, nem das nações, pelo mesmo motivo.

De quem, então, é a história? Disse Marcelo, resumindo o Olavo: “o sujeito da ação histórica deve, ao mesmo tempo, transcender a duração da vida individual e ter unidade substancial, autoral e subjetiva.”

Não vou continuar a demonstração do Olavo, exposta pelo Marcelo, porque isso requereria que eu entrasse em inúmeras questões sobre ação histórica, mas vou dizer apenas que é possível ver o método decorrente dessa filosofia em ação no Jardim das Aflições, que usa a idéia do “império” como chave explicativa para a história da cultura nos últimos dois milênios, e desenvolve essa idéia mostrando a ação dos diversos sujeitos históricos.

O Congresso terminou aí, e foi um grande sucesso. Tanto que o próximo já está sendo organizado.

 

 

II. Anotações de Olavo de Carvalho

Feitas durante as palestras e projetadas na tela.

 

1. Inteligência, verdade e certeza

Ronaldo Castro de Lima Jr.

  1. Preâmbulo iniciático
  2. Evidência
  3. Verdade não é quantidade, é qualidade
  4. Parcial não quer dizer falso
  5. Função sintética do intelecto
  6. Virtude dianoética – conhecimento dos princípios
  7. Devolver a cicuta aos atenienses
  8. Integridade do conhecimento e do sujeito
  9. Moral, admissão da verdade
  10. Verdade como domínio, âmbito, a um tempo, do inteligir e do ser (viver)
  11. Intimidade do sujeito consigo próprio
  12. Tensão necessária a conhecer a verdade
  13. Amor e magia
  14. Inteligir e integridade – coincidência entre estrutura do sujeito e do mundo
  15. O texto é um guia para o iniciante.
  16. Conhecimento não é mero processo formal
  17. Dizer as coisas como são. O ser é medida da verdade. Logo, a verdade é uma dimensão do ser.
  18. Bondade e inteligência.

Observações dos ouvintes

MARCELO DE POLLI

O ambiente acadêmico e as condições existenciais do conhecimento da verdade.

LUCIANO SALDANHA COELHO

O problema da verdade e a verdade do problema (v. exposição Fernando Manso).

NELSON LEHMAN DA SILVA

Pressupostos. Comunicação. A verdade é comunicável?

VERA MÁRCIA

Comunicação superior-inferior num ambiente “inferior”. Função do “inferior”. Esoterismo e exoterismo.

ROMEU CARDOSO

Possibilidade da certeza.

NELSON LEHMAN

Aletheia. Verdade mostrada NA coisa.

 

2. A Definição da Psique e a Astrocaracterologia

Lúcia de Fátima Junqueira

Henriette Aparecida da Fonseca

  1. A DEFINIÇÃO DA PSIQUE

Lúcia de Fátima Junqueira

  1. Psicologia, biologia e cosmologia – Aristóteles
  2. Definição mais estreita do campo – psicologia experimental – séc. XIX
  3. Fenômenos psíquicos e ser da psique.
  4. A psique individual como tema autônomo – cristianismo.
  5. Estudo científico da individualidade – Freud e Klages.
  6. Quid est?
  7. Dois tipos de definições correntes: (a) aristotélicas (cosmológicas); (b) por enumeração de fenômenos.
  8. Método: hermenêutica do discurso dos psicólogos.
  9. Que outras causas um ato humano pode ter (não psíquicas)? (a) Físicas; (b) Lógicas; (c) Acaso. A psique é o 4º tipo de causa.
  10. Causa e necessidade – física e lógica.
  11. Acaso – multiplicidade inabarcável e irreconstituível de causas.
  12. Causas psicológicas agem através das outras três e não diretamente.
  13. Psique = zona de indeterminação onde as demais causas se combinam.
  14. Eficiência, liberdade, individualidade, criatividade, vontade de poder = características da psique.
  15. Eficiência – proveito do organismo individual.
  16. Liberdade – combinação de fatores. Diferença entre liberdade e acaso.
  17. Psique é fenômeno da ordem da liberdade e não da necessidade.
  18. Criatividade – combinações sui generis.
  19. Individualidade – Não há psique em geral.
  20. Vontade de poder – expansionismo.
  21. Expansão através da retração = introjetar as causas físicas, lógicas e acidentais.
  22. O homem coere as formas de limitação numa auto-limitação chamada Ego.
  23. Memória – abstração e generalização = imagem do mundo.
  24. Organização lógica e cronológica. Contar a própria história = Ego.
  25. Ego = limitação autobiográfica da psique, segundo cortes moldados nas demais necessidades.
  26. Escolhas e perseverança = destino.
  27. SEGUNDA PARTE. Caracterologia x psicologia generalizante
  28. Unidade singular do sujeito x constantes gerais humanas
  29. Caráter = Marca indelével de nascença.
  30. Caracterologias comparadas e astrocaracterologia.
  31. Klages – Caráter = direções da atenção, valores e motivações.
  32. Captação da individualidade é intuitiva, não se faz por quadros de classificação.
  33. Szondi.
  34. Le Senne.
  35. Caráter como estabilização progressiva.
  36. Jung = abordagem cognitiva do caráter.
  37. Astrocaracterologia – isolar dos demais o fator astrológico do caráter.
  38. Compatibilidade caracterologias-horóscopo.
  39. Hereditário e cultural – Isolar.
  40. Há algo que não é nem natural nem cultural = você mesmo.
  41. Isso é o caráter em astrocaracterologia.
  42. As posições planetárias têm algo a ver com o caráter mas não o produzem; apenas delimitam as possibilidades que o compõem.
  43. Causa formal e eficiente.
  44. Caráter = condição formal da individualidade.
  45. Investigação fenomenológica e não causal.
  46. O “que” antes do “por que”.
  47. Caráter – fronteira entre o psíquico e o pré-psíquico.
  48. Critérios para a comparação entre os horócopos e os elementos fixos da personalidade constatados empiricamente.
  49. Horóscopo = figura estática do céu. Caráter = figura estática da individualidade.
  50. Casas astrológicas.
  51. Correspondência (não analógica) entre dois sistemas. Sistema solar : caráter em geral. Horóscopo : caráter individual.
  52. Diferenciação das potência cognitivas.
  53. Intuição (Sol) Sentimento (Lua) Fantasia (Vênus) Vontade Reativa (Marte) Vontade Pura (Júpiter) Razão (Saturno).
  54. Doze casas.
  55. Em que medida a comparação é possível. Dois relatos idênticos, obtidos por método (a) biográfico-caracterológico; (b) astrológico.
  56. Dois aspectos do estudo da psique segundo OC : estático (horóscopo-caráter), dinâmico (camadas da personalidade).
  57. Camada : foco temporário da psique.
  58. Passagem de camada a outra, por absorção – gênero e espécie.
  59. Doze camadas.
  60. Traços de caráter mudam de valor conforme a camada. 12 níveis de interpretação.
  61. Camada I – Caráter.
  62. II – Hereditariedade.
  63. III – Aprendizado, ambiente cultural e social.
  64. IV – História pessoal afetiva, valores individualizados pela experiência.
  65. V – Espaço Vital (Kurt Lewin).
  66. VI – Habilidade, domínio obtido pela autolimitação do espaço vital. Resultados, efetividade. Distribuição racional de energias.
  67. VII – Papel social. Expectativas ante o outro. Reciprocidade.
  68. VIII – Forma estabilizada da personalidade. Auto-avaliação ( = “caráter” segundo Le Senne).
  69. IX – Personalidade intelectual. Fins transpessoais. Autonomia da cobrança interior.
  70. X – Eu transcendental. Dever universalmente humano encarnado na individualidade. Certeza.
  71. XI – Responsabilidade histórica. Ser julgado pela humanidade. Fins históricos.
  72. XII – Responsabilidade perante o sentido da vida. Juízo Final. “Caminhar diante de Deus”.
  73. Pesquisa científica em astrocaracterologia.

 

2. O TRAUMA DE EMERGÊNCIA DA RAZÃO – Henriette Aparecida da Fonseca

  1. Barreira ao conhecimento intuitivo.
  2. Tripla intuição ( OBS – Depois eu explico).
  3. Potência cognitiva – faculdade cognitiva
  4. Trauma da emergência da razão
  5. Faculdade não é camada
  6. Psicopatologia
  7. Ciclos de Saturno : história do quadro racional pessoal
  8. Busca da certeza a partir da experiência acumulada, por sínteses parciais temporárias.
  9. Experiência fragmentária x natureza totalizante da razão.
  10. O não-saber.
  11. Trauma antropológico: a conquista do domínio racional pelas sínteses parciais.
  12. Casa astrológica com Saturno: dado básico pelo qual o indivíduo começa a estruturação racional do seu cosmos.

 

3. A teoria dos quatro discursos

Alexandre Bastos

 

T4D como alternativa a teorias correntes

  1. Nova compreensão do aristotelismo
  2. Nova pedagogia
  3. Modelo de teoria histórica
  4. “Duas culturas” (C. P. Snow)
  5. “Dois hemisférios”
  6. Dupla via de demonstração: filologia e reconstrução ideal analítica
  7. História da filosofia: luta contra a entropia
  8. Dissolução da organicidade dos sistemas em “teses” isoladas conflitantes.
  9. Método genético de Aristóteles
  10. Werner Jaeger – contestação da unidade lógica do sistema
  11. “Dois sistemas” de Aristóteles: do platonismo ao empirismo
  12. Pierre Aubenque
  13. Contestações a Jaeger e Aubenque
  14. Racionalismo x empirismo – desmembramentos do aristotelismo
  15. “Intelectualismo”
  16. Aquisição x validação do conhecimento
  17. Experiência sensível x lógica
  18. Sensibilidade – memória – fantasia (imaginação & memória) – esquema fático – esquema eidético (Mário Ferreira e Jean Piaget)
  19. Fantasia – espécie
  20. Hugo de S. Vítor: imaginatio mediatrix
  21. Falta a “lógica da imaginação” no sistema aristotélico
  22. Andrônico de Rodes – estruturação das obras de Aristóteles
  23. Critério de Andrônico : ordem das ciências = ordem dos textos.
  24. Ciências teoréticas, práticas e técnicas
  25. Retórica e poética: ciências técnicas?
  26. Motivos para inserir a Poética e a Retórica no Organon.
  27. A mesma ciência pode ter um aspecto teorético, prático e técnico. Ex.: a dialética.
  28. Redescoberta da Poética no Renascimento
  29. Renascimento: fim do aristotelismo nas ciências ou começo do aristotelismo nas artes?
  30. Separação entre a elite acadêmica e os artistas na Idade Média.
  31. Solmsen: a analítica supera a dialética. (?)
  32. Desinteresse dos filósofos pela Poética aristotélica a partir do Renascimento.
  33. Retomada dos estudos aristotélicos no séc. XIX: Boutroux – Brentano – neo-escolástica.
  34. A retórica segundo Boutroux.
  35. Avicena e Sto. Tomás: 4 discursos.
  36. Duas direções da lógica: identidade e não-contradição (categorias e silogística).
  37. Progressiva independência da silogística até o século XX.
  38. Formalismo. Perda da conexão lógica-ontologia.
  39. Inexistência de uma hierarquia de valor entre os 4 discursos.
  40. Eric Weil: a dialética É o método científico em Aristóteles.
  41. Escola de Port-Royal: a lógica como “arte de pensar”.
  42. Analítica: coerência intrínseca do pensado (não do pensar).
  43. Diferença de funções e não de valores.
  44. Modelo da ciência platônica: a geometria.
  45. Evidência (sem contradição unívoca).
  46. “Sócrates é mortal” não é evidência intuitiva.
  47. Evidência e prova.
  48. Nexo evidência-prova. Transmissão da evidência ao interior da prova.
  49. Evidência do nexo.
  50. Idéia pura de ciência.
  51. Dialética: busca da evidência; analítica: transmissão da evidência ao interior da prova.
  52. Dialética: logica inventionis (lógica da descoberta).
  53. Descoberta dos princípios.
  54. Analítica parte das certezas; a dialética parte dos problemas.
  55. A analítica é inútil sem a dialética (Weil).
  56. Dialética: sucessão de percepções intuitivas das contradições até à percepção dos princípios subentendidos.
  57. Suporte simbólico e ritual da metafísica.
  58. Chaim Perelman – nova retórica.
  59. Confusão dialética-retórica em Perelman.
  60. Retórico e retor.
  61. Retórica como técnica e como teoria. Abandono da teoria retórica desde o Renascimento.
  62. Filosofia x retórica (Perelman).
  63. Retórica: fornecedora dos problemas.
  64. Conflito de opiniões = pressuposto da dialética.
  65. Dialética: compreensão profunda do discurso retórico.
  66. Valor filosófico da Poética. Conhecimento do possível.
  67. Graus de credibilidade.
  68. Verossimilhança: estabilização do possível.
  69. Forçosidade e credibilidade – a forçosidade (lógica) é inversamente proporcional à credibilidade (psicológica).
  70. Atualizar em imagens os conceitos.
  71. Prova analítica da necessidade de 4 discursos a partir do conceito de discurso.
  72. Intuição e discurso – Unidade e proporcionalidade
  73. Teoria do discurso e teoria dos gêneros subentendem uma teoria da ação.

AMÍLCAR ROSA

Imaginário, escolha e passagem entre camadas da personalidade.

 

4. Os gêneros literários

Pedro Sette Câmara

 

  1. Status quaestionis
  2. Épico, lírico e dramático.
  3. Tentativa de classificar os gêneros pelo conteúdo.
  4. Falta de correspondência entre as obras e seus supostos gêneros.
  5. Fracasso das classificações empíricas.
  6. Os gêneros são esquemas de possibilidades.
  7. Wellek & Warren: teoria institucional.
  8. Condições da existência corporal: tempo, espaço e número.
  9. Do número decorrem o verso e a prosa: descontinuidade e continuidade.
  10. Raios e círculos. Seu simbolismo direto e inverso.
  11. Denotação e conotação. Falsa distinção de prosa e verso. Seria preciso cruzar esse critério com o de continuidade e descontinuidade para tornar possível uma classificação.
  12. Narrativo. Tempo – contínuo e descontínuo.
  13. Triplo tempo. Eternidade, perenidade e temporalidade.
  14. Eternidade – Imperativo (amr)
  15. Perenidade (aoristos). Tempo das parábolas. Possibilidades reatualizáveis.
  16. Narrativa contínua e descontínua – ficção e história – repetível e irrepetível.

 

5. Ética

Álvaro Velloso de Carvalho

 

Filosofia moral não é disciplina independente

  1. Éticas sociais e filosofia moral
  2. Organismo e organização
  3. Demanda moral do indivíduo e da coletividade
  4. Busca de princípios universais
  5. Universalidade não é obrigatoriedade geral prática; é apenas validade teórica.
  6. Dos princípios decorrem os critérios para o julgamento das éticas sociais historicamente existentes.
  7. Moral e tipologia das condutas.
  8. Identidade do agente
  9. Conduta socialmente condicionada e julgamento individual autônomo.
  10. O sujeito cartesiano ou lógico não é o sujeito da ação moral.
  11. Caráter abstrato do ego cartesiano.
  12. Abstração da memória é impossível.
  13. Memória, continuidade, sujeito, ego.
  14. Memória é pessoal e intransferível.
  15. Autoria.
  16. O princípio de autoria é constitutivo do sujeito.
  17. Transformações involuntárias podem aumentar os meios de ação voluntária.
  18. Absorção progressiva da responsabilidade imputada, na medida da ampliação mesma dos meios de ação.
  19. Absorção da responsabilidade pelas ações meramente possíveis.
  20. Autoconsciência não é natural nem cultural. É possibilidade inerente à natureza e aos papéis sociais, atualizada pelo princípio de autoria.
  21. A identidade não pode provir da absorção de papéis sociais, porque esta absorção pressupõe o auto-reconhecimento.
  22. Fazer e padecer. Sujeito e objeto. Dualidade de funções inerente à consciência individual.
  23. Mundo de recordações pessoais – orbe de responsabilidade.
  24. Princípios de autoria e de absorção da responsabilidade imputada = mandamentos –1 e –2.
  25. São decorrências da unidade do real.
  26. Princípio de autoria está na base da distinção entre real e imaginário. O real só existe para quem sabe que é autor de seus atos.
  27. A objetividade do conhecimento é função da liberdade moral que aceita o princípio de autoria.
  28. Conhecimento objetivo e sinceridade.
  29. Responsabilidade pelos atos interiores.
  30. O primeiro princípio cognitivo é o primeiro princípio moral.
  31. O fundamento da moral é o mesmo fundamento do conhecimento em geral.
  32. Conhecimento por admissão: reconhecimento da impossibilidade da dúvida radical.
  33. Honestidade intelectual: não fingir que sabe o que não sabe nem que não sabe o que sabe.
  34. Não há diferença efetiva entre juízos de realidade e juízos de valor.
  35. Resposta à objeção kantiana de que esses princípios são formais.
  36. A unidade do sujeito não é um preceito formal, mas um bem real, visado pelos atos do sujeito.
  37. Ampliação do círculo de responsabilidade = decorrência do princípio de autoria.
  38. Responsabilidade e autopreservação.
  39. Repressão da consciência moral (rejeição da culpa) vai contra a integridade do sujeito. É, já, a morte.
  40. Doença psíquica consiste apenas em diminuição da esfera da psique, isto é, em absorção dela pelas demais 3 causas.
  41. Absorção da responsabilidade = caminho do bem = caminho da saúde mental.
  42. Abdicação da liberdade abstrata (sartreana) = conquista da liberdade concreta.
  43. Metanóia.
  44. “Viver sem culpas” é a mãe.
  45. Aceitação do estreitamento das possibilidades = aceitação da morte = aceitação da vida.

 

6. Natureza e formas do poder

Luciano Saldanha Coelho

 

  1. Domínios ontológicos irredutíveis
  2. Produzir, destruir e orientar-se
  3. Objetos do poder: objetos materiais, corpo humano, idéias e crenças.
  4. Dieta = assembléia dos produtores (e trabalhadores)
  5. Império = nobreza de toga e nobreza de espada.
  6. Igreja = cultura e tradição.
  7. Dois aspectos em cada poder. Ativo e passivo.
  8. Polo ativo – unidade e concentração do poder.
  9. Polo passivo – multiplicidade e divisão.
  10. Dieta: polo ativo = produtores, homens ricos (concentração da riqueza); polo passivo = trabalhadores (divisão da riqueza)
  11. Império: polo ativo = milícia, casta armada; polo passivo = justiça (distribuição).
  12. Igreja: polo ativo = cultura (concentração do saber); polo passivo = tradição (distribuição, equalização das crenças).
  13. O poder segundo B. Russel. Conceito nuclear das ciências sociais = todas as proposições gerais podem ser reduzidas a proposições sobre o poder.
  14. Erro de Russel : deduzir diretamente proposições particulares, antes de ter o arcabouço teórico geral.
  15. Exigências do conceito nuclear. (1) geral; (2) determinado; (3) adequado.
  16. “Poder divino” não é poder no sentido desta ciência.
  17. Que é o poder (no sentido humano)?
  18. Poder = possibilidade concreta de ação.
  19. Ação = transformação deliberada de um estado de coisas. (Conservação deliberada é também transformação, neste sentido).
  20. Ação no sentido estrito (político) = determinar voluntariamente as ações de outrem. Produzir obediência.
  21. Tipos de poder vêm das motivações objetivas da obediência. 1 – Força física. 2 – Dinheiro (riqueza). 3 – Carisma.
  22. Lugar do poder. Só a força física “está” no seu portador.
  23. Só o poder carismático implica obediência automática.
  24. Quanto menos o poder “está” no portador, maior é esse poder.
  25. Modos do poder (…)
  26. Força física: gerativa, operativa, curativa, destrutiva, coadjuvante (atua sobre a imaginação).
  27. Dinheiro. Força delegada por uma ordem pública.
  28. Poder carismático – delegado pelos seguidores.
  29. Castas – Tipologia independente da estrutura social historicamente existente.
  30. Clero – governantes – produtores – braçais.
  31. Castas e classes – distinção.
  32. Classes – distinção econômica, isto é, feita segundo o ponto de vista da casta produtora.
  33. Ex.: Lula – proletário ou governante? É um membro da casta governante, oriundo da classeproletária.
  34. O poder está sempre na casta sacerdotal e na governante, independentemente da estrutura econômica vigente.
  35. Uma classe não pode “tomar o poder” no sentido estrito. Forma-se apenas uma nova casta sacerdotal, que forma uma nova casta governante.
  36. Máfia é casta governante (armada).
  37. Casta sacerdotal – ex.: profetas e fundadores de religiões; místicos, mestres, etc.; filósofos e ideólogos, “intelectuais”; escritores e artistas; jornalistas, publicitários etc. ; show business; beautiful people.
  38. Constante de Jouvenel: concentração progressiva do poder. Constante de Ellsworth Huntington: aproximação progressiva. Constante de Malthus: crescimento da população. Constante de OC: apropriação dos meios de ação naturais.
  39. Corolário da constante de Jouvenel: expansão dos direitos é expansão do poder.
  40. Expansão da profissão científica produz concentração do poder.
  41. Planejamento estatal da cultura. Preparação do ambiente psicológico para a introdução das mudanças tecno-científicas.
  42. Iron Mountain Report. Crise ecológica como substituto do nazismo e do comunismo no papel de inimigo.
  43. Mutação planejada do sentido dos símbolos naturais.
  44. Controle externo da psique.
  45. Ruptura entre camadas profundas e superficiais da psique.
  46. Política = interface entre as nobrezas.
  47. A política é a continuação da guerra por outros meios (inverso de Clausewitz). Política é a disputa não violenta dos meios de violência.
  48. Divisão dos poderes de Locke & Montesquieu é puramente normativa e abrange somente divisões internas do Estado. Os três são eminentemente absorvíveis uns pelos outros, exceto no que diz respeito à absorção do judiciário pelo executivo.
  49. Distinção entre essa divisão e a divisão das castas.
  50. Estado, economia e cultura.
  51. Cultura no Brasil = instrumento da economia ou do Estado.

 

7. Tipos espirituais e castas

Paulo Mello

Não fiz anotações durante esta palestra, improvisada e excelente. – O. de C.

 

 

8. O sujeito da História

Marcelo De Polli

  1. Condições do sujeito da ação: Unidade substancial, unidade autoral, unidade subjetiva
  2. Horizonte de consciência (a) contemplativa; (b) decisória. Limites do raio de ação.
  3. O indivíduo tem possibilidade de ação histórica até certo ponto, dependendo de seu horizonte de consciência decisória.
  4. Raça não pode ser sujeito da ação histórica, pois não tem unidade autoral.
  5. Classe, nação, cultura, etc. Idem.
  6. O sujeito da ação histórica deve, ao mesmo tempo, transcender a duração da vida individual e ter unidade substancial, autoral e subjetiva.
  7. Entidades que atendem a esse requisito: tradições espirituais; organizações esotéricas e sociedades secretas; dinastias reais e nobiliárquicas.
  8. O rito imprime no fundo da imaginação um novo conjunto de símbolos que delimita as possibilidades de concepção e ação.
  9. As entidades que podem ser sujeitos da história têm mecanismos rituais de auto-reprodução que asseguram sua unidade e continuidade.
  10. Atuação dessas entidades não é política, é espiritual e simbólica.
  11. Castas não são sujeitos da história.
  12. Unidade do Império romano é dada pela religião romana; a troca de religião dissolve o Estado.
  13. Maçonaria na Revolução Francesa – todos eram maçons: o Rei, os nobres, os revolucionários.
  14. Personagens do drama histórico atual: Império leigo maçônico (EUA); tradições (judaica, islâmica, cristã); dinastias européias.
  15. Missão unificadora auto-atribuída pelo Império americano.
  16. Importância do elemento secreto na história moderna.
  17. Estado laico.

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