Leituras

A árvore e o jabuti

José Nivaldo Cordeiro


28 de dezembro de 2001

Ao ler ontem a coluna de Otávio Frias Filho na Folha de São Paulo, na qual ele afirmou hiperbolicamente que José Serra é o melhor administrador público de sua geração, proposição da qual evidentemente não demonstrou os fundamentos, uma intuição caiu sobre mim como um raio a respeito dos fatos da conjuntura econômica.

Todo mundo sabe que jabuti não sobe em árvore, como diz o ditado popular. Se lá está é porque alguém o colocou, alguém que tem poder para isso. Diz a sabedoria popular que é melhor não mexer com ele, pois se está lá é para ficar, segundo a vontade de algum poderoso de plantão. O que importa aqui não é removê-lo, longe de mim que nem poder tenho para isso. Importa, todavia, explicá-lo e interpretá-lo.

O nosso jabuti metafórico é a sensacional virada na conjuntura econômica, que deixou a todos perplexos, com a apreciação do câmbio sem nada de significativo que lhe pudesse servir de base, exceto a ação governamental. Não sou operador de mercado e não tenho nenhuma inside infomation, de modo que pretendo aqui apenas analisar os fatos e tentar explicá-los pelo lado de fora, com base nas informações disponíveis.

Rememorando. O câmbio chegou bater R$ 2,80 e de repente começou a cair de forma sistemática, isso depois do governo vender ativos cambiais cujo valor de estoques ficou superior a US$ 130 bilhões. A primeira conseqüência óbvia é que detentores desses títulos, especialmente bancos e investidores institucionais, mas não apenas, pois dado o valor elevado é provável que a maioria dos investidores tivesse feito alguma posição casada com o câmbio, realizaram formidável prejuízo, uma vez que a taxa regrediu para a faixa de R$ 2,30 por dólar.

É claro que alguns fatores conjunturais ajudaram, como a eliminação da possibilidade de apagão e a redução das metas de racionamento de energia e também a reação favorável da balança comercial, como tendência de elevação das exportações e redução das importações, por força da nova taxa cambial. Foi benéfico também o fato de que o Brasil conseguiu ter fluxo de capitais de risco na faixa dos US$ 20 bilhões, ajudando a fechar as contas do ano. Mas isso não seria suficiente para contrabalançar a elevação acentuada das taxas inflacionárias, com alguns indicadores fechando o ano já na casa dos dois dígitos, e a piora dramática da situação da Argentina. Isso para não citar os efeitos desfavoráveis gerados pelos acontecimentos de 11 de setembro e a respectiva reação ocidental.

A equação não fecha. No mínimo, a expectativa dos agentes econômicos indicava que a situação seria de deterioração e não haveria uma razão objetiva para a sensacional mudança.

Qual é a variável oculta? Penso que o Otávio Frias Filho, na sua retórica tucana inflamada, deu a pista. É provável que houve uma combinação de ações governamentais em pelo menos três frentes, forçando a queda do câmbio: 1- vendendo dólares e títulos cambiais no montante desejado pelo mercado; 2- forçando os investidores institucionais sob o seu comando não apenas a não aumentarem seu hedge cambial, mas os obrigando a desovar estoques desses títulos; e 3- forçando o sistema bancário privado a reduzir também a sua demanda, sob o argumento de realpolitik de que 2002 é ano eleitoral e que a maior chance de derrotar Lula é entrar forte no Ano Novo, com um posição favorável na economia.

Em outras palavras, o governo está usando todo o arsenal permitido pelo poder de Estado para favorecer o candidato chapa branca, de forma até agora bastante discreta, tanto que os analistas econômicos até agora não disseram palavras sobre isso.

Mas mentira tem pernas curtas, como o jabuti. E não é possível a manipulação do mercado por tempo muito longo, pois se assim fosse o governo teria o poder mágico de eliminar as crises. O fato objetivo é que a Argentina está em agonia, que há uma guerra no Mundo, que o Brasil precisa de recursos da ordem de US$ 20 bilhões em capitais de risco, em 2002, para fechar as contas e que fechamos o ano com inflação de dois dígitos, nada havendo que justifique previsões a taxas inferiores. Tudo leva a crer que a verdade de mercado é um câmbio mais elevado do que aquele praticado nos últimos dias do ano que se finda, mantendo a pressão inflacionária sobre o sistema econômico. Nem mesmo jogadas como a redução da tributação, e a respectiva redução no preço, da gasolina, de forte impacto no imaginário popular (sinal de ter sido uma manobra eleitoreira), poderá reverter a realidade dos fatos. Até porque os demais preços públicos estão contratualmente amarrados ao câmbio e só tendem a subir, como aconteceu recentemente com a energia elétrica.

É provável que esse jabuti arbóreo volte rapidinho para o chão, de onde nunca deveria ter saído.

O Papa e a CNBB

José Nivaldo Cordeiro


27 de dezembro de 2001

A mensagem do Papa João Paulo II para a comemoração do Dia Mundial da Paz (01/02/2002), intitulada Não há paz sem justiça; Não há justiça sem perdão, é um documento exemplar da postura da Santa Sé em relação aos acontecimentos de 11 de setembro. O interessante é também compará-lo com a linha de análise dos fatos adotada pela CNBB, em sua última Análise de Conjuntura (relativa ao mês de novembro) disponibilizada no seu site (www.cnbb.org.br). O abismo entre ambas as posições é maior do que aquele que separa o Céu da Terra. Abaixo vou tentar comparar os textos.

A mensagem do Papa tem um caráter intimista, daí a sua leitura ser ainda mais excitante, tangenciando o poético. E ele não usa de meias palavras para condenar os atentados:

“Este ano o Dia Mundial da Paz é celebrado tendo como pano de fundo os dramáticos acontecimentos do passado dia 11 de Setembro. Naquele dia, foi perpetrado um crime de terrível gravidade: em poucos minutos milhares de pessoas inocentes, de várias procedências étnicas, foram horrorosamente massacradas. Desde então, por todo o mundo as pessoas tomaram consciência, com nova intensidade, da sua vulnerabilidade pessoal e começaram a olhar o futuro com um sentido, jamais pressentido, de íntimo medo. Diante deste estado de ânimo, a Igreja deseja dar testemunho da sua esperança, baseada na convicção de que o mal, o mysterium iniquitatis, não tem a última palavra nas vicissitudes humanas. A história da salvação, delineada na Sagrada Escritura, projeta uma grande luz sobre toda a história do mundo ao mostrar como sobre ela vela sempre a solicitude misericordiosa e providente de Deus, que conhece os caminhos para sensibilizar mesmo os corações mais endurecidos e alcançar bons frutos mesmo de uma terra árida e infecunda. Esta é a esperança que anima a Igreja no início do ano 2002: com a graça de Deus este mundo, no qual as forças do mal parecem uma vez mais triunfar, há-de realmente transformar-se num mundo em que as aspirações mais nobres do coração humano poderão ser satisfeitas, num mundo onde prevalecerá a verdadeira paz”.

Quanta diferença quando comparamos com o que escreveram os analistas conjunturais da CNBB! Vejamos o seu primeiro parágrafo:

“A conjuntura continua marcada pelo atentado terrorista do dia 11 de setembro e pela guerra contra o movimento Taliban, do Afeganistão. À medida que passa o tempo, vai ficando claro que aquele atentado condensou a sensação de mal-estar mundial dos últimos anos. A guerra que se seguiu, desproporcional à sua pretensa causa, só veio agravar esse mal-estar, como se a Humanidade no seu todo estivesse febril”.

Em todo o texto do Papa vemos a justa indignação com os atos terroristas perpetrados contra os EUA, não havendo uma única palavra de condenação do Santo Padre contra as ações militares que ainda estão em andamento, até porque o Papa, em momento anterior, já havia classificado a guerra como “justa”. Já os conjunturalistas da CNBB iniciam seu texto relativizando, afirmando com o acontecido em 11 de setembro “condensou a sensação de mal-estar mundial nos últimos anos”, implicitamento colocando a ação criminosa calculada e pensada como uma respostas a uma agressão anterior. Nada mais falso. Além disso, condena de forma categórica ação dos EUA, em clara contradição com a visão do Sumo Pontífice.

Eles acrescentam à sua análise:

“À medida que passa o tempo e continuam as operações militares comandadas pelos EUA na Ásia Central, vai ficando claro que esta guerra tem outros objetivos além do alegado combate a grupos que adotam o terrorismo como estratégia política. Um desses objetivos é assegurar aos países membros do G-7 o controle sobre as rotas de petróleo e gás natural da Ásia Central e do mar Cáspio (cujas reservas serão a grande alternativa para o Ocidente quando se esgotarem os recursos do Oriente Médio, dentro de 20 anos no máximo). Outro objetivo, de importância estratégica, é a presença militar nas vizinhanças da China (a potência emergente dos próximos anos, já se preparando para ocupar o terceiro lugar na corrida espacial), da Índia e da Rússia/Sibéria. Enfim, é preciso lembrar que a guerra aumenta os investimentos na indústria bélica e dinamiza a economia estadunidense para fazê-la sair da recessão que já a ameaçava antes mesmo de 11 de setembro”.

Fica claro nesse trecho que os analistas adotam uma visão conspiratória, tratando os EUA como agressores e não como quem combate em ato de defesa, aí englobando o G-7. Como se países como França não tivessem suas reservas e aquele colegiado fosse um monolito. Na visão dos analistas, a mobilização militar não tem por objetivo destruir as bases terroristas, mas fazer a guerra de conquista, em claro desacordo com a realidade dos fatos. A paranóia vai além, sugerindo que o Ocidente precisaria de bases militares adicionais por causa da China e da Rússia, como se ainda estivéssemos vivendo a Guerra Fria e o comunismo não tivesse sido derrotado em 1989. A pobreza dos parâmetros dos analistas é, por assim dizer, franciscana. Chega mesmo a ser colegial.

O seguinte trecho é ainda mais insípido:

“A escolha do mundo árabe-muçulmano como alvo de guerra, porém, pode ter efeitos explosivos no médio prazo. Como já foi assinalado (Conjuntura de setembro), a opção pela guerra provoca a radicalização de posições extremas e dificulta o desenvolvimento de alternativas viáveis para a Justiça e a Paz mundial (como as alternativas nascentes do Fórum Social Mundial). Vemos multiplicarem-se medidas autoritárias contra pessoas suspeitas, principalmente nos EUA, onde o governo Bush está fazendo lembrar o AI-5 da ditadura militar brasileira. A recente vitória eleitoral da direita na Dinamarca parece ser um mau presságio de agravamento da xenofobia e do endurecimento político do Ocidente. Os problemas mundiais tendem a ser resolvidos pela força das armas e em favor dos mais fortes sob o ponto de vista econômico e militar, uma vez que agora mais que nunca é evidente a inter-relação entre segurança e economia.. A aversão ao risco ganha maior peso como fator de decisão sobre os investimentos: o Estado que não oferecer segurança aos investidores ficará prejudicado no financiamento da sua economia”.

Os EUA escolheram os mundo árabe-muçulmano como alvo? Foi exatamente o contrário, eles atacaram os EUA de forma rapace e traiçoeira. Aqui eles, os analistas conjunturais , transformam o agredido em agressor. E, como bons marxistas, colocam o drama como sendo motivado por razões econômicas, quando toda a gente sabe que a motivação é de outra natureza, está no ódio ancestral e tribal contra a modernidade, contra a sociedade aberta, contra a libertação feminina e, podemos dizer, contra as liberdades em geral. E as medidas de proteção contra os novos prováveis atentados (quem esquece do terrorista do sapato que ainda nesta semana tentou derrubar um outro avião, uma forma de terrorismo que poderíamos chamar de pé-de-chinelo? É possível não ser previdente contra esses dementes?) Quem tentou resolver os problemas mundiais pelas armas foram os terroristas. E, que mal pergunte, o que tem a ver a segurança dos investidores com os atos terroristas? Só marxistas cegos pela ideologia para misturar alhos com bugalhos.

Mas voltemos ao texto do Santo Padre:

“Os recentes acontecimentos, com os terríveis fatos sangrentos aqui lembrados, estimularam-me retomar uma reflexão que freqüentemente brota do mais íntimo do meu coração, quando lembro os acontecimentos históricos que marcaram minha vida, especialmente nos anos da minha juventude. Os indescritíveis sofrimentos de povos e indivíduos, vários deles meus amigos e conhecidos, causados pelos totalitarismos nazista e comunista, sempre interpelaram o meu espírito e motivaram a minha oração. Muitas vezes me detive a refletir nesta questão: qual é o caminho que leva ao pleno restabelecimento da ordem moral e social tão barbaramente violada? A convicção a que cheguei, raciocinando e confrontando com a Revelação bíblica, é que não se restabelece cabalmente a ordem violada, senão conjugando mutuamente justiça e perdão. As colunas da verdadeira paz são a justiça e aquela forma particular de amor que é o perdão”.

Quanta diferença! Enquanto que a CNBB emprega declaradamente a sociologia marxista para fazer o seu arremedo de interpretação da realidade, o Papa singelamente usa a doutrina de cristã, prega o Evangelho, a grandeza da justiça e do perdão. E vai além. Denuncia o totalitarismo, inclusive o comunista, que é tão caro para uma parcela importante do clero brasileiro.

Continua o Papa:

“Mas, nas circunstâncias atuais, pode-se falar de justiça e, ao mesmo tempo, de perdão como fontes e condições da paz? A minha resposta é que se pode e se deve falar, apesar da dificuldade que o assunto traz consigo, e da tendência que há a conceber a justiça e o perdão em termos alternativos. Mas o perdão opõe-se ao rancor e à vingança, não à justiça. Na realidade, a verdadeira paz é ” obra da justiça ” (Is 32, 17). Como afirmou o Concílio Vaticano II, a paz é ” fruto da ordem que o divino Criador estabeleceu para a sociedade humana, e que deve ser realizada pelos homens, sempre ansiosos por uma mais perfeita justiça ” (Const. past. Gaudium et spes, 78). Há mais de quinze séculos que na Igreja Católica ressoa o ensinamento de Agostinho de Hipona, segundo o qual a paz, a ser conseguida com a colaboração de todos, consiste na tranquillitas ordinis, na tranqüilidade da ordem (cf. De civitate Dei, 19, 13). Por isso, a verdadeira paz é fruto da justiça, virtude moral e garantia legal que vela sobre o pleno respeito de direitos e deveres e a eqüitativa distribuição de benefícios e encargos. Mas, como a justiça humana é sempre frágil e imperfeita, porque exposta como tal às limitações e aos egoísmos pessoais e de grupo, ela deve ser exercida e de certa maneira completada com o perdão que cura as feridas e restabelece em profundidade as relações humanas transtornadas. Isto vale tanto para as tensões entre os indivíduos, como para as que se verificam em âm bito mais alargado e mesmo as internacionais. O perdão não se opõe de modo algum à justiça, porque não consiste em diferir as legítimas exigências de reparação da ordem violada; mas visa sobretudo aquela plenitude de justiça que gera a tranqüilidade da ordem, a qual é bem mais do que uma frágil e provisória cessação das hostilidades, porque consiste na cura em profundidade das feridas que sangram nos corações. Para tal cura, ambas, justiça e perdão, são essenciais.”.

Há, nesse trecho, apoio implícito a ação dos EUA, que têm a missão de restabelecer a ordem quebrada, o equilíbrio perdido. A traquilidade da ordem exige a ação da justiça, que deve ser seguida da ação do perdão, tão bela e poeticamente aqui lembrado pelo Santo Padre.

Nada mais diferente do que a pífia análise dos analistas conjunturais da CNBB. O Papa não usa de meias palavras para condenar o terrorismo, como podemos ler no seguinte trecho:

“É precisamente a paz baseada na justiça e no perdão que, hoje, é atacada pelo terrorismo internacional. Nestes últimos anos, especialmente após o fim da guerra fria, o terrorismo transformou-se numa rede sofisticada de conluios políticos, técnicos e econômicos, que ultrapassa as fronteiras nacionais e se estende até abranger o mundo inteiro. Trata-se de verdadeiras organizações, dotadas freqüentemente de enormes recursos financeiros, que elaboram estratégias em vasta escala, atingindo pessoas inocentes, de forma alguma envolvidas nos objetivos que se propõem os terroristas. Usando os seus mesmos sequazes como armas para atingir pessoas incautas e indefesas, estas organizações terroristas manifestam de modo assustador o instinto de morte que as alimenta. O terrorismo nasce do ódio e gera isolamento, desconfiança e retraimento. A violência atrai violência, numa trágica espiral que arrasta também as novas gerações, herdando elas assim o ódio causador das divisões precedentes. O terrorismo baseia-se no desprezo da vida do homem. Precisamente por isso, dá origem não só a crimes intoleráveis, mas constitui em si, enquanto recorre ao terror como estratégia política e econômica, um verdadeiro crime contra a humanidade“.

E também não usa de meias medidas para o seu combate:

Existe, portanto, um direito a defender-se do terrorismo. É um direito que deve, como qualquer outro, obedecer a regras morais e jurídicas na escolha quer dos objetivos quer dos meios”.

Mais um claro apoio à ação internacional que está em curso. O restante do texto continua explorando por outros ângulos o mesmo tema, condenando o terrorismo e apoiando a ação “justa” e o perdão.

É evidente que a posição do Papa está de acordo com a doutrina e a história do cristianismo. O mesmo não pode ser dito do texto da CNBB.

Por que Lula empaca?

Percival Puggina


27 de dezembro de 2001

Imagine se Lula não empacasse e ganhasse a eleição. No dia de sua posse, teríamos uma bandeira de Cuba hasteada na sacada do Palácio do Planalto, promoveríamos um coquetel de corpo presente para Bin Laden (chega de festejá-lo às ocultas) e iniciaríamos uma grande costura diplomática com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, com o governo Chávez, com o Exército Zapatista, com o Jihad e o Hezbollah e com todos os movimentos insurrecionais da esquerda latino-americana. Romperíamos com o FMI, claro. O Ministério do Exército seria anexado ao da Justiça e confiado ao dr. Bisol, que asseguraria proteção verde-oliva às tropelias do MST. O companheiro Marighella substituiria Caxias como patrono da instituição.

Teríamos o OP federal e as cartilhas do MEC. Entraria no ar, em cadeia nacional, o programa ‘Palavra de Brasileiro’, ou ‘Brasil Vivo’. E – glória suprema! – mandaríamos embora não apenas a Ford, mas a Volks, a GM, a Fiat, a Peugeot, a Renault, a Mercedes-Benz, a Toyota e outras que nem elas. Promoveríamos fóruns mundiais sobre tudo e não resolveríamos coisa alguma. E o Congresso votaria uma alteração da matriz tributária por ano.

Cada agricultor que deixasse a terra seria substituído por um desempregado da cidade e assim faríamos, ao mesmo tempo, a maior reforma agrária e a maior reforma urbana do planeta. As rodovias federais seriam patrulhadas pelo olho ganancioso dos pardais e haveria parquímetros nos acostamentos e nos belvederes. Seria terminantemente proibido ocupar prédios da União, mas ficaria aberta a temporada de invasões em repartições estaduais sob governos oposicionistas. O partido do presidente, com tantos cargos à disposição em todo o país, criaria não um clubinho de seguros, mas fundaria o Grupo Cidadania, composto de seguradora, banco e financeira.

Faltou-me espaço e não tinta para pintar o quadro das razões pelas quais Lula corre na pista, mas não decola. É possível que você esteja julgando meio fantasiosa a cena. Nesse caso, vale a pergunta: se a descrição acima é delirante, como você qualifica o que está acontecendo no Rio Grande do Sul?

 

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