Leituras

Quem trabalha para quem

Ombro a Ombro, julho de 1999

Você leu “O enigma que é solução”? Então conheça aqui um dos dados do problema.

De hoje em diante, quando você ouvir um sujeito defender “causas populares”, verifique primeiro se ele recebe dinheiro das fundações Ford, Rockefeller ou Carnegie.

E quando ouvir um esquerdista fazer um discurso inflamado contra o neoliberalismo, lembre-se de três coisas: 1ª Neoliberalismo não tem nada a ver com liberalismo. Liberalismo é liberdade para a iniciativa econômica popular; neoliberalismo é economia global dirigida — o socialismo dos ricos. 2ª O neoliberalismo é um projeto abrangente, que inclui (e compatibiliza com os interesses da estratégia global) todos os programas atualmente defendidos pela esquerda no Brasil (aborto, controle de armas, casamentos gays, quotas raciais etc. etc.). 3ª A palavra “neoliberalismo”, na nossa imprensa, não significa nada disso, mas é sinônimo de FHC. Ao falar contra o neoliberalismo, a esquerda está apenas disputando com FHC o cargo de executor local dos planos neoliberais. Ela jamais baterá de frente nos interesses estrangeiros que a sustentam. Não se trata portanto de uma luta contra o dono, mas apenas contra o gerente. Derrubado FHC, mudará o estilo da subserviência: passaremos do esculacho risonho à anarquia sangrenta. Os donos do mundo já anunciaram: para eles, dá na mesma.

Aviso ao sr. Brum

Olavo de Carvalho

5 de julho de 1999

Chega-me a notícia de que um tal sr. Brum (não darei o nome todo, mas está anotado na minha agenda) procurou os profs. Francisco Antonio Dória e Muniz Sodré, oferecendo-lhes uma mercadoria insólita: histórias escabrosas a respeito de Olavo de Carvalho.

Consta que os dois acadêmicos reagiram de maneira correta e nobre, dizendo, na cara do proponente, que não estavam interessados no negócio.

Para que o sr. Brum não desperdice mais tempo e esforço em vão, sugiro que envie sua proposta diretamente a esta homepage, que lhe fornecerá um cadastro de possíveis clientes, os quais talvez até se disponham a lhe pagar, em troca das escabrosidades prometidas, a quantia equivalente a 1 (hum) cafezinho.

O sr. Brum não me levará a mal se eu aproveitar essa ocasião para tratar dos meus próprios interesses comerciais, oferecendo-lhe, a preço módico, mais algumas informações horripilantes a respeito de mim mesmo, as quais, sendo de primeira mão, certamente obterão altos lucros de revenda no mercado da babaquice universal.

Carta de Hélion Póvoa Neto

23 de junho de 1999

A seção “Diga o que quer, ouça o que não quer” bem poderia se chamar: “Leia aqui a resposta ao que você não disse”. Ao comentar carta que escrevi à revista “Bravo” em fevereiro de 1998, o sr. Olavo de Carvalho diz que “o leitor que deseja um debate deve expressar opiniões definidas sobre pontos precisos”. Conselho que ele é o primeiro a desconsiderar.

Ao contrário do que afirma o sr. Carvalho, não o convidei ao debate, não sugeri a sua exclusão da revista em questão, e não sou psicanalista, nunca o fui e jamais o serei (que oráculos consultará o sr. Carvalho?). A carta está lá, para quem quiser ler, no número de 1998, como está a resposta grosseira – por mim ignorada – de Carvalho no número de abril de 1998.

Como se faz quando alguém que prega critérios de verdade distorce, mente e manipula só para conquistar algumas poucas linhas em sua pr’pria homepage para esbravejar contra aquilo que pensa que os outros pensam dele? Acionamos a Justiça, denunciamos ao Procon por fraude contra os que o consomem, pedimos a sua interdição por motivos psiquiátricos ou simplesmente o ignoramos como se deve fazer com aqueles que não merecem a menor consideração nem respeito?

Atenciosamente,

Helion Póvoa Neto

Resposta de Olavo de Carvalho

Reaparecendo das sombras do nada em que minha memória falível o havia desterrado, ergue-se o dr. Póvoa, com um formidável atraso, para protestar contra coisas que escrevi em Bravo! de março de 1998. Não me deixa alternativa senão reler tudo aquilo e em seguida informar ao remetente a inútil vaidade de suas caretas ameaçadoras:

1) Eu nunca disse que o dr. Póvoa me convidou para um debate. Quem disse — aliás no intuito de defendê-lo — foi a leitora Helga Helena Monteiro (v. carta nesta mesma homepage), e, precisamente, respondi que ele não fizera nada disso, limitando-se sugerir minha exclusão da revista Bravo!. Fingindo que pus palavras na sua boca, o dr. Póvoa põe algumas na minha.

2) O dr. Póvoa que largue de se fazer de ingênuo. Escrever a uma revista expressando repulsa à presença de um determinado sujeito no quadro de redatores é sugerir sua exclusão, e de maneira bem pouco sutil. Mas isto já virou uma regra. Dos sujeitos que enviam cartas a editores para protestar contra algo que eu disse, cinqüenta por cento começam por lamentar que a imprensa me conceda espaço para escrever. Que outro sentido tem isto, senão a de sugerir que a imprensa se livre de um colaborador lamentável? O efeito acumulado de cartas desse teor é bem previsível. Alvos mais paranóicos suspeitariam de uma campanha orquestrada. Da minha parte, diagnostico: é simples repetição de um cacoete stalinista, irreprimível em certas cabecinhas feitas à imagem e semelhança do inventor da “arma da fome”.

3) Num ponto o dr. Póvoa diz a verdade: ele, de fato, não é psicanalista. Admito que errei quanto a esse detalhe, o qual, aliás, no conjunto da questão, não fede nem cheira. É preciso ser um bocado teatral para afirmar que essa imprecisão miúda e irrelevante atesta uma intenção de “distorcer, mentir e manipular”.

4) No que diz respeito às alternativas de ação perfeitamente malucas que o dr. Póvoa conjetura – acionar a Justiça, denunciar-me ao Procon, etc. etc. -, provam apenas que ele tem dificuldade de rebater palavras com palavras e que, diante de um adversário que o irrita, sente o impulso quase irresistível de fazer algo contra ele. Mas, diziam os escolásticos, para agir é preciso ser. Não cumprindo esta última condição, o dr. Póvoa limita-se a fantasiar vingancinhas, retorcendo-se de raiva ao mesmo tempo que procura fingir uma indiferença superior. A alternativa de me ignorar olimpicamente não parece, no entanto, estar ao alcance de um sujeito que ainda se mostra tão nervoso depois de decorrido todo esse tempo da publicação de minha resposta. A profusão mesma de estratégias belicosas que ele conjetura contra mim prova que o dr. Póvoa tem pensado dia e noite na minha humilde pessoa. Lamento não poder retribuir sua atenção.

Atenciosamente,

Olavo de Carvalho

Veja todos os arquivos por ano