Por José Nivaldo Cordeiro


13 de Junho de 2002

Pelo andar da carruagem, a eleição presidencial que se aproxima deverá caminhar mesmo para a disputa polarizada entre Serra e Lula, se não houver nenhum fato novo. Quais as semelhanças e diferenças entre os dois candidatos? Que forças políticas representam? Para onde caminhará o Brasil sob o comando de um ou de outro?

Várias vezes eu abordei esse tema nos artigos anteriores, ao qual volto motivado por um e-mail provocativo que recebi, o qual me colocou a questão: se nenhum dos dois, quem, então? É esse o drama do nosso Brasil, pois que não há uma terceira alternativa. Nenhum dos dois reflete a minha inclinação política, que pode representar a inclinação de uma boa maioria silenciosa ou, no mínimo, uma minoria bastante ponderável. O drama consiste exatamente no fato de que nenhum dos dois candidatos, enquanto instrumento das forças políticas que representam, terão condições de conduzir o processo de retirada do Brasil do atoleiro em que se encontra.O drama é precisamente a ausência de um estadista com densidade política e que tenha a clareza de que o País precisa reduzir rápida e profundamente o papel do Estado, tendo para isso que enfrentar o conjunto dos interesses estabelecidos que se alimentam precisamente da fragilidade da Nação, as sanguessugas políticas.

Quanto maior o Estado, mais pobre o povo e mais fraca a Nação. Quanto maior o Estado, mais ricos e cevados ficam os grupos de interesse que o controlam. A recente aprovação da CPMF, atropelando cláusulas pétreas da própria Constituição, mostra a que grau de abuso sobre o povo chegou a nossa classe política. A realidade é simples assim e é provável que apenas um processo revolucionário possa quebrar a inércia e criar os meios políticos para restabelecer as condições de equilíbrio que desapareceram desde 1985.

Serra representa a versão gramsciana do marxismo brasileiro, que está encastelado no poder desde que FHC assumiu. Esse grupo ganhou expressão com a passagem do poder dos militares aos civis, mas a culminação do seu poder aconteceu nos últimos oito anos. Serra representa o aprofundamento dessa proposta política. A forma como ele tratou as oligarquias tradicionais para sedimentar a sua candidatura mostra onde quer chegar: quer eliminar completamente qualquer fundamento conservador como base de poder, daí ter hostilizado desde o início os líderes do PFL. Ele esteve certo no seu diagnóstico desde o início: os conservadores patrimonialistas são agora leões velhos desdentados, como Sarney e ACM. Viraram cartas fora do baralho.

Sua fórmula é muito simples: quer governar com os camaradas do Partidão e com os fisiológicos, os primeiros formando os quadros do Executivo e do Judiciário e os segundos dando sustentação parlamentar. O problema é que uma correlação de forças dessa natureza não pode dar as respostas necessárias ao drama vivido pelo Brasil, fazendo aquilo que é necessário para que o País não venha a ser precipitado no abismo da crise, como ocorreu na Argentina. E é preciso sublinhar que a questão não é técnica – o como fazer – mas sim, política, a vontade de fazer o que precisa ser feito.

O grupo de Lula é mais homogêneo e, embora seja composto majoritariamente por marxistas gramscianos, suas lideranças são velhas raposas leninistas e maoístas, que podem não ficar saciadas com o mero exercício de poder na democracia burguesa. Eles até que estão tentando repetir a fórmula política da social-democracia, de formar um arco de aliança com os conservadores fisiológicos, pois perceberam que pode ser o caminho eficaz para chegada ao poder. O problema é que a sua composição política revolucionária é tão marcante que nem os fisiológicos acreditam nas suas declarações. Lula continua órfão em suas tentativas de alianças com o chamado centro político. O risco de um tumulto institucional em um eventual governo Lula é grande, a exemplo do que vimos acontecer na Venezuela. A sua condição de governabilidade é também bastante frágil.

Serra tem o apoio da comunidade financeira internacional e, se não tem a simpatia, tem a compreensão dos EUA. Lula é hostilizado por todos e representa uma ameaça direta ao status quo. Essa é uma das diferenças fundamentais que separa os dois candidatos. Serra tem o apoio das chamadas classes produtoras – a começar pela FIESP. Lula é hostilizado pelas lideranças empresariais, que temem o PT. Essa é outra diferença fundamental.

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