Por José Nivaldo Cordeiro
18 de Junho de 2002
A direita venceu as eleições legislativas na França, confirmando a onda de vitórias conservadoras por toda Europa. Duas questões eu quero me colocar para discussão: 1- Existe alguma causa específica que justifique essa mudança política? 2- Esse processo tem algum paralelo com o Brasil?
Até onde posso perceber, penso que há dois determinantes mais fundamentais para explicar o triunfo das forças de direita na Europa. Em primeiro lugar, reputo como importante o cansaço das políticas esquerdistas clássicas, que se resumem a um abuso tributarista irracional e injusto sobre quem trabalha, de um lado, e um distributivismo injusto e irracional, do outro, descolando o usufruto das riquezas do processo produtivo. Penso que as pessoas perceberam o engodo, o roubo institucional colocado sobre quem trabalha e a vagabundagem remunerada de um número cada vez maior de pessoas, inviabilizando o processo econômico. Descobriu-se que isso é antinatural e que, portanto, precisa ser corrigido.
Em segundo lugar, penso que a implantação do Euro colocou uma trava externa sobre as tentações populistas envolvendo a emissão de moeda e os orçamentos públicos. Na prática, é como se tivessem instituído uma lei de responsabilidade fiscal de dentro para fora de cada país isolado. Não dá mais para brincar de banco imobiliário, pintando dinheiro para pagar gastos que não deveriam ser realizados, vez que não teriam lastro financeiro real.
Esses dois processos impuseram a necessidade de racionalização das finanças públicas, tirando dos políticos esquerdistas a razão de ser de sua retórica, que sempre culpou a vontade política da direita por não fazer políticas distributivistas, desconhecendo a escassez que sempre perseguiu a condição humana. Penso que vai demorar para que as forças esquerdistas possam novamente convencer o eleitorado de que elas servem para alguma coisa além de criar tributação em excesso, inflação e vagabundagem remunerada.
E o Brasil? Nós não temos (ainda) um acordo internacional que discipline de forma rígida as finanças públicas. Por outro lado, temos uma imensa dívida pública, que obriga o Estado a impor, via acordos com o FMI, a racionalidade nos gastos públicos. Por sua vez, a consciência do excesso de tributação não está ainda generalizada para segmentos majoritários da população. E, pior, os acordo com o FMI são vendidos pelas esquerdas como uma coisa má, dando-lhes um discurso de consistência aparente para largas parcelas do eleitorado. Enganam o eleitorado, ao apontar as limitações impostas pela escassez como uma vontade política perversa das forças conservadoras, aliadas aos banqueiros internacionais e ao FMI. Lamentavelmente, esse discurso soa crível.
É por isso que uma revolução eleitoral do tipo que vemos na Europa ainda vai demorar um pouco por aqui, mas chegará no tempo certo. O drama é que antes de chegar esse tempo talvez tenhamos que viver um aprofundamento da crise econômica, do tipo que estamos a assistir na Argentina. É irracional, mas é assim.