Olavo de Carvalho
Diário do Comércio, 2 de julho de 2013
Olavo de Carvalho
Diário do Comércio, 2 de julho de 2013
Rafael Falcón
Ask.fm, 2 de julho de 2013
Não foi, ainda é. E não acho que vai parar de ser. Aprendi de muita gente, mas a importância do que aprendi com Olavo é incomparável. Embora ele fale de muitos assuntos, e eu tenha aprendido fatos ou teorias específicas por meio de suas aulas, não é isso o que faz mais diferença. A cada coisa que ensina, ele expressa um aspecto diferente, uma sutileza mais aguda de um conhecimento maior. Não é o conhecimento específico de uma área, mas um modo de abordar e organizar o conhecimento, e também de reagir-lhe. É uma coerência interna da alma. O contato com Olavo produz aos poucos uma imagem impressionante de sua harmonia interior. Contemplando essa harmonia, eu mesmo percebi muita desordem na minha própria alma, e usando Olavo como guia pude restaurar peças fundamentais da minha consciência. O processo continua. Olavo não pára de impressionar.
É claro que, visto de fora, isso parece deslumbramento sectário. Hoje em dia parece que admirar uma pessoa é pecado. Mas estou absolutamente convencido de que as pessoas que têm pudor de admirar quem lhes é superior, ou que têm medo de ser “manipuladas”, incapacitam-se automaticamente à educação no sentido mais elevado. Educação integral subentende uma pessoa integral. Se você só consegue admirar um conhecimento determinado que o mestre tem, você não pode aprender o que ele tem de mais valioso: ele mesmo. No mais, estou seguro de que não sou “manipulado”, pelo simples fato de que, a respeito de quase tudo que Olavo fala de mais técnico (como política, por exemplo), eu não sei se concordo. Eu não concordo nem discordo: eu não sei. E quem me ensinou a diferenciar o que eu sei do que não sei, e a conviver com a consciência de minha ignorância quase total, foi ele mesmo, com sua atitude, simultaneamente honesta e intensa, para com o conhecimento.
Gustavo Nogy
28 de junho de 2013
ERAM LONGAS aquelas tardes de sábado na Vila Mariana. Eram curtas, aquelas tardes. Estudei com o professor e filósofo Olavo de Carvalho entre os anos de 2002 e 2005, pouco antes de sua partida – creio que definitiva, feliz e infelizmente – para os EUA.
Estávamos no primeiro mandato do apedeuta da silva e Olavo, entre digressões mais ou menos abruptas para comentar o descalabro intelectual a que nos metíamos imprudentemente, ensinava a teoria discursiva de Aristóteles, a fenomenologia de Edmund Husserl, a filosofia política de Eric Voegelin e Eric Weil, a ontologia de Louis Lavelle e a metafísica de Bernard Lonergan. Vi nascer ali, como texto base para estudo, a tradução das ‘Reflexões Autobiográficas’, de Voegelin, assinada pela Maria Inês, sua filha.
Quatro, cinco horas de aula, quase sempre sem qualquer anotação de apoio, e sem perder a ordem na exposição nem por um único momento. Era impressionante. Tão impressionante quanto sua humildade para responder, a depender da pergunta que lhe fosse feita, com um simples “Não sei. Não estudei o assunto. Prometo prestar atenção nisso e voltamos ao tema em tempo oportuno”.
Enquanto todos, ou quase todos os intelectuais ‘profissionais’ davam de ombros e comemoravam as benesses do sistema democrático brasileiro, Olavo de Carvalho, sem peias e sem meias palavras respondia: “É o começo do fim”. E hoje sabemos quem estava certo e quem estava errado.
E o fato é que nunca fui de fazer alarde acerca desses dois anos e meio de estudo e dessas generosas conversas com o Olavo. Que, por sua vez, nunca gostou muito de ser chamado de ‘mestre’, nem admitia ser visto como ‘guru’ ou guia de qualquer coisa. Eu digo por que eu sei, por que eu estive lá. É dos sujeitos mais generosos e engraçados que conheci. Mas, sobretudo: de uma honestidade intelectual rara. Nada ali soa falso. Mesmo seus erros ou seus exageros eventuais não pecam por falsidade, coisa encontradiça nos meios intelectuais hodiernos. Ser falso e cínico, na academia, é certeza de longa e brilhante carreira.
Nunca fiz em público o que já fiz em privado, mas faço-o, desta vez, aqui: muito obrigado, Olavo de Carvalho.
Fiquem com a entrevista do ótimo cientista político – e, se ele me permite, amigo – Bruno Garschagen. Nem tudo está perdido nesta pocilga.
Eram longas aquelas tardes de sábado na Vila Mariana. Eram curtas, aquelas tardes.