Yearly archive for 2009

Os pais da crise americana

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 5 de março de 2009

Se a folha de realizações criminosas dos movimentos revolucionários nas democracias não pode, por definição, concorrer com o desempenho deles nas áreas que dominam, nem por isso ela deixa de ser a causa principal de distúrbios e sofrimentos, seja no Terceiro Mundo, seja nas nações desenvolvidas. Não há crise, não há fome, não há violência, não há fracasso para o qual a proposta revolucionária, nua e crua ou numa de suas inumeráveis versões camufladas, não tenha dado sua contribuição essencial. Talvez o exemplo mais evidente esteja em nosso próprio país, onde as gangues de criminosos jamais teriam chegado a derramar o sangue de 40 mil brasileiros por ano se não fosse pela ajuda, indireta e direta, que receberam dos revolucionários, primeiro mediante a instrução em técnicas de organização e guerrilha, recebida dos terroristas presos na Ilha Grande na década de 70, segundo pela sucessão de leis que esses mesmos terroristas, anistiados e transfigurados em políticos, criaram para proteger os criminosos e dificultar a ação da polícia, terceiro pela assistência técnica e treinamento militar que as Farc hoje dão às quadrilhas nacionais.

Mas outro exemplo, não menos significativo, é o da crise econômica americana. Especulações quanto às causas desse fenômeno pululam por toda a mídia internacional, mas é um erro metodológico monstruoso buscar explicação em supostas tendências gerais da economia e da sociedade quando se pode pôr à mostra a seqüência precisa e determinada de ações individuais e grupais que produziram o efeito. Muito da pretensa “ciência social” contemporânea consiste em camuflar as causas concretas sob universais abstratos. Não espanta que, na totalidade dos casos, os explicadores sejam ou os próprios agentes posando de observadores externos, ou suas vítimas idiotizadas, empenhadas em anestesiar-se mediante auto-injeções de pseudociência para não ter de enxergar a verdadeira identidade de seus opressores.

Deixar-nos iludir por essa camuflagem é ainda mais inaceitável quando os agentes do processo daninho não têm sequer de ser investigados a posteriori porque eles mesmos legaram ao historiador a exposição escrita de seus planos e métodos. No caso em questão, a derrubada da previdência social americana e do sistema bancário que a sustenta não foi o efeito de uma confluência involuntária de fatores anônimos, não foi nem mesmo o resultado de uma longa colaboração de inépcias, mas foi a simples realização de um plano traçado desde a década de 60 por estrategistas de esquerda inspirados por Saul Alinksy, mais tarde o mentor de um jovem estudante de Direito, Barack Hussein Obama.

O documento que o atesta acima de qualquer possibilidade de dúvida nada tem de secreto. Foi publicado em 1966 na prestigiosa revista The Nation e até hoje consta da lista dos dez artigos mais lidos da publicação desde sua fundação em 1886 (v. Richard A. Cloward e Frances Fox Piven, “The Weight of the Poor: A Strategy to End Poverty”, The Nation, 2 de maio de 1966; uma cópia do artigo em PDF pode ser obtida por três dólares na página de arquivos da revista; um excelente resumo comentado encontra-se no artigo de James Simpson, “Barack Obama e a estratégra da crise orquestrada”, traduzido para o português em http://cavaleirodotemplo.blogspot.com/2009/01/barack-obama-e-estratgia-da-crise.html).

Os autores, Cloward e Piven, buscavam aí colocar em ação a regra ensinada por Saul Alinsky, que ele mais tarde enunciaria por escrito em seu livro Rules for Radicals, de 1971 (Vintage Books): “Faça o inimigo pôr em prática seu própria manual.” A regra antecipa uma das táticas mais notórias da “guerra assimétrica”. David Horowitz assim a interpreta:

“Quando pressionada a honrar cada palavra de cada lei e estatuto, cada princípio moral judaico-cristão e cada promessa implícita do contrato social liberal, a ação humana é inevitavelmente deficiente. O fracasso do sistema em ‘pôr em prática’ o seu manual de regras pode então ser usado para desacreditá-lo completamente e para substituir um manual capitalista por um socialista.” (V. http://www.discoverthenetworks.org.)

A estratégia proposta por Cloward e Piven consistia, segundo Horowitz, em “forçar uma mudança política através da crise orquestrada, … procurava acelerar a queda do capitalismo ao sobrecarregar a burocracia governamental com uma enchente de demandas impossíveis, arrastando então a sociedade para uma crise e um colapso econômico”. Mas não pensem que isso é interpretação proposta por Horowitz. O texto original de Cloward e Piven é de uma clareza absolutamente cínica:

“É nosso propósito pôr em ação uma estratégia que forneça a base para uma convergência de organizações… Se essa estratégia for implementada, o resultado será uma crise política que poderá levar a uma legislação que garanta uma renda anual e portanto acabe com a pobreza.”

Cloward e Piven prosseguiam explicando que havia “um abismo de diferença entre os direitos nominais assegurados pela previdência social e o número de pessoas que desfrutavam efetivamente desses direitos. Se fosse possível localizar e organizar esses beneficiários inatendidos e usá-los para pressionar os institutos de previdência, estes não teriam dinheiro para atender à demanda e entrariam fatalmente em colapso.” A proposta de uma legislação socialista surgiria então, com aparente espontaneidade, como natural solução do problema. Nas décadas que se seguiram, a estratégia foi aplicada à risca, arregimentando milhões de beneficiários potenciais para que exigissem seus direitos em massa e produzissem a crise. Na liderança desse movimento estava o grupo de ativistas formado por Alinsky, entre os quais Barack Hussein Obama. A pletora de créditos imobiliários fornecidos pelos bancos, sob pressão dos ativistas, a solicitantes desprovidos das mínimas condições de pagar os empréstimos, foi a causa direta da crise bancária eclodida em setembro de 2008.

Dois pontos essenciais do plano Cloward-Piven chamam imediatamente a atenção do observador externo. De uma lado, a diferença entre duas concepções da previdência social. No sistema capitalista, a previdência social é, por natureza, um último recurso a que os cidadãos só devem recorrer em casos de extrema necessidade. A prosperidade geral do sistema, esperava-se, deveria prover por si o sustento das famílias, reduzindo a um mínimo as filas nos guichês da previdência. Cloward e Piven reconhecem essa obviedade em teoria mas adotam como estratégia ignorá-la na prática, forçando o direito virtual expresso em lei a tornar-se uma garantia de atendimento imediato a todos os pretendentes reais e potenciais, necessitados ou não. Entravam instantaneamente na fila, portanto, desde os miseráveis genuínos (um número insignificante) até pessoas de classe média baixa meramente insatisfeitas com a sua situação modesta:

“Para cada pessoa nas listas da previdência, há pelo menos mais uma que preenche os critérios de legibilidade mas não está recebendo assistência. Essa discrepância não é um acidente que emerga da ineficiência burocrática. É um traço inerente do sistema previdenciário, o qual, se desafiado, precipitará uma profunda crise financeira e política. A força para esse desafio, e a estratégia que propomos, é um esforço maciço para recrutar os pobres e colocá-los nas listas da previdência.”

Sob esse aspecto, a mera entrada em ação da campanha Alinsky-Cloward-Piven já modificava radicalmente a natureza do sistema, transformando o Estado liberal-capitalista num Estado previdenciário pré-socialista – e a falência deste último seria então denunciada como crise do anterior.

De outro lado, o objetivo último proclamado – garantir uma renda anual estatal a todos os pobres – se autodesmascarava imediatamente como farsa, pelo enunciado mesmo do plano: se a previdência não tinha dinheiro nem para atender os direitos já existentes no papel, como poderia tê-lo para arcar com um gasto imensamente maior? “Acabar com a pobreza” não era o objetivo do plano: era apenas o pretexto moral para gerar a crise. Esta era o único objetivo real, e não resta a menor dúvida de que foi alcançado. Neste caso, como em muitos outros, o discurso revolucionário apela a um objetivo utópico inatingível para viabilizar o esforço por um objetivo prático perfeitamente atingível, só que propositadamente desastroso. Se olharmos para a situação atual da economia americana, com o sistema bancário agonizante e o desemprego crescendo dia após dia, e notarmos que tudo isto foi feito sob a desculpa de “acabar com a pobreza”, é impossível deixar de perceber que os autores da idéia jamais acreditaram nessa desculpa, assim como os propugnadores de leis criminais mais brandas não acreditavam em diminuir a criminalidade e os defensores da educação sexual nas escolas não acreditavam em diminuir os casos de gravidez adolescente. Todas essas medidas e muitas outras similares visam tão-somente a destruir o sistema capitalista por meio de políticas assistenciais socialistas, calculadamente formuladas sob a lógica do prejuízo. Não há nenhum motivo razoável para supor que os danos resultantes fossem o puro efeito da inépcia ou da má administração. Foram resultados calculados, alcançados mediante uma engenharia social notavelmente eficaz. Trata-se, sempre e invariavelmente, de fazer o “sistema” pagar pelas culpas de seus agressores.

Quem atacou o Opus Dei? – 1

Olavo de Carvalho

2 de março de 2009

Meus comentários sobre o Opus Dei, no programa True Outspeak, foram respondidos como costumam sê-lo, no Brasil, os meus comentários sobre qualquer outra entidade, grupo ou instituição: com um intenso sentimento de autodefesa corporativa, afetações hiperbólicas de indignação moral, acusações escabrosas à minha pessoa e nenhuma atenção ao conteúdo das minhas palavras.

Eu já deveria ter-me acostumado com essas coisas, mas às vezes insisto em ignorá-las e em continuar imaginando que um escritor, um colunista de jornal, um comentarista de rádio ou qualquer outro formador de opinião tem o direito de ser respondido segundo aquilo que disse, não ao sabor das vagas associações de idéias que ocorram à platéia, nem muito menos das reações emocionais em cadeia que daí derivem, as quais só podem levar a discussão para longe do assunto originário e transformá-la, como quase invariavelmente ocorre, em campanha de difamação mesquinha adornada de afetações teatrais de bom-mocismo.

Puro jogo diversionista, por exemplo, é defender a dignidade e santidade da Obra de Dom Josemaria Escrivá de Balaguer contra quem jamais disse uma palavra contra ela nem teria motivos para fazê-lo. O Opus Dei é uma organização mundial: se eu quisesse atacá-la deveria falar dela em escala genérica e universal, em vez de concentrar minhas críticas, como o fiz, na conduta política – ou mais propriamente apolítica – de seus membros num país em particular, o Brasil. Nada do que eu disse sobre omissão e covardia poderia aplicar-se, digamos, ao Opus Dei americano, que é um dos fronts mais ativos da guerra cultural em defesa do cristianismo, muito menos ao tronco originário espanhol da mesma entidade, de cuja intensa e frutífera atividade política presta contas o eminente historiador Ricardo de la Cierva no livro indispensável Las Puertas del Infierno. La Historia de la Iglesia Jamás Contada (Barcelona, Fénix, 1995, pp. 567-587).

Se, portanto, limito-me a cobrar dos membros brasileiros dessa entidade uma conduta à altura da de seus colegas de outras nações, que sentido faz defender contra mim a entidade em si, que longe de ser atacada nos meus comentários está ali servindo de padrão de medida para a aferição do comportamento de um de seus ramos em particular?

É psicologicamente compreensível, mas moralmente inaceitável, que o servidor relapso, denunciado, tente se proteger ocultando-se por trás da honra e dignidade do chefe, fingindo que foi este e não ele o acusado, de modo a jogar contra o denunciante alguém mais forte e assim esquivar-se, seja de prestar contas de sua má conduta, seja, mais ainda, de corrigi-la.

Todas as apologias da Obra que estão circulando em resposta às minhas críticas devem, portanto, ser desde logo descartadas como meros subterfúgios covardes, totalmente alheios ao assunto em discussão.

O que eu disse, em substância, foi que, no Brasil, os membros do Opus Dei, entre os quais muitos políticos, empresários, magistrados, gente, em suma, de algum poder, se omitem de juntar suas forças àqueles combatentes, isolados e desprovidos de recursos, que hoje enfrentam em luta monstruosamente desigual as forças bilionárias do establishment esquerdista e sofrem por isso toda sorte de boicotes e difamações, marginalização profissional e ameaças de morte. Isso é um simples fato empiricamente comprovável. Não podendo negá-lo, não tendo um currículo de serviços prestados à causa da liberdade para tapar minha boca com ele, os acusados apelam então à desconversa e às gesticulações histriônicas de dignidade ofendida, que só podem servir de provas suplementares em favor das minhas declarações.

Dentre as inúmeras mensagens que recebi a respeito, uma, uma só tentou levantar contra meus argumentos um fato, um único fato isolado, que parecia contraditá-los.

“Josemaria Escrivá – escreve o missivista, aliás bastante gentil, em contraste com os demais – diz que se há algo absurdo para nosso espírito seria admitir que alguem deixe de ser católico ao entrar na Assembléia. Não é correto. A nós nos é muito cara a idéia de ser santo no cotidiano, como o exemplo de De Gaulle, que o senhor citou. Registro, professor, que um dos que revelaram o Foro de São Paulo foi o Dr. Graça Wagner, que por sua vez foi barbaramente perseguido. Ele era particularmente grato e amigo da Obra.”

Essa alegação é verdadeira, mas o primeiro a apresentá-la fui eu mesmo, no número de junho de 2006 da revista Digesto Econômico, edição especial sobre o Foro de São Paulo (v. http://www.dcomercio.com.br/especiais/outros/digesto/digesto_06/06.htm):

“O pioneiro inconteste na investigação do fenômeno ‘Foro de São Paulo’ foi o advogado paulista José Carlos Graça Wagner, homem de inteligência privilegiada, que muito me honrou com a sua amizade. Ele já falava do assunto, com aguda compreensão da sua importância histórica e estratégica, por volta de 1995, quando o conheci. Em 1999, a documentação que ele vinha coletando sobre a origem e as ações da entidade lotava um cômodo inteiro da sua casa, e uma prova da criteriosidade intelectual do pesquisador foi que só a partir de então ele se sentiu em condições de começar a escrever um livro a respeito. Na ocasião, ele me chamou para ajudá-lo no empreendimento, mas eu estava de partida para a Romênia e, com muita tristeza, declinei do convite. Maior ainda foi a tristeza que experimentei anos depois, quando, ao retomar o contato com o Dr. Wagner, soube que o projeto tinha sido interrompido por uma onda súbita e irrefreável de revezes financeiros e batalhas judiciais, que terminaram por arruinar a saúde do meu amigo e de sua esposa, ambos já idosos. Não sai da minha cabeça a suspeita de que a perigosa investigação em que ele se metera teve algo a ver com a repentina liquidação de uma carreira profissional até então marcada pelo sucesso e pela prosperidade.”

Longe de contradizer ou atenuar as minhas críticas, o total descaso dos membros do Opus Dei brasileiro pelas pesquisas iniciadas por esse grande batalhador é a prova mais contundente daquilo que eu disse. Se reunida e publicada, a documentação coligida pelo Dr. Graça Wagner teria bastado para bloquear a ascensão triunfante do esquerdismo no Brasil. Se os membros do Opus Dei no Brasil tivessem um pingo de senso do dever, jamais teriam deixado que esse material explosivo continuasse abandonado, por anos a fio, em caixotes empoeirados, enquanto os próceres do esquerdismo, protegidos da revelação de seus vínculos com o terrorismo e o narcotráfico, iam brilhando em público como exemplos de moralidade impoluta.

Fiz tudo o que estava ao meu alcance para divulgar em jornais e revistas alguns dos fatos descobertos pelo Dr. Graça Wagner, só deixando de citá-lo desde o início a pedido dele mesmo, mas passando a fazê-lo tão logo a morte desse meu querido amigo me livrou do compromisso de silêncio. O que não consegui foi que alguma entidade ou pessoa de recursos se responsabilizasse pela guarda e aproveitamento daquele material, constituindo uma equipe de pesquisadores para que o arquivasse, classificasse e publicasse.

É a esse fato que o sr. Alex Catharino de Souza, um tipinho ridículo ao qual darei mais adiante o tratamento que merece, alude com malícia pueril ao dizer que “a tentativa de aproximação do Sr. Olavo de Carvalho com alguns membros do Opus Dei tinha como principal objetivo, não a sua conversão ao catolicismo, mas, principalmente, o interesse de obter recursos financeiros”. Não vejo por que eu deveria precisar de auxílio do Opus Dei para me converter a uma Igreja que já era a minha. Mas sem dinheiro, decerto, era impossível dar prosseguimento ao trabalho iniciado pelo Dr. Graça Wagner. Tudo o que eu podia fazer com os meios de que dispunha foi exatamente o que fiz: estudar aquela massa de papéis e divulgar alguns dos fatos essenciais que eles documentavam. Fiz isso não só nos meus artigos de imprensa, mas também publicando, no jornal eletrônico Mídia Sem Máscara, as atas quase completas das assembléias e grupos de trabalho do Foro de São Paulo. O que fui pedir às criaturas aludidas pelo sr. Catharino não foi dinheiro: foi que honrassem a memória do pioneiro investigador, impedindo que seu trabalho, essencial para o futuro político de um continente inteiro, fosse abandonado e esquecido. Descontada a parcela que fiz sozinho – muito mais do que fizeram todos os membros do Opus Dei somados –, os únicos resultados que obtive em quase uma década de esforços persuasórios foram a edição especial do Digesto já mencionada – iniciativa pessoal de Guilherme Afif Domingos – e a publicação, pela É-Realizações, da coletânea de artigos Conspiração de Portas Abertas. Como o Movimento Revolucionário Comunista Ressurgiu na América Latina Através do Foro de São Paulo (2008), onde o artigo do Digesto foi aproveitado como prefácio, com a ressalva de que o organizador, Paulo Diniz Zamboni, sem autorização minha, cortou do texto justamente as linhas acima citadas, privando da indispensável homenagem a memória do Dr. Graça Wagner.

Também não posso dizer que o dr. Wagner foi a única exceção no quadro da omissão geral do Opus Dei. Quando o Mídia sem Máscara estava ainda engatinhando, foi outro membro daquela entidade, que conto entre meus melhores amigos e cujo nome não cito porque ele não me autorizou a isso, quem veio em nosso socorro durante algum tempo, oferecendo uma sala de seu escritório para sede da redação e ainda fazendo alguma contribuição em dinheiro, modesta porém salvadora naquele momento, da qual não embolsei um único tostão, deixando-a para os editores executivos, sem jamais pedir sequer que me prestassem contas, como aliás também fiz com as demais ajudas recebidas pelo jornal, seja do IRI, Independent Republican Institute, seja da É-Realizações, seja de outras fontes das quais não fui nem mesmo informado, ajudas sempre modestas e muito abaixo das necessidades da publicação. Toda a minha relação financeira com o Mídia Sem Máscaraconsistiu em alimentá-lo com dinheiro do meu próprio bolso, enquanto necessário, e em nada receber, mais tarde, que proviesse do bolso alheio.

Ainda com relação a esse tópico, uma só vez, em 20 de junho de 2006 – uma única vez e nada mais – coloquei no meu website um pedido de ajuda, acompanhado de links para contribuições pelo Paypal, exatamente como aqueles que se encontram em praticamente todos os sites ativistas do mundo, e depois nunca mais voltei a tocar no assunto. Mesmo no programa True Outspeak, ao longo de suas mais de cem emissões semanais, jamais pedi um tostão a quem quer que fosse. E mesmo quando abri o Seminário de Filosofia online, ali depositando os frutos de mais de trinta anos de trabalhos e estudos, só o que solicitei aos usuários foi a taxa mais que modesta de vinte dólares por mês, para cobrir despesas e pagar meus auxiliares. Pois bem, aquele apelo de 2006, excepcional e isolado, além de plenamente justificado pelas circunstâncias que ele mesmo descreve, bastou para que o sr. Catharino – por ironia, um fund raiser profissional – me acusasse de fazer “constantes campanhas para arrecadar fundos em benefício próprio (achando que, pelo simples fato dele existir, deve ser pago por todos)” e depois ainda alardear que “sem a oração perdemos a noção da caridade e não somos capazes de combater as falsas idéias, mas, apenas, atacar pessoas”. Só posso concluir que, no entender do sr. Catharino, o voracíssimo Olavo de Carvalho é uma idéia, não uma pessoa.

Mas deixarei essas catharinices para a sobremesa. Elas são saborosas demais para que as desperdicemos por aqui. Por enquanto, lembro aos interessados que, nas eleições de 2006, o candidato presidencial Geraldo Alckmin poderia ter liquidado as pretensões de seu adversário se consentisse em mostrar as atas do Foro de São Paulo, incluindo discursos pronunciados em círculos discretos pelo próprio Lula, que comprovavam acima de qualquer possibilidade de dúvida seu papel de liderança no movimento comunista continental e sua longa parceria política com organizações de terroristas, seqüestradores e narcotraficantes. Ele teria mesmo a obrigação de fazer isso, pois não é lícito a ninguém, muito menos a um católico praticante, acobertar os feitos de um criminoso para fazê-lo posar diante do público como um candidato normal e honrado, só separado de seu adversário por algo tão inofensivo como uma polida “divergência de idéias”. Dizem que o sr. Chuchu não é pessoalmente um membro da Obra, mas o fato é que vivia cercado deles em rodas de oração e encontros sociais. Algum cumpriu sua obrigação de levar a ele os documentos colhidos pelo Dr. Graça Wagner? Algum deles cobrou do candidato o dever estrito de revelar aos eleitores a verdadeira identidade do seu concorrente, para que decidissem seu voto com consciência de causa em vez de imaginar que faziam uma escolha entre meras correntes de opinião moralmente equivalentes?

[Continua]

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