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O Foro de São Paulo, versão anestésica

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 15 de janeiro de 2007

Depois de esconder por dezesseis anos a existência da mais poderosa entidade política latino-americana, a mídia chique deste país, vencida pela irrefreável divulgação dos fatos na internet, trata agora de disfarçar, como pode, o mais torpe e criminoso vexame jornalístico de todos os tempos. O expediente que usa para isso é ainda mais depravado: caluniar, difamar, sujar a reputação daqueles poucos que honraram os deveres do jornalismo enquanto ela não se ocupava senão de prostituir-se, vendendo silêncio em troca de verbas estatais de propaganda.

Envergonhada de si mesma, ela não tem nem a dignidade de citar nominalmente essas honrosas exceções. Designa-as impessoalmente, fingindo superioridade, mediante pejorativos genéricos. O mais comum é “radicais de direita”. Encontro-o de novo no artigo “Os limites de uma onda esquerdista”, assinado por César Felício no jornal Valor no último dia 12.

O autor é uma nulidade absoluta, e eu jamais comentaria uma só linha da sua fabricação se as nulidades não se tivessem tornado, num jornalismo de ocultação, os profissionais mais necessários e bem cotados. Por favor, não me acusem de caçar mosquitos. Compreendam o meu drama: nas presentes circunstâncias, a recusa de falar de nulidades me deixaria totalmente desprovido de material nacional para esta coluna.

A primeira coisa que tenho a dizer a esse moleque é bem simples: Radical de direita é a vó. Antigamente chamava-se por esse qualificativo o sujeito que advogasse a matança sistemática de comunistas como os comunistas advogam e praticam a matança sistemática de populações inteiras. Hoje em dia, para ser carimbado como tal, basta você ser contra o aborto ou o casamento gay. Basta você achar que o Foro de São Paulo existe e é perigoso. Basta você fazer as contas e notar que centenas de prisioneiros morreram de tortura na Guantanamo cubana e nenhum na americana. Basta você apelar à matemática elementar e concluir que a guerra do Iraque matou muito menos gente do que o regime de Saddam Hussein sob os olhos complacentes da ONU. Se você incorre em qualquer desses pecados mortais, lá vem o rótulo infamante grudar-se na sua pessoa indelevelmente, como marca de escravo fujão ou ferrete de gado. E não vem por via de nenhum jornaleco de partido, de nenhum panfleto petista. Vem pela Folha de São Paulo, pelo Globo, pelo Estadão, pelo jornal Valor – os órgãos da burguesia reacionária, segundo o site oficial do PT.

Que é que posso concluir disso, objetivamente, senão que a esquerda radical conseguiu impor à grande mídia a sua escala de mensuração ideológica e o correspondente vocabulário, agora aceitos como opinião centrista, equilibrada, mainstream, enquanto as opiniões que eram da própria grande mídia ontem ou anteontem já não podem ser exibidas ante o público porque se tornaram politicamente incorretas?

Será extremismo de direita concluir que o eixo, o centro, se deslocou vertiginosamente para a esquerda, criminalizando tudo o que esteja à direita dele próprio? Será extremismo de direita concluir que a única direita admitida como decente na mídia chique é o tucanismo – abortista, gayzista, quotista racial, desarmamentista, politicamente corretíssimo, padrinho do MST e filiado à internacional socialista, além de bettista e boffista, quando não abertamente anticristão? Será extremismo direitista notar que o traço mais saliente dessa direita bem comportadinha é a abstinência radical de qualquer veleidade anticomunista? Será extremismo de direita entender que esse fenômeno é a manifestação literal e exata da hegemonia tal como definida por Antonio Gramsci? Será extremismo de direita concluir que o establishment midiático deste país é, no seu conjunto, um órgão da esquerda militante mesmo nos seus momentos de superficial irritação antipetista, quando jamais proferiu contra o partido dominante uma só crítica que não viesse de dentro da esquerda mesma e que não fosse previamente expurgada de qualquer vestígio de conteúdo ideológico direitista?

Qualquer pessoa intelectualmente honesta sabe que um juízo de fato não pode ser derrubado mediante rotulação infamante. Tem de ser impugnado pelo desmentido dos fatos. Se quiser rotulá-lo, faça-o depois de provar que é falso. Não antes. Não em substituição ao desmentido. Ora, o tal Felício, em vez de desmentido, fornece uma brutal confirmação. Vejam só:

O grupo que se reúne a partir de hoje em San Salvador… atende pelo nome de ‘Foro de São Paulo’ e nasceu sob o patrocínio do PT, em 1990. Os encontros anuais não costumam chamar muita atenção, a não ser de certos radicais de direita no Brasil.”

Ora, como é possível que encontros esquerdistas anuais repetidos ao longo de uma década e meia, com centenas de participantes, entre os quais vários chefes de Estado, não chamem atenção exceto de radicais de direita? Ninguém na esquerda prestou atenção ao Foro de São Paulo? O sr. Lula fez um discurso presidencial inteiro a respeito sem prestar a mínima atenção à entidade da qual falava? Antes disso, quando presidia pessoalmente as sessões da entidade até 2002, não lhes prestou nenhuma atenção? Entrava em transe hipnótico e balbuciava mensagens do além, sem se lembrar de nada ao despertar? Os jornalistas de esquerda que, às dezenas, compareceram aos debates, foram lá por pura desatenção, dormiram durante as assembléias e voltaram para casa sem coisa nenhuma para contar? O sr. Bernardo Kucinsky, um dos fundadores da entidade, que emocionado assistiu ao nascimento dela num encontro entre Fidel Castro e Lula, não prestou a mínima atenção àquele momento supremo da sua vida de militante esquerdista? Pago com dinheiro público para relatar aos eleitores os atos presidenciais, calou-se por mera distração, e também por mera distração guardou os fatos para contá-los depois no seu livro de memórias, onde só os colocou porque não tinham a mínima importância?

Ora, menino bobo, você não sabe a diferença entre a desatenção e a atenção extrema acompanhada de um propósito deliberado de ocultar? Que você seja desprovido do senso da verdade, vá lá. Sem isso não se sobe no jornalismo brasileiro. Mas será que você precisa também desprover-se do senso do ridículo ao ponto de tentar minimizar a importância do Foro e logo em seguida, citando documento oficial da entidade, alardear que “na primeira reunião do grupo, em 1990, os integrantes estavam no governo em um único país: Cuba. Hoje desfrutam o poder na Venezuela, Brasil, Bolívia, Nicarágua, Argentina, Chile, Uruguai e Equador”? Você acha mesmo que a organização que planejou e dirigiu a mais espetacular e avassaladora expansão esquerdista já observada no continente é um nada, um nadinha, no qual só radicais de direita ou teóricos da conspiração poderiam enxergar alguma coisa?

Na verdade, o próprio Felício enxerga ali alguma coisa. Ele cita o documento oficial: “Passamos a controlar uma cota de poder, mas as outras cotas continuam sob controle das classes dominantes. Os chamados mercados, as grandes empresas de comunicação, os setores da alta burocracia do Estado, os comandos centrais das Forças Armadas, os poderes Legislativo e Judiciário, além da influência dos governos estrangeiros, competem com o poder que possuímos.”

Ou seja: a entidade que já domina os governos de nove países não admite, não suporta, não tolera que parcela alguma de poder, por mais mínima que seja, esteja fora de suas mãos. Nem mesmo as empresas de comunicação e o judiciário, sem cuja liberdade a democracia não sobrevive um só minuto. Com a maior naturalidade, como se fosse uma herança divina inerente à sua essência, o Foro de São Paulo, com a aprovação risonha do nosso partido governante, reivindica o poder ditatorial sobre todo o continente.

Felício lê esse documento assim:  “Os limites a um poder absoluto parecem incomodar os participantes do encontro.” Parecem, apenas parecem. Quem ficaria alarmado com aparências, senão radicais de direita? Afinal, eles vivem enxergando comunistas embaixo da cama, não é mesmo?

Para tranqüilizar a população, Felício trata de lhe mostrar que no Foro não há socialismo nenhum, apenas o bom e velho populismo nacionalista, tão difamado pelos agentes do imperialismo. “Um mesmo discurso estava presente na oposição a Perón e a Getúlio nos anos 40 e 50. Reapareceu, quase igual, no tipo de ataque recebido ano passado por Lopez Obrador no México e Evo Morales na Bolívia.

A circunstância de que, ludibriados por milhares de Felícios, até membros da oposição temam dar nome aos bois, preferindo falar de “populismo” em vez de comunismo, é usada como prova de que o Foro não é uma organização comunista. O fato é que as idéias e as pessoas dos velhos populistas jamais aparecem citadas nos documentos do Foro como exemplos a ser imitados. Ao contrário, os apelos à tradição revolucionária comunista ressurgem a cada linha, com todos os seus heróis e símbolos, com todos os cacoetes lingüísticos medonhos do jargão marxista-leninista mais típico e obstinado, acompanhados da declaração explícita, infindavelmente repetida, de que a meta é o socialismo. Mas, decerto, todos os participantes do Foro, todos aqueles tarimbados militantes revolucionários treinados em Cuba, na China e na antiga URSS, estão equivocados quanto à sua própria ideologia e metas. Eles apenas pensam que são comunistas, socialistas, marxistas. Felício é quem, penetrando com seus olhos de raios-x no fundo das almas deles, sabe que não são nada disso. São getulistas que se ignoram.

A prova? Ele não se recusa a fornecê-la. É esta: “Antes de ser uma verdadeira marcha ao socialismo, a ofensiva de Chávez… sugere a coroação de um processo de concentração de poder ”. Entenderam a lógica profunda? Se é concentração de poder, não é socialismo. Pena que ninguém avisou disso Marx, Lênin, Stalin, Mao, Fidel e Che Guevara. Todos eles sempre entenderam, ao contrário, que a concentração de poder é a única via para o socialismo, é a essência mesma do processo revolucionário. Mas talvez estivessem enganados, tanto quanto a turminha do Foro. Quem entende do negócio é César Felício.

No tempo em que havia jornalismo no Brasil, um sujeito como esse não seria designado para cobrir nem partida de futebol de botão. Hoje ele é uma espécie de modelo, reproduzido às centenas em todas as redações. O resultado é óbvio. Faça um teste. Segundo pesquisa da Folha de São Paulo, a opinião majoritária dos brasileiros é acentuadamente conservadora. É contra o casamento gay, contra o aborto, contra as quotas raciais, contra o desarmamento civil. É contra tudo o que os Felícios amam. É até a favor da pena de morte para crimes hediondos. E confia infinitamente mais nas forças armadas do que na classe jornalística que as difama sem cessar. Quantos jornalistas, nas redações das empresas jornalísticas de grande porte, se alinham com essa opinião majoritária? Não fiz nenhuma enquete, mas, por experiência pessoal, afirmo: poucos ou nenhum. A leitura diária dos jornais confirma isso da maneira mais patente.

A opinião pública brasileira não é refletida nem representada pela grande mídia. Não tem direito a voz, a não ser por exceção raríssima concedida a algum colaborador ocasional só para depois ser exibida como exemplo de aberração extremista, felizmente compensada pela pletora de articulistas serenos, normais e equilibrados que igualam George W. Bush a Hitler e Abu-Ghraib a Auschwitz.

A idéia mesma de que uma mídia só pode ser equilibrada quando reflete proporcionalmente a divisão das correntes de opinião no país já desapareceu por completo da memória nacional. O simples ato de enunciá-la tornou-se prova de direitismo radical. Resultado: a elite microscópica de tagarelas esquerdistas que domina as redações (não mais de duas mil pessoas) se permite tomar a sua própria opinião como medida da normalidade humana, condenando como patológicas e virtualmente criminosas as preferências gerais da nação.

Quem se coloca em tais alturas está automaticamente liberado de prestar quaisquer satisfações à realidade. Não quer conhecê-la, quer transformá-la. Para transformá-la, não é preciso mostrar os fatos às pessoas: é preciso alimentá-las de crenças imbecis que as induzam a se comportar da maneira mais adequada para favorecer a transformação. Da classe empresarial que lê o jornal Valor, que é que se espera? Que permaneça idiotizada e passiva, embriagada de falsa segurança, incapaz de mobilizar-se em tempo para se opor à onda revolucionária que vai submergindo o continente. Foi para isso que os Felícios lhe negaram por dezesseis anos o conhecimento do Foro de São Paulo. É para isso que, hoje, não podendo mais levar adiante a operação-sumiço, apelam à operação-anestesia, chamando-a, cinicamente, de jornalismo. E são pagos para fazer isso pelos próprios empresários de mídia, aqueles mesmos cujas empresas o Foro de São Paulo promete calar ou expropriar junto com todos os demais instrumentos de exercício da liberdade, num futuro mais breve do que todos imaginam.

P. S. – Mal saiu o artigo da semana passada, começaram a chover na minha caixa postal mensagens de amigos protestantes que reclamavam de eu haver incluído John Wycliff entre os pioneiros das ideologias revolucionárias. Eu não me lembrava de ter escrito nada de John Wycliff, mas, quando fui ver, notei, horrorizado, que o nome dele estava mesmo lá, em lugar do de John Knox, este sim um revolucionário. Peço desculpas a todos por essa distração lamentável.

O Brasil de Bento XVI

Olavo de Carvalho


Jornal do Brasil, 11 de janeiro de 2007

Sua Santidade Bento XVI afirma que no Brasil reina a democracia e que o nosso governo está seriamente empenhado em combater a corrupção e o narcotráfico. Se essas coisas fossem sentenças doutrinais proferidas ex cathedra , os católicos brasileiros estariam na difícil contingência de ter de dizer amém a falsidades óbvias. Felizmente, são apenas declarações à mídia, opiniões pessoais do filósofo alemão Joseph Ratzinger. Não impõem aos fiéis senão o dever de admitir que estão erradas.

A democracia brasileira é um grotesco simulacro inventado para encobrir a exclusão sistemática de toda oposição ideológica. A corrupção tornou-se lei e autoridade. A violência criminosa chega à taxa de 50 mil homicídios por ano, a mais alta do universo. O partido governante continua amigo da narcoguerrilha colombiana, fornecedora de cocaína ao mercado nacional e sócia das quadrilhas de assassinos que aterrorizam a população do Rio e de São Paulo. O jornalismo chique, com unanimidade admirável, vai cumprindo sua obrigação rotineira de fazer de conta que tudo o que acontece é coincidência, mera coincidência.

Enquanto isso, a soberania nacional está sendo negociada entre dois esquemas multinacionais de poder sem que a população receba a menor informação a respeito. O primeiro deles é o CFR, Council on Foreign Relations , empenhado em criar um governo mundial por meio de integrações parciais como por exemplo a North American Commonwealth , que fundirá numa pasta indistinta os EUA, o México e o Canadá no prazo máximo de dez anos. O segundo é o projeto da futura União das Repúblicas Socialistas Latino-Americanas, em pleno curso de implementação através das assembléias e grupos de trabalho do Foro de São Paulo, dos quais o povo também não tem notícia. Os dois esquemas são convergentes. A divisão aparente entre os dois partidos que monopolizam o espaço político brasileiro não passa de uma expressão local dessa unidade dual mais vasta. O braço nacional do CFR, o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), fundado em 1998 com amplo suporte financeiro do Ministério das Relações Exteriores e de várias megaempresas estatais e privadas, tem como presidente de honra o senhor Fernando Henrique Cardoso e como conselheiro o senhor Marco Aurélio Garcia, HD auxiliar do presidente Lula e secretário-executivo do Foro de São Paulo. O Cebri é o ponto focal da c oincidentia oppositorum que nos governa em nome do Foro e do CFR.

Nas eleições, o povo é convidado a escolher seus governantes com base em dados sobre as tarifas de ônibus, a exportação de frangos e a distribuição estatal de camisinhas. Nem uma palavra sobre os fatores maiores que decidem os destinos da nação. A democracia brasileira é um cenário de alienação surrealista no qual o dever moral número um dos formadores da opinião pública é prestar falso testemunho. Se Bento XVI involuntariamente reforça a boa consciência com que se dedicam à tarefa, isso não santifica nem um pouco o estado de coisas. O país que o papa vai visitar em maio não é bem aquele que ele imagina.

Três notinhas

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio (editorial), 9 de janeiro de 2007

Na TV, 90% do conteúdo se constitui de entretenimento e 10% de pseudo- conhecimento. Na universidade é o inverso.

Ninguém pode negar que há uma diferença radical entre a mídia popular e as universidades brasileiras. Naquela, incluindo jornais, revistas, filmes, programas de TV e sites da internet, o conteúdo se constitui de noventa por cento de entretenimento idiota e dez por cento de pseudoconhecimento. Nas universidades a proporção é exatamente inversa. Confirmo isso, mais uma vez, lendo o artigo que a profa. Jeanne-Marie Gagnebin publicou na Folha sobre o processo Telles x Ustra e comparando-o com o currículo da autora. Neste, logo após uma impressionante lista de títulos acadêmicos, vem uma lista de dezoito teses acadêmicas orientadas pela referida. Clicando os links de cada uma, podemos ler os seus resumos, cujos tamanhos variam de duas a dez linhas. Não há um só deles no qual não apareça pelo menos um erro de português. Isso dá a medida do que se pode encontrar nos textos integrais das teses respectivas e fornece uma boa ilustração quantitativa do fato de que nas universidades brasileiras se pode chegar a chefe de departamento escrevendo Getúlio com LH como o faz o marquês de Sader.

Já a profa. Gagnebin, que melhor faria se ficasse quietinha em casa em vez de aprovar teses escritas em português subginasiano, sai dando lições de moral ao país e diz querer a verdade sobre os “anos de chumbo”. Quer nada. Se quisesse, pediria uma investigação em regra da colaboração entre os terroristas brasileiros e o serviço secreto cubano, a entidade mais assassina que já existiu no continente. Para cada brasileiro armado ou desarmado que foi morto pela ditadura nacional, pelo menos cinqüenta cubanos foram assassinados nos cárceres de Fidel Castro com a solícita cumplicidade moral de brasileiros auto-exilados em Cuba.

Anúncios que o governo trabalhista de Sua Majestade acaba de proibir na tevê britânica em horário acessível às crianças: queijo cheddar, flocos de farelo de trigo, queijo camembert, bolinhos com cobertura de açúcar, mingau de aveia, maionese, cereais de grãos variados, creme semidesnatado, nuggets de galinha, waffles, iogurte grego, presunto, lingüiças, bacon, patês variados, amendoins e creme de amendoim, castanhas de caju, pistache, uvas-passas, groselha, chips de batatinha, azeite de oliva, manteiga, pizza, hambúrguers, ketchup, chocolate, molho inglês, Coca-Cola (e similares) e soda limonada. O que seria das criancinhas se não houvesse burocratas zelosos para protegê-las contra o pecado da gula? Mas – cá entre nós — vocês já viram, na Inglaterra ou no Brasil, alguma camisinha com aviso governamental de que sexo anal pode dar câncer do reto? Ah, isso não! Perigoso mesmo é mingau de aveia.

O crítico Daniel Piza, cujo nome parece estar incompleto e já corrigi para Daniel Piza Nabolla, ficou ofendidíssimo com a minha afirmação de que não tem sentido falar de uma guerra em bloco Oriente x Ocidente porque “o Ocidente revolucionário, ateu e materialista está do lado dos terroristas”. Contra isso ele alega que ele próprio é ateu e materialista sem por isto ser um fã de Bin Laden. Vários leitores do seu blog repetem o argumento, cada um deles gabando-se ser o fulminante exemplum in contrarium que dará cabo da minha teoria.

Desde logo, é claro que não escrevo para analfabetos funcionais, que onde está escrito o Ocidente revolucionário, ateu e materialista lêem cada ateu tomado individualmente. No entender desses imbecis, não pode ter havido nenhuma guerra entre os EUA e a Alemanha, já que havia americanos a favor da Alemanha e alemães a favor dos EUA.

Mas a burrice obstinada desses sujeitos não se contenta de ler errado. Lê a menos: onde você escreve ateu, materialista e revolucionário, eles só lêem os dois primeiros adjetivos, ignorando ou fingindo ignorar que o terceiro está lá para deixar subentendido que os ateus materialistas não-revolucionários não se incluem necessariamente no enunciado geral, isto é, que seus exemplos individuais triunfantemente brandidos contra o meu argumento já estavam impugnados nele de antemão, com a condição de que fosse lido por pessoas alfabetizadas.

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