Olavo de Carvalho


Diário do Comércio (editorial), 20 de dezembro de 2005

A divisão de forças no mundo nunca esteve tão nítida.

De um lado, os EUA, Israel, a Inglaterra, o Japão, Taiwan, os antigos satélites da URSS e, na América Latina, uns quantos países da América Central mais o Chile e a Colômbia. No mundo islâmico essa aliança tem um enclave no Iraque e outro no Kuwait.

Do outro lado, o aglomerado islâmico, a China, a Rússia, um punhado de ditaduras africanas e, na América Latina, todos os países governados pelos partidos do Foro de São Paulo, destacando-se Cuba e a Venezuela.

Não é impróprio chamar esses dois blocos de aliança americana e aliança anti-americana respectivamente.

Todas as nações da aliança americana têm economias de mercado em franca prosperidade, governos democráticos, eleições livres e uma intensa fiscalização do governo pela opinião pública.

Praticamente todas as nações do outro lado têm governos ditatoriais ou em vias de tornar-se ditatoriais, economias miseráveis fortemente estatizadas ou em acelerado processo de estatização (quando não de militarização) e, last not least , uma folha de realizações na área dos direitos humanos que, só na última década, não ficou abaixo dos três milhões de mortos e algumas centenas de milhares de prisioneiros políticos.

Ambigüidades oportunistas do Brasil, do México, da Índia e da União Européia podem confundir um pouco as linhas de fronteira, mas não é difícil entender que, ressalvada a hipótese de um tour-de-force diplomático americano, essas forças tendem a se alinhar com o segundo bloco no momento decisivo.

Tal como veio acontecendo regularmente há pelo menos cem anos, é justamente o lado miserável, ditatorial e genocida que fala em nome de promessas de um mundo melhor, levantando a bandeira da justiça, da liberdade e dos direitos humanos, enquanto as nações onde existem essas três coisas são apresentadas como opressoras imperialistas e ameaças à segurança da espécie humana.

Ideologicamente, as linhas de fronteira não coincidem com as divisões do espaço geopolítico, pois, dentro da própria aliança americana, para não falar da União Européia, a opinião dominante na mídia e nas instituições de cultura é maciçamente anti-americana. Dentro da área anti-americana, por sua vez, a opinião favorável aos EUA é minoritária, sem meios para se expressar e fortemente reprimida pelos governos ou por organizações militantes.

A composição ideológica do bloco anti-americano é heterogênea, a diversidade caótica das suas propostas contrastando singularmente com a unidade de ação estratégica que tem demonstrado. Ela abrange:

1. Comunistas e neocomunistas.

2. Radicais islâmicos.

3. Nacionalistas de direita do Terceiro Mundo fortemente impregnados de anti-americanismo.

4. Nazistas, neonazistas, fascistas e anti-semitas em geral.

5. Planejadores, financiadores, adeptos, militantes e serviçais do projeto de governo mundial já abraçado oficialmente pela ONU, subsidiado por fundações bilionárias como George Soros, Rockefeller e Ford e apoiado formal ou informalmente por toda a esquerda norte-americana, encravada especialmente no Partido Democrático mas com algumas extensões no Republicano.

Do outro lado encontram-se:

1. Conservadores empenhados explicitamente em defender os valores judaico-cristãos, a economia de mercado e as instituições democráticas de molde anglo-americano.

2. Nacionalistas americanos e os componentes da chamada “direita religiosa”.

3. Judeus sionistas.

4. Anticomunistas professos em geral, notadamente os foragidos de regimes comunistas ou egressos de movimentos de esquerda.

5. Liberais pragmáticos sem nenhum amor especial aos valores personificados pelas quatro últimas facções mas levados na prática a aliar-se com elas contra o intervencionismo estatal e o globalismo burocrático.

A simples descrição do estado de coisas é suficiente para mostrar quem tem razão e de que lado devem ficar as pessoas decentes. Se muitas delas não chegam a perceber isso, é apenas graças à hegemonia anti-americana dos meios de comunicação, uma quinta-coluna a serviço do que existe de pior no mundo. O destino da humanidade depende, quase que integralmente, de que essa hegemonia seja destruída o quanto antes.

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