Olavo de Carvalho
Diário do Comércio, 18 de outubro de 2010
Ao ver que ia perdendo o apoio da Igreja à sua protegida Dilma Roussef, cujo abortismo radical e persistente nem os desmentidos de última hora, nem as abjetas e blasfematórias encenações de fé católica da candidata puderam camuflar, o sr. Presidente da República, em desespero, decidiu recorrer ao crime eleitoral explícito: usando o Estado como instrumento de chantagem, ameaçou romper a concordata do governo brasileiro com o Vaticano caso o eleitorado católico se recuse a continuar sendo otário do PT, como o foi servilmente durante tantas décadas por obra e graça de comunistas vestidos de bispos.
O próprio Lula, algum tempo atrás, reconheceu que devia sua carreira política ao eleitorado católico, que aqueles bispos e a mídia cúmplice haviam logrado enganar cinicamente, encobrindo o programa comunista e abortista do PT com a imagem beatificada e perfumada de “Lulinha Paz e Amor”.
O fim da farsa, embora tardio e parcial, não só privou Dilma Roussef da anunciada vitória no primeiro turno, mas serviu para desmascarar a autoridade religiosa postiça de tantos sacerdotes e prelados que só entraram na carreira eclesiástica para aí realizar o programa estratégico de Antonio Gramsci: esvaziar a Igreja de todo o seu conteúdo espiritual e usá-la como dócil instrumento da política comunista. A Teologia da Libertação é o braço mais ativo desse programa e, como ninguém ignora, o catolicismo de Lula – e do PT em geral – é o da Teologia da Libertação. Não o de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Não deixa de ser útil lembrar que a Igreja, desde sua fundação, teve de lutar menos contra os seus inimigos ostensivos do que contra os seus falsificadores. Tal é, aliás, a definição de “heresia”, palavra que hoje tantos usam sem conhecer-lhe o significado: não qualquer doutrina anticatólica, ou não católica, e sim a falsa doutrina católica oferecida indevidamente em nome da Igreja. Lembrem-se disso quando algum professorzinho aparecer alardeando que a Igreja “perseguia doutrinas adversas”. Heresia não é divergência de idéias, é crime de fraude. Da Antigüidade até hoje, gnósticos, arianistas e tutti quanti jamais hesitaram em fingir-se de católicos para vender, sob roupagem inocente, as idéias mais opostas e hostis aos ensinamentos de Cristo. Com freqüência, obtiveram nesse empreendimento sucessos espetaculares, embora passageiros. Ainda no século XIX praticamente todos os seminários da França e da Alemanha ensinavam, com o nome de teologia católica, uma pasta confusa de idéias cartesianas, iluministas e românticas, na qual os jovens aprendizes, iludidos pelos prestígios intelectuais do dia, não enxergavam nada de maligno. Foi só a decisiva intervenção do Papa Leão XIII que acabou com a palhaçada, mediante a bula “Aeterni Patris” (1879), que restaurou o ensino da teologia católica tradicional. Se quiserem uma boa resenha desses fatos, leiam a obra em quatro volumes de Etienne Couvert, “De la Gnose à l’Ecumenisme” (Éditions de Chiré, 1989).
No século XX, à medida que o movimento neotomista inaugurado por Leão XIII reconquistava o prestígio intelectual da Igreja, os eternos falsários abdicaram temporariamente da propaganda aberta e voltaram-se, em massa, para a estratégia da infiltração discreta, praticada em escala industrial a partir da década de 30 graças à iniciativa da KGB (leiam o depoimento de Bella Dodd em “School of Darkness”: há cópias circulando pela internet). Foi só em 1963, no Concílio Vaticano II, que, sentindo-se protegidos pela atmosfera de mudança, voltaram a vender impunemente, ao público geral, seus simulacros de cristianismo.
A fundação do PT e toda a sua carreira de crimes inigualáveis não foram senão a extensão remota desses fatos a um país periférico. O PT sempre foi a encarnação viva de um catolicismo de fancaria, concebido para ludibriar os fiéis e induzi-los a trabalhar pelo avanço do comunismo.
Não espanta que a própria entidade que personifica esse catolicismo ante o público seja, ela própria, uma fraude publicitária: a CNBB fala em nome da Igreja e posa, ante os fiéis, como expressão suma da autoridade eclesiástica, mas não é sequer uma entidade da Igreja, é uma simples sociedade civil sem lugar nem função na hierarquia católica. Os bispos, individualmente, têm autoridade para falar em nome da Igreja. A CNBB, não. Quando a CNBB repreende um bispo, ela falsifica e inverte a hierarquia. Está na hora de os fiéis, em massa, tomarem consciência disso.