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Silêncio e mistério

Olavo de Carvalho

Jornal do Brasil, 9 de outubro de 2008

Depois do pedido de dispensa com que se esquivaram de entregar à côrte a certidão de nascimento de Barack Obama (v. meu artigo anterior em www.olavodecarvalho.org/semana/081002jb.html), os advogados do candidato democrata armaram esta semana uma segunda manobra protelatória, solicitando que qualquer nova ordem judicial para a exibição do documento seja sustada até a decisão do juiz quanto àquele pedido.

O processo foi aberto em 15 de setembro pelo advogado democrata Philip Berg porque a direção nacional do seu partido, desobedecendo o Freedom of Information Act (Lei de Liberdade de Informação, que assegura aos cidadãos o acesso a documentos publicamente relevantes), recusou mostrar-lhe um original impresso, que Berg exigia por suspeitar que a versão eletrônica publicada pela campanha de Obama era forjada, como o asseguravam peritos judiciais consultados. Mais estranhamente ainda, o Departamento de Estado e a administração do Senado Federal, alertados quanto à possível falsidade da certidão eletrônica, não quiseram investigar o assunto. Berg ficou ainda mais desconfiado quando, comparando as declarações de adeptos e familiares de Obama, notou que o Messias democrata parecia ter realizado o milagre de nascer simultaneamente em dois hospitais (v. http://obamacrimes.com/index.php/component/content/article/1-main/28-phil-j-berg-files-amended-complaint-in-berg-v-obama).

Tantos esforços para fugir à exibição de um documento banal sugerem que realmente ele não existe, que Obama nunca foi cidadão americano e que sua possível eleição à presidência será seguida de uma crise política horrososa, com metade do país pedindo a cabeça do mandatário ilegítimo, a outra metade clamando histericamente contra o “golpe” e exigindo que a constituição seja sacrificada no altar da fé obâmica – um resultado até mais delicioso, para os inimigos dos EUA, do que a simples eleição do presidente americano mais esquerdista de todos os tempos.

Mais esquerdista e mais misterioso. Além de sua nacionalidade duvidosa e de inúmeros episódios comprometedores da sua biografia, sonegados à população pela grande mídia (ajuda recebida de terroristas, troca de favores com o estelionatário Tony Resko, intervenções diretas na política do Quênia em favor do genocida e agitador anti-americano Raila Odinga), resta o fato de que Barack Hussein Obama, por motivos incertos e não sabidos, usa também os nomes de Barry Obama, Barry Sotero, Barrack Dunham e Barry Dunham. Para complicar, Jerome Corsi, o repórter do WorldNetDaily enviado ao Quênia para esclarecer as passagens nebulosas de Obama pelo país, foi preso pela polícia local e enviado de volta aos EUA. Se o muro de silêncio erguido no Brasil em torno do Foro de São Paulo foi várias vezes furado pelos jornais de outras nações latino-americanas, o círculo mágico de proteção em torno da identidade de Barack Obama parece ser tão global quanto o imposto que ele quer fazer a humanidade pagar à ONU. Mesmo os candidatos republicanos, com evidente prejuízo eleitoral próprio, guardam respeitoso silêncio quanto ao processo que corre contra seu adversário na Pensilvânia, e, quando mencionam outros fatos indecorosos da sua carreira, como o fez Sarah Palin dias atrás, amortecem a denúncia com termos vagos e genéricos, que antes servem para irritar o eleitorado obamista do que para fazê-lo enxergar o tamanho da encrenca em que, segundo tudo indica, está se metendo ao confiar num desconhecido que se esmera em encobrir seu passado. Até o próprio WorldNetDaily, o mais intransigentemente conservador entre os grandes sites de jornalismo, só noticiou o processo no último dia 6, com atraso formidável. Por esses detalhes vocês vêem o quanto é falsa a noção, diariamente reiterada pela mídia nacional, de que a reputação do ilibado Obama está sob cerrado bombardeio da campanha McCain. O arquiprotegido Obama passa bem, obrigado. Sarah Palin é que já virou até personagem de filme pornô.

Conforme o previsto

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio (editorial), 23 de setembro de 2008

A pressa indecente com que os opositores nominais do governo correm para apoiá-lo ao mínimo aceno de alguma vantagem possível é a prova de que a passagem do PT pelo poder, exatamente como previ há mais de dez anos, e ao contrário do que afirmavam todos os sapientes, não terá sido um episódio normal do rodízio democrático, e sim a inauguração de um novo sistema que, superposto à ordem democrática, terminará – já quase terminou – por engoli-la e fazê-la desaparecer para sempre.

A “Nova República” não foi senão uma tênue interface entre o governo militar e o Brasil socialista, marcado pela hegemonia esquerdista em todos os setores da vida social, pela simbiose macabra entre o governo e o banditismo crescente, pela corrupção em níveis jamais antes imaginados, pela destruição completa da cultura superior, pela institucionalização do paternalismo estatal como garantia do apoio popular, pelo fechamento das fronteiras mentais do país ao debate de idéias no mundo, pela transformação do sistema de ensino em máquina de adestramento da militância comunista e, last not least, pela progressiva e tácita criminalização de toda atividade capitalista, louvada ao mesmo tempo, numa alternância pavloviana de choques e queijos, como indispensável ao progresso da nação. Como, no meio de toda essa tragédia, a economia cresce um pouquinho e esse pouquinho basta para acalmar uma multidão de consciências que aliás jamais foram muito exigentes, o sucesso do conjunto está garantido, e é óbvio, é patente que o sr. Lula tem todas as condições não apenas para fazer o seu sucessor, mas o sucessor do seu sucessor e todos os sucessores deste último por muitas décadas à frente. Cada político “de oposição” sabe disso e já tem nas mãos um leque de estratégias para adaptar-se à situação o mais confortavelmente possível, até simulando motivos éticos. E os militares? Eles têm algum ressentimento, é verdade, mas, marginalizados e reduzidos a condições de subsistência humilhante, já nada podem fazer senão esboçar aqui e ali um protesto simbólico, ridicularizado pela mídia. Muitos deles já parecem reger-se pela psicologia dos miseráveis: prometam-lhes alguma coisa, por mínima que seja, e eles farão o que você quiser. Antigamente a farda protegia contra a deterioração moral do ambiente. Mas ela não pode proteger contra uma cultura inteira. Só um gênio ou um louco pode desaculturar-se a si próprio. O homem comum, fardado ou não, cede à onipresença hipnótica dos contravalores que antes desprezava, em nome de valores dos quais já não se lembra. Tudo o que muitos oficiais das nossas Forças Armadas estão esperando é um pretexto patriótico para a adesão final. Criaturas solícitas como o general Andrade Nery dão o melhor de si para fornecê-lo, dirigindo habilmente contra os EUA o ódio que deveria se voltar contra o globalismo anti-americano da ONU, o qual, sob pretextos indigenistas e contando com a proteção da Presidência da República, vai comendo território e reservas minerais do Brasil enquanto a “Hora do Povo” e o próprio sr. presidente desviam as atenções de civis e militares para a presença alegadamente ameaçadora da IV Frota americana que, é claro, vem roubar o nosso petróleo…

Esse panorama não apenas já era previsível em 2002 e até bem antes, como foi efetivamente previsto nos meus próprios artigos, enquanto ilustres comentaristas políticos e analistas estratégicos, pagos a peso de ouro pelo empresariado, diziam que nada disso ia acontecer, que o PT desfrutaria de seus quinze minutos de fama e em seguida sumiria na lata de lixo da História, deixando caminho aberto aos liberais para que construíssem uma democracia capitalista moderna e pujante, de fazer inveja à Suíça.

Pela raiva que tantos ainda sentem de quem lhes disse a verdade, pela generosidade com que continuam premiando quem os ludibriou, o que me pergunto é se, sob o pretexto de ouvir análises de conjuntura, o que querem mesmo não são apenas umas palavras animadoras, tanto mais bem-vindas quanto mais falsas.

Revanchismo coisa nenhuma

Olavo de Carvalho

Jornal do Brasil, 21 de agosto de 2008

Na mesma semana em que pela primeira vez a classe militar esboça uma reação coletiva à perseguição de seus membros acusados de tortura, o juiz Baltasar Garzón desembarca no Brasil anunciando que vai puni-los se o governo local não o fizer, e dois porta-vozes da ONU aparecem nos jornais pontificando que “está mais do que na hora de o Brasil enfrentar esse assunto da anistia”. Está mais do que na hora, digo eu, é de os nossos militares entenderem que as tentativas de rever a Lei de Anistia não são mero “revanchismo” e sim uma vasta operação internacional, montada com todos os requintes do planejamento racional, da execução cuidadosa e do timing preciso, para quebrar a espinha das Forças Armadas latino-americanas e obrigá-las a escolher entre colocar-se a serviço da estratégia esquerdista continental ou perecer de morte desonrosa. A astúcia com que o governo brasileiro pulou fora de um confronto direto com os oficiais reunidos no Clube Militar, deixando a parte suja do serviço para seus aliados estrangeiros que com sincronismo admirável se ofereciam para a tarefa, é mais do que suficiente para ilustrar o que digo.

O tratamento dado a essas notícias pela mídia nacional também não é mera coincidência e sim um componente vital da trama. Um despacho da Agência Estado, reproduzido por toda parte, apresenta os dois homens da ONU como “peritos”. O termo visa a dar ares de isenção científica ao que dizem contra a Lei de Anistia, mas para que esse engodo funcione é preciso sonegar ao leitor, como de fato os jornais sonegaram, qualquer informação substantiva sobre o curriculum vitae dos entrevistados. O primeiro, Miguel Alfonso Martinez, foi nomeado para a Comissão de Direitos Humanos da ONU por Fidel Castro em pessoa, o que significa que está lá para encobrir os crimes da ditadura cubana sob uma cortina de acusações a governos bem mais inofensivos. O segundo, Jean Ziegler, suíço, entrou na mesma comissão em abril deste ano, sob os protestos de mais de vinte países, que não gostaram de ver nesse cargo um notório amigo e protetor de ditadores truculentos como Robert Mugabe, do Zimbábue, Muamar Khadafi, da Líbia, Mengistu Haile Mariam, da Etiópia, e o próprio Fidel Castro. Ziegler criou mesmo o “Prêmio Muamar Khadafi de Direitos Humanos”, que soa mais ou menos como “Prêmio Mensalão de Ética e Transparência”. Se o leitor soubesse dessas coisas, entenderia que os dois patetas falam apenas na condição de paus-mandados do comunismo internacional, e que ao apresentá-los como “peritos”, sem mais, a mídia nacional desempenha papel exatamente igual ao deles.

Mesmo o sr. Baltasar Garzón, por trás de sua fachada de campeão dos direitos humanos, permanece um desconhecido para a multidão dos brasileiros. Em 2001 ele recebeu um vasto dossiê contra Fidel Castro, mas respondeu que nada faria a respeito porque seu tribunal não tem jurisdição sobre governantes em exercício. O critério jurídico aí subentendido já é por si uma monstruosidade abjeta, pois significa que, para escapar ao senso justiceiro do sr. Garzón, tudo o que um ditador tem de fazer é permanecer no governo até à morte, em vez de devolver o poder ao povo como o fez o general Pinochet. O caso torna-se ainda mais escandaloso porque Fidel Castro agradeceu publicamente ao juiz a gentileza da sua reação e porque anos depois, quando Castro apeou do poder, Garzón não deu o menor sinal de perceber que ele tinha ipso facto caído sob a sua jurisdição.

Da minha parte, não tenho a menor dúvida de que essas pomposas iniciativas contra violadores de direitos humanos, sempre unilaterais e escancaradamente alheias ao senso das proporções, que é a essência mesma da justiça, têm no fundo um único objetivo: acostumar a população mundial à idéia de que assassinatos em massa são um direito inalienável e até um dever moral dos ditadores de esquerda, ao passo que qualquer violência incomparavelmente menor praticada contra comunistas é um crime hediondo cujo autor deve ser exposto à execração universal.

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