Posts Tagged Obama

A arrogância da mentira

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 30 de julho de 2009

Os maiores jornais brasileiros vivem da exploração da boa-fé popular e não vão parar com isso enquanto não se sentirem ameaçados por uma onda de queixas à Delegacia do Consumidor. O único atenuante que podem alegar é que a maior parte das mentiras que sai nas suas páginas vem pronta do exterior. A contribuição nacional aí consiste apenas na abstenção de qualquer exame crítico das fontes, isto é, na recusa obstinada de praticar o dever número um do jornalismo.

Isso é precisamente o que sucede no caso da matéria “Irritada, Casa Branca garante que Obama é cidadão americano”, publicada no Globo dia 27. Assinada por Ross Colvin, da Reuters, a agência mais pró-comunista do mundo Ocidental, não resiste ao mais mínimo confronto com os documentos originais que cita. É mentira do começo ao fim, coisa de um cinismo criminoso que nenhuma inépcia ou distração poderia explicar. Vejam:

1) “Um estridente grupo de teóricos da conspiração conhecido como ‘birthers’ (‘nascimentistas’) está transtornando a Casa Branca com sua persistente alegação de que Barack Obama não é cidadão norte-americano nato, e portanto seria inelegível para a Presidência.”

Ninguém está transtornando a Casa Branca. A pergunta sobre a certidão de nascimento de Obama surgiu uma única vez nas conferências de imprensa da presidência, e mesmo assim não foi feita diretamente a Barack Obama, mas a seu porta-voz Robert Gibbs. Se a presidência americana se sente “transtornada” por isso, não é pelo assédio de cobranças, mas pelo conteúdo mesmo da pergunta, à qual não tem podido dar uma resposta satisfatória.

A campanha não alega que Obama não é cidadão americano, mas apenas que ele não apresentou provas de sê-lo. Em vez disto, ele já gastou aproximadamente um milhão de dólares com advogados para esquivar-se de apresentá-las, conduta que seria inexplicável se ele tivesse as provas para apresentar.

Aliás, por que rotular os membros da campanha logo de cara com expressões pejorativas, “birthers” e “teóricos da conspiração”, assumindo a rotulação como adequada, em vez de designá-los de maneira neutra e em seguida informar que seus adversários os chamam por esses pejorativos, como seria a prática normal do jornalismo? Colvin não age como jornalista, mas como relações públicas, mostrando que não está interessado em averiguar os fatos mas em atemorizar quem deseje investigá-los.

2) “Desde a campanha eleitoral de 2008 havia quem lançasse a suspeita de que Obama, primeiro presidente negro do país, teria nascido no Quênia, e não no Havaí.

Ninguém “lançou” essa suspeita. O que houve foi que a avó de Obama afirmou ter assistido pessoalmente ao nascimento dele num hospital de Mombasa. O repórter do WorldNetDaily, Jerome Corsi, enviado ao Quênia para averiguar o assunto, foi preso pelo governo local e deportado para os EUA. Diante disso, nenhuma suspeita precisa ser “lançada”: ela surge espontaneamente em qualquer cérebro normal. Mas a grande mídia assumiu como cláusula pétrea abster-se de noticiar ou investigar esses dois fatos, preferindo, em vez disso, chamar de “teóricos da conspiração” quem quer que os mencionasse mesmo sem tirar deles qualquer conclusão quanto à nacionalidade de Obama.

3) “A ‘certidão de nascido vivo’ de Obama, conforme a cópia divulgada na Internet, mostra que ele nasceu em Honolulu às 19h24 de 4 de agosto de 1961.

Colvin omite a informação básica de que a “certification of live birth” publicada no site de campanha de Obama não é um xerox, um arquivo computadorizado ou mesmo um traslado da sua certidão de nascimento original (‘birth certificate’), mas apenas um resumo enviado por internet, no qual faltam informações essenciais da certidão original, como o hospital de nascimento – dado que se torna tanto mais importante porque os mais fanáticos defensores de Obama se desmentem uns aos outros, citando dois hospitais diferentes.

Durante a campanha eleitoral, o Congresso investigou minuciosamente a nacionalidade de John McCain, recusando-se a fazer o mesmo com Obama. McCain teve de apresentar a certidão de nascimento original (‘birth certificate’), enquanto Obama, livre de constrangimentos, se contentava com publicar o resumo eletrônico no seu site de campanha.

4) “A entidade apartidária FactCheck.org, ligada à Universidade da Pensilvânia, examinou, manipulou e fotografou a certidão original e concluiu que ‘atende a todos os requisitos do Departamento de Estado para conceder cidadania dos EUA’.

Mentira grossa. FactCheck não fotografou a certidão original, mas apenas a versão impressa do resumo eletrônico.

A segunda parte da frase é pura desconversa. A Constituição Americana estabelece uma diferença entre “cidadão”, que é qualquer um nascido em território americano ou aceito como imigrante, e “cidadão nativo”, nascido em território americano de pai e mãe americanos, o que com toda a evidência não é o caso de Obama (seu pai, nascido no Quênia, era súdito britânico). A mesma Constituição determina que só os “cidadãos nativos” podem ocupar a Presidência. Há controvérsias quanto à interpretação deste ponto e elas podem ser usadas como argumento em favor de Obama, mas não tem sentido alegar ao mesmo tempo que há controvérsias e que a elegibilidade de Obama não é controvertida.

5) “O FactCheck.org também cita o fato de que os pais de Obama (ele queniano; ela norte-americana) colocaram um anúncio em um jornal local, em 13 de agosto de 1961, anunciando o nascimento do filho.

O anúncio não diz onde nasceu o menino; só informa que os Obamas tiveram um filho e que sua residência era na rua tal, número tanto, em Honolulu – informação que por si já é mentirosa porque na data do parto mamãe Obama morava e estudava em Seattle, a duas mil milhas de Honolulu.

Colvin nem de longe menciona que a certidão original não é o único documento de Obama que continua inacessível. Desde o tempo em que era candidato, o atual presidente mantém sob estrito sigilo todos os papéis equivalentes aos que seu adversário teve de exibir ao Congresso: registros escolares, teses acadêmicas, exames médicos, passaportes (inclusive o misterioso passaporte, provavelmente indonésio, com que ele conseguiu entrar no Paquistão quando ali era proibida a entrada de americanos), etc. O único documento que veio à tona, além da malfadada “certification of live birth” e da matrícula numa escola indonésia, foi um alistamento militar obviamente forjado ou então miraculoso: assinado em 1988 num formulário que só veio a ser impresso em 2008.

O que torna os documentos faltantes ainda mais necessários, e a sua ocultação ainda mais inaceitável, é o fato de que Obama tem mentido sobre sua biografia com a constância de um mitômano. Ele disse que nunca recebeu educação islâmica (os papéis da escola indonésia provam que recebeu), que nunca militou num partido socialista (logo apareceu a carteirinha), que seu pai foi pastor de cabras (nunca foi), que seu tio participou da libertação de Auschwitz (só se fosse soldado russo), etc. etc. Sua mais recente e primorosa lorota foi pronunciada na homenagem aos astronautas da Apolo-11: com a maior cara de pau, o homem disse que, como tantos outros havaianos emocionados, havia assistido pessoalmente à descida da cápsula espacial nas praias de Honolulu. O problema é que, nesse dia, ele estava na Indonésia.

Para completar, a tropa-de-choque obamista, no desespero de desviar-se de perguntas irrespondíveis, tem recorrido aos argumentos mais incongruentes para dissuadir os curiosos. Por exemplo: funcionários do Registro Civil do Havaí asseguram que têm nos seus arquivos a certidão original de Obama (não a mostram nem informam o que está escrito lá), enquanto o presidente da CNN, tentando calar as perguntas do seu âncora Lou Dobbs, afirma que a questão está superada porque não existe mais certidão original – todos os arquivos do Registro Civil Havaiano foram destruídos em 2001.

Tanto o nascimento de Obama quanto sua vida inteira são histórias mal contadas, repletas de absurdidades e contradições. O autoritarismo arrogante e cego com que o governo e a grande mídia exigem que um povo inteiro aceite essas histórias sem fazer perguntas, sob ameaça de ser acusado de extremismo de direita, já basta para mostrar que algo de muito grave – seja a nacionalidade, seja lá o que for – está sendo deliberadamente escondido.

Que a mídia nacional faça eco servilmente a essa exigência arrogante, como se cada jornalista brasileiro fosse assessor de imprensa do presidente de uma nação estrangeira, é decerto um dos episódios mais deprimentes na vida de profissionais que já mostraram, no caso do Foro de São Paulo, sua disposição solícita de vender-se barato aos interesses políticos mais vis, a um conluio abjeto de ladrões, traficantes e assassinos.

P. S. Tão logo enviei este artigo ao DC, chegou a notícia de que a Sra. Chiome Fukino, a alta funcionária do Registro Civil havaiano que afirmara ter visto a certidão original de Obama nos arquivos da repartição, agora assegura que ele nasceu mesmo em Honolulu. Como antes ela se esquivava de dar essa informação porque a lei a proibia de revelar dados do documento sem autorização do próprio Obama, não se sabe se ela decidiu violar a lei ou se recebeu o sinal verde de Obama para falar. Nesta última hipótese, o caso fica mais nebuloso ainda: por que autorizar uma entrevista sobre o documento e continuar mantendo oculto o próprio documento? Quem, ao solicitar uma carteira de motorista, apresenta, em vez da certidão de nascimento, o testemunho de alguém que jura tê-la visto?

Veja com seus próprios olhos a diferença entre uma certidão de nascimento original e o resumo publicado por Obama.

Ameaça ostensiva

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 29 de junho de 2009

O colunista Bob Herbert – aquele mesmo segundo o qual John McCain não parou de fazer insinuações racistas durante a campanha eleitoral de 2008, embora o restante da espécie humana não as ouvisse – publicou no New York Times do último dia 20 um artigo bastante esclarecedor. Esclarecedor mesmo: basta lê-lo para compreender por que aquele jornal vai diminuindo de tiragem a cada ano e já está à beira da falência, tendo sido obrigado a arrendar metade do seu edifício-sede para arcar com seus custos de produção.

O artigo, é óbvio, não fala de nada disso. Apenas exemplifica, ao tratar de assunto completamente diverso, o tipo de demagogia alucinada que a publicação do sr. Sulzberger passou a aceitar como jornalismo desde há mais de uma década, pagando esse capricho de esquerdista rico com uma desmoralização aparentemente irreversível. Desmoralização que só os jornalistas brasileiros não notaram, pelo simples fato de que em geral nada lêem da mídia estrangeira exceto o próprio New York Times (e o Monde Diplomatique, que é mais mentiroso ainda). Mas não há nisso nada de inusitado: a degradação do NYT, afinal, não completou o prazo regulamentar de trinta anos exigido para que os fatos do mundo sensibilizem o cérebro nacional.

Herbert assegura que os três crimes mais chocantes ocorridos no território americano nas últimas semanas – os assassinatos do médico abortista Tiller, de três policiais em Pittsburgh e de um guarda do Museu do Holocausto em Washington D.C. – foram causados pela propaganda direitista contra o governo Obama.

Ele alerta às autoridades que os “ataques foram motivados pelo ódio direitista: são apenas o começo e o pior está por vir” – donde se conclui facilmente que o governo precisa fazer alguma coisa para tapar a boca dos agitadores, especialmente, segundo Herbert, a National Rifle Association (NRA), cujo presidente, Wayne La Pierre, exorta continuamente os membros da entidade a lutar contra qualquer tentativa governamental de privá-los de suas armas de fogo.

Vamos agora aos fatos:

1. Segundo a polícia, o assassino do dr. Tiller não é militante de nenhuma organização anti-abortista, cristã ou conservadora: é um doente mental, já cometeu outros crimes e não disse uma só palavra que sugerisse motivações morais ou ideológicas. É até possível – mera suposição, que Herbert toma como certeza absoluta – que ele tenha reagido, de maneira insana, à notícia de que o médico era responsável pelas mortes de milhares de crianças, muitas delas saudáveis e completamente formadas, já no nono mês de gestação; mas essa notícia não é propaganda direitista de maneira alguma: é um fato reconhecido por toda a mídia e alardeado, com orgulho, pelo próprio Tiller, sob o nome de socorro humanitário a pobres mulheres privadas do conhecimento das camisinhas ou dos benefícios incalculáveis da esterilização preventiva. Caso as organizações anti-aborto estivessem mesmo induzindo alguém à prática da violência, os primeiros a atender a esse apelo deveriam ser seus próprios militantes. Estranha propaganda, essa, que nenhum efeito exerce sobre seu público-alvo mas vai influenciar, à distância, um maluco que jamais mostrou qualquer interesse pela causa anti-abortista! O mesmo fenômeno observa-se, aliás, na NRA: seus milhões de membros armados até os dentes insistem em não cometer crime algum, deixando irresponsavelmente essa tarefa para pessoas de miolo mole que jamais freqüentaram a organização.

2. O autor dos disparos no Museu do Holocausto foi retratado pela mídia como um fanático anti-semita, coisa que ele é mesmo. Mas ele é também um evolucionista roxo e anticristão odiento – um dado cuidadosamente omitido não só por Herbert mas também pela seção noticiosa do New York Times, e que por si já basta para mostrar que o criminoso nada tem a ver com a direita americana; direita que, para a desgraça total das especulações herbertianas, é tão notoriamente pró-judaica que os esquerdistas em massa a acusam de ser um bando de vendidos à “internacional sionista”. Herbert repete o engodo de Michael Moore, que, para lançar sobre os conservadores a culpa moral pelo massacre de Columbine, omitiu de propósito a informação de que os autores do crime o cometeram num acesso de ódio ao cristianismo. O mesmo truque sujo foi usado no caso da Virginia Tech, quando a grande mídia unânime escondeu do público que o assassino, um imigrante coreano, fora doutrinado por uma professora esquerdista, militante black radical, na base do slogan “Morte aos brancos, morte aos judeus”. Quando a inspiração ideológica é direta, comprovada, explícita e vem da esquerda, é preciso escondê-la a todo custo, inventando, em contrapartida, as mais artificiosas associações de idéias para criminalizar cristãos e conservadores. Herbert não é, nisso, nem um pouco original: segue a regra estabelecida.

3. Quanto ao assassino dos três policiais, o site de fiscalização midiática Slate, confrontando as várias notícias, concluiu que não há como classificar o sujeito de extremista, seja de direita, seja de esquerda, já que ele é uma cabeça confusa demais para compreender o sentido político do que faz. Embora ele tenha declarado temer o desarmamento forçado da população, não consta que ele jamais tivesse lido a respeito em revistas ou folhetos da NRA. A única fonte que ele citou sobre o assunto foi o site neonazista Stormfront, publicação tão representativa da direita americana que chega a rotular Obama de conspirador sionista, enquanto os sionistas de verdade e os conservadores em peso preferem julgá-lo, como disse recentemente Morton Klein (líder da Zionist Organization of America), “o presidente americano mais anti-Israel de todos os tempos”, empenhado, segundo o rabino Pomerantz, em “criar um clima de ódio contra os judeus”.

Forçando a especulação de intenções sutis até o último limite da inversão completa, Herbert procura persuadir os leitores de que a pregação conservadora é uma ameaça potencial à segurança pública dos EUA (aviso que chega a ser psicótico numa época em que americanos são mortos todas as semanas sob os aplausos da esquerda mundial), mas não consegue esconder que seu apelo ostensivo à ação governamental contra esses alegados subversivos é uma ameaça real e presente ao direito de livre expressão. Tendo em vista os esforços da esquerda democrata para restaurar a Fairness Doctrine e tirar dos conservadores metade do tempo que eles têm no rádio, torna-se uma simples questão de realismo parafrasear o próprio Herbert e concluir que essa ameaça “é apenas o começo e o pior está por vir”.

Neste e em outros artigos, Herbert pinta os EUA como nação recordista de crimes violentos, causados – é claro! – pelos milhões de armas legais nas mãos de seus cidadãos. Mas o curioso não é que ele apele a esse estereótipo bocó: o anti-americanismo interno prima por evitar comparações internacionais que o desmentiriam no ato (por exemplo, a criminalidade na Inglaterra multiplicando-se por quatro desde a proibição das armas de fogo). O curioso é que, lido num país como o nosso, que tem dez vezes mais crimes violentos do que os EUA, com metade da sua população e um número ínfimo de armas legais, o besteirol de Herbert não suscite automaticamente, pela simples confrontação dos números, o riso de escárnio que merece, e sim o respeito e a consideração devidos ao jornalismo sério.

Um novo modelo de transparência

Olavo de Carvalho

Digesto Econômico, janeiro/fevereiro de 2009

Compreender os objetivos gerais da administração Obama com base nas suas primeiras medidas de governo não requer o mais mínimo esforço diagnóstico. Essas medidas falam por si mesmas de uma maneira tão clara que algum esforço seria necessário, isto sim, para não enxergar o que pretendem e aonde vão levar.

Desde logo, Obama tratou de acenar com um gesto de simpatia para os inimigos do país, escolhendo, para conceder sua primeira entrevista como presidente, a rede de TV Al-Arabiya. Chamá-la de canal terrorista não é nenhum exagero, não só pelo conteúdo editorial dos seus programas, mas pelo fato singelo de que o edifício-sede da emissora é usado como base para o lançamento de foguetes contra Israel.

Mais entusiasmo ainda entre as hostes anti-americanas ele despertou com o anúncio do fechamento da prisão de Guantanamo. Não há um só comunista ou radical islâmico no mundo que não considere isso uma vitória espetacular. A gritaria universal contra a “tortura” ali praticada conseguiu obscurecer por completo a diferença do tratamento concedido a prisioneiros de guerra nos EUA e entre os terroristas. Quem quer que tenha visto seres humanos implorando por suas vidas segundos antes de ter suas cabeças cortadas entende que a afetação de piedade pelos terroristas submetidos ao waterboarding (prática usada no treinamento dos próprios soldados americanos) é uma deformação monstruosa do senso moral. Impor essa deformação à mente das multidões tornou-se um objetivo sistemático da grande mídia e da intelectualidade esquerdista por toda parte. Obama julgou prioritário agradar a essa gente logo na sua primeira semana de governo, mesmo ao custo de endossar a difamação do seu país.

Uma onda de alívio percorreu as almas dos produtores de petróleo árabes, bem como de Hugo Chávez, quando Obama vetou a perfuração de novos poços em alto-mar, que o Congresso havia aprovado em obediência a pressões populares.

Nada, porém, pode ter ressoado mais docemente aos ouvidos do anti-americanismo do que o anúncio presidencial de que pretende cortar o estoque de armas nucleares dos EUA em nada menos de oitenta por cento. Os EUA têm atualmente 2.300 ogivas. A opinião geral dos especialistas militares é que abaixo de duas mil, a superioridade bélica dos EUA terá sido eliminada e o país estará exposto à derrota ao primeiro ataque. É universalmente reconhecido que a Rússia jamais cumpriu a sua parte em acordos de redução. Obama sabe perfeitamente bem que não há o mais mínimo motivo para esperar que o homem da KGB atualmente no poder vá agir de maneira diferente. A redução será unilateral, e Obama encara essa perspectiva sem pestanejar.

Já a simples composição de sua equipe de governo mostra da maneira mais patente o estofo moral e patriótico da nova administração. Leon Panetta, indicado para diretor da CIA, é um homem que não passaria em nenhum teste de segurança para ser um simples empregado burocrático nessa ou em qualquer outra agência de inteligência dos EUA, por suas ligações estreitas com o Institute for Policy Studies, reconhecidamente um braço da KGB. Nenhum outro governo americano jamais nomeou tanta gente errada logo nos primeiros dias. Após ter prometido que seu governo se pautaria pelo mais rígido controle ético jamais visto na história americana, Obama convocou para os altos postos os seguintes tipos inesquecíveis:

· O governador do Novo México, Bill Richardson, teve de renunciar à nomeação para secretário do Comércio, porque está sob investigação num grande júri por favorecimento ilícito aos seus colaboradores de campanha.

· Timothy Geithner, nomeado secretário do Tesouro, chegou lá com uma dívida jamais paga de 34 mil dólares em impostos.

· Thomas Daschle, nomeado para chefiar o Departamento de Saúde, renunciou à nomeação quando se soube que havia deixado de pagar impostos no valor de 146 mil dólares.

· O mesmo aconteceu com Nancy Killefer, nomeada chief performance officer (encarregada de enxugar o orçamento, atividade que de algum modo ela já vinha desempenhando ao abster-se de pagar seus impostos).

· A deputada Hilda Solis, nomeada secretária do Trabalho considera-se uma vítima inocente de perseguição porque há pessoas que a julgam incapacitada para o cargo só porque – vejam vocês – seu marido esteve envolvido em fraudes de imposto por dezesseis anos.

· Por fim, David Ogden, nomeado para segundo no comando da Procuradoria Federal, é conhecido como advogado de firmas de pornografia. Há mesmo quem o considere – quanta injustiça! – um hired gun (pistoleiro de aluguel) a serviço da indústria da obscenidade.

Por enquanto é só. Ninguém mais foi acusado de nada. No entanto, entre os demais nomeados, há pelo menos onze que pertencem à Comissão Trilateral, órgão fundado por David Rockefeller em 1973 com o propósito de dissolver a soberania americana e instalar um governo mundial. São eles:

· Timothy Geithner, já citado como secretário do Tesouro;

· Susan Rice, embaixadora nas Nações Unidas;

· Thomas Donilon, conselheiro de Segurança Nacional;

· Paul Volker, diretor da Comissão de Recuperação Econômica;

· General James L. Jones, conselheiro de Segurança Nacional;

· Almirante Denis C. Blair, diretor de Inteligência Nacional;

· Kurt M. Campbell, secretário-assistente de Estado para a Ásia e o Pacífico;

· James Steinberg, secretário-assistente de Estado;

· Richard Haass, Dennis Ross, Richard Holbrooke, enviados especiais do Departamento de Estado.

Muitos outros membros do gabinete têm ligação com a Trilateral: a secretária de Estado Hilary Clinton é casada com um membro da comissão; o grupo de conselheiros de Tim Geithner inclui quatro membros da comissão; e assim por diante: o governo Obama é uma fortaleza do globalismo.

Não espanta, portanto, que em suas políticas sociais o novo presidente venha tratando de implementar o mais rapidamente possível os programas mais apreciados pela elite globalista, como por exemplo o abortismo. Uma das primeiras medidas de Obama foi liberar algumas centenas de milhões de dólares para disseminar a prática do aborto não só nos EUA, mas no mundo todo. Numa significativa demonstração de elasticidade moral, o presidente declarou que “Deus jamais perdoará a matança de bebês inocentes”, no instante mesmo em que liberava o dinheiro do contribuinte americano para financiar essa matança. Mais abortos ainda serão provocados pela liberação das pesquisas com células-tronco embrionárias, que o presidente já anunciou: as esperanças mais estapafúrdias de cura para todas as doenças possíveis e imagináveis embelezam e legitimam essas pesquisas, que até agora não deram o mais mínimo sinal de poder alcançar algum resultado, ao contrário do que acontece com as investigações de células-tronco adultas.

Complementarmente, o novo governo já demonstra da maneira mais inequívoca sua intenção de reprimir e boicotar as comunidades religiosas que se oponham aos novos modelos de “moralidade” propugnados pelo globalismo: no seu rol de “estímulos” à economia, toda ajuda é ostensivamente negada a qualquer organização escolar ou assistencial que dê abrigo, direta ou indiretamente, a empreendimentos religiosos. Se uma escola, por exemplo, permite que um grupo de católicos ou evangélicos crie dentro da sua sede um grêmio religioso, estará excluída de toda ajuda oficial. Para grupos de gays e abortistas, não há nenhuma limitação nesse sentido.

O “estímulo”, por fim, apresentado como socorro de emergência a uma economia em perigo, é nada mais que um pretexto para alimentar de dinheiro as organizações que apoiaram Obama durante a campanha: a Acorn, por exemplo, que caprichou no obamismo ao ponto de espalhar milhares de títulos de eleitor falsos para aumentar a votação do seu queridinho, recebeu nada menos de quatro bilhões de dólares, o que prova que ao novo presidente não falta a virtude da gratidão, embora posta em prática com o dinheiro alheio – um óbvio favorecimento eleitoral que, em circunstâncias normais, seria motivo cabal de impeachment. Mas nada no governo Obama é normal.

O estímulo, em todo caso, se não trouxe nem pode trazer maiores benefícios, já que apenas cinco por cento do total da verba se destinam aos setores afetados pela crise, pelo menos serviu para demonstrar que a mágica de Obama não é infalível. Ao convocar as organizações populares para um vasto movimento de apoio ao seu plano econômico, ele só obteve um comparecimento irrisório. Na própria capital do país, só quinhentas pessoas se inscreveram; em Sacramento, Califórnia, 78; em Fort Worth, Texas, 54; em Tacoma, Estado de Washington, 34: é a “mobilização de massas” mais micha que já se viu desde que Fernando Collor de Mello apelou ao povo para que saísse às ruas vestido de verde e amarelo.

Segundo uma pesquisa da Zogby, 53 por cento dos americanos acham que o plano de Obama vai atrasar a recuperação econômica; só 31 por cento acham que não. Cinqüenta e sete por cento das pessoas sem partido acham que a coisa gasta dinheiro demais, concordando nisso com 89 por cento dos republicanos. O mercado parece dar razão a eles: a Media Dow-Jones caiu 400 pontos tão logo o governo anunciou o gasto de 838 bilhões de dólares. A estupidez suicida do plano é ainda sublinhada pelo fato de que ele busca atrair para si o prestígio histórico do New Deal, na mesma semana em que um estudo empreendido por economistas da Universidade da Califórnia (insuspeita de quaisquer inclinações conservadoras) revela que o ambicioso projeto econômico de Franklin D. Roosevelt atrasou em pelo menos sete anos a recuperação econômica do país. Roosevelt, como Obama, jogava todas as culpas nas costas da competição capitalista, encobrindo os resultados desastrosos do intervencionismo praticado por seus antecessores e apostando tudo em doses ainda maiores de intervencionismo. O plano de Obama é ainda mais intervencionista e socialista. Nesse ponto parece haver acordo entre a direita e a esquerda. Rush Limbaugh, o mais ouvido comentarista de rádio conservador nos EUA, diz que Obama está implantando o socialismo nos EUA. Sam Webb, líder do Partido Comunista americano, concorda inteiramente. O primeiro joga pedras, o segundo aplaude – mas, no que diz respeito aos fatos, não têm a mínima divergência.

Se a carreira pregressa de Barack Hussein Obama é uma trama indeslindável de obscuridades e mistérios, seu governo vem sendo de uma transparência admirável – não no sentido ético, é claro, mas no sentido lógico: ninguém com QI médio, conhecendo as primeiras decisões do novo presidente, pode ter a menor dificuldade em compreender o enredo da novela e adivinhar quem morre no fim.

Veja todos os arquivos por ano