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Queda de braço

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 17 de fevereiro de 2015

Os fatos são patentes e inegáveis:
1. O PT é filiado a uma organização estrangeira, o Foro de São Paulo, que ele reconhece como “coordenação estratégica da esquerda na América Latina” (sic) e cujas resoluções, unanimemente assinadas nas suas assembleias anuais, ele acata e cumpre. Consultem-se, a respeito, o vídeo do III Congresso do partido (veja aqui), as atas das assembleias do Foro de São Paulo (leia aqui) e o discurso comemorativo pronunciado pelo sr. Luís Inácio Lula da Silva, então presidente da República, no décimo-quinto aniversário da entidade – discurso publicado na própria página oficial da Presidência, depois comentado e linkado no meu artigo (leia aqui). As provas não poderiam ser mais abundantes nem mais inquestionáveis.

A Lei dos Partidos Políticos (Lei número 9.096 de 19 de setembro de 1995) determina que o STF casse o registro desse partido, por violação do artigo 28, alínea II: “estar subordinado a entidade ou governo estrangeiros.”

A violação independe de o partido ter ou não recebido fundos dessa entidade, o que é crime suplementar a ser investigado.

2. O PT tem sob o seu comando e alimenta com vultosas verbas públicas uma entidade paramilitar, armada, clandestina e sem registro legal, treinada por técnicos estrangeiros para atividades de guerrilha, especializada em invadir e queimar propriedades rurais e em bloquear pela força o direito do cidadão brasileiro de circular livremente pelo território nacional, e não hesita em convocar essa entidade, chamando-a mui apropriadamente de “exército”, a mostrar o seu poder e interferir na política nacional como instrumento de pressão e intimidação.

Isso viola a alínea IV da Lei dos Partidos Políticos (“manter organização paramilitar”), obrigando o STF a cancelar o registro do partido, mediante “denúncia de qualquer eleitor, de representante de partido, ou de representação do Procurador-Geral Eleitoral”.

O PT é portanto um partido ilegal, cuja possibilidade de existência continuada só é garantida por um conluio criminoso, regado a dinheiro público, do qual participam políticos, juízes e altos funcionários das estatais, tudo sob a proteção da “grande mídia”.

3. O governo Dilma Rousseff concedeu empréstimos ilegais a várias nações comunistas, violando o artigo 49 da Constituição Federal, segundo o qual assinar tratados e compromissos internacionais que impliquem despesas para os cofres públicos “é de competência exclusiva do Congresso Nacional”.  Reconhecendo cinicamente que esses empréstimos são inconstitucionais e ilegais, o governo Rousseff ainda os tornou secretos, roubando ao Congresso e à nação a mera possibilidade de investigá-los.
Não poderia haver prova mais patente de crime de improbidade administrativa, tornando o impeachment da Sra. Rousseff não apenas legal, mas obrigatório, mesmo sem Mensalão, Petrolão e demais crimes coadjuvantes que esse governo jamais se eximiu de praticar.
Para maiores informações, veja.

4. A sra. Rousseff deve o seu segundo mandato à fraude eleitoral maciça e ostensiva da apuração secreta dos votos, que nega o mais elementar princípio de transparência sem o qual nenhuma eleição é válida ou legítima à luz da razão e do Direito. Para dar viabilidade ao truque sujo, colocou na presidência do Tribunal Eleitoral, após tê-lo feito passar pelo STF, um advogado do seu partido e homem notoriamente desprovido das qualificações para cargos superiores da magistratura.

Nessas condições, proclamar, como o faz praticamente a totalidade da classe política e da mídia, que a sra. Rousseff governa o país com base num mandato legítimo e democraticamente instituído é atitude de uma mendacidade e de um cinismo que raiam a amoralidade psicopática pura e simples.

Cansados de esperar e implorar que o Congresso e as autoridades judiciárias fizessem cumprir a lei, dois ou três milhões de cidadãos saíram às ruas, no maior protesto político de toda a nossa História, apenas para ver, no dia seguinte, o governo, auxiliado pelos políticos ditos “de oposição” e pela mídia, tentar tirar proveito do seu próprio descrédito e da sua própria torpeza, utilizando-se da ira popular como pretexto para vender, de novo, a fraudulenta proposta da “reforma política” bolivariana.

Com toda a evidência, a elite política e midiática deste país entrou num pacto calculado para impor a autoridade do PT acima da Constituição e das leis, incondicionalmente e sem possibilidade de discussão.

No tempo de Collor e FHC, qualquer passeata de umas dezenas de milhares de manifestantes, convocados e dirigidos por organizações políticas, era glorificada como “clamor popular” e alegada como razão iminente para um impeachment.

Dois milhões de pessoas clamando espontaneamente nas ruas pelo simples cumprimento das leis não bastam para demover essa elite da sua firme e inabalável decisão de vender como “democracia” um ritual grotesco de legitimação do crime e da iniquidade.

A ruptura entre o povo e a elite mandante é hoje profunda, radical e insanável. Não há diálogo nem conciliação possível. A vida política nacional tornou-se uma queda de braço entre os happy few e a massa indignada, entre a palhaçada de cima e a realidade de baixo.

Mais dia, menos dia, a realidade vencerá, mas quanto sofrimento isso ainda vai custar aos brasileiros?

Onde estão os cinco justos?

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 26 de janeiro de 2010

No seu editorial de terça-feira passada, o Estadão choraminga que “a Segunda Conferência Nacional de Cultura, programada para março, foi concebida como parte de um amplo esforço de liquidação do Estado de Direito e de instalação, no Brasil, de um regime autoritário. O controle dos meios de comunicação, da produção artística e da investigação científica e tecnológica é parte essencial desse projeto e também consta do Programa Nacional de Direitos Humanos”.

São verdades óbvias, impossíveis de desmentir. Mas vêm tarde demais. Quem há de deter a ascensão do autoritarismo esquerdista num país onde as facções “de direita” se enfraqueceram tanto que já nem podem lançar um candidato presidencial próprio e só lhes resta escolher o “menos esquerdista”, sem nem mesmo ter a clara certeza de que essa gradação hipotética corresponde a uma realidade ou a uma falsa esperança? Esperança que, diga-se a bem da justiça, o próprio escolhido não pode ser acusado de alimentar em ninguém.

Já passaram por essa mesma humilhação em 2002, e nem isso bastou para alertá-las quanto à gravidade do estado de coisas. Ao contrário, não houve, no meio delas, quem não celebrasse como apoteose da democracia aquilo que foi, com toda a evidência, uma farsa esquerdista calculada e montada para pregar o último prego no caixão da direita com a anuência servil e até festiva da própria vítima. Quando uma facção politicamente destruída não tem sequer a coragem de confessar o desastre, isso significa que internalizou a derrota ao ponto de já nem mais poder pensá-la como tal. Sai da competição e, apegando-se à mentirinha tola de que a surra brutal foi apenas uma brincadeira entre amigos, passa a disputar nada mais que um lugar de sparring na academia do adversário.

Foi precisamente nessa condição que o sr. Alckmin subiu ao ringue eleitoral em 2006: desmanchando-se em demonstrações de polidez e bom-mocismo, omitindo-se de denunciar os crimes do partido adversário, não concorreu com ele senão para ajudá-lo a ocultar sob um manto de respeitabilidade postiça o sangue e as fezes que então, decorridos dezesseis anos da fundação do Foro de São Paulo, já o manchavam até à raiz dos cabelos.

Nunca um candidato foi tão vulnerável, tão fácil de derrotar quanto o foi o sr. Luís Inácio Lula da Silva nos dois últimos pleitos. Para destruir não somente sua candidatura, mas todas as suas ambições políticas quaisquer que fossem, bastaria mostrar, nos debates da TV, o compromisso de ajuda integral que ele assinara com a narcoguerrilha colombiana em 2001 e perguntar se, no governo, ele pretendia ser fiel à sua aliada, traindo os eleitores brasileiros, ou cumprir as leis do país e tornar-se alvo do ódio do Foro de São Paulo inteiro. Se o candidato nominalmente de direita tivesse feito isso uma vez, uma única vez, ele seria hoje presidente da República, e não haveria nenhuma “Conferência Nacional de Cultura” ou “Plano Nacional de Direitos Humanos” para assombrar as noites dos editorialistas do Estadão. Em vez disso, o sr. Alckmin preferiu dar a impressão de que tudo o que o distinguia do seu adversário eram miúdas diferenças políticas entre cidadãos igualmente decentes, igualmente democratas, não separados nem mesmo por alguma divergência ideológica substantiva.

Mas estou sendo injusto com o sr. Alckmin. Ele não foi o único que, sob o pretexto de “manter alto o nível do debate”, elevou aos píncaros a imagem de um inimigo que, já então, chafurdava gostosamente, fazia uma década e meia, no lamaçal da aliança entre crime e revolução, protegido do olhar curioso do eleitorado pelos bons préstimos de toda a “grande mídia”, de todos os partidos políticos, de todos os comandantes militares, de todas as igrejas, de todos os intelectuais, de todos os “formadores de opinião”.

O sr. Alkmin não teve culpa nenhuma senão a de ser igual, em coragem e senso de responsabilidade histórica, a praticamente todos os demais líderes da “direita”. As exceções contavam-se e contam-se nos dedos de uma só mão, mas duvido que a completem. Se há cinco justos na direita brasileira, digam-me quem são eles, e expliquem por que não escolhem um deles como candidato na próxima eleição presidencial.

Por favor, me expliquem

Olavo de Carvalho

Jornal do Brasil, 7 de agosto de 2008

Os documentos publicados pela revista “Cambio” esclarecem detalhes da conspiração PT-Farc, mas não são de maneira alguma necessários para prová-la. Ela já estava provada, muito além do que a mente mais cética poderia desejar, nas atas do Foro de São Paulo e nas edições da revista comunista “America Libre”. Se um grupo de políticos se reúne com delinqüentes para traçar uma estratégia em comum com eles para a tomada do poder, isso já constitui, acima de qualquer dúvida razoável, delito de formação de quadrilha.

Elaborar um plano revolucionário junto com quem quer que seja é aceitá-lo, a priori, como futuro parceiro na partilha do aparelho de Estado, com toda a promessa de vantagens comuns que isso implica. Portanto, o sr. Luís Inácio Lula da Silva e outros líderes petistas, conscientes dos crimes hediondos praticados pelas Farc, pelo Mir chileno e organizações congêneres, inclusive contra cidadãos brasileiros, não só se omitiram de denunciar seus autores mesmo quando estes se encontravam no território nacional, e incorreram assim em delito de prevaricação, mas ainda os premiaram antecipadamente, convidando-os para desfrutar com eles os benefícios do poder sobre todo um continente.

Mas essa aliança nunca foi só um plano de futuro: foi uma prática presente, efetiva, ao longo de toda a existência do Foro de São Paulo. Qualquer plano estratégico traçado em comum entre organizações militantes absorve e integra em si, por definição, as várias ações, lícitas e ilícitas, desempenhadas por todas elas em seus respectivos campos de atuação. A articulação engenhosa, ora camuflada, ora ostensiva, da luta política legal com o uso da violência criminosa é uma tradição centenária do movimento comunista. No Foro ela é mais que visível, na medida em que os assassinatos, os seqüestros, o contrabando de armas e o narcotráfico prosseguiram imperturbavelmente ao longo dos dezesseis anos em que o sr. Luís Inácio Lula da Silva presidiu a entidade. Nem uma única vez, ao longo desse tempo, ele deu ali o menor sinal de descontentamento ou inconformidade com esses crimes. Bem ao contrário, aplaudiu e apoiou seus autores ao ponto de condenar como “terrorismo de Estado” as ações antiguerrilha do governo colombiano. Já em plena gestão presidencial do sr. Lula, seu chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, ao lado do principal intelectual petista, Emir Sader, continuava publicando uma revista de propaganda comunista em associação com as Farc, enquanto seu partido se mobilizava, sistemática e obstinadamente, para proteger e libertar cada agente dessa organização ou do Mir chileno preso no Brasil. Se isso não é formação de quadrilha, por favor me expliquem o que é.

Em 28 de outubro de 2003 já fazia dois anos que o traficante Fernandinho Beira-Mar havia confessado vender armas às Farc em troca de drogas para distribuir no mercado brasileiro. Nessa data, o dr. Emir Sader e o vice-presidente do PT, Valter Pomar, estavam no seminário internacional “Experiencias de Poder Popular en América Latina y el Caribe”, da revista “America Libre”, ao lado de Raul Reyes, aquele mesmo comandante das Farc que havia confessado à Folha de S. Paulo ser o PT o principal contato da quadrilha no Brasil. Confiram em http://www.nodo50.org/americalibre/eventos.htm. Se até agora toda a “grande mídia” continua fazendo de conta que esse encontro jamais aconteceu – embora ele não se realizasse em nenhum cafundó inacessível, e sim em São Paulo –, é justamente porque ele é a prova cabal de que, pelo menos durante o primeiro mandato do sr. Lula, o PT e as Farc continuavam unidos na busca de seus objetivos comuns. E a mentira mais cínica das últimas semanas é aquela de que quaisquer contatos do com as Farc foram motivados por interesse humanitário do partido pela sorte dos reféns mantidos em cativeiro pela quadrilha. Verifiquem as atas do Foro e as de todos os seminários de “America Libre”: nem uma única palavra se disse ali, jamais, em favor desses reféns. Tudo o que se disse foi em favor do socialismo e da tomada do poder continental.

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