Olavo de Carvalho
Jornal do Brasil, 27 de julho de 2006
Israel não atacou o Hezbollah em reação abrupta e exagerada ao seqüestro e morte de uns quantos soldados. Israel deu uma resposta moderada e tardia a mais de quinhentos mísseis lançados contra o seu território nos últimos meses. Nenhuma nação do mundo tem a obrigação de suportar esse tipo de ataque nem por um dia, muito menos a de refrear-se polidamente no trato com um inimigo que jurou extirpá-la do planeta e que não parou de tentar cumprir essa decisão por todos os meios possíveis.
Se essa obviedade se tornou tão difícil de enxergar, foi graças à densidade plúmbea das sucessivas cortinas de fumaça erguidas entre os fatos e o público pelo lobby pró-terrorista da ONU e pela militância jornalística internacional, orgulhosa de seu poder de “transformar o mundo” por meio da mentira organizada, sincrônica, onipresente e avassaladora.
Seria ridículo, diante disso, falar de um “viés” anti-israelense. Viés é linha transversal sobre um fundo reto, é detalhe torto num quadro direito. O que está torto agora é o fundo mesmo, é a estrutura inteira do quadro. Já não se trata de abusos soltos, notáveis apenas pelo número e pela freqüência. Estamos diante de uma mutação radical da própria função da mídia, autopromovida a instrumento consciente da “guerra assimétrica” e tendo nela um papel ainda mais decisivo que o das bombas e tiros. Já expliquei isso em outro lugar (v. http://www.olavodecarvalho.org/semana/060724dc.html) e não tenho por que repeti-lo. Acrescento apenas que, se a guerra assimétrica foi inventada precisamente para transformar cada vitória militar em derrota política por meio da pressão da mídia, Israel estará em maus lençóis se atacar apenas aqueles seus inimigos que estão no Líbano, deixando a salvo os que estão por toda parte.
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O sr. Luís Inácio da Silva, presidente do Foro de São Paulo, licenciado para exercer as funções de chefe da bagunça nacional, anuncia que, após inumeráveis ensaios gerais que todos já imaginavam erroneamente ser o espetáculo, só agora vai começar a construir – enfim! – o Brasil dos seus sonhos.
Que raio de coisa será isso?
Dois indícios já surgem no horizonte. O primeiro é a Lei Amarildo, aprovada pelo Senado, que restaura por vias indiretas e camufladas a velha ambição presidencial de controlar a imprensa hostil por meio de alguma focinheira burocrática. Não deixem de ler, a respeito, o artigo de Ipojuca Pontes, “A lei da mordaça” (http://www.midiasemmascara.com.br/artigo.php?sid=5083).
O segundo indício é o asilo político concedido pelo Comitê Nacional para Refugiados ao terrorista, narcotraficante, assassino e seqüestrador Francisco Antônio Collazos, aquele mesmo que, segundo o governo, não trouxe, não, não trouxe nunca, não trouxe jamais cinco milhões de dólares das Farc para a campanha presidencial do PT. A concessão é ilegal, uma vez que o próprio estatuto do Comitê proíbe dar asilo a quem tenha “participado de atos terroristas ou tráfico de drogas” (sic). Mas, no Brasil dos sonhos do sr. presidente, esse opressivo detalhe jurídico já é coisa do passado.