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Monopólio e choradeira

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 4 de setembro de 2013

          

Quando os comunistas da internet vociferam contra a mídia burguesa, é bom saber que a mídia burguesa são eles mesmos atuando em dois níveis: dominam os grandes jornais e canais de TV desde dentro para usá-los como veículos de desinformação e ao mesmo tempo descem o porrete neles desde fora para dar mais credibilidade à desinformação.
Isso é uma regra básica dos manuais de desinformátsiya. Desinformação só funciona quando a mentira não vem da boca de um inimigo notório e sim de alguém de confiança da vítima. Se você lê no Vermelho.org, no blog de Paulo Henrique Amorim ou no Baixamiro Borges alguma grossa denúncia contra os Estados Unidos, contra a Igreja, contra Israel, contra os militares ou contra os liberais e conservadores, pode desconfiar que é propaganda esquerdista.  Mas se lê a mesma coisa na Folha, no Globo ou no Estadão, imagina que é informação idônea, imparcial, puro  jornalismo.
Para que servem então o Vermelho.org, o Paulo Henrique Amorim, o Baixamiro Borges e similares? Servem precisamente para isso. São a substância de contraste que dá credibilidade à “grande mídia” quando esta, num estilo mais comedido, mente igualzinho a eles.
Secundariamente, podem servir também para alimentar de bobagens estimulantes a militância partidária. Para enganar o público maior, politicamente indefinido, é preciso veículos com uma fama de “direitistas”, criada exatamente para esse fim.
Se você examinar caso por caso, verá que desde a década de 60 – em pleno regime militar –, os altos cargos da nossa mídia são quase todos ocupados por militantes ou simpatizantes da esquerda, que ao mesmo tempo, ou em fases alternadas da sua carreira profissional, publicam semanários “nanicos” ou, hoje em dia, blogs “alternativos”, dando à plateia ingênua a impressão de que são a arraia miúda em luta contra a poderosa indústria de comunicações.
Isso é a essência mesma do trabalho de desinformação.
Os leitores em massa ignoram que o próprio modelo do jornalismo profissional “moderno”, de corte americano, foi implantado no Brasil principalmente por comunistas, que o modularam para que servisse aos seus próprios fins sem dar muito na vista. Confiram na tese “Preparados, Leais e Disciplinados: os Jornalistas Comunistas e a Adaptação do Modelo de Jornalismo Americano no Brasil, de Afonso de Albuquerque e Marco Antonio Roxo da Silva, da UFF(http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2007/resumos/R1052-1.pdf).
Foi graças a essa operação que, por exemplo, os setenta milhões de vítimas do comunismo chinês, quarenta milhões do comunismo soviético, dois milhões do comunismo cambojano e cem mil do comunismo cubano praticamente desapareceram dos nossos jornais e canais de TV, onde, ao contrário, sempre houve espaço e tempo de sobra para umas dúzias de guerrilheiros mortos pelo regime militar. Deformar o senso das proporções é essencial para dessensibilizar a população ante os crimes dos comunistas e hipersensibilizá-la para tudo quanto seja nocivo ao comunismo.
Para dar somente um exemplo, basta notar que nunca a presença maciça de comunistas em postos de destaque nas redações foi denunciada como sinal de viés ideológico, mesmo quando se tratasse de aparatchniks treinados em Moscou e Pequim.
Ninguém jamais se queixou de que Otávio Brandão, Nabor Caires de Brito, Mário Augusto Jacobskind, Mauro Santayana, Cláudio Abramo, Élio Gaspari, Roberto Múller, João Sant’Anna, Alcelmo Góis, Fernando Morais, Paulo Moreira Leite e mais uma infinidade – alguns até líderes do PCB, do PC do B ou de organizações trotsquistas; outros, notórios empregados de governos comunistas – fossem diretores de jornais ou tivessem colunas de página inteira à sua disposição.
Basta, entretanto, que algum jornalista sem qualquer vínculo partidário, apenas não muito simpático pessoalmente à esquerda, assuma um cargo de editor ou ganhe um espacinho em qualquer jornal, revista ou programa de TV, e imediatamente chovem protestos de todo lado.
Os casos de Augusto Nunes e Reinaldo Azevedo são apenas os mais recentes. Minha estréia em O Globo foi imediatamente respondida por uma campanha para que minha coluna fosse suprimida.
Milhares de blogs comunistas financiados por ONGs internacionais pululam na internet sem que ninguém ache estranho, mas basta aparecer um blog “de direita”, mesmo sem qualquer vínculo organizacional e subsidiado apenas com o parco dinheiro de seus editores, e imediatamente a coisa é alardeada como um escândalo intolerável, um crime de lesa-pátria.
O leitor comum não tem a menor ideia de como essas coisas funcionam, nem das dimensões do poder esquerdista que transforma a mídia nacional praticamente inteira em órgão de desinformação comunista (sem isso teria sido impossível esconder por dezesseis anos a existência do Foro de São Paulo ou continuar escondendo até hoje a denúncia do ex-agente soviético Ladislav Bittman sobre jornalistas brasileiros pagos pela KGB). E os profissionais que sabem de tudo não têm, é  claro, o menor interesse em dar o serviço.
Com toda a evidência, os comunistas da nossa  mídia acham que a coisa mais normal e natural do mundo é possuir o monopólio do espaço jornalístico no Brasil – e ainda choramingar como se fossem uns coitadinhos desprovidos do direito à palavra.
Essa impressão postiça de naturalidade já se alastrou para todas as classes letradas, infectando o “senso comum”  ao ponto de  ninguém mais enxergar o monopólio como tal, e mencioná-lo é candidatar-se ao rótulo de “teórico da conspiração”. A mentira alcança a perfeição quando impugná-la se torna uma doença mental.

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