Olavo de Carvalho
Diário do Comércio, 26 de junho de 2013
Olavo de Carvalho
Diário do Comércio, 26 de junho de 2013
Olavo de Carvalho
Diário do Comércio, 12 de julho de 2012
Aprovada a legislação gayzista, toda veleidade de distinguir entre uma mulher e um homem vestido de mulher será crime. A boutade de Groucho Marx, “Afinal, você vai acreditar em mim ou nos seus próprios olhos?” terá virado realidade. Vocês estão preparados para viver num mundo onde as percepções sensíveis mais naturais e espontâneas terão de ceder ante a fantasia do legislador?
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É difícil discutir ao mesmo tempo com gayzistas empenhados em impor ao país as leis da Rainha de Copas e com crentes burros que não entendem a diferença entre o conceito de “natureza” usado num contexto religioso ou metafísico e o mesmo conceito tal como aparece na ciência moderna. O empenho devoto que estes colocam em provar que o homossexualismo “é antinatural” – afirmação que é verdadeira no primeiro sentido e falsa no segundo – contrasta de maneira patética com sua total abstinência de qualquer ação efetiva contra a ascensão do poder gayzista. Todos, sem exceção visível, deixaram a psicóloga Marisa Lobo enfrentando sozinha, no Congresso, uma multidão enfurecida, enquanto eles, na segurança de seus lares, se deleitavam no sentimento de pureza doutrinal com que verberavam a antinaturalidade do homossexualismo em mensagens ao Facebook ou ao Orkut. Não é de hoje que a afetação de rigidez moral é o disfarce perfeito da covardia e da omissão.
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Faz tempo que a “grande mídia”, praticamente do mundo inteiro, se transformou em puro show business, alheio e até hostil ao dever de informar o público. Poucos fatos, em todo o universo, são tão bem provados quanto aqueles, precisamente, que a classe jornalística em peso faz questão de ignorar, ou de só reconhecer tarde demais, quando nada mais resta a fazer a respeito.
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Barack Hussein Obama elegeu-se presidente com documentos falsos. Sua certidão de nascimento é falsa, seu cartão de Social Security é falso, seu alistamento militar é falso. Especular onde ele nasceu é conjetura, saber se é elegível ou não é matéria de controvérsia legal, mas os documentos falsos são fatos brutos, visíveis com os olhos da cara. A mídia chapa-branca, que é a mídia americana inteira, desviou a discussão dos fatos para as especulações, e os próprios birthers caíram no engodo, insistindo em tentar vetar pela lei eleitoral um candidato que mais facilmente teriam enviado à cadeia por crime de falsidade documental. Napoleão ensinava que é preciso atacar o adversário diretamente e num só ponto, o mais vulnerável. Os birthers, iludidos pela classe jornalística maciçamente obamista, diluíram sua força de ataque, investindo contra o inimigo em terrenos onde ele desfruta de um estoque ilimitado de subterfúgios processuais.
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O PT é parceiro político das Farc e outras organizações criminosas. Não há como disfarçar que é ele próprio, portanto, uma organização criminosa. Digo isso há mais de uma década, e só agora, pouco a pouco, a coisa começa a se tornar visível nos grandes jornais, acolchoada em mil e um eufemismos que lhe dão ares quase que de inocência angélica. É um simulacro de jornalismo encobrindo, ex post facto, longos anos de cumplicidade passiva.
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A verdade, em geral, só aparece quando o interesse político em ocultá-la se dissolve com o tempo, e o assunto passa das mãos de jornalistas mentirosos para as dos historiadores de ofício. Aí, mitos longamente consagrados acabam caindo como castelos de cartas, mas longe dos olhos da multidão. Hoje sabe-se que Joe McCarthy foi até modesto ao falar de oitenta agentes comunistas no governo de Washington, que os EUA jamais sofreram derrota militar no Vietnã, que a II Guerra Mundial foi de cabo a rabo um plano de Stálin para se apossar de meia Europa, que Alger Hiss e os Rosenbergs eram mesmo agentes soviéticos e até que, da dupla Sacco e Vanzetti, só o primeiro era inocente. Sabe-se disso e de muito mais, mas sabe-se entre especialistas, entre estudiosos, enquanto a massa continua se alimentando de lendas urbanas propositadamente fabricadas para a sua imbecilização. É impossível estudar esses e outros episódios do mesmo teor sem trazer à memória os versos célebres de Murilo Mendes, que contrastavam “as lentas sandálias do bem” com “as velozes hélices do mal”.
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Há mais de uma década sugeri, consciente de que pregava no deserto, que os coleguinhas jornalistas averiguassem nos Arquivos de Moscou os nomes das dezenas de profissionais de imprensa que em 1964, segundo o homem da KGB no Brasil, Ladislav Bittman, estavam na folha de pagamentos dos serviços de inteligência da URSS. Muitos desses indivíduos ainda estão por aí, pontificando nos jornais e na TV, e sendo ouvidos respeitosamente como especialistas idôneos até mesmo por organizações “conservadoras”. Ainda não decorreu, parece, o tempo que tornará inofensiva a revelação do seu crime.
Quando essa verdade, inutilizada pelo decurso de prazo, for finalmente liberada para divulgação, todos saberão também, tarde demais, que a lenda da autoria norte-americana do golpe de 64, até hoje cultivada como verdade de evangelho, foi inteiramente inventada no escritório do próprio Ladislav Bittman mediante falsificação de uma carta do então diretor do FBI, J. Edgar Hoover a um seu agente lotado no Brasil.
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Cinqüenta por cento dos que respondem a fatos e documentos com o epíteto de “teoria da conspiração” são charlatães. Os outros cinqüenta são papagaios de pirata.
Olavo de Carvalho
Diário do Comércio, 25 de julho de 2011
Para encerrar estas breves explicações, só faltam duas coisas: dar um exemplo concreto, entre milhares de outros possíveis, da continuidade histórica da ação revolucionária, e esclarecer – como me pedem alguns leitores – o conceito de “movimento revolucionário mundial”.
O exemplo trará por si mesmo um começo de esclarecimento.
Escrevendo em 12 de junho de 1883 a Eduard Bernstein, Friedrich Engels dizia que era preciso induzir os inimigos da revolução a “fazer-se uns aos outros em pedaços, moer-se uns aos outros até virarem pó, assim pavimentando o caminho para nós”.
Decorridos quarenta e tantos anos, a proposta ressurge na boca de Lênin, mas agora já não como mera idéia e sim como estratégia pronta para aplicação imediata. Tendo a experiência da guerra imperialista entre as potências européias como condição preparatória do levante revolucionário, mas vendo que os resultados obtidos tinham sido apenas parciais, com a instauração do socialismo num só país, ele se pergunta em 1916 o que é necessário para que a revolução volte a eclodir, mas desta vez em escala mundial. E a resposta que ele dá é inequívoca: precisamos de “uma segunda guerra imperialista”.
Hoje sabe-se, com certeza histórica suficiente, que a sugestão não caiu no vazio, mas foi levada à prática, com destreza quase mágica, pela política externa de Stálin. Estimulando em segredo as ambições imperialistas de Hitler ao mesmo tempo que promovia nas democracias ocidentais uma violenta campanha antinazista, Stálin conseguiu induzir as grandes potências a “fazer-se umas às outras em pedaços”, pavimentando o caminho para a ocupação de meia Europa pelas tropas soviéticas, o que era o seu plano desde o começo.
Entre a carta de Engels e a eclosão da II Guerra Mundial passaram-se seis décadas. Nesse ínterim, o que era apenas uma possibilidade teórica transformou-se num plano de ação e numa estratégia de efeitos avassaladores. Essa transformação só foi possível porque, ao longo de quatro gerações, os revolucionários comunistas não cessaram de meditar e remeditar os mesmos textos, sempre com o propósito de transmutar a teoria em prática e de enriquecer a teoria com os resultados da prática.
Essa continuidade, porém vai muito além da evolução interna do movimento comunista stricto sensu. Thomas Münzer, Maquiavel ou o marquês de Sade nunca foram comunistas nem membros de um partido que não existia no seu tempo. Eram revolucionários no sentido mais genérico do termo. Mas quem pode negar a força que o movimento comunista adquiriu ao absorver suas doutrinas, transmutando-as em ferramentas estratégico-táticas pelos bons préstimos de Ernst Bloch, Antonio Gramsci e Jean-Paul Sartre?
Nem sempre o material absorvido vem da mesma facção revolucionária. A linha nacionalista-romântica do início do século XIX, que deu origem ao fascismo e que muitos revolucionários internacionalistas e materialistas chegaram a condenar como reacionária, acabou se integrando muito bem na cultura comunista através da interpretação que lhe deu o filósofo marxista húngaro Georg Lukacs. Sem isso, florescimentos posteriores como a “teologia da libertação” não teriam sido possíveis.
Do mesmo modo, as lições de Lênin se transformaram num modelo para a criação do movimento fascista italiano.
Às vezes a substância a ser transmutada vem de fonte estranha. O Dr. Freud, um conservador que desprezava o socialismo, estava bem consciente do potencial explosivo das suas teorias, mas não poderia imaginar a facilidade com que, através de Wilhelm Reich, essa força anárquica viria a ser integrada e enquadrada no arsenal do movimento comunista.
A unidade histórica da revolução não é a unidade formal e burocrática de uma “organização”, de um “partido”, mas a unidade viva e móvel de uma “tradição” que, ao longo dos tempos, vai tudo absorvendo e transmutando em instrumento de poder, aumentando incessantemente a força de giro de um “movimento” que, não podendo levar a parte alguma, tem o seu próprio incremento ilimitado como única finalidade e justificação da vida humana.
Onde quer que se veja uma idéia, uma doutrina, um símbolo ser transfigurado em meio de ação política com vistas à concentração do poder para a “transformação do mundo”, ali está presente a unidade do movimento revolucionário mundial, para além de todas as divergências partidárias e ideológicas.
Ao longo do tempo, essa unidade, de início nebulosa e meramente potencial, vai se tornando mais clara aos próprios revolucionários. A confraternização de gayzistas, feministas, comunistas, radicais islâmicos, neonazistas, socialdemocratas e tutti quanti, que hoje reúne facções antes hostis num front mundial contra as democracias ocidentais e o cristianismo, é o resultado de um longo processo de incorporação no qual o movimento revolucionário realiza sua unidade à medida que a percebe, e a percebe à medida que a realiza.
P. S. – Se querem mais uma amostra da hegemonia revolucionária mundial, leiam a notícia publicada em http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110718/not_imp746214,0.php. Fala de um filme do cineasta alemão Alexander Kluge, de nove horas de duração, inspirado em O Capital de Karl Marx – uma idéia de Serguei Eisenstein, cineasta oficial de Stalin, que em 1929 os produtores acharam demasiado dispendiosa e irrealizável. Alguém é capaz de imaginar uma chatice de nove horas de duração, mas anticomunista, sendo financiada por verbas bilionárias e lançada, com grande alarde, em todo o mundo? A indústria inteira do show business, como a quase totalidade da indústria cultural, é pura máquina de propaganda revolucionária – dominada por gente que ainda tem o cinismo de se fingir de marginal e discriminada pelos “donos do capital”.