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Por que a direita sumiu

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 2 de março de 2012

Em artigo recente (http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,uma-nova-direita–por-que-nao-,839845,0.htm), João Mellão Neto define muito corretamente o espírito do conservadorismo, mas falha em explicar por que a direita se enfraqueceu no Brasil ao ponto de todos os candidatos, nas duas últimas eleições presidenciais, serem de esquerda. Isto aconteceu, diz ele, porque a direita apoiou a ditadura e a ditadura não respeitou os direitos humanos. Esse diagnóstico revela mais sobre a mente que o produziu do que sobre os fatos a que pretende aludir. Mellão, com toda a evidência, aceitou a narrativa histórica dos adversários e argumenta contra eles numa perspectiva que, no fim das contas, continua sendo a deles.

Ninguém entenderá a história do período militar sem estar consciente de que em 1964 não houve um golpe, porém dois: o primeiro removeu do poder um governante odiado por toda a população, que foi às ruas aplaudir entusiasticamente a derrubada do trapalhão esquerdista. O segundo, meses depois, traiu a promessa de restauração democrática imediata e iniciou o longo e deprimente processo de demolição das lideranças políticas conservadoras, substituídas, no poder, por uma elite onipotente de generais e tecnocratas “apolíticos”. A grande ironia das duas décadas de governo militar foi que este, movendo céus e terras para liquidar a esquerda armada, nada fez contra a desarmada, mas antes a cortejou e protegeu, permitindo que ela assumisse o controle de todas as instituições universitárias, culturais e de mídia, fazendo daqueles vinte anos, alegadamente “de chumbo”, uma época de esfuziante prosperidade da indústria das idéias esquerdistas no Brasil.

Vasculhem a história do período e verão que, se o governo perseguia e amaldiçoava a violência guerrilheira, ao mesmo tempo nada fazia para combater o comunismo no plano ideológico, muito menos para ensinar à nação o valor perene dos princípios conservadores, que pouco a pouco foram caindo no total esquecimento até tornar-se como que uma língua estrangeira, desaparecida do cenário público decente já antes de que os líderes esquerdistas mais notórios voltassem do exílio.

À imperdoável omissão dos governos militares no campo da guerra cultural e ideológica somou-se o desprezo da clique oficial pela classe política, onde as grandes lideranças conservadoras foram sendo apagadas, uma a uma, como velas sob um vendaval. Foi durante aquele regime que vozes poderosas do campo conservador, como as de Carlos Lacerda e Adhemar de Barros, foram caladas, enquanto outras, como as de Pedro Aleixo e Paulo Egídio Martins, foram menosprezadas e esquecidas, e outras ainda, como a de Roberto de Abreu Sodré, acabaram se acomodando à mediocridade oficial até perderem toda relevância própria. Tanto foi assim que, quando o governo Geisel deu sua virada à esquerda, adotando uma política nuclear antiamericana, estimulando o mais obsceno “terceiromundismo” na diplomacia e até fornecendo armas, dinheiro e assistência técnica para Fidel Castro invadir Angola, não se ouviu um protesto sequer das lideranças civis. E a única resistência que apareceu, vinda do campo militar por meio do valente general Sylvio Frota, foi logo sufocada sob acusações de “golpismo” e aplausos gerais ao presidente triunfante que estrangulara a “linha dura”. Nas universidades, a direita foi sistematicamente preterida na distribuição de verbas e cargos, que a generosidade insana do governo prodigalizava aos esquerdistas na ilusão de neutralizá-los ou seduzi-los (o processo, de uma indecência sem par, é descrito em http://www.ecsbdefesa.com.br/defesa/fts/QTMFB.pdf pelo estudioso venezuelano Ricardo Vélez Rodriguez, um dos mais abalizados conhecedores da vida universitária no Brasil). Até mesmo no jornalismo, foi ainda durante o período militar que a esquerda assumiu de vez o controle das redações (v. meus artigos a respeito em http://www.olavodecarvalho.org/semana/111124dc.html,http://www.olavodecarvalho.org/semana/111125dc.html e http://www.olavodecarvalho.org/semana/111130dc.html), enquanto porta-vozes fulgurantes do pensamento conservador, como Gustavo Corção, Lenildo Tabosa Pessoa e Nicolas Boer, iam sendo jogados para escanteio sem que ninguém desse pela sua falta. A direita pensante e atuante foi, literalmente, esmagada pela ditadura, que ao mesmo tempo, na esperança idiota de dividir os adversários e ganhar o apoio de uma parte deles, abria as portas e os cofres das instituições de cultura para o ingresso da revolução gramsciana.

Quando terminou a era dos governos militares, em 1988, só quem era ainda conservador no Brasil era o povão mudo, desprovido de canais para fazer valer suas opiniões, enquanto o espaço cultural inteiro – mídia, movimento editorial, universidades, escolas secundárias e primárias, etc. – já era ocupado, gostosamente, pela multidão de tagarelas da esquerda que ainda mandam e desmandam no panorama mental brasileiro. Aos sucessos retumbantes que obteve na economia e no combate às guerrilhas, a ditadura aliou, em triste compensação, uma cegueira ideológica indescritível, que expulsou a direita do cenário público e entregou o espaço inteiro àqueles que até hoje o dominam. Cabe, nesse contexto, lembrar mais uma vez o dito de Hugo Von Hofmannsthal, segundo o qual nada está na política de um país que primeiro não esteja na sua literatura (tomada em sentido amplo de alta cultura). A direita saiu da política nacional, porque, com a complacência e até a ajuda do governo militar, foi primeiro banida da cultura nacional.

1968 reencarnado

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 9 de outubro de 2008

Escreve na edição do dia 8 do Washington Post o colunista E. J. Dionne, importante formador de opinião com muita influência nos meios católicos de esquerda: “O debate de ontem tornou claro que o esforço de John McCain no sentido de mudar o foco da campanha para as guerras culturais dos anos 60 não vai funcionar. Os eleitores querem candidatos que falem sobre problemas e como resolvê-los, especialmente os enormes problemas com que nos confrontamos agora.”

Bem, se E. J. Dionne quer problemas enormes, é fácil indicar-lhe um que é talvez o maior de todos os que a sua nação já enfrentou: a onda mundial de ódio aos EUA, que boicota por toda parte as iniciativas diplomáticas, militares e comerciais do governo americano, favorece a ação dos terroristas no plano internacional e a de seus aliados e protetores dentro do território americano e fomenta toda sorte de sabotagens, confusões, erros desastrosos e políticas suicidas que desembocam na presente crise econômica do país.

Esse movimento é exatamente o contrário do que o otimismo vão dos “neoliberais” anunciava que aconteceria em seguida à queda do regime comunista na URSS. Ele substitui com vantagem tudo o que a velha encarnação soviética do movimento revolucionário tentou fazer para destruir os EUA. No seu conteúdo e na sua retórica, ele não difere substantivamente das “guerras culturais dos anos 60”, que permanecem em última análise a sua fonte básica de inspiração. A diferença está no tamanho: na comparação, elas se reduzem às dimensões de uma farra de estudantes. Naquela época, suas únicas armas, materialmente falando, eram pedras e coquetéis Molotov. Geograficamente, seu alcance não ia além de Paris, de Nova York e da California. Sua força vinha principalmente do apoio midiático e do paternalismo cúmplice que amolecia o coração de seus inimigos. Decorridas quatro décadas, a gritaria estudantil transformou-se num movimento mundial magistralmente organizado, apto a acionar campanhas anti-americanas com um discurso uniforme em escala planetária, da noite para o dia, em articulação estreita com organizações terroristas na Europa, na Ásia e na América Latina, prontas para ações muito mais vastas e destrutivas do que tudo o que se viu na década de 60. Na época, quem pensasse em estourar algo do tamanho das Torres Gêmeas seria enviado ao hospício. Hoje não há mais hospícios (foram fechados por influência da antipsiquiatria, uma das armas ideológicas da guerra cultural) e as idéias dos loucos adquiriram uma tremenda viabilidade prática.

O anti-americanismo global é a continuação das “guerras culturais dos anos 60” por outros meios — que não excluem, mas absorvem e transcendem infinitamente os anterioriores. Ele não surgiu espontaneamente: foi criado e fomentado desde dentro e desde fora dos EUA por um conjunto de poderes formidáveis, entre os quais se destacam algumas das fortunas bilionárias que subsidiam a candidatura Obama — como por exemplo a de George Soros, a do príncipe saudita Alwaleed bin Talal (cujo emissário Khalid Al-Mansour financiou os estudos de Obama em Harvard), e a da própria Penny Pritzker, coordenadora financeira da campanha do candidato democrata e dona do Hotel Hyatt de Nova York, onde a elite esquerdista, sob protestos de centenas de judeus do lado de fora, prestou rica homenagem ao mais explícito inimigo dos EUA e de Israel, o presidente iraniano Ahmadinejad. Não existe, nem no planeta Terra nem em Hollywood, uma só celebridade anti-americana que não apóie de todo o coração o candidato democrata. Estariam loucas, drogadas, apostando tudo contra si mesmas, ou têm objetivamente algo a ganhar com a vitória dele? A acreditarmos no discurso eleitoral de Obama, ele tem hoje intenções exatamente opostas às de seus fãs mais ardentes, a quem no entanto representou com tanta fidelidade ao longo de toda a sua carreira política. Como observou Thomas Sowell, “Obama está se candidatando com uma imagem que é diretamente oposta a tudo o que ele andou fazendo durante duas décadas. Sua habilidade em fugir do seu passado é tão notável quanto as grandes escapadas de Houdini.”

Um político não se conhece pelo que ele promete hoje, mas pelo que ele fez ontem. Segundo Dionne, quem quer que obedeça a esse princípio do senso comum está “desviando o debate para as guerras culturais dos anos 60”. Mas não são os próprios adeptos do culto obâmico universal que chamam o 1968 de “o ano que não terminou”? Não são eles que dão à mitologia esquerdista dos anos 60 uma atualidade temível no Fórum Social Mundial, na onda terrorista e na virulência centuplicada do anti-americanismo global? Na verdade, concentrar o fogo dos argumentos no discurso de Obama, evitando tocar no seu passado, é fugir dos “enormes problemas com que nos confrontamos agora”, nos quais esse passado se perpetua e se amplia poderosamente, e aceitar como genuína a imagem de um Obama ideal, inventada para fins de pura propaganda. Se Dionne exige que os candidatos republicanos façam precisamente isso, é porque ele próprio personifica na atualidade um resíduo vivo e atuante daquelas “guerras culturais”: a teologia da libertação, que ele absorveu de Harvey Cox e que faz dele a contrafação simiesca de um pensador católico, empenhada em persuadir os fiéis a que não olhem o Messias democrata com os olhos da cara, e sim com os olhos da fé.

Karl Marx na fonte da juventude

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 30 de julho de 2007

O recente “tsunami Marx que acaba de invadir as prateleiras das livrarias de todo o País”, como o qualifica entusiasticamente O Estado de S. Paulo do dia 22, comprova, da maneira mais clara possível, algo que venho dizendo há tempos: o bom e velho Partido Comunista ainda domina a indústria editorial e a mídia cultural no Brasil, aí exercendo um poder mais vasto e eficiente até do que nos anos 50 ou 60.

É natural que esse controle monopolístico do mercado jamais admita sua própria existência, procurando, ao contrário, explicar a onipresença retumbante da propaganda marxista nas livrarias como se fosse um fenômeno espontâneo gerado pela pura “vitalidade intelectual” do marxismo, imune ao fracasso econômico dos regimes socialistas.

Mas essa vitalidade intelectual simplesmente inexiste.

Nove décimos do “pensamento marxista” desde a morte de Marx consistem em produzir novos significados para a doutrina do mestre, de modo que ela acabe dizendo o que não dizia antes e, a cada vez que é refutada pelos fatos, pareça emergir do confronto revigorada e vitoriosa.

Uma das estratégias mais freqüentes usadas para esse fim é dissolver a estrutura da teoria tal como aparece nos escritos de Marx e reconstruí-la desde algum ângulo que pareça mais vantajoso – ou menos vexaminoso – desde o ponto de vista do estado presente dos conhecimentos.

O marxismo, como o darwinismo, não sobrevive ao teste do tempo mediante repetidas comprovações da sua veracidade originária, como acontece com a aritmética elementar ou com a tabela periódica dos elementos, mas mediante a descoberta – ou invenção — de novas veracidades possíveis ocultas sob os escombros das suas pretensões refutadas.

Qualquer teoria, beneficiada ciclicamente por esse tratamento rejuvenescedor, pode adquirir uma espécie de eternidade. O que os responsáveis por semelhante milagre geriátrico jamais informam à deslumbrada platéia é que esse tipo de vida eterna não é próprio das teorias científicas e sim dos símbolos literários, que, justamente por não terem significados estáveis e definitivos, podem sempre se enriquecer de novos e novos significados, até mesmo contraditórios entre si, à medida que a experiência os sugira à fértil imaginação de cada interessado. Mergulhado de tempos em tempos nessa fonte da juventude, até mesmo o “eterno retorno” nietzscheano pode retornar eternamente sem que ninguém jamais consiga refutá-lo de uma vez por todas, embora todo mundo saiba que ele é falso.

Mas essa estratégia, no caso do marxismo, seria impotente para obter resultados tão animadores se não fosse secundada por uma técnica ainda mais sutil e maravilhosa, que é a de camuflar as ações e os efeitos da própria militância marxista sob a aparência de forças sociais impessoais que, hipostasiadas, posam então de agentes da história em lugar dos agentes de carne e osso a serviço dos movimentos revolucionários. Não deixa de haver uma certa virtude ascética na humildade com que os exércitos de formadores de opinião e agentes de influência esquerdistas renunciam ao mérito histórico das suas ações e desaparecem por trás do cenário, atribuindo os resultados de seus esforços à dialética anônima do “mercado”, a qual, abstração feita da guerra cultural incessante movida pela militância esquerdista para corromper o capitalismo desde dentro, parece até funcionar como Marx disse que funcionaria.

O acontecimento mental mais importante e notório da segunda metade do século XX é a disseminação do “marxismo cultural” entre as classes superiores no mundo ocidental. Ela tem como corolário inevitável a apostasia geral em relação aos valores morais e religiosos que fundaram o capitalismo. Na geração dos baby-boomers que hoje brilham nos altos postos das finanças, da indústria, da mídia e do show business , quem não aderiu francamente ao esquerdismo e ao anti-americanismo ao menos abjurou por completo das crenças religiosas dos seus pais e se imbuiu de um progressismo darwinista ou de um liberalismo amoral que não hesita em promover as causas esquerdistas – especialmente o abortismo e o gayzismo –, pensando só nas vantagens econômicas imediatas que isso pode lhe trazer e nem de longe se preocupando com as conseqüências sociais, culturais e políticas de longo prazo. O resultado é que a democracia vai sendo minada nas suas bases por meio dos mesmos instrumentos econômicos criados para fomentá-la. Se, nesse panorama, você fizer abstração do fator “guerra cultural”, que é o principal determinante do conjunto, restará apenas a contradição crescente entre democracia e enriquecimento capitalista, dando razão aparente à previsão de Marx. Assim os próprios agentes da guerra cultural matam dois coelhos com uma só cajadada: dão sumiço às suas próprias ações subversivas e no mesmo ato elevam ao nível de verdade profética a visão fantasiosa que Marx tinha das “contradições do capitalismo”. (Como já expliquei dias atrás — http://www.olavodecarvalho.org/semana/070620dce.html –, a duplicidade de línguas é  traço permanente e estrutural da mente esquerdista, toda ela modelada pelo exemplo “dialético” de Stalin, que fomentava o nazismo em segredo para e o condenava em público.)

O “tsunami Marx”, além de ser um acúmulo de simultaneidades demasiado ostensivo para poder ser explicado ele próprio pelas tendências espontâneas do mercado, é todo ele constituído de mutações retroativas como aquela que acabo de descrever. O novo Karl Marx que ali se apresenta para receber os aplausos da galera tem tanto a ver com o antigo quanto o evolucionismo do sr. Richard Dawkins, onde tudo acontece por acaso, tem a ver com o darwinismo originário no qual nada acontece por acaso (de modo que em qualquer dos dois casos o evolucionista está sempre com a razão).

Qualquer filosofia ou teoria científica que se arrogue o direito de mudar de significado quando bem lhe interesse adquire o delicioso privilégio de não poder ser jamais contraditada pelos fatos. Que uma parcela significativa da classe intelectual e de seus acólitos na mídia se dedique à produção dessas transmutações, é a prova incontestável de que a “cultura superior” está se transformando cada vez mais numa modalidade socialmente aceita de crime organizado.

Absoluta falta de escrúpúlos

No meu artigo anterior, escrevi:

O movimento gayzista foge a toda discussão, ele não quer debater com seus adversários, mas destruí-los socialmente, privá-los de seus meios de expressão, reduzi-los à condição de párias e, por fim, colocá-los na cadeia em massa. Nos sites e assembléias onde se prepara a reação gayzista aos críticos, não se vê uma só tentativa de conceber argumentos para um eventual enfrentamento dialético: só planos de assédio judicial, de boicote, de assassinato moral .”

Na mesma semana, reagindo a um outro artigo meu ( http://www.olavodecarvalho.org/semana/070719jb.html ), a militância enfurecida ofereceu ainda mais provas disso, estampando no Orkut apelos ostensivos à minha imediata exclusão da mídia. O mais bonito foi este: “O Julio Severo já foi calado, só falta esse monte de b…ta chamado Olavo.” Para não dizer que essa palavra de ordem veio desacompanhada de qualquer tentativa de refutar os meus argumentos, o remetente, respondendo à minha afirmativa de que “Júlio Severo se limita a opor ao homossexualismo a moral cristã, que não manda currar ninguém”, informava a um estupefato mundo que o Levítico manda empalar – sim, empalar – os acusados de homossexualismo. Não sei se fico mais mavavilhado ante esse feito sublime de exegese bíblica ou ante a passividade sonsa das entidades cristãs e judaicas que deixam todo mundo praticar com total impunidade o crime de ultraje a culto.

Recebi também algumas cartas de gayzistas enfezados, que me acusavam de “associar o movimento homossexual à pedofilia”. A reclamação não faz sentido. Quem associou gayzismo e pedofilia não fui eu. Foram os líderes gayzistas Luiz Mott e Denilson Lopes, o primeiro com aquela sua desavergonhada apologia do “moleque ideal”, o segundo em artigos e conferências que, no mínimo, verberam como “intolerância” toda condenação à pedofilia.

Outra associação da qual muito reclamam é entre homossexualismo e promiscuidade. Mas ela também não é uma rotulação externa, vinda de fanáticos homofóbicos ou mesmo de críticos sérios do movimento. Ao contrário, é um título de glória ostentado pelo sr. Luiz Mott, que se gaba de ter tido relações homossexuais com pelo menos quinhentos homens!

Se Mott e Lopes são representantes autorizados do movimento gay , então é manifesto que este defende a pedofilia e a promiscuidade. Se não são, então os demais líderes do movimento têm a obrigação de expressar publicamente seu repúdio à conduta de ambos. Como não fizeram isso até agora, não têm o direito de reclamar quando a palavra dos dois é tomada como se fosse a sua própria palavra.

Por outro lado, é óbvio que inventei o neologismo “gayzista” (ou gueizista), em oposição a gay , para marcar a distância entre condenar uma conduta sexual e criticar um movimento político.

Até o momento, tudo o que escrevi foi contra o movimento político, a ideologia e o projeto de poder gayzistas e contra a sua expressão mais imediata, a proposta de lei “anti-homofóbica” – mas, pelas reações que meus artigos suscitam entre a militância, é patente que isso também se enquadra no delito de “homofobia”.

Se eu quisesse uma prova suplementar de que esse movimento é totalitário na sua inspiração e nos resultados políticos que planeja obter, essas reações já bastariam para fornecê-la com a máxima clareza possível.

Quando se acusa de “homofobia” cada objeção à lei “anti-homofóbica”, é claro que a divergência em si já está criminalizada, antes mesmo que a proposta se consagre em lei. Isso é totalitarismo no sentido mais eminente do termo.

Da minha parte, não apenas me abstive de participar de qualquer cruzada moralizante contra o homossexualismo (nisso diferindo dos críticos religiosos), mas tenho feito o possível para compreendê-lo como experiência humana, sine ira et studio . Não tenho portanto a menor dificuldade em simpatizar com a causa dos homossexuais que desejam ser aceitos socialmente como tais e não apenas como “seres humanos” ou “cidadãos”, abstrata e assexualmente. No mínimo, sei o que é um fumante ser admitido, entre sorrisos postiços, em ambientes que professam ser hospitaleiros aos fumantes… contanto que eles procedam como se não o fossem. Por motivos que já expliquei aqui ( http://www.olavodecarvalho.org/semana/070326dc.html ), o gay que tenha de fazer abstração de sua preferência sexual para se sentir aceito socialmente vivencia isso como a mais intolerável das humilhações.

Meu problema com a militância gayzista não tem nada a ver com homossexualismo, mesmo porque há muitos gayzistas que não são gays (o sr. presidente da República é um; o prefeito de São Paulo é outro; o PT e as fundações Ford e Rockefeller estão repletas de tipos similares) e muitos gays que não são gayzistas (nas igrejas cristãs, por exemplo).

Meu problema é que a ideologia gayzista, desde suas primeiras formulações, já mostrou uma inclinação totalitária escandalosa, descarada, persistente. Ela não quer proteger os homossexuais, garantir para eles um lugar entre pessoas que sejam diferentes deles. Ela quer destruir radicalmente tudo o que, na sociedade, na cultura ou nas mentes individuais, seja contrário ao homossexualismo. Ela quer proibir toda divergência moral, toda repulsa espontânea, toda palavra adversa, todo pensamento que a desagrade, todo mandamento religioso que lhe seja contrário. Ela quer eliminar toda diferença e imperar, soberana, sobre uma montanha de concordância e subserviência. Quem diz isso não sou eu. São as próprias atitudes públicas de seus porta-vozes.

Um exemplo já antigo é a perseguição aberta, oficial, aos ex- gays e aos psicólogos que professem ajudar o paciente interessado em abandonar as práticas homossexuais. O movimento gayzista trata os primeiros como traidores abjetos e os segundos como criminosos. Que é que se pode depreender disso senão que é proibido abandonar o homossexualismo, que a liderança gayzista se dá o direito de policiar a vida privada de cada homossexual e de se impor como uma verdadeira máfia, na qual se pode entrar livremente mas só se pode sair morto? Não há maior atentado à liberdade individual do que forçar um ser humano a ostentar uma identidade social que ele já não considera sua.

Mais tarde veio a discriminação dos homossexuais machões aos transexuais que ousavam invadir o espaço sacrossanto das saunas gays . Repugnava aos primeiros ver peitos de silicone numa atmosfera que desejariam cem por cento varonil, musculosa e peluda. “Tenho nojo disso”, exclamava um deles ante os travecos. Ora, todo mundo sabe que o instinto sexual se compõe não só de afeição a certos estímulos (visuais, tácteis etc.) mas de repugância instintiva aos estímulos contrários. Um homem cujas fantasias eróticas envolvam privacidade e segredo sentirá repulsa incoercível ante exibições públicas de erotismo. O transexual do tipo conhecido como “autoginéfilo”, que só se excita quando se vê como mulher, se sentirá humilhado e constrangido se o parceiro lhe lembrar por atos ou palavras a sua condição de varão. Mutatis mutandis , o homossexual puro sangue, o macho atraído por machos, sentia nojo de homens que pareciam mulheres. Lembro-me de que o sr. Luiz Mott, convidado a arbitrar a disputa, deu razão aos dois lados, mostrando que compreendia perfeitamente bem a dialética de atração e repulsa. Mas o mesmo Luiz Mott, ante o heterossexual a quem repugnem as ostentações de homossexualismo, gritará: “Crime!”, “Homofobia!”, “Nazismo!” O direito à repulsa, portanto, é monopólio exclusivo da comunidade gay . Os demais, que tratem de gostar do que não gostam. Conheci uma vez um guru argentino, da escola gurdijeffiana, famosa nos meios ocultistas por sua índole autoritária e brutal. Para quebrar a resistência dos discípulos recém-chegados, ele já lhes ditava logo na entrada o parágrafo número um do seu regulamento disciplinar: “ Que te guste lo que no te gusta .” É isso aí. É o mandamento número um que a ideologia gayzista impõe aos não- gays . Para os recalcitrantes, cadeia.

São ou não são uns intolerantes hipócritas esses líderes gayzistas?

Vejam por exemplo a diferença, o duplo critério no julgamento dos heteros e dos homos. A mulher que admita ter ido para a cama com quinhentos homens desiste, ipso facto , de qualquer pretensão à respeitabilidade familiar. Mas o sr. Luiz Mott se vangloria dos seus quinhentos parceiros, e ai de quem o chame de promíscuo!

Nada, na galeria da presunção universal, se compara à prepotência gayzista. Se ainda duvidam, leiam este despacho da Agência de Notícias da Aids ( http://www.acapa.com.br/site/noticia.asp?codigo=2029 ):

“Stalinista. Foi dessa forma que o ativista José Araújo, diretor da AFXB (Centro de convivência para crianças que vivem com HIV/Aids em São Paulo ), classificou alguns setores do movimento gay… ‘A fome de poder deles está sendo saciada pelo Programa Nacional [de DST/Aids]’, avalia Araújo.

“Para José Roberto Pereira, mais conhecido como Betinho, está acontecendo ‘um aumento cada vez maior da intervenção do movimento gay no movimento de Aids’.

“‘Eu sou gay, não tenho o menor problema com gay, mas… existe uma espécie de estrangulamento do movimento de Aids com o crescimento do movimento gay’, acredita Betinho.

“Fundos importantes da Aids estão indo para o movimento gay e não estou vendo uma queda dos índices [da epidemia do HIV entre os homossexuais]’, avalia Betinho, um dos colaboradores do Projeto Bem-Me-Quer. (…) ‘O movimento de Aids está perdendo sua característica. Está virando um grande movimento gay’, lamentou, em outro momento, José Araújo, da AFBX.”

Se os líderes gayzistas a que se referem Betinho e Araújo não se vexam nem de roubar dinheiro do socorro a seus correligionários aidéticos para fomentar uma agenda política, que é que pode impedi-los de usar, contra seus poucos e inermes adversários, as armas mais torpes e mesquinhas?

Escrúpulos? É claro que eles não têm nenhum.

Por isso é que é mais urgente do que nunca distinguir entre gays e gayzistas. Seria horrívelmente injusto atribuir à totalidade dos primeiros os hábitos ditatoriais e perversos da minoria ativista, revolucionária e gnóstica que, escorada no dogma da própria impecabilidade essencial, se concede o direito a todas as baixezas, a todas as iniqüidades, a todos os crimes, sempre em nome dos belos ideais que diz personificar.

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