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O esquerdismo veio para ficar

Olavo de Carvalho

Jornal do Brasil, 26 de abril de 2007

A absolvição de Lula e de seus colaboradores pelo Tribunal Superior Eleitoral no caso do dossiê antitucano confirma, novamente, aquilo que já venho dizendo desde antes mesmo da eleição presidencial (e não me refiro à de 2006, mas à de 2002): o PT não veio para ocupar o governo temporariamente, dentro do rodízio democrático normal. Veio para criar um novo Estado, forjado na medida-padrão da sua vontade de poder.

Aqueles que esperam usar as instituições existentes como freio às ambições petistas são sonhadores semidefuntos que já estão na lata de lixo da História e apenas não são inteligentes nem corajosos o bastante para reconhecer sua situação.

As instituições não são nada. O poder esquerdista é tudo.

O esquema que nos governa não será derrubado por meio judicial; não será derrubado por via eleitoral; não será derrubado por golpe militar ou parlamentar; não será derrubado por pressão estrangeira; e não passará sozinho, como um sonho mau, por decurso de prazo.

O PT só deixará o poder quando sentir que a situação está madura para transmiti-lo diretamente às organizações revolucionárias de massa que até agora consentiram em lhe servir de retaguarda paciente e dócil, aguardando a transmutação chavista prometida e, a rigor, inevitável. Esse momento chegará quando aquelas organizações estiverem fortes o bastante para dominar fisicamente o território, com a ajuda de bandos de narcotraficantes associados à guerrilha colombiana (e, por tabela, ao Foro de São Paulo). Elas já provaram ter o monopólio dos protestos de rua, o domínio quase completo do tráfego rodoviário e a capacidade de paralisar cidades inteiras. Faltava o controle do tráfego aéreo, que está sendo providenciado.

O governo petista tem plena consciência de ser uma etapa de transição para a revolução socialista. Sua duplicidade de línguas, sua incoerência alucinante, suas idas e vindas entre o intervencionismo ousado e a omissão abúlica – tudo isso reflete apenas a índole essencialmente ambígua e mutante da sua função histórica.

O PT só deixará o poder quando puder repassá-lo a algo de incomparavelmente pior.

A única força que poderia, em princípio, deter esse processo é a resistência espontânea do povo brasileiro às mudanças rebuscadas e antinaturais que a elite iluminada pretende lhe impor. O povo é conservador e cristão, não gosta de desarmanento civil, abortismo, gayzismo, neo-racismo, feminismo enragé , proibições politicamente corretas e demais frescuras nas quais o típíco pseudo-intelectual ativista imagina ver o suprassumo do progresso e da civilização. O apego desse povo a seus valores de sempre é uma energia tremenda, mas dispersa e marginalizada. Não tem canais de expressão política nem um lugar de respeito na cultura dita superior. Reunir essa energia, dar-lhe consciência de si e transformá-la em ação político-social organizada é trabalho para muitas décadas, que ainda nem começou e que dia a dia se torna mais difícil de começar, graças à traição de um clero vendido ao esquerdismo e dos “direitistas” ansiosos para parecer cada vez mais politicamente corretos.

Esquema invencível

Olavo de Carvalho

Jornal do Brasil, 5 de abril de 2007

Quaisquer que sejam as razões dos controladores de vôo – e elas sem dúvida existem –, uma coisa é óbvia: no momento em que militares prestam menos obediência a seus comandantes do que a agitadores sindicais, estamos em pleno estado pré-insurrecional, alimentado pelo governo para desmantelar o que resta das Forças Armadas e substituí-las por tropas paramilitares a serviço do Foro de São Paulo.

Quem quiser acreditar na sinceridade do recuo do sr. presidente da República, que acredite. As reservas de crédito desse cidadão parecem aumentar na proporção direta do seu invejável repertório de fintas e rodeios.

A comparação com os dias finais do governo Goulart é puramente eufemística: naquela época a sociedade civil organizada – incluindo a mídia — era maciçamente conservadora, a direita tinha porta-vozes do calibre de um Carlos Lacerda, a Igreja Católica não era comunista, Jango não tinha o respaldo internacional que tem Lula, não havia uma militância esquerdista armada e adestrada com as dimensões do MST e sobretudo as Forças Armadas tinham líderes de verdade, investidos de prestígio histórico.

Hoje a situação da esquerda é tão confortável que já nem mesmo os políticos rotulados de direitistas têm a coragem de fazer ao governo uma oposição ideológica genuína, limitando-se a críticas administrativas menores, com o máximo cuidado de não ferir os preconceitos esquerdistas sacralizados por três décadas de falatório unânime. E mesmo esse direitismo residual, atrofiado, tímido, masoquista, já parece excessivo e intolerável à autoridade imperante, que conta os dias à espera de extirpá-lo como quem corta uma verruga.

Passar para o esquema petista o controle do espaço aéreo é apenas o complemento inevitável da apropriação, já totalmente consumada, do controle do tráfego rodoviário pelas tropas do MST. Fazer isso agora ou daqui a pouco dá na mesma. A técnica da revolução gramsciana é adiar a etapa insurrecional até o momento em que o adversário esteja tão fraco que já nem valha a pena matá-lo. Até lá, é preciso alternar sabiamente a ousadia na ocupação de espaços e o fornecimento de anestésicos para amortecer cada novo escândalo. O timing e o cálculo das dosagens têm sido perfeitos. Até aqueles que se revoltam contra o estado de coisas só conseguem expressar seu desconforto nos termos da retórica esquerdista, infringindo a regra número um da arte do debate – não falar na língua do inimigo – e assim fornecendo à esquerda mais uma vitória ideológica a cada miúda vantagem político-eleitoral que obtêm.

Ditando as regras do jogo, o esquema que nos domina é invencível. Mais um pouquinho de relutância covarde em partir para a oposição ideológica franca, e a oportunidade de fazê-lo terá ido embora para sempre.

***

Pergunta horrorosa: No momento em que a hierarquia militar é flagrantemente quebrada, onde estão os nossos oficiais ditos “nacionalistas”? Não se diziam os primeirões a defender a honra das Forças Armadas? Por que todo o silêncio imemorial  dos sepulcros caiados baixou repentinamente sobre esse grupo de tagarelas incansáveis?

A palavra das Farc

 

Olavo de Carvalho


14 de fevereiro de 2007

Meu caro Alcides Lemos, da redação deste Diário, me pergunta por e-mail se não vou escrever meu editorial desta semana. Não, não vou escrevê-lo. Pelo menos não vou escrevê-lo inteiro. A Comissão Internacional das Farc, Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, já escreveu a maior parte dele, na saudação que enviou à XIII Reunião do Foro de São Paulo, em Salvador.

O texto completo da saudação encontra-se na edição portuguesa do Pravda, o jornal oficial do Partido Comunista russo (http://port.pravda.ru/mundo/15168-farcsaudacao-0). É uma preciosidade.

Por mais que eu argumentasse, não conseguiria fornecer uma prova tão clara daquilo que venho afirmando há anos: (1) que toda a política do PT está enquadrada numa estratégia de revolução continental que reúne, num só front, partidos legais e organizações criminosas; (2) que o Foro de São Paulo, a organização incumbida de formular e implementar essa estratégia, é o continuador natural do empreendimento de dominação mundial comunista.

Nestas breves linhas, o comando das Farc, de boca própria, coloca as coisas na sua devida perspectiva histórica:

“Em 1990 já se via vir abaixo o campo socialista, todas as suas estruturas fraquejavam como castelo de cartas, os inimigos do socialismo festejavam a mais não poder, se cunhavam teorias como a do fim da história, muitos revolucionários no mundo observavam atônitos e sem conhecer o que havia falhado para que ocorresse semelhante catástrofe.

“A utopia se dissipava, a desesperança se apoderou de muitíssimos dirigentes que haviam dedicado toda sua vida à luta por conquistar um mundo melhor, idealizando-o com o modelo de socialismo desenvolvido da União Soviética.

Ao derrubar-se esse modelo, para muitos se acabou a motivação de luta e só ficamos uns poucos sonhadores…

“…É nesse preciso momento que o PT lança a formidável proposta de criar o Foro de São Paulo, trincheira onde nós pudéssemos encontrar os revolucionários de diferentes tendências, de diferentes manifestações de luta e de partidos no governo, concretamente o caso cubano. Essa iniciativa, que encontrou rápida acolhida, foi uma tábua de salvação e uma esperança de que tudo não estava perdido. Quanta razão havia, transcorreram 16 anos e o panorama político é hoje totalmente diferente.”

Sabendo-se que as Farc têm uma participação direta na geração da violência que faz 50 mil homicídios por ano no Brasil, é evidente que o governo petista não quer e não pode fazer nada para dar fim a esse descalabro, pois fazê-lo implicaria pisar no calo de um de seus mais queridos e poderosos aliados continentais. O ideal máximo do PT é resgatar o movimento comunista dos escombros da extinta URSS. Ele não há de trair esse ideal só para salvar as vidas de uns quantos milhares de brasileiros.

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