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Crocodilos em pânico

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 24 de julho de 2013

          

Antes de analisar qualquer coisa que o sr. Mauro Santayana escreva, é preciso saber que ele trabalhou como comentarista político da Rádio Praga, órgão oficial do governo comunista checo, e foi nada menos que redator-chefe das emissões em português da Rádio Havana. Essas estações nunca praticaram o jornalismo, no sentido normal do termo. Eram órgãos de desinformação, partes integrantes da polícia política comunista. A segunda ainda é. Chamar o sr. Santayana de “jornalista” tout court, sem esclarecer o uso específico que ele faz dessa fachada profissional, é sobrepor um formalismo burocrático-sindical à realidade substantiva do trabalho que ele exerce. Ele é, sob todos os aspectos possíveis e imagináveis, um agente de influência comunista. O jornalismo é o canal, não a substância da sua atividade.
         Um agente de influência não faz propaganda comunista. Mantém-se numa posição discreta, equilibrada, e só procura influenciar as autoridades e os formadores de opinião em pontos determinados, precisos, para induzi-los a decisões que sirvam à estratégia comunista sob pretextos que não pareçam comunistas de maneira alguma. Esse esforço só se intensifica e sobe de tom quando se trata de medidas urgentes, vitais para a sobrevivência do movimento comunista. É só aí que o lobo perde a compostura ovina, rosna, mostra os dentes e sai mordendo.
         No momento a coisa mais urgente e vital para o comunismo na América Latina é afastar a ameaça de uma investigação fiscal no Foro de São Paulo. É urgente e vital porque há 23 anos essa entidade gasta fortunas incalculáveis, transportando incessantemente centenas de politicos, intelectuais, militantes e terroristas entre todas as capitais do continente, hospedando-os nos melhores hotéis, sem jamais informar à população de onde veio o dinheiro. O envolvimento de alguns de seus membros mais prestigiosos no narcotráfico é fato notório, comprovado por depoimento do traficante Fernandinho Beira-Mar e pelos computadores do ex-comandante das Farc, Raul Reyes, apreendidos pelo exército colombiano.
         O Foro de São Paulo é o comando estratégico do movimento comunista latino-americano. Faz e desfaz governos, interfere na política interna de dezenas de países, decide os destinos do continente, fornece cobertura a terroristas e narcotraficantes e, segundo confissão do seu fundador e nosso ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, faz tudo isso de modo calculado para que “as pessoas não percebam do que estamos falando” (sic). Chamar isso de conspiração não é portanto uma “teoria”. É usar o termo apropriado para definir um fato tal como descrito pelo seu autor principal.
         Durante dezesseis anos o Foro cresceu em segredo, sob a proteção da mídia cúmplice que negava a sua existência e que, quando não pôde mais fazer isso, passou a mostrá-lo sob aparência maquiada, como um inofensivo “clube de debates”. A desconversa não pegou, é claro, em primeiro lugar porque nenhum clube de debates emite resoluções unânimes repletas de comandos a ser seguidos pelos participantes; e, em segundo lugar, porque o próprio fundador da coisa deu com a língua nos dentes, no discurso que pronunciou no décimo-quinto aniversário de fundação da entidade.
         A simples ajuda mútua entre os partidos legais e as quadrilhas de teroristas e narcotraficantes que o compõem já bastaria para fazer do próprio Foro, como um todo, uma organização criminosa no sentido mais estrito e legal do termo, mesmo sem levantar a hipótese, praticamente inevitável, de que a troca de vantagens políticas importasse em benefícios financeiros ilícitos para qualquer das partes.
         No entanto, entre tantos segredos que preenchem a história do Foro, as finanças são ainda o mais bem guardado. Mesmo depois que, forçado pelas circunstâncias a passar do silêncio ao exibicionismo histriônico, o seu atual dirigente Valter Pomar decidiu embelezá-lo como entidade transparente e aberta ao público, nem uma palavra veio à sua boca em resposta à pergunta decisiva e proibida: Quem paga a festa? Quem pagou durante 23 anos? As Farc? O governo brasileiro? O petróleo do sr. Hugo Chávez? Cadê os recibos? Cadê as notas fiscais? Cadê as autorizações de despesa?
         Quem lançou essa pergunta, semanas atrás, fui eu (v.http://www.olavodecarvalho.org/semana/130626dc.html). Esperava que, como todas as anteriores que coloquei no ar, ela caísse em ouvidos moucos. Para minha surpresa, alguns grupos de jovens, que não conheço e que não me consultaram em nada, deram-lhe atenção e fizeram dela uma das bandeiras do seu movimento “Marcha das Famílias”. Embora a passeata que organizaram contra o comunismo reunisse não mais de cem pessoas, ela espalhou pelas ruas e pela internet o mais óbvio, inegável e legítimo dos pedidos: auditoria no Foro de São Paulo, já!
         Aí, é claro, foi o pânico. Antes mesmo que qualquer solicitação formal de uma investigação fosse enviada ao Ministério Público ou à Receita Federal, era preciso criar contra ela uma predisposição hostil para dissuadir as autoridades, a priori, da tentação de atendê-la.
         Primeiro veio então a página do “Opera Mundi” que, naquele tom lacrimejante próprio dos crocodilos, se queixava de que o Foro “sofria ameaças violentas”. Coitadinho. Ele só tem, para defendê-lo, os exércitos de Cuba e da Venezuela, as tropas das Farc e a militância armada do MST e da Via Campesina, sem contar o governo brasileiro. Não é mesmo para ficar aterrorizado ante umas dezenas de estudantes que o xingam pela internet?
         Mas logo depois dessa palhaçada entrou em cena, como era de se esperar, o sr. Mauro Santayana. E veio com uma conversa muito mais interessante. Veremos no próximo artigo.

Por favor, me expliquem

Olavo de Carvalho

Jornal do Brasil, 7 de agosto de 2008

Os documentos publicados pela revista “Cambio” esclarecem detalhes da conspiração PT-Farc, mas não são de maneira alguma necessários para prová-la. Ela já estava provada, muito além do que a mente mais cética poderia desejar, nas atas do Foro de São Paulo e nas edições da revista comunista “America Libre”. Se um grupo de políticos se reúne com delinqüentes para traçar uma estratégia em comum com eles para a tomada do poder, isso já constitui, acima de qualquer dúvida razoável, delito de formação de quadrilha.

Elaborar um plano revolucionário junto com quem quer que seja é aceitá-lo, a priori, como futuro parceiro na partilha do aparelho de Estado, com toda a promessa de vantagens comuns que isso implica. Portanto, o sr. Luís Inácio Lula da Silva e outros líderes petistas, conscientes dos crimes hediondos praticados pelas Farc, pelo Mir chileno e organizações congêneres, inclusive contra cidadãos brasileiros, não só se omitiram de denunciar seus autores mesmo quando estes se encontravam no território nacional, e incorreram assim em delito de prevaricação, mas ainda os premiaram antecipadamente, convidando-os para desfrutar com eles os benefícios do poder sobre todo um continente.

Mas essa aliança nunca foi só um plano de futuro: foi uma prática presente, efetiva, ao longo de toda a existência do Foro de São Paulo. Qualquer plano estratégico traçado em comum entre organizações militantes absorve e integra em si, por definição, as várias ações, lícitas e ilícitas, desempenhadas por todas elas em seus respectivos campos de atuação. A articulação engenhosa, ora camuflada, ora ostensiva, da luta política legal com o uso da violência criminosa é uma tradição centenária do movimento comunista. No Foro ela é mais que visível, na medida em que os assassinatos, os seqüestros, o contrabando de armas e o narcotráfico prosseguiram imperturbavelmente ao longo dos dezesseis anos em que o sr. Luís Inácio Lula da Silva presidiu a entidade. Nem uma única vez, ao longo desse tempo, ele deu ali o menor sinal de descontentamento ou inconformidade com esses crimes. Bem ao contrário, aplaudiu e apoiou seus autores ao ponto de condenar como “terrorismo de Estado” as ações antiguerrilha do governo colombiano. Já em plena gestão presidencial do sr. Lula, seu chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, ao lado do principal intelectual petista, Emir Sader, continuava publicando uma revista de propaganda comunista em associação com as Farc, enquanto seu partido se mobilizava, sistemática e obstinadamente, para proteger e libertar cada agente dessa organização ou do Mir chileno preso no Brasil. Se isso não é formação de quadrilha, por favor me expliquem o que é.

Em 28 de outubro de 2003 já fazia dois anos que o traficante Fernandinho Beira-Mar havia confessado vender armas às Farc em troca de drogas para distribuir no mercado brasileiro. Nessa data, o dr. Emir Sader e o vice-presidente do PT, Valter Pomar, estavam no seminário internacional “Experiencias de Poder Popular en América Latina y el Caribe”, da revista “America Libre”, ao lado de Raul Reyes, aquele mesmo comandante das Farc que havia confessado à Folha de S. Paulo ser o PT o principal contato da quadrilha no Brasil. Confiram em http://www.nodo50.org/americalibre/eventos.htm. Se até agora toda a “grande mídia” continua fazendo de conta que esse encontro jamais aconteceu – embora ele não se realizasse em nenhum cafundó inacessível, e sim em São Paulo –, é justamente porque ele é a prova cabal de que, pelo menos durante o primeiro mandato do sr. Lula, o PT e as Farc continuavam unidos na busca de seus objetivos comuns. E a mentira mais cínica das últimas semanas é aquela de que quaisquer contatos do com as Farc foram motivados por interesse humanitário do partido pela sorte dos reféns mantidos em cativeiro pela quadrilha. Verifiquem as atas do Foro e as de todos os seminários de “America Libre”: nem uma única palavra se disse ali, jamais, em favor desses reféns. Tudo o que se disse foi em favor do socialismo e da tomada do poder continental.

Um negócio quase honesto

Olavo de Carvalho


Jornal do Brasil, 13 de abril de 2006

Ao mesmo tempo que o Exército Brasileiro comunicava a prisão de agentes das Farc na Amazônia, a IstoÉ de 12 de abril informava: documentos apreendidos com Fernandinho Beira-mar “comprovam a antiga suspeita de que o bandido fornecia armamentos e munições às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia em troca das toneladas de cocaína com que abastecia pontos-de-venda de droga no Brasil”. Uma agenda, preenchida pelo traficante com o registro de suas operações no ano 2000, “é a prova cabal da aliança entre Beira-Mar e as Farc”, assegura a revista.

Beira-Mar não decerto é o principal amigo brasileiro dos delinqüentes colombianos. A Resolução número 9 do X Foro de São Paulo, de 7 de dezembro de 2001, condenou a repressão à narcoguerrilha como “terrorismo de Estado” e como “verdadero plán de guerra contra el pueblo”. Entre as assinaturas estava a do sr. Luís Inácio Lula da Silva, então ainda presidente do Foro.

No mesmo ano, líderes das Farc foram recebidos como hóspedes oficiais pelo governo petista do Rio Grande do Sul.

Mas seria injusto dizer que a colaboração do PT com as Farc se limitou à troca de gentilezas. As duas organizações publicam juntas uma revista, “America Libre”, dirigida pelo sublime dr. Emir Sader, na qual defendem seus interesses comuns contra o governo da Colombia e dos EUA, o Exército brasileiro e outras entidades malignas. Pelo menos até 2004, o chefe de gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho, estava no Conselho Editorial da publicação ao lado do comandante das Farc, Manuel Marulanda Vélez, o famigerado “Tiro Fijo”. Lá estava também o impoluto deputado Greenhalgh — aquele mesmo que propunha controlar a criminalidade mediante o desarmamento geral das vítimas.

Quando o porta-voz das Farc, Olivério Medina, contou que a organização tinha dado dinheiro para a campanha eleitoral do PT, houve uma correria geral para persuadir o público de que tudo não passava de bravata. Mas, logo depois, a elite petista organizava um movimento de protesto para libertar da prisão o homem acusado de manchar a reputação do partido com fanfarronadas irresponsáveis. Em vez de enxergar algo de suspeito em tamanha incongruência, a nação preferiu acreditar que o PT era um partido cristianíssimo, que retribuia o mal com o bem.

Em 2002, três dos quatro concorrentes à presidência eram membros de partidos aliados às Farc no Foro de São Paulo, e o quarto, José Serra, informado de tudo, preferiu perder a eleição de bico fechado, provando fidelidade estóica às suas raízes esquerdistas. Enquanto a mídia local celebrava a lisura do pleito, o vencedor confessava ao “Le Monde” que a eleição tinha sido “apenas uma farsa, necessária à tomada do poder”, sendo confirmado nisso pelo sr. Marco Aurélio Garcia em declaração ao jornal argentino “La Nación” de 5 de outubro de 2002. Em julho de 2005, o então já tarimbado presidente admitia ter tomado decisões de governo em reuniões secretas do Foro de São Paulo, longe do Congresso e da opinião pública.

A troca de cocaína pelas armas que Fernandinho Beira-Mar trazia do Líbano era feita na Tríplice-Fronteira (Brasil-Argentina-Paraguai). Semanas atrás, o promotor do Distrito de Manhattan, Robert Morgenthau, conseguiu fechar um canal de dinheiro pelo qual três bilhões de dólares de drogas, seqüestros, contrabando e outros crimes tinham fluído dessa região para organizações terroristas muçulmanas, por meio de um banco de Nova York. Quando a existência desse canal foi denunciada pela primeira vez, a esquerda brasileira protestou com veemência, dizendo que era tudo uma sórdida mentira imperialista.

Aos poucos, a verdade está aparecendo. Mas ela é ainda grande e feia demais para os olhos sensíveis de uma nação que se deixou enfraquecer por uma longa dieta de mentiras cor-de-rosa. O Brasil talvez precise de mais alguns anos para entender que, comparado à trama do Foro de São Paulo, o Mensalão é quase um negócio honesto.

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