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Cabeça de abortista

Olavo de Carvalho


Jornal do Brasil, 24 de novembro de 2005

A história do movimento abortista – e que vão para o diabo os juízes que quiseram proibir o uso dessa palavra – é uma sucessão de fraudes nojentas. A mais famosa foi o processo Roe versus Wade, que legalizou o aborto nos EUA enganando a Suprema Corte com o falso depoimento de uma jovem que alegava ter engravidado por estupro. Passadas três décadas, a própria testemunha pediu reabertura do caso, confessando que havia mentido sob pressão de militantes abortistas.

Bernard Nathanson, importante líder da luta pela liberação do aborto nos anos 60, admitiu ter falsificado estatísticas para persuadir o público a aceitar a nova lei.

A CFFC, “Catholics for a Free Choice”, é uma organização satanista — com papisa, odes a Lúcifer e tudo o mais — que se faz passar por católica para induzir os fiéis a acreditar que a Igreja, no fundo, não é contra o aborto.

A Planned Parenthood, barulhenta organização abortista dos EUA, está sob investigação porque há décadas seus membros médicos praticam abortos em meninas menores de 14 anos sem apresentar prova de estupro, exigida por lei nesses casos. São alguns milhões de crimes, sob o manto de uma “luta pelo direito”.

Na perspectiva dessa tradição, não espanta que seus adeptos brasileiros cheguem ao requinte de mentir quanto ao conteúdo mesmo da lei que está para ser votada no Congresso, levando o povo a crer que ela só libera o aborto até os três meses de gestação quando de fato ela o permite até o último dia da gravidez. Entre o texto da lei e o discurso que a embeleza, a diferença é abissal.

Perto dessa obra-prima de propaganda enganosa, é até irrelevante que mintam também nas estatísticas, alegando que a legalização diminui o número de abortos e apresentando como prova os cálculos estilo Nathanson produzidos por um tal Instituto Allan Guttmacher, sem avisar, é claro, que essa entidade pertence a uma clínica de aborteiros. Na verdade, o número de abortos legais, depois da liberação, subiu de 200 mil para 1.400.000 por ano nos EUA e de 4 mil para 115 mil no Canadá. O primeiro país a legalizar o aborto foi a Rússia, em 1921, por decreto do próprio Lênin. Hoje ela é recordista mundial de abortos: a média é seis por mulher. Daí o surgimento, relatado pela revista Veja , de um próspero comércio de fetos, vendidos a 200 dólares cada um para clínicas de estética que oferecem tratamentos com células-tronco.

Nenhuma causa idônea necessita de tantas fraudes, de tantos crimes, de tantas baixezas para defender-se. Se o abortismo se mela nessa sujeira com tanta persistência, é por causa da moral sui generis que o inspira.

Cada abortista honesto, se é que existe, deveria estar pronto para admitir que, se o pegassem de jeito umas horas antes do seu nascimento, não teria havido mal nenhum em picá-lo em pedacinhos e vendê-lo para um laboratório. Teria sido até uma medida humanitária, contribuindo para o avanço da pesquisa com células-tronco.

Ele não teria agora o gostinho de apresentar ao público sua proposta indecente com trejeitos de dignidade quase persuasivos, mas alguma senhora das redondezas talvez estivesse contemplando no espelho, com enorme satisfação, o sumiço de uma rugas e pés-de-galinha. A própria mãe do distinto teria desfrutado por mais uns anos o prazer narcísico de uma vagina apertadinha e de umas estrias a menos, incentivando o maridão a gerar mais alguns bebês para ser jogados no balde e fomentando destarte o progresso da ciência. Todas essas vantagens indiscutíveis teriam sido obtidas em troca da supressão de um simples feto de abortista, uma coisinha de nada. Vendo frustrada por pais reacionários a sua oportunidade de prestar tão relevante serviço à humanidade, e não podendo, lamentavelmente, realizá-lo em modo retroativo, o referido encontra alguma compensação moral na luta para que outros bebês tenham o direito que ele não teve.

Pessoas orientadas por um ideal como esse não poderiam mesmo adaptar-se aos padrões de moralidade e legalidade bons para os demais seres humanos.

Mário Augusto Jacobskind: mentiroso e burro

Olavo de Carvalho

Mídia Sem Máscara, 1o de novembro de 2005

Alguém me alerta para uma estupidez publicada a meu respeito no site “Portal Popular” (http://www.portalpopular.org .br/opiniao2005/varios/varios -206.htm). Vou lá e, no meio de louvações ao Che e à narcoguerrilha colombiana, encontro a patifaria: fazendo-se de ofendidíssimo, e talvez encorajado pelos esgares patéticos da “linha dura” presidencial, o sr. Mário Augusto Jacobskind anuncia que está me processando na 47ª. Vara Cível do Rio de Janeiro por havê-lo chamado de “agente secreto à serviço de Cuba” ( sic , e com crase, porca miséria). Aproveita ainda a ocasião para informar à cândida platéia:

(1) que não sou jornalista profissional, só usei indevidamente esse título até 2003, quando fui desmascarado e desisti do embuste;

(2) que muito menos sou correspondente de algum jornal brasileiro nos EUA, devendo portanto minha presença nesse país ser explicada por algum outro motivo, decerto bastante tenebroso;

(3) que deixei de usar o “título de escritor” ( sic ) por ser este um privilégio dos membros do Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro que eu vinha usurpando até ser comprovado que eu não pertencia a essa entidade;

(4) que participei de um debate filosófico na USP, com argumentos inconsistentes, sendo por isso “reprovado” ( sic ) pelos professores da instituição;

(5) que escrevi ser demasiado pequeno o número de vítimas da ditadura em comparação com o tamanho da população brasileira (ou seja, que no meu entender o regime militar até que poderia ter matado mais uma meia dúzia sem que isso fizesse grande diferença).

Bem, o sr. Jacobskind provavelmente não é mesmo “agente secreto” de Cuba, nem afirmei que o fosse, muito menos que tivesse capacidade para sê-lo (minha hedionda mendacidade tem limites). Afirmei, isto sim, que trabalhou para o governo de Cuba como propagandista do regime e que continua a fazê-lo até hoje, de maneira tão constante e sistemática que deve ser classificado não como um jornalista comum e sim como um “agente de influência”, o que, para quem sabe do que se trata, não é a mesma coisa que “agente secreto”, quando mais não seja porque esta última função é necessariamente profissional e aquela pode também ser exercida, ad hoc , por um militante, simpatizante ou companheiro de viagem, com ou sem remuneração. Não sei exatamente em qual dessas categorias se encontra o sr. Jacobskind, mas não há dúvida de que ele é um agente de influência não só a serviço de Cuba como do movimento comunista latino-americano em geral. Se dois anos como editor da revista oficial cubana Prismas já não fossem comprovação suficiente, bastaria, para tirar a dúvida, saber que o referido trabalha ainda hoje para a Rádio Centenário, do Movimiento 26 de Marzo, braço político da organização terrorista Movimiento de Liberación Nacional (Tupamaros). É provável que o sr. Jacobskind só tenha dito que o chamei de agente secreto por ser isso o que, em criança, ele sonhava tornar-se quando crescesse. Infelizmente, ele não cresceu, de modo que hoje só pode realizar seu desejo por meio de projeção inversa, acusando os outros de chamá-lo daquilo que ele queria ser.

Acrescento, agora, os seguintes detalhes:

(1) Sou jornalista profissional com quase quatro décadas de exercício, registrado em 16 de setembro de 1970 a fls. 91 do Livro 25 do Serviço de Registro Profissional do Ministério do Trabalho, sócio número 3786 do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, número 8860 da Federação Nacional dos Jornalistas e número BR7699 na Faderação Internacional dos Jornalistas (Bruxelas). Quem quer que algum dia tenha negado minha condição profissional teve esses documentos esfregados no seu enxerido nariz e nunca mais se meteu a besta comigo.

(2) Estou nos EUA como correspondente do Diário do Comércio , de São Paulo, segundo contrato assinado em 1º de maio de 2005 com o diretor de redação, Moisés Rabinovici, e portador de Visto de Imprensa concedido pelo governo americano a jornalistas profissionais estrangeiros. Qualquer dúvida pode ser tirada mediante simples telefonema à redação do jornal, mas o sr. Jacobskind preferiu contornar esse extenuante trabalho por meio de uma consulta à sua própria imaginação, que lhe pareceu mais confiável.

(3) Como se pode ver em inúmeros créditos de meus artigos e trabalhos acadêmicos, nunca parei de declarar que sou escritor, pelo simples fato de que o sou realmente e de que no Brasil ainda não chegamos àquele patamar sublime de evolução social do regime a que o sr. Jacobskind serviu e serve, no qual os escritores são forçados a deixar de sê-lo por falta de uma carteirinha (v. Guillermo Cabrera Infante, “Mea Cuba”). O Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro, diga-se a bem da verdade, jamais me pressionou nesse sentido, embora solicitado a isso, em vão, anos atrás, por um amiguinho do sr. Jacobskind, agora seu colega na diretoria da ABI.

(4) Na USP só tomei parte, em pessoa, de um único debate, com um tal prof. Café, o qual, como é público e notório, saiu dali torrado e moído. Nenhum outro professor da instituição deu um pio a respeito, muito menos para reclamar de precário funcionamento intelectual da torrefação (v. http://www.olavodecarvalho.org /textos/debate_usp_1.htm ). Quanto a outras discussões que eu possa ter tido com professores de lá (ou de qualquer outra universidade brasileira) através da imprensa, invariavelmente eles calaram seus respectivos bicos logo após minhas respostas, sendo eu sempre o último a falar, o que já basta para mostrar quem reprovou quem. Esses episódios estão abundantemente documentados no meu livro “O Imbecil Coletivo” e no meu site www.olavodecarvalho.org , já tendo entrado para o rol dos fatos notórios nos quais não é preciso insistir.

(5) Nunca escrevi que os trezentos esquerdistas mortos da ditadura brasileira eram um número minguado na comparação direta com a população do país, mas sim, guardadas as proporções demográficas entre Brasil e Cuba, na comparação com os dezessete mil fuzilados do regime ao qual o sr. Jacobskind empresta, dá, vende ou aluga ( chi lo sà? ) os seus talentos de usuário da língua pátria, especialmente da crase (v. http://www.olavodecarvalho.org /semana/1964.htm ). Quem, não podendo contestar essa proporção matemática, tentou falsificá-la para dar ares de maldade intolerável a uma verdade óbvia, foi o supracitado colega do sr. Jacobskind, um covardão de farda que, devidamente denunciado como farsante chinfrim, consta como tal há seis anos em aviso publicado no meu site e jamais me desmentiu (cf. http://www.olavodecarvalho.org /textos/proenca.htm).

Recomendo, pois, ao sr. Jacobskind, que, ao acusar alguém de dizer uma mentira contra a sua pessoa, evite publicar ao mesmo tempo cinco contra o acusado. Uma ou duas, com sorte, ainda poderiam passar despercebidas. Com cinco de uma vez, o queixoso tira a máscara de vítima e põe à mostra, acima de qualquer possibilidade de dúvida razoável, sua condição de litigante de má-fé. Além das orelhas de burro, naturalmente.

De onde vem a guerra

Olavo de Carvalho

Jornal do Brasil, 15 de setembro de 2005

Neste momento há três e não mais de três grandes planos de guerra em andamento no mundo. Vêm sendo montados há tanto tempo, com tão vasta mobilização de recursos e já em estágio tão avançado de implementação, que só mudanças repentinas do cenário mundial, bastante improváveis aliás, podem talvez impedir que mais cedo ou mais tarde sejam levados às últimas conseqüências.

O primeiro deles é a investida da China contra Taiwan, antecipada por manobras navais intimidatórias e destinada a suscitar uma resposta americana, justificando então um ataque chinês ao território dos EUA. Para isso Beijing acumula armas atômicas e nanotecnológicas em escala apocalíptica, enquanto os EUA, burguesmente confiantes numa ridícula estratégia de apaziguamento comercial, fazem cortes e mais cortes nos seus orçamentos militares (prova inequívoca de intenções belicosas, não é mesmo?). Leiam Hegemon: China’s Plan to Dominate Asia and the World, de Steven W. Mosher (Encounter Books, 2000) e procurem no Google os artigos de Lev Navrozov  e J. R. Nyquist.

O segundo é o cronograma islâmico em sete etapas (estamos na segunda) para estabelecer um califado global até o ano 2020 . Foi divulgado pelo jornalista jordaniano Fouad Hussein em entrevistas com os principais líderes terroristas — a começar pelo orquestrador do caos iraquiano, Abu Musab al-Zarqawi — publicadas no livro A Segunda Geração da Al-Qaeda (em árabe). Um resumo encontra-se no jornal australiano The Age (v. http://www.theage.com.au/news /war-on-terror/alqaeda-chiefs -reveal-world-domination -design/2005/08/23/112456286165 4.html?oneclick=true ). Tal como no caso anterior, o ponto principal desta estratégia é suscitar conflitos locais que desencadeiem uma resposta americana e então usá-la como pretexto legitimador para um ataque aos EUA.

O terceiro está bem aqui pertinho. A adoção oficial da doutrina de “guerra do povo” do  general vietnamita Giap para a militarização da sociedade (v. http://www.olavodecarvalho.org /semana/041226zh.htm ), a implantação da Nova Lei Orgânica das Forças Armadas que transforma essa doutrina em realidade, a presença de mais de vinte mil soldados cubanos na Venezuela e de tropas da Venezuela nas Farc – tudo isso torna evidente, na análise do ex-chefe da Casa Militar da presidência venezuelana, vice-almirante Mario Iván Carratú Molina, a lógica militar de Hugo Chávez: agressão conjunta à Colômbia por forças da Venezuela, de Cuba e das Farc para suscitar uma reação de Washington e então mobilizar a América Latina inteira contra os EUA (v. http://www.noticierodigital .com/forum/viewtopic.php?p =168913#168913 ).

A mídia brasileira oculta esses planos como ocultou, por mais de uma década, o Foro de São Paulo. Mas, como os três convergem na meta de induzir os EUA a um combate multilateral, paralisando-os ao mesmo tempo por meio de cobranças morais e diplomáticas das quais seus agressores já estarão automaticamente dispensados (tal é a regra da “guerra assimétrica”: v. http://www.olavodecarvalho.org /semana/040520fsp.htm ), é claro que não podem entrar em ação aberta sem a adequada preparação psicológica do ambiente em todos os países envolvidos, inclusive o Brasil. Por isso é que já pululam, nos nossos jornais, comentários que alertam contra a eventual reação defensiva americana, chamando-a antecipadamente de “invasão imperialista” e apresentando-a como se fosse o lance inicial das hostilidades, sem causas nem antecedentes exceto a pura maldade ianque.

Os autores desses artigos, fora algumas exceções que o termo leninista “idiota útil” resume com precisão, são militantes do Foro de São Paulo, agentes de influência formados nos serviços de inteligência comunistas ou indivíduos que sintetizam essas duas belas qualidades. Não são repórteres narrando o que viram ou analistas tentando compreender o mundo. Seus escritos estão fora da definição de “jornalismo”. São propaganda e desinformação no sentido mais estrito e profissional dos termos. Fazem parte do esforço de guerra.

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