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Sucessão de fraudes

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 28 de outubro de 2014

          

Houve fraude nas eleições presidenciais de 2014? Sem o menor temor de errar, afirmo categoricamente: houve não uma, nem duas, nem mil, mas a mais longa e assombrosa sucessão d e fraudes que já se observou na história eleitoral de qualquer país, em qualquer época.

Essa afirmação, que soará hiperbólica aos ouvidos de quem não conhece os fatos o suficiente para poder medi-la, traduz uma verdade literal e simples que qualquer um, se quiser investigar um pouco em vez de julgar sem conhecimento de causa, poderá confirmar por si próprio.

Primeira série de fraudes:

A Lei dos Partidos Políticos de 1995, Art. 28, alínea II, afirma taxativamente que será cassado o registro de qualquer partido que se comprove ser subordinado a uma organização estrangeira. O PT, segundo a propaganda do seu III Congresso, reconhece o Foro de São Paulo como “coordenação estratégica da esquerda latino-americana”. Ao subscrever e colocar em prática as decisões das assembléias gerais do Foro, esse partido reconhece sua subordinação a um plano internacional que não só jamais foi discutido ou aprovado no nosso Parlamento, como advoga, sem dar disto a menor ciência ao povo brasileiro, a dissolução da soberania nacional mediante a integração do país num monstrengo internacional chamado “Pátria Grande”, cuja capital é Havana e cuja língua oficial é o portunhol.

A sra. Dilma Rousseff, em especial, chegou a ser louvada pelo ditador venezuelano Hugo Chávez como “grande patriota… patriota da Pátria Grande”. Será possível não entender que ninguém pode ser ao mesmo tempo um patriota da pátria brasileira e um servidor leal da organização internacional empenhada em engolir essa pátria e governá-la desde assembleias e em reuniões secretas realizadas em Havana, em Caracas ou em Santiago do Chile?

Quando digo “reuniões secretas”, não é uma interpretação que faço. É o traslado direto da confissão cínica apresentada pelo sr. Lula da Silva, não numa conversa particular, mas em dois discursos oficiais transcritos na página da Presidência da República (um deles em www.olavodecarvalho.org/semana/050926dc.htm )

Se ainda vale o princípio de que de duas premissas decorre uma conclusão, esta só pode ser a seguinte: o PT é um partido ilegal, que não tem o direito de existir nem muito menos de apresentar candidatos à presidência da República, aos governos estaduais ou a qualquer câmara estadual ou municipal.

Segunda série de fraudes:

Tão óbvia e gritante é essa conclusão, que para impedir que o cérebro nacional a percebesse foi preciso ocultar da opinião pública, durante dezesseis anos seguidos, a mera existência do Foro de São Paulo, para que pudesse crescer em segredo e só se tornar conhecido quando fosse tarde demais para deter a realização dos seus planos macabros.

Nesse empreendimento aliaram-se todos os órgãos da “grande mídia”, reduzindo o jornalismo brasileiro a uma vasta e abjeta operação de desinformação e forçando o povo brasileiro, em sucessivas eleições, a votar em candidatos cujo programa de ação desconhecia por completo e, se o conhecesse, jamais aprovaria.

Terceira série de fraudes:

O Foro de São Paulo é a mais vasta, mais poderosa e mais rica organização política que já existiu no continente. Seu funcionamento – assembléias, grupos de trabalho, publicações, viagens e hospedagens constantes para milhares de agentes – é inviável sem muito dinheiro que até hoje ninguém sabe de onde vem e cuja origem é feio perguntar.

É praticamente impossível que verbas do governo brasileiro não tenham sido desviadas em segredo para essa entidade. É mais impossível ainda que grossas contribuições não tenham vindo de organizações de narcotraficantes e sequestradores como as Farc e o MIR chileno, que ali são aceitas como membros legítimos e tranquilamente discutem, nas assembleias, grupos de trabalho e encontros reservados, a articulação dos seus interesses criminosos com o de partidos políticos como o PT e o PC do B.

Quarta série de fraudes:

A sra. Dilma Rousseff, servidora dessa geringonça imperialista, jamais poderia ser candidata a qualquer cargo eletivo no Brasil. Urnas que votam sozinhas ou que já chegam à seção eleitoral carregadas de quatrocentos votos para a candidata petista, como tantos eleitores vêm denunciando, são apenas subfraudes, ou pedaços de fraudes, em comparação com a fraude magna que é a presença, na lista de candidatos presidenciais, da agente notória e comprovada de um esquema estrangeiro empenhado em fagocitar e dissolver a soberania nacional.

Quinta série de fraudes:

Eleição com contagem de votos secreta não é eleição, é fraude. O sistema de ocultações montado para isso, sob a direção de um advogadinho chinfrim sem mestrado, sem obra notável publicada e sem qualquer currículo exceto serviços prestados a um dos partidos concorrentes, viola um dos princípios mais elementares da democracia, que é a transparência do processo eleitoral. Como observou uma advogada que tentou denunciar em vão a anomalia imposta ao eleitor brasileiro, “é o crime perfeito: o acusado se investiga a si próprio”.

Que mais será preciso para concluir que, sob todos os aspectos, a eleição presidencial de 2014 foi em si uma fraude completa e majestosa, coroamento da longa sucessão de fraudes em série em que se transformou a política brasileira desde o ingresso do PT no cenário eleitoral?

Pensem nisso

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 5 de janeiro de 2010

Um dos traços constantes da vida brasileira é a coexistência de dois tipos de política heterogêneos e incomunicáveis: de um lado, a política “profissional” cuja única finalidade é o acesso a cargos públicos, compreendidos como posições privilegiadas para a conquista de benefícios pessoais ou grupais (acompanhados ou não de boas intenções de governo); de outro, a política revolucionária, empenhada na conquista do poder total sobre a sociedade e na introdução de mudanças estruturais irreversíveis.

A segunda usa ocasionalmente os instrumentos da primeira, mas sobretudo cria os seus próprios, desconhecidos dela. Os “movimentos sociais”, o adestramento de formidáveis massas militantes dispostas a tudo, a ocupação de espaços não só na administração federal mas em todas as áreas estrategicamente vitais e, last not least, a conquista da hegemonia cultural estão entre esses instrumentos, que para o político “profissional” são distantes e até incompreensíveis, tão obsessiva e autocastradora é a sua concentração na mera disputa de cargos eleitorais.

As próximas eleições presidenciais vão opor, numa disputa desigual, as armas da política revolucionária às da política “profissional”. Estas últimas consistem apenas nos meios usuais de propaganda eleitoral, enquanto as daquela abrangem o domínio sistêmico de todos os meios disponíveis de ação sobre a sociedade: o político “profissional” tem a seu favor apenas os eleitores, que se manifestam uma vez a cada quatro anos e depois o esquecem ou passam a odiá-lo. O revolucionário tem a vasta militância organizada, devotada a uma luta diária e constante, pronta a matar e morrer por aquele que personifica as suas aspirações.

Nas últimas décadas a expansão maciça da política revolucionária colocou os políticos “profissionais” numa posição de impotência quase absoluta, que reduz a praticamente nada as vantagens de uma eventual vitória nas eleições.

Se eleito, o Sr. Jose Serra terá de comandar uma máquina estatal dominada de alto a baixo pelos seus adversários, a começar pelos oito juízes lulistas do Supremo Tribunal Federal. O PT e seus partidos aliados comandam, além disso, uma rede de organizações militantes com alguns milhões de membros devotos, prontos a ocupar as ruas gritando slogans contra o novo presidente ao primeiro chamado de seus líderes. Comandam também o operariado de todas as indústrias estratégicas e a rede de acampamentos do MST espalhados ao longo de todas as principais rodovias federais e estaduais: podem paralisar o país inteiro da noite para o dia. Reinam, ademais sobre um ambiente psicossocial inteiramente seduzido pelos seus estereótipos e palavras de ordem, a que nem mesmo seus mais enfezados inimigos ousam se opor frontalmente.

Somente a política revolucionária entende o que é o poder na sua acepção substantiva. O velho tipo do político “profissional” entende apenas a disputa de cargos, confunde o mandato legal com a posse efetiva do poder. Sem militância, sem ocupação de espaços, sem guerra cultural, não há domínio do poder. Fernando Collor de Mello pagou caro por ignorar essa distinção elementar: confiou na iniciativa espontânea de seus eleitores – massa espalhada e amorfa, incapaz de fazer face à força organizada da militância.

Não vejo no horizonte o menor sinal de que os adeptos do Sr. José Serra tenham aprendido a lição: hipnotizados pela esperança da vitória eleitoral, não vêem que tudo o que estão querendo é colocar na presidência um homem isolado, sem apoio militante, escorado tão somente na força difusa e simbólica da “opinião pública” — um homem que, à menor sombra de deslize, terá contra si o ódio da militância revolucionária explodindo nas ruas e será varrido do cenário político com a mesma facilidade com que o foi o ex-presidente Collor.

Há pelo menos vinte anos venho advertindo aos próceres antipetistas que o voto, ainda que avassaladoramente majoritário, não garante ninguém no poder: o que garante é militância, é massa organizada, disposta a apoiar o eleito não só no breve instante do voto mas todos os dias e por todos os meios. Vejam a situação da governadora do Rio Grande do Sul e entenderão o que estou dizendo: quando a oposição se vangloriou de ter “varrido o PT do Estado gaúcho”, não percebeu que o expulsara somente de um cargo público.

Não desprezo as vitórias eleitorais, mas sei que, por si, elas nada decidem a longo prazo. E não vejo que, até agora, as forças de oposição tenham tomado consciência disso.

O Brasil de Bento XVI

Olavo de Carvalho


Jornal do Brasil, 11 de janeiro de 2007

Sua Santidade Bento XVI afirma que no Brasil reina a democracia e que o nosso governo está seriamente empenhado em combater a corrupção e o narcotráfico. Se essas coisas fossem sentenças doutrinais proferidas ex cathedra , os católicos brasileiros estariam na difícil contingência de ter de dizer amém a falsidades óbvias. Felizmente, são apenas declarações à mídia, opiniões pessoais do filósofo alemão Joseph Ratzinger. Não impõem aos fiéis senão o dever de admitir que estão erradas.

A democracia brasileira é um grotesco simulacro inventado para encobrir a exclusão sistemática de toda oposição ideológica. A corrupção tornou-se lei e autoridade. A violência criminosa chega à taxa de 50 mil homicídios por ano, a mais alta do universo. O partido governante continua amigo da narcoguerrilha colombiana, fornecedora de cocaína ao mercado nacional e sócia das quadrilhas de assassinos que aterrorizam a população do Rio e de São Paulo. O jornalismo chique, com unanimidade admirável, vai cumprindo sua obrigação rotineira de fazer de conta que tudo o que acontece é coincidência, mera coincidência.

Enquanto isso, a soberania nacional está sendo negociada entre dois esquemas multinacionais de poder sem que a população receba a menor informação a respeito. O primeiro deles é o CFR, Council on Foreign Relations , empenhado em criar um governo mundial por meio de integrações parciais como por exemplo a North American Commonwealth , que fundirá numa pasta indistinta os EUA, o México e o Canadá no prazo máximo de dez anos. O segundo é o projeto da futura União das Repúblicas Socialistas Latino-Americanas, em pleno curso de implementação através das assembléias e grupos de trabalho do Foro de São Paulo, dos quais o povo também não tem notícia. Os dois esquemas são convergentes. A divisão aparente entre os dois partidos que monopolizam o espaço político brasileiro não passa de uma expressão local dessa unidade dual mais vasta. O braço nacional do CFR, o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), fundado em 1998 com amplo suporte financeiro do Ministério das Relações Exteriores e de várias megaempresas estatais e privadas, tem como presidente de honra o senhor Fernando Henrique Cardoso e como conselheiro o senhor Marco Aurélio Garcia, HD auxiliar do presidente Lula e secretário-executivo do Foro de São Paulo. O Cebri é o ponto focal da c oincidentia oppositorum que nos governa em nome do Foro e do CFR.

Nas eleições, o povo é convidado a escolher seus governantes com base em dados sobre as tarifas de ônibus, a exportação de frangos e a distribuição estatal de camisinhas. Nem uma palavra sobre os fatores maiores que decidem os destinos da nação. A democracia brasileira é um cenário de alienação surrealista no qual o dever moral número um dos formadores da opinião pública é prestar falso testemunho. Se Bento XVI involuntariamente reforça a boa consciência com que se dedicam à tarefa, isso não santifica nem um pouco o estado de coisas. O país que o papa vai visitar em maio não é bem aquele que ele imagina.

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